segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

Moçambique | Ataque em Cabo Delgado: "Estamos no mato porque temos medo"


Moradores estão em fuga após ataque na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique. Homens armados incendiaram casas, escolas, mercados. Vítimas estão no mato sem comida.

Uma professora moçambicana diz que os atacantes vandalizaram e queimaram vários edifícios na localidade onde reside com o filho, Bilibiza, na província de Cabo Delgado.

"Queimaram todo o bairro, o mercado, o hospital... Mesmo a minha casa está queimada com todos os bens", conta em entrevista à DW África.

O grupo armado atacou várias povoações na região e os moradores fugiram para o mato. O clima entre os residentes é de desespero.

"Ainda estamos no mato, porque temos medo. Atravessámos o rio [Montepuez] e estamos numa outra margem, porque eles [os atacantes] estão a dizer que vão continuar nessa noite", afirma a professora. "Estamos tristes, mas bem tristes, porque tudo o que tínhamos já foi embora. Como recuperarmos neste momento, não sabemos. E nem temos como. Nem sabemos como é que vamos trabalhar."

 Sobreviver sem comida

Os moradores estão a alimentar-se de folhas de mandioca e não sabem quanto tempo mais irão aguentar.

"Aqui não há nenhum alimento, não há comida. Estragaram toda a comida, queimaram. Sobrevivemos desde ontem. É só hoje que podemos ficar aqui no mato. Amanhã, vamos arriscar. Vamos ao bairro, se eles não entrarem nesta noite. Não sabemos o que vai acontecer", conta ainda a professora de 37 anos.

Além de queimar casas, o grupo armado atacou o Instituto Agrário de Bilibiza, a única escola secundária técnica em Cabo Delgado. A instituição tem 400 alunos, é gerida pela Fundação Aga Khan e responsável por introduzir novas técnicas agrícolas, além de realizar projetos de infraestruturas. Em comunicado, o instituto informa que nenhum dos 11 estudantes e sete professores que estavam no local no momento do ataque está em perigo.

Num comunicado, o Governo português condenou o ataque e ressaltou a importância dos projetos conduzidos pela fundação, que é parceira das autoridades portuguesas.

Ainda não há informações sobre mortos ou feridos na sequência dos ataques. Até agora, as autoridades moçambicanas não se pronunciaram sobre o acontecido.

A violência na província de Cabo Delgado eclodiu em 2017 e já provocou pelo menos 350 mortes. Cerca de 60 mil pessoas foram forçadas a fugir das suas casas. Desde junho passado, o grupo 'jihadista' Estado Islâmico tem reivindicado alguns ataques, mas a autoria não foi confirmada pelas autoridades moçambicanas.

Karina Gomes, Selma Inocência, Agência Lusa | em Deutsche Welle

NR: Artigo atualizado às 19:31 (CET) de 30 de janeiro para acrescentar comunicado do Instituto Agrário de Bilibiza.

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