Moradores estão em fuga após
ataque na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique. Homens armados
incendiaram casas, escolas, mercados. Vítimas estão no mato sem comida.
Uma professora moçambicana diz
que os atacantes vandalizaram e queimaram vários edifícios na localidade onde
reside com o filho, Bilibiza, na província de Cabo Delgado.
"Queimaram todo o bairro, o
mercado, o hospital... Mesmo a minha casa está queimada com todos os
bens", conta em entrevista à DW África.
O grupo armado atacou várias
povoações na região e os moradores fugiram para o mato. O clima entre os
residentes é de desespero.
"Ainda estamos no mato,
porque temos medo. Atravessámos o rio [Montepuez] e estamos numa outra margem,
porque eles [os atacantes] estão a dizer que vão continuar nessa noite",
afirma a professora. "Estamos tristes, mas bem tristes, porque tudo o que
tínhamos já foi embora. Como recuperarmos neste momento, não sabemos. E nem
temos como. Nem sabemos como é que vamos trabalhar."
Os moradores estão a alimentar-se
de folhas de mandioca e não sabem quanto tempo mais irão aguentar.
"Aqui não há nenhum
alimento, não há comida. Estragaram toda a comida, queimaram. Sobrevivemos
desde ontem. É só hoje que podemos ficar aqui no mato. Amanhã, vamos arriscar.
Vamos ao bairro, se eles não entrarem nesta noite. Não sabemos o que vai
acontecer", conta ainda a professora de 37 anos.
Além de queimar casas, o grupo
armado atacou o Instituto Agrário de Bilibiza, a única escola secundária
técnica em Cabo Delgado. A instituição tem 400 alunos, é gerida pela Fundação
Aga Khan e responsável por introduzir novas técnicas agrícolas, além de
realizar projetos de infraestruturas. Em comunicado, o instituto
informa que nenhum dos 11 estudantes e sete professores que estavam no
local no momento do ataque está em perigo.
Num comunicado, o Governo
português condenou o ataque e ressaltou a importância dos projetos conduzidos
pela fundação, que é parceira das autoridades portuguesas.
Ainda não há informações sobre
mortos ou feridos na sequência dos ataques. Até agora, as autoridades
moçambicanas não se pronunciaram sobre o acontecido.
A violência na província de Cabo
Delgado eclodiu em 2017 e já provocou pelo menos 350 mortes. Cerca de 60 mil pessoas
foram forçadas a fugir das suas casas. Desde junho passado, o grupo 'jihadista'
Estado Islâmico tem reivindicado alguns ataques, mas a autoria não foi
confirmada pelas autoridades moçambicanas.
Karina Gomes, Selma Inocência,
Agência Lusa | em Deutsche Welle
NR: Artigo atualizado às 19:31
(CET) de 30 de janeiro para acrescentar comunicado do Instituto Agrário de
Bilibiza.
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