segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

As ambições alemãs no Médio-Oriente Alargado


Thierry Meyssan*

A Alemanha pretende, 75 anos após a Segunda Guerra Mundial, se tornar novamente uma potência no cenário internacional. Ela escolheu voltar ao Próximo-Oriente Alargado. Mas, para ela é difícil e perigoso elevar-se a esse nível sem nenhuma outra experiência além da histórica.

De acordo com o plano redigido por Volker Perthes em 2013, a Alemanha prepara-se para substituir os soldados dos EUA no Próximo-Oriente Alargado. Ela arde de impaciência depois de ter sido privada durante 75 anos do papel internacional a que se acha com direito. É para ela uma questão de honra nacional.

Pretende utilizar o seu exército para estabelecer a paz seja lá onde for, ela que teve que suportar o peso das guerras perdidas do nazismo.

A princípio, ela esperava entrar em Damasco vitoriosa ao lado dos bravos «democratas» de Idleb. Azar ! Não passam, afinal, de jiadistas! Depois, ela esperava substituir os GI.s no Norte da Síria quando o Presidente Donald Trump anunciou, pela segunda vez, a sua retirada. Infelizmente, cedendo ao Pentágono, ele deu meia volta. Ela absteve-se de intervir durante a operação turca contra o PKK/YPG, tendo em conta a sua grande população imigrante turca e curda. Imaginou, então, encobrir as suas acções por trás de um álibi humanitário, apresentando um projecto de Resolução ao Conselho de Segurança e suscitando os vetos indignados da Rússia e da China.

Por isso, enviou discretamente, em Outubro de 2019, peritos para apalpar o terreno junto do Presidente egípcio, Abdel al-Fattah al-Sissi, e do Emir do Catar, Xeque Tamim bin Hamad Al-Thani. Por fim, fixou-se na Líbia e organizou, a 19 de Janeiro de 2020, a conferência de Berlim.

Mas isso, uma vez mais, foi como um golpe de espada na água. Os dois principais rivais, Fayez el-Sarraj e Khalifa Haftar, nem se falaram. Ora, a Chancelerina Merkel recebeu, por esta altura, o apoio unânime da sua classe dirigente para «investir na paz». O comunicado final expõe esta visão imaginária de um cessar-fogo que ninguém deseja e de um exército alemão que o faria respeitar.

É que não é fácil compreender o Próximo-Oriente Alargado após 75 anos de ausência, não apenas aqui, mas também do cenário internacional.

Talvez a Alemanha encontre uma nova ocasião com o seu aliado militar de sempre, a Turquia. O que, no entanto, não é garantido de antemão : a União Europeia tem um atraso no pagamento de 2,6 mil milhões (bilhões-br) de euros quanto ao Pacto das Migrações, revelou o Ministro turco dos Negócios Estrangeiros (Relações Exteriores-br), Mevlüt Çavuşoğlu. Berlim e Ancara não pararam de se confrontar desde a tentativa de Golpe de Estado de 2016 e do meio milhão de prisões que se lhe seguiram, entre as quais as de 59 cidadãos alemães que continuam em detenção. E confrontam-se de novo a propósito da exploração de gás no Mediterrâneo.

Mas também existem muitos laços históricos entre os dois países, para o melhor ou para o pior (Rudolf Höss participou no genocídio de não-muçulmanos perpetrado pelos Jovens Turcos, tendo-se tornado depois, alguns anos mais tarde, director do campo de extermínio de Auschwitz, antes de ser condenado à morte pelo Tribunal de Nuremberga). Laços humanos também uma vez que a maior comunidade turca expatriada vive na Alemanha desde a Guerra Fria. A República Federal acolheu também os líderes dos Irmãos Muçulmanos desde a tentativa de Golpe de Estado de Hama, em 1982, e dedicou-lhes um gabinete especial no Ministério dos Negócios Estrangeiros, no início da guerra contra a Síria.

Assim, a Chancelerina Angela Merkel viajou para Istambul para a inauguração de um novo campus da universidade germano-turca. Ela afirmou, de novo, a vontade do seu país em «ajudar» a região. Propôs, por exemplo, construir 10. 000 alojamentos para as pessoas que cheguem de Idleb. Mas, falava ela de civis ou de jiadistas?

Thierry Meyssan* | Voltaire.net.org | Tradução Alva | Fonte Al-Watan (Síria)

*Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: Sous nos yeux. Du 11-Septembre à Donald Trump. Outra obras : L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación (Monte Ávila Editores, 2008).

Reino Unido | Boris tentou escolher jornalistas para conferência, todos se foram embora


Alguns jornalistas de política que estavam na residência oficial do primeiro-ministro para ouvir uma conferência foram impedidos de entrar. E os outros o que fizeram?

Os correspondentes de política de várias publicações britânicas abandonaram esta tarde o número 10 de Downing Street, a residência oficial do primeiro-ministro, em protesto para com a tentativa de selecionar os jornalistas que podiam ouvir uma conferência de imprensa de Boris Johnson sobre a União Europeia.

De acordo com o reportado pelo Guardian, os jornalistas que estavam no local foram separados em dois grupos por um segurança. Um dos assistentes do primeiro-ministro disse, depois, a um dos grupos que tinha que sair do edifício.

E em protesto contra a tentativa de escolher quem pode ou não noticiar sobre o governo britânico, os restantes jornalistas saíram também.

Guiné-Bissau | CNE repetirá apuramento dos resultados eleitorais


Presidente do órgão eleitoral, José Pedro Sambu, marcou para a próxima terça-feira (04.02), os trabalhos do apuramento nacional dos resultados das presidenciais guineenses de 29 de dezembro. Apuramento já gera polémica.

Em nota enviada às candidaturas de Umaro Sissoco Embaló e Domingos Simões Pereira, a que a Lusa teve acesso este sábado (01.02), o presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE) da Guiné-Bissau, José Pedro Sambu, convida aquelas instâncias a indicarem os respetivos representantes naquela operação.

O processo deverá iniciar-se às 10 horas locais de terça-feira, na sede da CNE, em Bissau, na presença de um perito designado pela Comunidade Económica de Estados da África Ocidental (CEDEAO), refere a nota de Pedro Sambu.  

No documento, a CNE pede que as candidaturas de Umaro Sissoco Embaló e de Domingos Simões Pereira, também se façam acompanhar das respetivas atas produzidas no apuramento dos resultados eleitorais ao nível regional.

Angola | João Lourenço garante: "Não se vai negociar" com Isabel dos Santos


Em entrevista exclusiva à DW, o Presidente de Angola fala oficialmente pela primeira vez sobre o "Luanda Leaks". João Lourenço assegura que não se está nem se vai negociar processos nos quais Isabel dos Santos é acusada.

O Governo de Angola não está e nem vai negociar com a empresária Isabel dos Santos os alegados casos de corrupção dos quais é acusada no país. A afirmação é do Presidente João Lourenço, que falou pela primeira vez sobre o "Luanda Leaks" numa entrevista exclusiva ao enviado especial da DW a Luanda, Adrian Kriesch.

João Lourenço lembrou ainda a imunidade do ex-Presidente José Eduardo dos Santos e do ex-vice-presidente Manuel Vicente para justificar o facto de ambos não estarem a sentir o peso da Justiça angolana, mas garantiu a imparcialidade e independência dos órgãos de Justiça em Angola.

Quanto às reformas no Estado angolano, que incluem o combate à corrupção, o Presidente João Lourenço afirmou: "Somos nós, do partido que sempre governou o país, que estamos a fazer as reformas que eram absolutamente necessárias que fossem feitas". 

Angola | O poder local é uma ameaça ao poder central?


Autárquicas poderão ser uma "maneira de o MPLA perder o controlo do poder" e de "introduzir um elemento de controlo dos eleitores sobre os governos locais", entende politólogo.

O poder local em Angola, que pressupõe descentralização democrática, compreende as autarquias locais, poder tradicional e organização de associações locais. E a implementação das autarquias, através das eleições, é um passo fundamental para a consolidação da democratização do país.

Mas apesar de Angola ser considerada uma democracia, ainda persistem algumas heranças do sistema de partido único, como a excessiva centralização do poder. 

"Acho urgente que Angola passe a ter esta experiência de democratização local, porque continua a ser talvez dos Estados africanos mais centralizados", afirma Aslak Orre, politólogo especializado em governação e corrupção do CMI, um instituto de pesquisa da Noruega.

"É impossível continuar a governar um país tão vasto como Angola de uma forma centralizada, porque o [Governo] central não é capaz de utilizar os recursos de forma mais apropriada. Para responder às necessidades locais, há uma grande necessidade de descentralizar o poder", refere.

Moçambique | Ataque em Cabo Delgado: "Estamos no mato porque temos medo"


Moradores estão em fuga após ataque na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique. Homens armados incendiaram casas, escolas, mercados. Vítimas estão no mato sem comida.

Uma professora moçambicana diz que os atacantes vandalizaram e queimaram vários edifícios na localidade onde reside com o filho, Bilibiza, na província de Cabo Delgado.

"Queimaram todo o bairro, o mercado, o hospital... Mesmo a minha casa está queimada com todos os bens", conta em entrevista à DW África.

O grupo armado atacou várias povoações na região e os moradores fugiram para o mato. O clima entre os residentes é de desespero.

"Ainda estamos no mato, porque temos medo. Atravessámos o rio [Montepuez] e estamos numa outra margem, porque eles [os atacantes] estão a dizer que vão continuar nessa noite", afirma a professora. "Estamos tristes, mas bem tristes, porque tudo o que tínhamos já foi embora. Como recuperarmos neste momento, não sabemos. E nem temos como. Nem sabemos como é que vamos trabalhar."

Projetos para criar empregos em Timor-Leste com financiamento luso-europeu


Projetos que fomentem a criação de emprego no setor cultural em Timor-Leste podem a partir de agora candidatar-se a um total de 100 mil euros de financiamento, no âmbito de um programa luso-europeu.

A iniciativa, conhecida como "Diversidade - Instrumento de financiamento para a diversidade cultural, cidadania e identidade", é cofinanciada pela UE e pelo Camões, e tem previsto até 600 mil euros para os seis Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) e Timor-Leste.

Os embaixadores de Portugal e da UE em Díli, José Pedro Machado Vieira e Andrew Jacobs, respetivamente, participaram no lançamento da iniciativa, no Centro Cultural Português, na embaixada de Portugal, na capital timorense, na sexta-feira.

"Timor-Leste possui grande riqueza de saberes locais, que vão de noções espirituais do mundo físico a métodos tradicionais de governação, bem como uma diversidade de manifestações culturais, com potencial para a geração de emprego e rendimento", notou José Pedro Machado Vieira.

Já Andrew Jacobs afirmou que "a UE está comprometida em promover a cultura timorense como uma força motriz para a participação democrática" nacional.

"Encorajamos expressões culturais que promovem a diversidade, o diálogo intercultural, os direitos humanos e os valores democráticos", disse o diplomata, notando que o programa vai financiar "pequenas iniciativas e projetos que contribuirão para fortalecer a diversidade cultural, cidadania e identidade timorense".

Autoridades chinesas elevam número de mortos por coronavírus para 362


O número de mortes provocadas pelo novo coronavírus subiu para 362, depois de 56 pessoas terem morrido na China e uma nas Filipinas, anunciaram hoje as autoridades da província de Hubei.

No seu balanço diário, a comissão de saúde da província onde se situa Wuhan, a cidade onde começou o contágio, afirmou que foram registados 2.829 novos casos de infeção no surto de pneumonia provocado pelo novo coronavírus.

Desde dezembro já surgiram 17.205 casos em toda a China da doença que levou a Organização Mundial de Saúde (OMS) a decretar uma emergência mundial e que já se espalhou a 20 países.

No domingo, morreu a primeira pessoa infetada fora da China, nas Filipinas: um chinês de 44 anos, natural de Wuhan.

Um avião da Força Aérea Portuguesa transportou no domingo para Lisboa um grupo de 20 pessoas -- 18 portugueses e duas cidadãs brasileiras -- retiradas da cidade chinesa de Wuhan, foco do novo coronavírus.

No avião de transporte C-130 da Força Aérea Portuguesa, as pessoas que decidiram sair de Wuhan, foram acompanhadas por oito tripulantes e oito profissionais de saúde, incluindo uma equipa de sanidade internacional.

Além do território continental da China e das regiões chinesas de Macau e Hong Kong, há mais casos de infeção confirmados em 24 países.

A nova batalha por Assange e pelo jornalismo


Extradição aos EUA será decidida a partir de 24/2. Se autorizada, fundador do Wikileaks ficará incomunicável, e poderá ser condenado a 175 anos. Perseguição vira precedente para calar imprensa crítica. Mas a resistência também cresce

Nozomi Hayase | Outras Palavras | Tradução de Simone Paz Hernández

Na audiência da última quinta-feira, em Westminster, Londres, foi estabelecido o cronograma do caso de extradição de Julian Assange para os Estados Unidos. As equipes jurídicas de Assange nos EUA fizeram um pedido para que a audiência de extradição fosse dividida em duas fases. Seu advogado de defesa, Edward Fitzgerald, explicou ao tribunal que eles não estarão prontos para apresentar o corpo principal de suas provas até depois da primeira semana da audiência, que começar, segundo se prevê, no final de fevereiro.

Assange foi indiciado por 17 acusações de espionagem, entre elas, por ter publicado documentos sobre a guerra dos EUA no Irã e no Afeganistão, e sobre as torturas na prisão de Guantánamo. Na audiência anterior, na segunda-feira 13 de janeiro, seu advogado, Gareth Peirce, levantou a questão que o preocupa: até agora, Assange não teve acesso a apoio jurídico, o que dificulta uma preparação adequada para sua defesa — ainda mais quando se enfrenta a sentenças que podem somar 175 anos de prisão.

Recentemente, surgiram novas evidências que provam que a CIA contratou a empresa de segurança espanhola, US Global, para espionar Assange dentro da Embaixada do Equador em Londres, na época em que ele habitou o local sob asilo político. Os alvos da vigilância incluíam seus advogados, médicos e visitas. Agora, três ex-funcionários da companhia se apresentaram como testemunhas, confirmando que seu então chefe, David Morales, ordenou que os trabalhadores instalassem na embaixada novas câmeras de vídeo, com capacidade de gravação de áudio, em dezembro de 2017.

Na saída da corte, após a audiência, o editor-chefe do WikiLeaks, Kristinn Hrafnsson, declarou: “Com os depoimentos apresentados pelos EUA, nós agora aprendemos que eles não consideram que os estrangeiros possam ter proteção pela Primeira Emenda [à Constituição norte-americana, que assegura liberdade de expressão].” Ele insistiu em como isso é uma perseguição política contra um jornalista — e um grave ataque à liberdade de imprensa, com repercussão mundial.

Coronavírus | Portugueses repatriados da China vão para isolamento voluntário


Antes, os portugueses irão realizar ainda hoje análises para despiste do vírus no Hospital Pulido Valente, processo que será concluído nas próximas horas.

Passado cerca de uma hora após os cidadãos portugueses repatriados da China terem chegado a Portugal no avião militar C-130 da Força Aérea, a ministra da Saúde, Marta Temido, informou que os recém-chegados irão ser transportados para o Hospital Pulido Valente, em Lisboa, para serem submetidos a análises para despiste do coronavírus. 

Numa conferência de imprensa em direto para as televisões nacionais, a governante, ladeada por outros responsáveis políticos e sanitários, deu as boas-vindas aos portugueses e começou por garantir que tudo será feito para que "a tranquilidade volte" à vidas destes cidadãos e "dos seus familiares, no mais curto prazo possível". 

"Neste momento, como é perceptível, decorre ainda no Aeroporto Figo Maduro uma avaliação individual dos repatriados pela equipa da Sanidade Internacional coordenada pela Direção-Geral da Saúde", adiantou. 

Se durante esta primeira fase for identificado algum caso de infeção pelo coronavírus, a ministra referiu que este será discutido via telefone com o médico e a linha de apoio da tutela. Se o caso for validado será ativado o protocolo de transporte para o Hospital Curry Cabral, em Lisboa. 

Contudo, se não for detetado nenhum caso, os 20 portugueses - 18 cidadãos e dois diplomatas da embaixada de Portugal em Pequim que acompanharam a operação -  serão transportados para o Hospital Pulido Valente, onde serão submetidos a análises para que haja confirmação. Este processo deverá estar concluído nas próximas horas. 

As análises serão feitas pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge.

Coronavírus em Macau | Prevenção geral para estancar contágio


O novo tipo de coronavírus chegou a Macau e mudou por completo o quotidiano da cidade. Autoridades responderam rapidamente com várias medidas. Lições da SARS foram úteis, mas é cedo para se perceber se é suficiente para evitar males maiores.

É preciso recuar 17 anos para encontrar um cenário semelhante, aquando do surto de pneumonia atípica (SARS, na sigla inglesa). Mas esta crise é diferente. A cidade está bem mais exposta ao influxo de turistas da China continental e a resposta das autoridades é mais determinada, dizem observadores. 

O recolher pode não ser obrigatório, mas a grande maioria da população está por casa nestes dias, saindo à rua sobretudo em busca de bens alimentares ou máscaras. Autoridades e sociedade estão a levar a sério os riscos associados ao surto do novo tipo de coronavírus conhecido como vírus de Wuhan, capital da província de Hubei, onde tem origem a doença que gera calafrios um pouco por todo o mundo. Famílias inteiras passam quase todo o tempo dentro de portas com as férias de Ano Novo Chinês de pais – funcionários públicos e não só – e filhos a serem estendidas. 

As autoridades emitem comunicados e mensagens várias vezes ao longo do dia, com conferências de imprensa e medidas especiais a serem anunciadas diariamente. Será suficiente? 

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