#Publicado em português do Brasil
Emerge, em novos países, apelo à
irracionalidade diante da covid. Discurso se repete: cloroquina, “gripezinha”,
ataque à quarentena e às máscaras. Políticos conservadores aderem — e agridem,
para encobrir fracasso da direita na crise
Jorge Fonseca*, no Público.es | em Outras Palavras | Tradução
de Simone Paz
Multiplicam-se, agora em países
como Espanha e Argentina, as manifestações de negacionistas da pandemia. Elas
se opõem à quarentena, ao uso de máscaras e a outras medidas preventivas contra
o contágio da covid-19. Fazem parte da estratégia que se baseia no ódio para
deslegitimar e atacar governos progressistas — manipulando parte da população,
que encara uma difícil situação sanitária, econômica e emocional.
A rejeição à quarentena, junto
com a acusação de que seria uma medida autoritária dos governos progressistas,
tem raízes no manifesto de abril de um batalhão internacional neoliberal de
ultradireita. É comandado pelo escritor Mario Vargas Llosa (o “feiticeiro da
tribo” que reconhece que adora “escrever mentiras que pareçam verdades”, como
define por Atilio Borón). Reúne, além dos ex-presidentes Mauricio Macri
(Argentina) e José Maria Aznar (Espanha), o ex-presidente colombiano Alvaro
Uribe, acusado de terrorismo de Estado e agora em prisão domiciliar.
Não é por acaso que,
recentemente, e com apenas um dia de diferença, foram convocadas manifestações
em Madrid e Buenos Aires (além de outras cidades argentinas) com os mesmos
slogans: o vírus é uma farsa, é como uma gripe, quarentena é privação de
liberdade, não às vacinas, sim à cloroquina (na Argentina estão investigando se
poderia ter sido a causa da morte de uma criança), não às máscaras. Em Madrid,
poucos manifestantes (entre os dois mil presentes) usaram máscara — e um deles
já está internado com covid-19
Também, não é uma simples
coincidência que no dia 27 de julho tenha ocorrido um encontro dos
negacionistas da pandemia, em Madrid, sob o nome de “Médicos pela Verdade”, com
discursos de extrema-direita e praticamente nada de medicina, com argumentos
falsos sobre o vírus, seu tratamento ou o uso de máscaras. Três dos
palestrantes eram argentinos: Ramiro Salazar afirmou que “estamos diante de um
plano global para subjugar os povos do mundo”, enquanto Gastón Cornu, alinhado
a Trump, apontou a China como criadora e manipuladora da epidemia. Chinda
Brandolin (participante
de um fórum filonazista) afirmou que “o objetivo final da falsa pandemia é
impor à força um regime comunista… como já estamos vendo na Espanha ou na
Argentina…” e acrescentou que na Argentina eles devem ter “feito acertos com
muitas corporações médicas para parar o país”. Afirmou, ainda, que tal “manobra
política generalizada… tenta quebrar as economias nacionais”, e defendeu o
caminho do contágio para chegar à chamada “imunidade de rebanho”.