Especialista questiona se governo
americano calculou potencial de conflito no Oriente Médio ao decidir matar o
mais poderoso general iraniano e teme uma guerra total entre EUA e Teerão.
Qassim
Soleimani, líder da poderosa Força Quds da Guarda Revolucionária iraniana,
foi morto nesta sexta-feira (03/01) por um bombardeio
americano em Bagdad ordenado por Donald Trump.
O general Soleimani era chefe da
unidade de elite responsável pelo serviço de inteligência do Irão e por
conduzir operações militares secretas no exterior.
Para Sanam Vakil, vice-chefe e
pesquisadora sénior do programa para o Médio Oriente e Norte da África o
instituto Chatham House de Londres, uma resposta iraniana à morte do general é
inevitável.
Em entrevista à DW, ela diz
que uma escalada na região é provável, sobretudo no Iraque, e no momento
considera difícil evitar um conflito militar total entre Teerão e Washington.
DW: Qual é a importância de
Soleimani no Irão?
Sanam Vakil: Qassim Soleimani
era um estrategista e general muito bem sucedido e desenvolveu a doutrina atual
da política externa iraniana. Acredita-se que a doutrina tenha obtido muito
sucesso ao afastar as ameaças das fronteiras iranianas e fortalecer as relações
assimétricas de Teerão com atores não estatais em todo o Oriente Médio.
Soleimani tinha uma relação muito
próxima com o líder supremo do Irão. No entanto, o general trabalhava dentro do
sistema da Guarda Revolucionária. A sua morte vai ser incrivelmente
celebrada e lamentada ao mesmo tempo dentro do Irão. E vai ser quase impossível
para a República Islâmica não responder ao seu assassinato.
Qual era a estratégia de
Soleimani?
A sua estratégia foi construída
com base na ideia de defesa avançada, que era afastar as ameaças da fronteira
iraniana. Ele construiu fortes laços com o Hisbolá no Líbano e com grupos de
milícias no Iraque. Essa estratégia expandiu a influência do Irão de uma forma
muito pouco convencional e desestabilizadora em toda a região, mas protegeu o
Irão e deu alavancagem a Teerã em alguns países.
O que esperar do Irão agora?
É muito complicado agora prever a
resposta imediata iraniana. Eu acho que provavelmente o primeiro passo do
governo iraniano será lamentar a morte de Qassim Soleimani e fazer uma grande
cerimónia de luto por ele. Ao mesmo tempo, eles vão planear como responder à
morte. Será impossível para o governo iraniano não responder à sua morte.
Portanto, a questão é na verdade é como será essa resposta.
Penso que vai haver uma série de
consequências que poderemos ver nos próximos dias. Primeiro de tudo, a escalada
no Iraque é a forma mais provável que eu acho que os iranianos vão responder.
Este é um lugar que já está em conflito e que tem um vácuo de poder.
Outra possibilidade é aumentar a
atividade de enriquecimento de urânio. Ao mesmo tempo, não podemos ignorar que
o Irão pode começar a atacar navios no Golfo Pérsico e pode até atacar um país
do Golfo Árabe com mísseis, semelhante aos
ataques de 14 de setembro.
Por que os EUA mataram Soleimani?
O ataque foi preventivo. Foi
baseado no fato de que as agências de inteligência dos EUA tinham informações
sugerindo que Soleimani estava planeando novos ataques a funcionários do
governo e militares dos EUA no Médio Oriente. Mas não tenho certeza se o
governo americano pensou em algumas das consequências potenciais da sua ação ou
se está preparado para proteger os seus militares das consequências deste
conflito se o Iraque virar uma zona de guerra, com mísseis iranianos atacando
bases americanas e mais perdas de vidas americanas. É muito difícil não ver um
conflito militar total entre Teerão e Washington.
Rodion Ebbighausen (rpr) |
Deutsche Welle
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