“Continuai
o combate pela preservação das conquistas, pela libertação completa da Pátria,
pela defesa dos interesses das camadas mais exploradas, por um regime
democrático, popular e progressista, pela Nação una e indivisível, pela
integridade territorial, pela participação independente e soberana, no concerto
livre das nações” (excerto da Proclamação das FAPLA)
Durante
pouco mais de 16 anos, as Forças Armadas Populares de Angola, FAPLA, marcaram
os momentos mais decisivos da luta de libertação em Angola, sobretudo contra o
colonialismo, contra o neocolonialismo, contra o “apartheid” e contra
algumas das suas sequelas.
As
FAPLA, por mérito e esforço próprio, ganharam dimensão internacional nos campos
de luta de libertação em África e eram uma instituição militar que se tornou
motivo de orgulho e de referência cívica para todo o povo angolano, para todos
os povos das regiões central e austral do continente, com impactos em várias
gerações de jovens combatentes alguns dos quais subsistindo até aos nossos
dias!
As
FAPLA travaram muitas das batalhas tornadas expoentes das mais legítimas lutas
da história do movimento de libertação em África, constituindo com a
independência o vector principal da aliança cívico-militar que se ergueu enquanto
durou a República Popular de Angola, um processo histórico que, se saiu
vencedor, foi sacrificado com muito poucos aproveitamentos em função das
profundas alterações globais, regionais e internas que ocorreram desde meados
da década de 80 do século XX, marcada em relação a Angola sobretudo pelo Acordo
de Bicesse de 31 de Maio de 1991.
Nesse
processo histórico acabaram por eclodir traumatismos escusados nessas gerações,
traumatismos abrangentes que atingiam largos espectros do povo angolano quando
se desfez a aliança cívico-militar interna e traumatismos específicos em
relação àqueles que serviram nas mais diversificadas linhas da frente nos
contenciosos de libertação e resistência, entre os quais uma parte dos
efectivos que compuseram os organismos de inteligência e segurança do estado,
que durante mais duas décadas e meia (de 1991 a 2017), foram votados à marginalização e
sujeitos a uma velada guerra psicológica que só não trouxe maiores repercussões
graças ao associativismo patriótico em torno da Acção Social Para Apoio e
Reinserção, ASPAR e às capacidades que muitos tiveram para sobreviver.
As
instituições cívico-militares angolanas do âmbito do Não Alinhamento activo que
saíram vitoriosas dessas lutas legítimas pelos direitos humanos mais fundamentais
dos povos da África, em função dessa legitimidade não deveriam ter sido
perdidas quando houve a oportunidade para a paz, pelo que Angola está a pagar
muito caro essa factura imposta pelas conjunturas externas, um sacrifício que
deu sequência à “oportunidade” da alternativa neocolonial resultante
das neoliberais portas escancaradas, conforme a vontade do império de hegemonia
unipolar e de seus vassalos.
O
império e vassalos socorreram-se de ementas forjadas no estrito quadro “soft
power” de seus interesses e conveniências, conformadas aos parâmetros
da “democracia representativa” e, subtilmente, de definições
doutrinárias resultantes da natureza fundamentalista em correspondência com o
carácter de sua imposição e do seu exercício dominante!...
O
Acordo de Bicesse obrigou ao fim da RPA, ao fim do Partido do Trabalho, ao fim
da aliança cívico-militar angolana, ao fim das FAPLA e, em troca, na
profundidade do processo degenerativo em relação à vida, acarretou o fardo do
capitalismo neoliberal e do seu insípido “mercado de consumo” e de
capitais (que incluem os capitais especulativos) sobre um país cujos únicos
recursos são ainda as indústrias extrativas, com os preços das “commodities” (matérias-primas)
exclusivamente controlados pelos processos dominantes de oferta e procura,
financeiramente tutelados pela aristocracia financeira mundial!
Como
um meteoro histórico na curta cronologia duma Angola independente, as FAPLA
passaram, mas estão enraizadas na origem dum processo cívico-militar que deu
provas, e urge fazer renascer para melhor reaproveitar em relação à paz e à
vida, num momento em que conforme a pandemia que entretanto eclodiu, se
confirma que há uma espécie em perigo: o homem!