Wesley S.T Guerra*
O ano de 2019 chega ao seu fim
marcado pela instabilidade política e tensões sociais em todo o planeta. Embora
em termos de segurança e defesa este seja um ano de relativa paz, uma vez que
são poucos os conflitos armados oficiais. Por outro lado, ocorreram diversas as
manifestações e mudanças tanto no cenário político quanto económico e social.
Em meio à anomia do sistema
internacional, a União Europeia (UE) lutou por manter certa estabilidade,
passando por um processo de introspecção e reformulação, na tentativa de
promover as mudanças necessárias para a consolidação do bloco, que enfrenta
problemas desde a cúpula
de Bratislava em 2016, e sobrevive com as
indefinições do Brexit, além do impacto das políticas americanas advindas
da gestão Trump.
Entre as grandes economias que
disputam o eixo de poder no planeta (Estados Unidos e China), a UE passou a
segundo plano no que tange aos pleitos económicos internacionais e questões
globais, submersa em suas próprias dificuldades e na incapacidade de gerar um
consenso entre os países que formam o bloco.
Em relação ao cenário
internacional o maior destaque do continente foi ocupar o vácuo de poder na
agenda de desenvolvimento sustentável gerado pelo afastamento dos EUA e ausência
do Brasil e demais países latinos, envolvidos na já chamada “primavera latina”. O que deu voz a ativistas tais como a jovem Greta Thungberg que desde seu
discurso no parlamento Sueco em fevereiro, ganhou representatividade em todo o
planeta, assim como diversas críticas. A celebração em dezembro da Cúpula
Mundial para a Mudança Climática em Madrid, por desistência do Brasil
e posteriormente do Chile, consolidou o papel da Europa na denominada Agenda
Verde Global.
O processo de cisão do Reino
Unido, ou BREXIT, com o bloco foi o grande impasse enfrentado em 2019 pela
União Europeia, cuja definição deve aguardar a 2020 sem definir ainda o impacto
e os acordos derivados da separação.
Por outro lado, no panorama
político interno do bloco, Portugal e
Finlândia consolidaram as lideranças de esquerda e centro-esquerda em seus
respetivos países, frente a um crescente movimento de direita que já começava
a se consolidar em 2018. Na Espanha e na Bélgica a incapacidade
de nomear um governo para liderar o país continua na lista de tarefas
pendentes para o próximo ano.
A expansão da UE continua
avançando em direção ao leste e sudeste do continente, embora as demoras em
formar governo nas altas esferas do bloco paralisaram os processos de adesão de
novos países.
A relação entre a UE e os Estados
Unidos, e consequentemente com a NATO, também foram afetadas pela inércia dos
processos internos do continente e pela evolução da política externa americana,
não sendo bem recebidas as ameaças feitas pela gestão Trump de aumentar
as tarifas de importação em relação a diversos produtos europeus.
Assim mesmo, as relações com as
nações latinas e com o Mercosul foram destaque apenas no que se refere a troca
de ofensas em discursos presidenciais, não havendo grandes resultados nem
movimentos económicos dentro dos novos
acordos assinados com a região.
O ano de 2019 foi para a Europa
um ano de articulações maioritariamente internas, reflexo do próprio paradigma
internacional e do desgaste da população. Também foi um ano de profunda
avaliação, com o 30ª
aniversário da Queda do Muro de Berlim, em um mundo cada vez mais
polarizado, e abalado por tragédias tais como o incêndio
da catedral de Notre Dame e a continuação da crise dos refugiados e
imigrantes que buscam melhores condições no bloco.
No panorama social, greves na
Espanha, França, Itália e outros países, são os reflexos de que os desafios
enfrentados pela Europa vão além do alinhamento político e permeia o pensamento
de milhões de europeus que participaram nas eleições parlamentares do bloco no
começo do ano, mas sem muitas expectativas de mudanças apesar de tudo o que
estava em jogo, devido aos sinais de que o projeto europeu precisa de uma
rápida intervenção ou caso contrário cederá sobre seu próprio peso. Após as
eleições, a Alemanha saiu fortalecida no bloco, o que não gerou grandes
mudanças em relação as diretivas da UE.
O ano de 2020 representa um
anseio de mudança na Europa e no mundo, alimentados pela campanha presidencial
americana e pelo desejo de estabilidade política nos países da América Latina
após um tenso ano de 2019. O processo de expansão e crescimento do bloco
depende por um lado de estabilidade interna e por outro da consolidação de um
cenário internacional mais propício às negociações, investimentos e comércio.
*CEIRI NEWS | Wesley S.T Guerra* -
Correspondente Europa -- 18 de dezembro de 2019
*Atuou como consultor
internacional na área de Paradiplomacia para o Escritório Exterior de Comércio
e Investimentos do Governo da Catalunha. Formado em Negociações e Marketing
Internacional pelo Centro de Promoção Econômica de Barcelona, Bacharel em Administração
pela Universidade Católica de Brasília, especialista pós-graduado em Ciências
Políticas e Relações Internacionais pela Fundação Escola de Sociologia e
Política de São Paulo – FESPSP, MBA em Novas Parcerias Globais pelo Instituto
Latinoamericano para o Desenvolvimento da Educação, Ciência e Cultura e
mestrando em Polítcias Sociais em Migrações na Universidad de La Coruña
(España). Fundador do thinktank NEMRI – Núcleo de Estudos Multidisciplinar das
Relações Internacionais. Especialista em paradiplomacia, acordos de cooperação
e transferência acadêmica e tecnológica, smartcities e desenvolvimento econômico
e social. Morou na Espanha, Itália, França e Suíça.
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