O comandante da força de elite
iraniana Al-Quds, o general Qassem Soleimani, morreu hoje num ataque aéreo
contra o aeroporto internacional de Bagdad, anunciaram as autoridades de
segurança do Iraque. O líder supremo do Irão prometeu já vingar a morte do
general iraniano e declarou três dias de luto nacional, enquanto o chefe da
diplomacia iraniana fala em "ato de terrorismo extremamente perigoso e
escalada imprudente".
No mesmo ataque morreu também o
'número dois' da coligação de grupos paramilitares pró-iranianos no Iraque, Abu Mehdi al-Muhandis,
conhecida como Mobilização Popular [Hachd al-Chaabi], indicaram as
autoridades.
Segundo fontes oficiais da
segurança iraquiana, pelo menos oito pessoas foram mortas no ataque, três dias
depois de um assalto inédito à embaixada norte-americana.
O bombardeamento surge numa
altura de escalada de tensões depois de milícias iraquianas terem
invadido a embaixada norte-americana em Bagdad, em 31 de dezembro último.
Entretanto, o líder supremo do Irão prometeu vingar a morte de no Qassem Soleimani e
declarou três dias de luto nacional.
"O martírio é a recompensa
pelo trabalho incansável durante todos estes anos. Se Deus quiser, o seu
trabalho e o seu caminho não vão acabar aqui. Uma vingança implacável aguarda
os criminosos que encheram as mãos com o seu sangue e o sangue de outros
mártires", afirmou Ali Khamenei, indicou a agência de notícias France-Presse (AFP).
"O ato de terrorismo
internacional dos Estados Unidos (...) é extremamente perigoso e uma escalada
imprudente" das tensões, afirmou Mohammad Javad Zarif, numa
mensagem publicada na rede social Twitter.
O Pentágono fez saber que foi o Presidente dos Estados Unidos a
ordenar a morte de Soleimani. "Por ordem do Presidente, as
forças armadas dos Estados Unidos tomaram medidas defensivas decisivas para
proteger o pessoal norte-americano no estrangeiro, matando Qassem Soleimani", disse
o Departamento de Defesa norte-americano, em comunicado divulgado na
quinta-feira à noite (hora local).
Numa aparente reação, Donald
Trump publicou uma imagem da bandeira norte-americana na rede social Twitter,
sem qualquer comentário.
O ataque à embaixada durou dois
dias e apenas terminou quando Trump anunciou o envio de mais 750 soldados para
o Médio Oriente.
A embaixada norte-americana foi
atacada na sequência de um bombardeamento aéreo por parte dos Estados Unidos
que matou 25 combatentes da milícia iraquiana.
General Soleimani,
figura-chave e verdadeira estrela no Irão
O general Qassem Soleimani era um
dos homens mais populares do Irão, considerado um adversário de Washington e
aliados.
Chefe da força de elite iraniana
Al-Quds, responsável pelas operações da Guarda Revolucionária no estrangeiro,
desempenhou um papel chave nas negociações políticas sobre a formação de um
Governo no Iraque, onde o Teerão pretende manter a sua influência.
Com 62 anos, Soleimani tornou-se
nos últimos anos uma verdadeira estrela no Irão, de que é prova a quantidade
elevada de seguidores nas redes sociais.
Para os apoiantes - mas
também para os inimigos - Soleimani, que desempenhou um importante papel
na luta contra as forças radicais, foi uma personagem fundamental para o
alargamento da influência iraniana no Médio Oriente, onde reforçou o peso
diplomático de Teerão, especialmente no Iraque e na Síria, dois países onde os
Estados Unidos estão militarmente empenhados.
"Para os xiitas do Médio
Oriente, é uma mistura de James Bond, Erwin Rommel e Lady Gaga", escreveu
o antigo analista da CIA Kenneth Pollack, sobre o perfil de Suleimani,
para o número da revista Time consagrado às 100 personalidades mais influentes
do mundo em 2017.
Já para o Ocidente, "é
(...) responsável de ter exportado a revolução islâmica do Irão, de apoiar
terroristas (...) e de conduzir as guerras do Irão no estrangeiro", notou
Kenneth Pollack.
No Irão, imerso numa grave
recessão económica, algumas pessoas chegaram a sugerir a entrada de Soleimani na
arena política local. No entanto, o general iraniano sempre rejeitou os rumores
de uma candidatura às eleições presidenciais de 2021.
O general dedicava-se antes a
aplicar os seus talentos no vizinho Iraque: a cada desenvolvimento político ou
militar, deslocava-se para agir nos bastidores, mas sobretudo por antecipação.
A descoberta do grupo extremista
Estado Islâmico (EI), o referendo de independência do Curdistão ou a
formação de um governo: a casa ocasião, Soleimani reuniu-se com as
diferentes partes iraquianas e definia a linha a ser seguida, de
acordo com diferentes fontes que participaram nos encontros, sempre realizados
no maior sigilo.
A sua influência, contudo, vem de
trás: Soleimani já liderava a elite Al-Quds quando os Estados
Unidos invadiram o Afeganistão, em 2001.
"Os meus interlocutores
iranianos foram muito claros quanto ao facto de, mesmo que informassem o
Ministério dos Negócios Estrangeiros, no final de contas, era o general Suleimani que
tomava as decisões", disse, em 2013, à estação britânica BBC, o
antigo embaixador dos Estados Unidos no Afeganistão e no Iraque Ryan Crocker.
Depois de ter ficado nos
bastidores durante décadas, Suleimani começou a fazer manchetes depois
do início do conflito na Síria, em 2011, onde o Irão tem apoiado fortemente o
regime de Bashar al-Assad.
Um dirigente iraquiano
descreveu-o, numa entrevista à revista New Yorker, como um homem calmo e
pouco falador.
"Ele estava sentado do outro
lado da mesa, só, de maneira muito calma. Ele não fala, não comenta (...)
apenas escuta", disse.
Segundo um estudo publicado em
2018 pela IranPoll e pela Universidade de Maryland, 83% dos iranianos
inquiridos tinham uma opinião favorável sobre Soleimani, à frente do
Presidente Hassan Rohani e do chefe da diplomacia, Mohammad Javad Zarif.
No estrangeiro, alguns líderes
ocidentais veem-no como uma figura central nas relações de Teerão com
grupos radicais como o Hezbollah libanês e o Hamas palestiniano.
Notícias ao Minuto | Lusa
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