sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

O verdadeiro Winston Churchill


Richard Seymour*

Churchill não foi um herói - foi um racista vil e fanático da violência, que apoiava ferozmente o imperialismo.

Durante os protestos em maio de 2.000 nada enfureceu mais o establishment britânico - imprensa, políticos, tribunais, e opinião respeitável - do que a profanação da estátua de Winston Churchill na Praça do Parlamento. O sangue selvagem vermelho pintado com spray em torno da boca de Churchill, a lívida marca verde que sugeria um corte de cabelo mohawk, transformando o estoico pai da nação em palhaço, era inconcebível.

É difícil transmitir o valor simbólico e emocional deste homem para a classe dominante britânica e um número significativo, embora em declínio, de cidadãos. Aqueles cuja consciência nacional é moldada pelas memórias da Segunda Guerra Mundial, provavelmente o último momento de "grandeza" do império, salvo a vitória na Copa do Mundo de 1966, conhecem principalmente Churchill como o homem que esmagou a ameaça nazista. Dirigindo um governo de coligação ele exortou o que tinha sido uma nação mal-liderada e esgotada para ousar e vencer. Ele salvou o estado britânico, orientando-o através de uma de suas piores crises. Churchill foi o último líder britânico verdadeiramente amado; mais ninguém se aproximou disso.

Quando eu estava na escola, na década de 1980, no norte da Irlanda, a jóia esmeralda do Império, este ainda era um sentimento poderoso. Nosso professor de história, explicando a Segunda Guerra Mundial, contou com orgulho uma história apócrifa em que Hitler, depois de ter ouvido que Churchill estava liderando o esforço de guerra, disse: "O que faremos agora?" E nós, com as pupilas e olhos brilhantes, ficamos muito satisfeitos pensando nisso. O que você vai fazer agora?

Churchill é, além de mito nacional, objeto de uma pequena indústria artesanal e fonte interminável de nostalgia. Livros comemorando sua sagacidade perversa, canecas enfeitadas com sua imagem, toalhas de chá citando o grande homem, intermináveis historiadores da corte - e quando se trata de Churchill, quase não há outro tipo de historiador - recapitulando suas glórias. Há um filme sobre ele agora, com Gary Oldman? Jogue-o na pilha com o último filme com Brian Cox, e aquele anterior com Brendan Gleeson, e outro antes dele com Albert Finney e o anterior com Michael Gambon. É uma indústria dos "tesouros nacionais", e um mini-boom agora está em andamento, já que certos sentimentos que o Brexit colocou em circulação alimentam um retorno cultural ao Império.

Para mim, no entanto, seu brilho desapareceu há muito tempo, e fui à Praça do Parlamento para admirar aqueles manifestantes. O que deu errado?

A EUROPA 2019


Wesley S.T Guerra*

O ano de 2019 chega ao seu fim marcado pela instabilidade política e tensões sociais em todo o planeta. Embora em termos de segurança e defesa este seja um ano de relativa paz, uma vez que são poucos os conflitos armados oficiais. Por outro lado, ocorreram diversas as manifestações e mudanças tanto no cenário político quanto económico e social.

Em meio à anomia do sistema internacional, a União Europeia (UE) lutou por manter certa estabilidade, passando por um processo de introspecção e reformulação, na tentativa de promover as mudanças necessárias para a consolidação do bloco, que enfrenta problemas desde a cúpula de Bratislava em 2016, e sobrevive com as indefinições do Brexit, além do impacto das políticas americanas advindas da gestão Trump.

Entre as grandes economias que disputam o eixo de poder no planeta (Estados Unidos e China), a UE passou a segundo plano no que tange aos pleitos económicos internacionais e questões globais, submersa em suas próprias dificuldades e na incapacidade de gerar um consenso entre os países que formam o bloco.

Um novo ano e um novo erro de política externa de Trump no Iraque


Medea Benjamin e Nicolas J. S. Davies | Global Research, January 03, 2020

É um ano novo, e os EUA encontraram um novo inimigo - uma milícia iraquiana chamada Kata'ib Hezbollah. Quão tragicamente previsível foi isso? Então, quem ou o que é o Hezbollah Kata'ib? Por que as forças americanas estão atacando? E para onde isso vai levar?

O Hezbollah de Kata'ib é uma das Unidades de Mobilização Popular (UGP) que foram recrutadas para combater o Estado Islâmico após o colapso das forças armadas iraquianas e Mosul, a segunda maior cidade do Iraque, caiu para o IS em junho de 2014. As seis primeiras UGP foram formadas por cinco milícias xiitas que receberam apoio do Irã, além da Companhia Nacional da Paz iraquiana de Muqtada al-Sadr, a reencarnação de sua milícia anti-ocupação do Exército Mahdi, que ele havia desarmado em 2008 sob um acordo com o governo iraquiano.

O Hezbollah Kata'ib era uma dessas cinco milícias xiitas originais e existia muito antes da luta contra o EI. Era um pequeno grupo xiita fundado antes da invasão do Iraque pelos EUA em 2003 e fazia parte da resistência iraquiana durante toda a ocupação americana. Em 2011, supostamente havia 1.000 combatentes, que recebiam de US $ 300 a US $ 500 por mês, provavelmente financiados principalmente pelo Irão. Lutou ferozmente até as últimas forças de ocupação dos EUA serem retiradas em dezembro de 2011 e assumiu a responsabilidade por um ataque com foguete que matou 5 soldados americanos em Bagdad em junho de 2011. Desde a formação de uma PMU em 2014, seu líder, Abu Mahdi al-Muhandis, foi o comandante militar geral das UGP, reportando-se diretamente ao conselheiro de segurança nacional no gabinete do primeiro-ministro.

"É impossível o Irão não responder à morte de Soleimani"


Especialista questiona se governo americano calculou potencial de conflito no Oriente Médio ao decidir matar o mais poderoso general iraniano e teme uma guerra total entre EUA e Teerão.

Qassim Soleimani, líder da poderosa Força Quds da Guarda Revolucionária iraniana, foi morto nesta sexta-feira (03/01) por um bombardeio americano em Bagdad ordenado por Donald Trump.

O general Soleimani era chefe da unidade de elite responsável pelo serviço de inteligência do Irão e por conduzir operações militares secretas no exterior.

Para Sanam Vakil, vice-chefe e pesquisadora sénior do programa para o Médio Oriente e Norte da África o instituto Chatham House de Londres, uma resposta iraniana à morte do general é inevitável.

Em entrevista à DW, ela diz que uma escalada na região é provável, sobretudo no Iraque, e no momento considera difícil evitar um conflito militar total entre Teerão e Washington.

DW: Qual é a importância de Soleimani no Irão?

Sanam Vakil: Qassim Soleimani era um estrategista e general muito bem sucedido e desenvolveu a doutrina atual da política externa iraniana. Acredita-se que a doutrina tenha obtido muito sucesso ao afastar as ameaças das fronteiras iranianas e fortalecer as relações assimétricas de Teerão com atores não estatais em todo o Oriente Médio.

Soleimani tinha uma relação muito próxima com o líder supremo do Irão. No entanto, o general trabalhava dentro do sistema da Guarda Revolucionária.  A sua morte vai ser incrivelmente celebrada e lamentada ao mesmo tempo dentro do Irão. E vai ser quase impossível para a República Islâmica não responder ao seu assassinato.

Qual era a estratégia de Soleimani?

A sua estratégia foi construída com base na ideia de defesa avançada, que era afastar as ameaças da fronteira iraniana. Ele construiu fortes laços com o Hisbolá no Líbano e com grupos de milícias no Iraque. Essa estratégia expandiu a influência do Irão de uma forma muito pouco convencional e desestabilizadora em toda a região, mas protegeu o Irão e deu alavancagem a Teerã em alguns países.

O que esperar do Irão agora?

É muito complicado agora prever a resposta imediata iraniana. Eu acho que provavelmente o primeiro passo do governo iraniano será lamentar a morte de Qassim Soleimani e fazer uma grande cerimónia de luto por ele. Ao mesmo tempo, eles vão planear como responder à morte. Será impossível para o governo iraniano não responder à sua morte. Portanto, a questão é na verdade é como será essa resposta.

Penso que vai haver uma série de consequências que poderemos ver nos próximos dias. Primeiro de tudo, a escalada no Iraque é a forma mais provável que eu acho que os iranianos vão responder. Este é um lugar que já está em conflito e que tem um vácuo de poder.

Outra possibilidade é aumentar a atividade de enriquecimento de urânio. Ao mesmo tempo, não podemos ignorar que o Irão pode começar a atacar navios no Golfo Pérsico e pode até atacar um país do Golfo Árabe com mísseis, semelhante aos ataques de 14 de setembro.

Por que os EUA mataram Soleimani?

O ataque foi preventivo. Foi baseado no fato de que as agências de inteligência dos EUA tinham informações sugerindo que Soleimani estava planeando novos ataques a funcionários do governo e militares dos EUA no Médio Oriente. Mas não tenho certeza se o governo americano pensou em algumas das consequências potenciais da sua ação ou se está preparado para proteger os seus militares das consequências deste conflito se o Iraque virar uma zona de guerra, com mísseis iranianos atacando bases americanas e mais perdas de vidas americanas. É muito difícil não ver um conflito militar total entre Teerão e Washington.

Rodion Ebbighausen (rpr) | Deutsche Welle

General morto em ataque ordenado por Trump. Irão promete vingança


O comandante da força de elite iraniana Al-Quds, o general Qassem Soleimani, morreu hoje num ataque aéreo contra o aeroporto internacional de Bagdad, anunciaram as autoridades de segurança do Iraque. O líder supremo do Irão prometeu já vingar a morte do general iraniano e declarou três dias de luto nacional, enquanto o chefe da diplomacia iraniana fala em "ato de terrorismo extremamente perigoso e escalada imprudente".

No mesmo ataque morreu também o 'número dois' da coligação de grupos paramilitares pró-iranianos no Iraque, Abu Mehdi al-Muhandis, conhecida como Mobilização Popular [Hachd al-Chaabi], indicaram as autoridades.

Segundo fontes oficiais da segurança iraquiana, pelo menos oito pessoas foram mortas no ataque, três dias depois de um assalto inédito à embaixada norte-americana.

O bombardeamento surge numa altura de escalada de tensões depois de milícias iraquianas terem invadido a embaixada norte-americana em Bagdad, em 31 de dezembro último.


"O martírio é a recompensa pelo trabalho incansável durante todos estes anos. Se Deus quiser, o seu trabalho e o seu caminho não vão acabar aqui. Uma vingança implacável aguarda os criminosos que encheram as mãos com o seu sangue e o sangue de outros mártires", afirmou Ali Khamenei, indicou a agência de notícias France-Presse (AFP).

A Austrália em chamas...


A Austrália em chamas no Expresso Curto. Postal do Inferno é como Ricardo Marques intitula a prosa de destaque. Quer parecer que a tragédia que ocorre na Austrália está a passar ao lado de muitos de nós, na Europa invernosa. Lá é verão e aquele continente imenso está em chamas quase por todo o sudeste. Devemos dar-lhe mais atenção e solidariedade.

Deste Curto de hoje deixamos o produto acabado do jornalista do Expresso. Não sendo o único tema abordado é o mais relevante. Deixamos a prosa ao vosso dispor sem mais preâmbulos.

Bom dia, bom ano, se conseguirem.

PG

Bom dia, este é o Expresso Curto

Postal do inferno

Ricardo Marques | Expresso

Passa pouco das oito da manhã em Lisboa e são sete da tarde na Austrália, onde há uma área do tamanho de Portugal a arder.

Não há melhor forma de resumir o que se passa no sudeste australiano, onde há frentes de fogo com centenas de quilómetros que avançam a toda a velocidade.

“Não conseguimos parar estes incêndios. Não conseguimos parar os incêndios que temos”, admitiu um responsável do Rural Fire Service, a menos de 24 horas daquele que, teme-se, pode vir a ser o pior dia de sempre.

O calor vai aumentar no sábado, o vento vai aumentar com ele e há milhares de pessoas em filas de trânsito a tentar sair das zonas ameaçadas pelos fogos que há dois meses atingem algumas das zonas mais populosas do país. São 160 incêndios nos estados de Victoria e na Nova Gales do Sul.

Até ao momento, além de mais de 1400 casas destruídas e 3,5 milhões de hectares de área ardida, morreram 18 pessoas e há 18 desaparecidos, mas as autoridades admitem que o balanço de vítimas pode subir.

Em Mallacoota, onde milhares de residentes e turistas passaram os últimos dias ‘presos’ na praia, começou ontem à noite uma imensa evacuação feita pelas forças armadas australianas, com recurso a navios e a veículos anfíbios.

Milhões de animais morreram e, de acordo com um médico ouvido pelo Daily Mail, está em curso um verdadeiro processo de eutanásia a uma escala maciça. Podem ser precisos vários anos para que tudo regresse ao normal.

Aqui está a história de um herói e aqui está o dia mais triste de um agricultor. E a vida difícil do primeiro-ministro australiano quando decidiu visitar uma das zonas atingidas.

Sydney Morning Herald, um dos melhores jornais australianos, tem uma secção para acompanhar ao momento tudo o que acontece.

Este será seguramente um dos assuntos do dia.

Para melhor compreender a escala do que se está a passar - e antecipando-me um pouco às sugestões de leitura deste Expresso Curto - há dois livros que explicam bem o que é, e o que pode ser, a Austrália.

Um é “Canto Nómada”, de Bruce Chatwin. O titulo em inglês é “The Songlines” e conta a história da relação dos aborígenes com aquele imenso território, e a forma como se conseguem sempre encontrar através das grandes historias que estão ligadas às mais pequenas curvas da paisagem.

O segundo é “Down Under” de Bill Bryson, o eterno viajante que a dado momento se senta à conversa com um australiano. O homem chama-se Howe e conta que, de vez em quando, o inferno chega, alimentado pelos eucaliptos. É uma questão de sobrevivência, explica De sobrevivência das árvores e da competição entre elas. “É a forma de os eucaliptos superarem as outras plantas. Estão cheios de óleo e mal começam a arder é uma carga de trabalhos para travar aquilo”. As chamas avançam a mais de 80 quilómetros por hora, com projecções de centenas de metros.

Bryson pergunta-lhe se isso acontece com muita frequência. “Oh, talvez a cada dez anos temos um fogo realmente grande. Houve um 1994 que queimou 600 mil hectares e ameaçou parte de Sidney. Eu estava lá nessa altura e numa direção havia uma coluna de fumo negro que enchia completamente o céu. Ardeu durante dias. O maior de sempre foi em 1939. As pessoas ainda falam disso. Foi durante uma onda de calor tão forte que os manequins das lojas começaram a derreter nas montras. Consegue imaginar isso? Esse queimou a maior parte do estado de Victoria”.

Outras notícias

Segue-se um breve guia dos temas e assuntos a que convém estar atento durante o dia. E mais alguns para ocupar os tempos livres.

Morreu Maria do Carmo Moniz Galvão Espírito Santo, a matriarca da família Espírito Santo e a maior acionista individual do BES. Tinha 86 anos.

Há novas imagens do cerco e da tentativa de ataque à embaixada americana em Bagdad dos últimos dias. Durante a madrugada, o aeroporto da cidade foi atingido por rockets e, sabe-se agora, entre as oito vítimas mortais do ataque com drones está um general iraniano chamado Qassim Suleimani, figura de topo na estrutura da Guarda Revolucionária.

O New York Times diz que o ataque foi ordenado por Donald Trump e que Suleimani se preparava para lançar novos ataques contra interesses dos EUA. O general terá sido o estratego de todas as operações militares e dos serviços secretos iranianos na última década. Teerão promete vingança. Três factos que atiram a situação para o topo da atualidade nesta sexta-feira.

Mas há mais.

O Jornal de Notícias traz hoje na capa um novo caso de agressão a médicos. Desta vez aconteceu no Hospital de Setúbal: um doente sequestrou dois médicos no interior de um gabinete e agrediu-os com mesas e cadeiras. É o terceiro caso conhecido em poucos dias. Em 2019, no primeiro semestre, foram registados mais de 600 casos de violência.

A empresária angolana Isabel dos Santos está na mira das autoridades portuguesas, após ter sido decretado o arresto dos seus bens pela Justiça angolana. Tendo em conta as posições de Isabel dos Santos em várias empresas portuguesas, este é um daqueles casos que vai marcar a atualidade. Está na primeira página dos jornais económicos de hoje.

No plano politico, Rui Rio apresentou a sua moção para a corrida à liderança do PSD: são 32 páginas com o titulo “Portugal ao Centro”. E o PS vai reunir amanhã a comissão nacional para lançar a reeleição de António Costa e marcar o congresso.

O Estado português, que nos últimos 45 anos tem sido governado, à vez, por PS e PSD, não sabe o valor de dois terços dos seus imóveis. Um artigo que pode ler se seguir por esta ligação rumo ao Expresso.

No CDS, envolvido também num processo de escolha de nova liderança, o caso do momento é uma acusação de bullying laboral. A entrada do artigo é assim: “Assessora acusa secretário-geral de não lhe dar trabalho há dois meses. Partido ameaça barrar-lhe entrada”. O resto pode ler se tocar aqui.

Os dados foram divulgados ontem e a discussão deve seguir durante o dia de hoje. O ritual repete-se todos anos: conhecem-se os números, discute-se se subiram ou desceram, com maior ou menor preocupação, mas nunca se percebe verdadeiramente porquê. Este ano, de acordo com a secretaria de Estado da Administração Interna, a condução sob efeito do álcool e o uso do telemóvel - comportamentos inaceitáveis, segundo Patrícia Gaspar - deverão ser a principal preocupação das autoridades. Eis 2019 em termos de sinistralidade rodoviária: 472 mortos, 2288 feridos graves e 135063 acidentes. Quinze por hora.

A TAP, em sentido contrário, parece à prova de acidentes. A companhia portuguesa entrou pela primeira vez na lista das companhias aéreas mais seguras.

(Esta é só para quem mora em Lisboa e tem passado os últimos dias, ou noites, a ouvir uma estranha buzina)

Este é um caso que envolve aviões e a falta de alertas. Sonoros e outros. A fuga do ex-presidente da Renault-Nissan, Carlos Ghosn, é uma daquelas cenas que até nos filmes parece inverosímil.

CNN tem um bom resumo da historia. Ghosn estava a aguardar julgamento no Japão por suspeita de vários crimes financeiros, fugiu em circunstâncias misteriosas (ao que parece numa operação conduzida por uma empresa de segurança privada e que levou meses a preparar) e que se reuniu com o presidente do Líbano, onde chegou num avião particular, depois de uma escala na Turquia.

O que fica de fora da história é o pormenor, não confirmado e desmentido pelo próprio, de que Ghosn escapou escondido numa caixa de instrumentos musicais. A Interpol já emitiu um mandato de captura, que foi recebido pelas autoridades libanesas. Na Turquia foram feitas várias detenções, a França já admitiu não extraditar Ghosn e a policia japonesa está a tentar perceber como foi possível a fuga de um dos homens mais conhecidos do país.

Na Indonésia, a chuva torrencial na zona de Jacarta, capital do país, provocou inundações e deslizamentos de terras que causaram mais de três dezenas de mortes. Milhares de pessoas foram obrigadas a deixar as suas casas. Portugal, através do Ministério dos Negócios Estrangeiros, já apresentou as condolências ao governo indonésio.

A onze meses das eleições presidenciais nos Estados Unidos da América - 2020 vai ser mesmo um ano recheado de acontecimentos…- há menos um candidato na corrida. O democrata Julian Castro atirou a toalha ao chão.

Em Espanha, a Esquerda Republicana da Catalunha vai abster-se no processo de investidura de Pedro Sánchez, o que abre caminho para a reeleição como presidente do Governo do líder do PSOE no dia 7 de janeiro.

Uma das memórias mais antigas que tenho do futebol inglês é a de um tipo magrinho de bigode e equipamento vermelho que se fartava de marcar golos. Chamava-se Ian Rush e foi mais ou menos nessa altura, no inicio dos anos 80, que comecei a gostar do Liverpool. Agora também gosto. Ontem ganharam outra vez. Há um ano que não perdem.

O Sporting foi punido pela Federação Portuguesa de Futebol com dois jogos à porta fechada em futsal, devido aos incidentes registados no quarto jogo da final da última época, frente ao Benfica, no Pavilhão João Rocha. Os leões vão recorrer.

Desta vez, o futuro ficou para o fim. A Google diz ter criado um software que é mais eficaz do que os médicos a detetar o cancro da mama. As conclusões estão num artigo na revista Nature.

O que ando a ler

O livro chama-se “A sense of where you are” e é o relato do encontro de duas figuras excecionais: John McPhee, um dos mais incríveis repórteres norte-americanos, e Bill Bradley, um dos melhores jogadores de basquetebol de sempre.

(A propósito pode ler aqui o obituário de David Stern, o antigo comissário da NBA que morreu no primeiro dia do ano)

Na altura em que o livro foi escrito, o jovem Bradley - que mais tarde foi eleito para Senado americano - era o melhor jogador da universidade de Princeton: um portento atlético, com um magnetismo pessoal raro e uma ainda mais rara capacidade de trabalho.

A matéria prima ideal para McPhee (que foi alertado pelo pai, na altura médico na universidade, para aquele miúdo incrível) transformar o que podia ter sido um simples perfil numa verdadeira obra de arte de investigação e narração - que tem somado sucessivas edições desde 1965.

John McPhee é um dos responsáveis pela afirmação de uma nova forma de contar a realidade, apostando tudo em investigações exaustivas e, acima de tudo, numa narrativa literária - entenda-se literária apenas no sentido em o autor que se socorre de ferramentas normalmente usadas na ficção para relatar a realidade, os factos.

O jornalista americano já escreveu sobre tudo, desde montanhas a cargueiros, e sobre quase todos. A história de Bradley vale pelo que conta, claro, mas também por ser o primeiro livro de um dos grandes autores de não-ficção.

Aqui para nós, nada como um clássico para começar o ano.

Desejo-lhe uma excelente sexta-feira, um bom fim de semana e um 2020 em grande. Conte connosco.

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Portugal | Só os mais ricos recuperaram o que tinham


Os mais ricos já conseguiram recuperar o que tinham antes da crise, mas o mesmo não se pode dizer dos restantes grupos de cidadãos. Dados dos Inquéritos à Situação Financeira das Famílias de 2010 (pré-crise), 2013 (pico da crise) e 2017 (pós-crise), divulgados pelo Jornal de Negócios, mostram que os 20% da população correspondentes aos mais ricos do país recuperaram a liquída que tinham antes da crise. Por outro lado, os 20% mais pobres são os que menos recuperaram.

Os mesmos inquéritos, realizados pelo INE e Banco de Portugal, revelam ainda que os 10% mais ricos viram a riqueza líquida mediana aumentar 2% entre 2010 e 2017. Saltando para a faixa dos que estão entre os 10 e os 20% mais ricos, o valor sobe para 2,3%.

No outro extremo da população, junto dos 20% mais pobres verifica-se uma redução de 42,5% da riqueza líquida mediana entre o pré e o pós-crise: passou de 1600 euros em 2010 para 900 euros em 2017 (menos de 0,2% da riqueza líquida dos mais ricos).

A mesma publicação indica que números como estes sugerem que uma desta população tem riqueza líquida negativa, ou seja, as dívidas são maiores do que os activos.

Olhando para a classe média (baixa, média e média-alta), percebe-se que também não houve uma recuperação total, embora não seja tão flagrante. Face aos níveis de 2010, a riqueza líquida encontra-se entre 5 e 6% abaixo.


Comentário associado:
Neste momento assisto há maior injustiça social que jamais vivi! Os super-ricos cada vez mais ricos, a classe média continuadamente atacada e as classes mais baixas no limite da sobrevivência! Estamos a regredir socialmente, com muitos ignorantes a bater palmas às esmolas atiradas a uns quantos.

Portugal | A paz, segundo Marcelo


Miguel Guedes | Jornal de Notícias | opinião

Espanta-me a facilidade com que algumas pessoas ainda se espantam. E esta perplexidade cresce com o espanto que tantos mostram pela vacuidade dos discursos oficiais de Ano Novo. Parece mesmo um milagre a entrar pelo natal da porta dos fundos mas não duvidem: a plácida expectativa de alguns relativamente às alocuções políticas de fim de ano é a prova científica e material de que ainda há seres humanos crentes. Esqueçam as igrejas. É nos sofás adventistas dos últimos dias que gente adulta espera pela reaparição da boa nova no discurso de fim de ano de Marcelo Rebelo de Sousa, simulando serem capazes de nele lerem o horóscopo político para 2020. É inquietante e mágico em simultâneo. Mas tomem boa nota: se é incompreensível em 2019, será absolutamente inaceitável repetir o espanto em 2020. Já seria santa ingenuidade.

Se consideraram assinalável o grau de ternura da mensagem do presidente da República, imaginem o que aí vem na mensagem de 2020, um mês antes das eleições presidenciais marcadas para Janeiro de 2021. Toda uma peça delico-doce cravejada com um "mix" de ansiedade pelo futuro, um bem próprio na antecâmara de um acto eleitoral, enquanto brinda com António Costa, resgatando-lhe o apoio em troca da ajuda em navegar com o equilíbrio institucional dispensado pelo primeiro-ministro após legislativas. Episódios de contrariedade. Fruto dos anos de equilíbrio artificial da geringonça e do calendário eleitoral 20/21 que lhe atira os votos do PS para o regaço qual rosas em voo milagre, Marcelo terá mesmo que esperar mais dois anos para soltar o animal político em Belém. O presidente da República pode admirar a unanimidade do povo mas não se revê na unanimidade política. Após tantos anos de banho forçado em águas tépidas, como serão as mensagens festivas no segundo mandato presencial de Marcelo entregue à liberdade da sua natureza? Esperemos, então, pela boa nova ou pelo homem novo.

Sendo assim, gozemos a paz. E a saúde, claro está, essa nova urgência nacional redescoberta. Brindemos à estabilidade. E não deixemos a natureza das coisas assumir o seu lugar, porque ainda não é tempo da montanha ir a Maomé. A profecia de paz para 2020 está viva e recomenda-se. Mas saibamos acolher a ideia de que tudo é relativo e de que há mais desejos em 12 passas do que verdades no minuto final. Leio notícias de que as crianças em São Tomé e Príncipe bebem mais álcool do que leite e nem por isso São Tomé é um paraíso para vegans. Estejamos todos cientes de que o caminho tem pedras e de que até o Papa Francisco acabou o ano de 2019 a bater na mão de uma crente. A natureza é diabólica.

*Músico e jurista

O autor escreve segundo a antiga ortografia

Portugal | Portas, Cristas e...


Ana Alexandra Gonçalves* | opinião

O 28º Congresso do CDS será seguramente animado.

Depois de Portas sobrou Cristas, incapaz de se livrar do peso de decisões tomadas enquanto ministra de Passos Coelho e mais incapaz ainda de fazer frente a uma extrema-direita mais do que anunciada e que roubará votos aos partidos de direita e talvez não só.
Portas seguiu o caminho do populismo tão familiar a essa extrema-direita e Cristas procurou outro caminho, o que só por si é particularmente louvável, mas que não terá dado o melhor contributo para o futuro do partido. Em tempos de confusão e de legitimação do que até há pouco tempo não se devia dizer, Cristas que procurou desviar-se do populismo de Portas, e portadora de um passado oneroso, não conseguiu fazer vingar a sua liderança.

Com o partido fortemente abalado pelos resultados das legislativas, surgem candidatos sem expressão, uns mais convencionais outros nascidos de uma corrente interna, designada por Esperança em Movimento, ultra-conservadora que creio terá algum crescimento.

A ver vamos se João Almeida, apoiante e porta-voz de Cristas, será o vencedor. Nuno Melo e Telmo Correia, embora não se apresentem como candidatos, apresentam um moção própria.

Seja como for, o futuro do CDS não parece promissor. Talvez por agora João Almeida possa vencer, mas a tendência ultra-conservadora alicerçadas numa certa visão religiosa está à espreita e pronta para entrar em cena. Ainda vamos ter saudades dos tempos em que o CDS era liderado por Assunção Cristas.

*Ana Alexandra Gonçalves | Triunfo da Razão

Grécia | Lesbos: um postal com a solidariedade da União Europeia


A solidariedade e a defesa de direitos humanos que a UE tanto apregoa não passam de puros exercícios de hipocrisia. Postais negros, com realidades duras como a de Lesbos, é o que tem para apresentar.

Inês Pereira | AbrilAbril | opinião

A 12 de Dezembro, Giorgos Moutafis partilhava nas redes um vídeo do Campo de Moria, em Lesbos (Grécia). Infelizmente, este vídeo não nos traz nada de novo porque se, neste dia de 2019, fortes chuvas se abatiam sobre as frágeis tendas em que sobrevivem milhares de seres humanos, em 2017 este mesmo campo foi atingido com fortes nevões1. As tendas são o denominador comum em ambos os vídeos que, inverno após inverno, continuam a entrar-nos pelos olhos e a confrontarem-nos com as inaceitáveis condições em que se encontram milhares de homens, mulheres e crianças vítimas das acções criminosas do imperialismo em países tão diversos como a Síria, o Iraque ou o Afeganistão.

A BBC News Brasil fez também recentemente uma reportagem sobre a situação dos refugiados neste campo2, com o título: «O campo de refugiados onde “crianças dizem querer morrer”». De acordo com a reportagem, o campo de Moria acolhe cerca de 7 mil crianças e muitas delas atravessaram o Mediterrâneo sem os pais, sem bagagens e com excesso de traumas de guerra na memória. Na mesma reportagem, somos ainda confrontados com a experiência de uma das psicólogas infantis deste campo, que em três meses lidou com duas tentativas de suicídio e vinte casos de auto-mutilação. As crianças de Moria fugiram da morte no seu país, mas parecem preferir encontrar-se com ela, a sobreviver nas duras condições que lhe são «solidariamente» oferecidas pela União Europeia (UE).

Espanha | Abstenção da Esquerda Republicana permite investidura de Sanchez


O Conselho Nacional da ERC (Esquerda Republicana da Catalunha) decidiu hoje apoiar a abstenção dos seus 13 deputados no voto de confiança ao Governo, permitindo a investidura de Pedro Sánchez como primeiro-ministro de Espanha.

O parlamento começa a debater a investidura de Pedro Sánchez a partir das 09:00 de sábado (08:00 em Lisboa), segundo anunciou a presidente do Congresso de Deputados, Meritxell Batet.

O anúncio foi feito pouco depois da ERC ter confirmado que facilitará a investidura de Sánchez.

O debate começará com o discurso de Pedro Sánchez para apresentar o seu programa de Governo. Após a intervenção do líder do executivo em exercício, será a vez dos líderes das restantes forças políticas, que terão 30 minutos para apresentar as suas razões para aceitar o novo Governo, rejeitá-lo ou abster-se. Sanchez pode responder se desejar.

Quando todos os grupos parlamentares tiverem feito as suas intervenções, será realizada uma votação, marcada para domingo, dia 05 - em voz alta - para eleger o líder do próximo Governo, sendo que Sánchez deve obter 176 votos a favor.

No caso, mais do que provável, de não atingir esse valor, a sessão será suspensa.

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