Os cidadãos não podem sair nem entrar da cidade, a não ser para trabalhar ou questões de força maior. As novas restrições entraram em vigor esta noite
Ninguém entra e ninguém sai. A partir das 22h00 desta sexta-feira (hora espanhola), as restrições em Madrid aumentaram e os madrilenos não podem sair nem entrar da cidade a não ser para trabalhar ou por questões de força maior. Não se trata de um confinamento, uma vez que não se impede que os cidadãos saiam de casa, a ordem é apenas para evitar as deslocações entre municípios e tentar controlar pandemia.
As restrições que entram esta noite em vigor incluem ainda o fecho de bares e restaurantes às 23h00, a redução dos ajuntamentos para seis pessoas e a limitação da lotação para 60% em espaços abertos e 50% em espaços fechados.
As medidas têm posto em pé de guerra o Governo e a Comunidade de Madrid que apesar de ter acatado a decisão do Executivo, já recorreu aos tribunais para pedir medidas cautelares que permitam voltar atrás nas restrições que, consideram, "vão arruinar" a capital.
No entanto, mesmo num bairro como Chamberi, onde o Partido Popular, formação que governa na Comunidade, é o mais votado em todas as eleições, a maioria dos madrilenos está de acordo com as medidas e muitos consideram-nas até insuficientes.
"Tudo isto já vem tarde. Madrid está a cair no ridículo. Deviam ter-se tomado medidas, como no resto das comunidades, antes do verão, ou no início do verão", diz Pablo Rodríguez. Sentada na esplanada ao seu lado, Sara López considera que são insuficientes: "Pelo menos agora está a fazer-se alguma coisa, mas vão ter que se endurecer nas próximas semanas porque, em Madrid, os hospitais já estão à beira do colapso outra vez".
Com o número de contágios a crescer todos os dias, os cidadãos não percebem porque se demorou tanto tempo a adoptar estas normas. "Com os números que estamos a ter, tudo isto deveria ter sido feito há semanas", conta Pedro Domínguez. Antonio Gálvez alinha pelo mesmo discurso: "São poucas e chegam tarde. Há muito tempo que deviam ter feito isto", diz, indignado. "Devia ter-se feito antes e mais... e assim tudo isto ia durar menos".
Bares e restaurantes preocupados
Em Ponzano, uma das ruas de Madrid com maior número de bares e restaurantes, as esplanadas estão cheias, apesar do frio que já se faz sentir. "As pessoas não querem estar cá dentro, pedem-nos sempre mesa fora", conta Raúl González, do bar Maracca. "Já estávamos a recuperar um bocadinho do buraco em que nos meteu a pandemia, deixaram-nos ter esplanadas em todos os bares e as pessoas estavam a vir cada vez mais. Mas agora... estas medidas vão ser um desastre", diz.
O mesmo pensa Noemí Tavares. Dentro do bar Papaya estão quatro pessoas. O estabelecimento começa a animar-se a partir das 22h00, hora que, a partir desta sexta-feira, deixam de poder receber clientes. "A maior parte das pessoas vinham das 22h00 à 1h00, agora vamos ficar sem a maior parte dos nossos rendimentos". Vai ser um golpe duro", diz. Noemí chama a atenção também para a forma como isto irá afetar os trabalhadores: "A maior parte ganha à hora. Se fechamos antes, são menos horas de trabalho".
Os lay-off, que muitos já tinham cancelado, podem voltar a ser necessários. "Nós já tínhamos tirado pessoas do lay-off, agora talvez tenhamos que voltar a incluí-las", lamenta González.
Um pouco mais à frente, no Bô Specialty Coffee, não preocupa a hora de fecho, que para o estabelecimento sempre foi às 21h00, mas sim a ocupação. "Agora não podemos ter mais de 50% dentro, nem mais de 60% fora... economicamente vai ser complicado", diz a proprietária. "É difícil, mas também temos noção de que se tem de fazer alguma coisa, e que temos de colaborar para acabar com a pandemia... isto é um problema mundial".
Guerra política
Para os madrilenos, pior do que as novas restrições é a guerra entre o Governo e a Comunidade de Madrid. Queixam-se da confusão gerada na aplicação das medidas e da sensação de que a saúde é o que menos importa.
"Para já, tenho uma sensação de incerteza total, porque nem sei bem que medidas se aplicam e que medidas não se aplicam. E depois não sei até que ponto as limitações têm mais impacto na economia do que na saúde", diz Paula Martín.
O braço de ferro entre o Governo e a Comunidade, sem fim à vista, veio desgastar ainda mais a difícil relação que os políticos têm com os cidadãos, numa sociedade que está cada vez mais polarizada. "É realmente triste. A luta política que existe neste momento não tem nenhum sentido e há que pôr mãos à obra já", considera Pedro Domínguez.
"Priorizou-se a política às pessoas e agora estamos no meio de um debate sem uma liderança clara. Acho que todos os cidadãos estão um bocado perdidos... a sensação é que não há critérios claros, médicos ou científicos, e parece que a saúde é a última prioridade, quando devia ser a primeira", critica Sara López.
Para já, e a menos que os tribunais deem razão à Comunidade de Madrid, as restrições permanecem durante 15 dias. Depois se fará nova avaliação para decidir se se aliviam as medidas ou, pelo contrário, os cidadãos têm razão e há que endurecê-las.
Joana Rei, correspondente em Madrid | TSF
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