domingo, 6 de setembro de 2020

Internacional Fascista quer explorar a pandemia


#Publicado em português do Brasil

Emerge, em novos países, apelo à irracionalidade diante da covid. Discurso se repete: cloroquina, “gripezinha”, ataque à quarentena e às máscaras. Políticos conservadores aderem — e agridem, para encobrir fracasso da direita na crise

Jorge Fonseca*, no Público.es | em Outras Palavras | Tradução de Simone Paz

Multiplicam-se, agora em países como Espanha e Argentina, as manifestações de negacionistas da pandemia. Elas se opõem à quarentena, ao uso de máscaras e a outras medidas preventivas contra o contágio da covid-19. Fazem parte da estratégia que se baseia no ódio para deslegitimar e atacar governos progressistas — manipulando parte da população, que encara uma difícil situação sanitária, econômica e emocional.

A rejeição à quarentena, junto com a acusação de que seria uma medida autoritária dos governos progressistas, tem raízes no manifesto de abril de um batalhão internacional neoliberal de ultradireita. É comandado pelo escritor Mario Vargas Llosa (o “feiticeiro da tribo” que reconhece que adora “escrever mentiras que pareçam verdades”, como define por Atilio Borón). Reúne, além dos ex-presidentes Mauricio Macri (Argentina) e José Maria Aznar (Espanha), o ex-presidente colombiano Alvaro Uribe, acusado de terrorismo de Estado e agora em prisão domiciliar.

Não é por acaso que, recentemente, e com apenas um dia de diferença, foram convocadas manifestações em Madrid e Buenos Aires (além de outras cidades argentinas) com os mesmos slogans: o vírus é uma farsa, é como uma gripe, quarentena é privação de liberdade, não às vacinas, sim à cloroquina (na Argentina estão investigando se poderia ter sido a causa da morte de uma criança), não às máscaras. Em Madrid, poucos manifestantes (entre os dois mil presentes) usaram máscara — e um deles já está internado com covid-19

Também, não é uma simples coincidência que no dia 27 de julho tenha ocorrido um encontro dos negacionistas da pandemia, em Madrid, sob o nome de “Médicos pela Verdade”, com discursos de extrema-direita e praticamente nada de medicina, com argumentos falsos sobre o vírus, seu tratamento ou o uso de máscaras. Três dos palestrantes eram argentinos: Ramiro Salazar afirmou que “estamos diante de um plano global para subjugar os povos do mundo”, enquanto Gastón Cornu, alinhado a Trump, apontou a China como criadora e manipuladora da epidemia. Chinda Brandolin (participante de um fórum filonazista) afirmou que “o objetivo final da falsa pandemia é impor à força um regime comunista… como já estamos vendo na Espanha ou na Argentina…” e acrescentou que na Argentina eles devem ter “feito acertos com muitas corporações médicas para parar o país”. Afirmou, ainda, que tal “manobra política generalizada… tenta quebrar as economias nacionais”, e defendeu o caminho do contágio para chegar à chamada “imunidade de rebanho”.

Bielorrússia | Cem mil marcharam em Minsk contestando Lukashenko


Protesto aproximou-se do palácio presidencial, fortemente guardado pelas forças de segurança. Foram detidas 70 pessoas.

Os esforços populares para forçar o Presidente bielorrusso, Aleksander Lukashenko, a abandonar o poder mantêm-se semana após semana. Este domingo, milhares de pessoas marcharam pelo centro de Minsk, mesmo perante a repressão das forças de segurança que fizeram 70 detenções.

Cantando slogans como “Longa vida à Bielorrússia!” ou “Vergonha”, milhares de pessoas – a Reuters referia dezenas de milhares – marcharam pelo centro da capital, chegando muito perto dos portões do palácio presidencial, onde a presença policial era intensa, descreve a Rádio Europa Livre.

Vários edifícios e monumentos em Minsk tinham sido protegidos com arame farpado ao início da manhã. Para além da polícia antimotim, também havia militares a patrulhar a manifestação.

Índia tem recorde mundial de novos casos de covid-19


#Publicado em português do Brasil

Governo registra mais de 90 mil novas infecções por coronavírus. Nunca antes tantos contágios foram contabilizados em um país em um dia. Berlim anuncia expansão de apoio a Nova Déli para combate da epidemia.

O Ministério da Saúde da Índia anunciou neste domingo (06/09) ter registrado 90.632 novas infecções por coronavírus nas últimas 24 horas. Nunca antes tantos casos de infecção foram contados em um país em um dia.

Existem agora 4,1 milhões de infecções confirmadas na Índia. O país asiático está em terceiro lugar nas estatísticas, atrás dos EUA e do Brasil, mas deve logo superar o Brasil.

Os especialistas acreditam que o número de casos não notificados é muito maior na Índia, já que há relativamente pouca testagem para o vírus. O número de mortes por covid-19 aumentou para 70.626, de acordo com dados da universidade americana Johns Hopkins, em Baltimore nos EUA. Os indianos estão em terceiro lugar em número de óbitos, atrás de EUA (188,5 mil mortes) e Brasil (126 mil).

Índia implode a sua própria Nova Estrada da Seda


Pepe Escobar [*]

Houve um tempo em que Nova Delhi anunciava orgulhosamente a ideia de estabelecer a sua própria Nova Estrada da Seda – desde o Golfo de Omã à intersecção da Ásia Central e do Sul – a fim de competir com a Belt and Road Initiative (BRI) da China.

Agora parece que os indianos deram tiros nos próprios pés.

Em 2016, Teerão e Nova Delhi assinaram um acordo para construir uma linha ferroviária de 628 km do porto estratégico de Chabahar a Zahedan, muito perto da fronteira com o Afeganistão, com uma extensão crucial para Zaranj, no Afeganistão, e mais além.

As negociações envolveram a Iranian Railways e a Indian Railway Constructions Ltd. Mas no fim nada aconteceu – por causa do arrastar de pés indiano. Assim, Teerão decidiu construir a ferrovia de qualquer maneira, com seus próprios fundos – US$400 milhões – e conclusão prevista para Março de 2022.

A ferrovia supostamente seria o corredor de transporte chave ligado a investimentos indianos substanciais em Chabahar, seu porto de entrada no Golfo de Omã para uma Nova Rota da Seda alternativa para o Afeganistão e a Ásia Central.

A melhoria da infraestrutura ferroviária / rodoviária do Afeganistão com os seus vizinhos Tadjiquistão e Uzbequistão seria o passo seguinte. Toda a operação foi inscrita num acordo trilateral Índia-Irão-Afeganistão – assinado em 2016 em Teerão pelo primeiro-ministro indiano Narendra Modi, pelo presidente iraniano Hassan Rouhani e pelo então presidente afegão Ashraf Ghani.

A desculpa não oficial de Nova Delhi gira em torno de temores de que o projecto sofresse sanções dos EUA. Na verdade, Nova Déli obteve da administração Trump uma isenção de sanções para Chabahar e a linha ferroviária para Zahedan. O problema era convencer um conjunto de parceiros de investimento, todos eles com medo de serem sancionados.

Na verdade, toda a saga tem mais a ver com a auto-ilusão de Modi que espera obter tratamento preferencial sob a estratégia Índico-Pacífico, a qual depende de facto de um Quarteto (EUA, Índia, Austrália, Japão) de contenção da China. Essa foi a lógica por trás da decisão de Nova Delhi de cortar todas as suas importações de petróleo do Irão.

Até agora, para todos os efeitos práticos, a Índia traiu o Irão. Não é de admirar que Teerão tenha decidido agir por conta própria, especialmente agora com o “Plano Abrangente de Cooperação entre o Irão e a China” no valor de US$400 mil milhões e 25 anos de duração, um acordo que sela uma parceria estratégica entre a China e o Irão.

Neste caso, a China pode acabar por exercer controle sobre duas "pérolas" estratégicas no Mar da Arábia / Golfo de Omã, a apenas 80 km uma da outra: Gwadar, no Paquistão, um nó-chave de US$61 mil milhões do Corredor Económico China-Paquistão (CPEC, na sigla em inglês) e Chabahar.

Teerão, até agora, negou que o porto de Chabahar será oferecido a Pequim em regime de arrendamento. Mas o que é uma possibilidade real – além dos investimentos chineses numa refinaria de petróleo perto de Chabahar e mesmo, a longo prazo, no próprio porto – é uma ligação operacional entre Gwadar e Chabahar. Isso será complementado pelos chineses a operarem no porto de Bandar-e-Jask no Golfo de Omã, 350 km a oeste de Chabahar e muito próximo ao hiper-estratégico Estreito de Ormuz.

Pe Maubere: “Timor está numa situação gravíssima. Salvai-nos dos ditadores!”


No dia 27 de Agosto de 2020, o porta-voz da Câmara Eclesiástica da Diocese de Díli, rejeitou uma notícia que circulava pelas redes sociais segundo a qual a Igreja Católica apoiava a manifestação contra o Presidente da RDTL, contudo, o Padre Maubere (na imagem) não esconde a sua indignação em relação à situação vivida no país.

M. Azancot de Menezes* | Tornado | em Timor Agora

Independentemente do posicionamento oficial da Igreja Católica nesta matéria, circula uma mensagem por telemóvel, atribuída ao Padre Domingos Maubere, com o seguinte teor:

"Por favor informem o mundo que Timor está sob o terror das Forças Armadas Timorenses. Neste momento estão a cercar a casa da Sra. Ângela que está preparando uma manifestação contra o Presidente, acusado de violação da Constituição. Timor-Leste está numa situação gravíssima. Salvai-nos dos ditadores!"

As posições do Padre Domingos Maubere em relação à vontade de unir os timorenses e de combater a incoerência e a injustiça são conhecidos de longa data, desde a Convenção com a diáspora timorense realizada em Portugal ainda antes do referendo em 1999, na tentativa de unir os timorenses, lembro-me muito bem disso.

Este tipo de posicionamento repetiu-se no dia 19 de Maio de 2020 quando este sacerdote esteve no Parlamento Nacional, em Díli, ao ter tomado posições muito duras, acusando alguns deputados de falta de maturidade política. Nesse dia, profundamente emocionado e triste, as palavras do Pe. Maubere foram (muito) contundentes:

"O mundo e a solidariedade internacional devem estar a rir-se do comportamento infantil dos deputados; está a viver-se o terceiro ano de impasse político quando se devia estar a resolver os problemas do povo."

Parlamento timorense aprova renovação de estado de emergência


Díli, 03 set 2020 (Lusa) -- O Parlamento Nacional timorense aprovou hoje a autorização ao Presidente da República para a renovação do estado de emergência durante 30 dias, até ao início de outubro, devido à pandemia da covid-19.

A autorização foi aprovada numa reunião plenária extraordinária do Parlamento Nacional por 40 votos a favor e sete abstenções, numa sessão em que estiveram ausentes 18 deputados, a maioria do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), na oposição, com os restantes membros do partido a absterem-se.

O chefe de Estado, Francisco Guterres Lu-Olo, deverá agora declarar a renovação do estado de emergência, que termina na sexta-feira.

O chefe de Estado explicou na carta remetida ao Parlamento ter tido o parecer favorável à declaração -- pedido pelo Governo na semana passada -- tanto do Conselho de Estado, como do Conselho Superior de Defesa e Segurança.

No texto invoca argumentos idênticos aos utilizados aquando do pedido de autorização do atual período de exceção, nomeadamente preocupação face ao aumento de casos da covid-19 nos países vizinhos.

Morte de Luciano Hornay provoca dor e consternação em Timor-Leste



Luciano Hornay, Vice-Secretário Geral do Partido Socialista de Timor (PST), faleceu um dia antes de completar 42 anos de idade. Um dos melhores quadros superiores do PST, matemático e político, militante de primeira linha, deixou viúva e quatro filhos.

Luciano Hornay, conhecido na luta clandestina pelo nome de código “Namadoras”, teve um vasto e digno percurso de vida, a ser respeitado e seguido pelas gerações vindouras.

O saudoso nasceu no dia 18 de Agosto de 1978 em Barikafa, Luro, Lospalos (ponta Leste de Timor). Após ter frequentado estudos do ensino primário e secundário, conhecido pelos amigos por ser muito metódico e possuir um raciocínio lógico, rápido e excepcional, Luciano ingressou no Ensino Superior, estudou Ciências Políticas na Universidade de Díli (UNDIL), licenciou-se em Ciências Matemáticas na Universidade Nacional de Timor Lorosae (UNTL) e concluiu o curso de mestrado em Direito na Universidade da Paz, tendo sido professor assistente na Universidade de Díli.

Desde cedo iniciou actividades na luta clandestina pela libertação de Timor-Leste. De forma militante e patriótica, Namadoras destacou-se rapidamente pela sua capacidade de gestão e organização nas estruturas políticas onde esteve envolvido e pelo rigoroso sentido de disciplina táctica e estratégica.

Absolvidos mais de metade dos réus acusados de terrorismo em Cabo Delgado


Mais de metade dos réus acusados de participar dos ataques terroristas em Cabo Delgado foram absolvidos por insuficiência de provas. A informação foi confirmada pelo Tribunal Judicial da província, que já tramitou 11 processos crimes contra supostos membros do grupo armado instalado em Cabo Delgado desde 2017.

“Desde o princípio já foram julgados e condenados cerca de 122 réus e foram absolvidos cerca de 130 réus, portanto este grande número de réus absolvidos fazem parte dos 186 réus do processo 32/2018 que foi o primeiro a ser julgado”, revelou Zacarias Napatima porta-voz do Tribunal.

O elevado número de absolvidos, segundo explicou a fonte,  deveu-se a suposta inexperiência dos órgãos de justiças que nunca havia se confrontado com casos de terrorismo.

“Como se tratou de uma situação que apanhou-nos de surpresa, e nunca tínhamos estado preparados para lidar com crimes desta natureza se não aqueles crimes comuns, fomos ganhando experiência, refiro todos órgãos de justiça, e o serviço foi melhorando e daí para frente houve processos com dados bem instruídos o que fez com que tivéssemos processos bem instruídos”, justificou Zacarias Naptima.

Veteranos devem combater terrorismo em Cabo Delgado, refere ministro


O ministro dos Combatentes de Moçambique, Carlos Siliya, afirmou ao jornal O País que os veteranos da luta de libertação nacional devem contribuir na luta contra a insurgência na província nortenha de Cabo Delgado.

Os veteranos da luta armada de libertação nacional devem contribuir para estancar o terrorismo na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique. É o que defendeu o ministro dos Combatentes, Carlos Siliya, em Quelimane, segundo o jornal O País. 

"Os combatentes da luta armada devem educar a nova geração de forma a compreenderem que têm a missão de defender a pátria que, neste momento, está a ser atacada pelo terrorismo no norte de Moçambique, mais concretamente na província de Cabo Delgado", disse o ministro.

Portugal | Compromissos de esperança


Carvalho da Silva | Jornal de Notícias | opinião

Os portugueses e o país beneficiarão muito se, no quadro da discussão do Orçamento do Estado para 2021 e para um horizonte mais amplo, o Partido Socialista (PS) e os partidos à sua Esquerda forem capazes de fixar, com respeito recíproco, as linhas vermelhas do posicionamento de cada um e, a partir daí, trabalharem propostas geradoras de esperança.

A responsabilidade por tal empreitada reparte-se por todos, mas ao PS, que é maioritário e Governo, cabe a fatia maior. E não haverá exercício de ilusionismo, encenação de ruturas, ou sacudidela de água do capote que o possa isentar dessa obrigação.

Escrevi, neste espaço, no dia 4 de outubro de 2015, dia das eleições para a Assembleia da República donde emergiu a tão importante solução política e de Governo da anterior legislatura: "Não tenhamos medo dos debates, do conflito de posições, da necessidade de mais negociação e da criação de compromissos novos". Nessa altura esse exercício impunha-se porque eram precisos "passos inovadores para corresponder aos apelos dos cidadãos", submetidos a uma austeridade injusta e estéril. Porém, os problemas com que Portugal se depara hoje e as dificuldades com que a maioria das pessoas se debate são, infelizmente, de maior dimensão que em finais de 2015.

No plano mundial as dinâmicas em marcha aceleram desigualdades e aumentam a especulação financeira. Da União Europeia não virão apoios que correspondam à imensidão das necessidades de que o país carece. Por outro lado, nos últimos cinco anos a matriz da nossa economia não evoluiu. O desemprego vai ser tão ou mais grave que na anterior crise e é enorme o número de trabalhadores sem acesso a subsídio de desemprego. Estes factos e a continuação de uma proteção social frágil farão disparar a pobreza. No plano político nacional, a extrema-direita foi penetrando na sociedade e arrasta a Direita, no seu todo, para políticas mais conservadoras e retrógradas. Marcelo Rebelo de Sousa, que tem largas possibilidades de ser eleito para um segundo mandato, já iniciou as guinadas que por certo o situarão bem na Direita.

Um Governo de centrão, agindo concertado com uma Presidência dos afetos, constituiria, no quadro em que estamos e vamos viver, a solução política perfeita (porque adocicada) para impor brutais políticas de austeridade, de submissão das pessoas, de retrocesso, de enfraquecimento da democracia. É, pois, imperioso aumentar-se a exigência de convergências e compromissos entre as forças da Esquerda.

Espera-se, com confiança e para bem dos nossos interesses coletivos e da democracia, que a festa do Avante corra bem e se possa esvair, a partir de amanhã, a histeria (em grande parte anticomunista primária) que se desencadeou a pretexto da sua realização e que, entre outros efeitos, tem servido para secundarizar o debate dos temas políticos prementes. Para se proteger as pessoas e implementar a atividade económica urge reajustar condições e capacidades das escolas, reajustar e reforçar o Serviço Nacional de Saúde, estruturar garantias para as pequenas e médias empresas e gerar-lhes confiança, pôr em marcha políticas laborais e salariais que travem oportunismos de redução de salários ou de eliminação de direitos fundamentais.

Como se provou na anterior legislatura é pela Esquerda que se pode gerar esperança e confiança no futuro.

* Investigador e professor universitário 

Imagem do dia


Jovens participam no debate «O vírus não mata direitos», na Cidade da Juventude da Festa do Avante!, que está no seu segundo dia. Os debates ocuparão 60 horas do evento e neles serão discutidos temas tão diversos como o poder local, a cultura, a saúde e o trabalho.

Seixal, 5 de Setembro de 2020 

Paulo António | AbrilAbril

Carta de Lisboa: Porque é que o salário mínimo é essencial


Teria pouco sentido voltar agora aos braços de uma teoria destruidora, que sugere que se congele ou reduza o salário real para incentivar as empresas a criarem emprego. Aumentar o salário mínimo é das decisões mais ponderadas que se pode tomar para 2021.

Francisco Louçã | Carta Maior

A injunção de Carlos César no Facebook aos partidos de esquerda para que “se definam de uma vez por todas e sem mais demoras e calculismos” causou estranheza, não tanto pelo seu estilo já consagrado mas antes por ser uma voz oficial a publicitar a ameaça poucos dias antes de se iniciarem as conversas entre partidos e Governo sobre os detalhes orçamentais. Se pretendia enunciar que se trata de uma encenação, a sugestão surge no tempo certo; se se trata de uma estratégia negocial, então é desastrada, ninguém se assusta com uma intimação. Talvez não seja nada disso e se trate somente de um percalço agostino, o que mereceria todo o carinho. Sigo então o melhor conselho: trate-se das decisões importantes, sem cuidar de veraneios. Começo pelo salário mínimo.

Promessas

O compromisso governamental de um aumento faseado do salário mínimo até aos 750 euros na legislatura foi cumprido em 2020, com um aumento de 35 euros. Antecipar-se-ia que esse seria o ritmo para os próximos três anos. Há em todo o caso duas ordens de razões para que esse processo seja confirmado. A primeira é que se trata de uma jura e, se um Governo a abandonar na primeira curva, como já aconteceu com o salário mínimo noutro Governo PS, só confirmaria que vale mais a oportunidade do que o respeito pela sua própria palavra. A credibilidade democrática pede o cumprimento da promessa. Não é pouca coisa.

Há ainda uma segunda razão para prosseguir o aumento anual e também é uma questão de credibilidade: o primeiro-ministro assegurou repetidamente que, mesmo com a recessão da covid, não haveria recuo e não se repetiriam os erros da crise anterior, nomeadamente a política de ataque aos salários e pensões. Bem sei que a ideia já perpassou por aí em 2015, quando o PS propunha congelar as pensões por mais quatro anos para assim obter 1660 milhões de euros, mas essa regra foi aniquilada pelos acordos da ‘geringonça’. Nunca mais se ouviu a proposta; pelo contrário, as pensões foram aumentadas. E, no contexto da crise presente, não voltar atrás foi a frase mais repetida por Costa.

Cuba: a vacina de coronavírus mais avançada da América Latina


#Publicado em português do Brasil

A política de fabricação e aplicação de vacinas é apenas uma das etapas de um sistema de saúde abrangente que é um exemplo no mundo.


Se não fosse pela premissa não escrita do jornalismo hegemônico de que tudo de bom em Cuba não é contado, seria surpreendente que a notícia tenha passado praticamente despercebida: hoje em dia, a vacina “Sovereign 01” iniciou ensaios clínicos em humanos e foi o primeiro na América Latina – e em todo o chamado “mundo subdesenvolvido” – a avançar para essa segunda fase.

Até o momento, há 167 vacinas potenciais registradas contra a Covid-19 . A cubano se juntou a outras 29 que a Organização Mundial da Saúde (OMS) já aprovou para estudos clínicos, seis dos quais estão na fase 3, os testes em grande escala em humanos. Na América Latina há mais uma dúzia de vacinas em desenvolvimento, mas, com exceção da cubana, todas estão na fase pré-clínica.

A vacina candidata que a ilha produz está caminhando com firmeza. Desde o início dos testes clínicos em 24 de agosto, “não há registro de nenhum evento adverso sério após a aplicação nos primeiros 20 voluntários” , tuitou Dagmar García Rivera, diretor de pesquisa do Instituto Finlay, centro científico do estado cubano que dirige o projeto. A amostra incluirá 676 pessoas com idades entre 19 e 80 anos e os resultados estão previstos para o dia 1º de fevereiro. Caso os testes sejam exitosos, Cuba terá sua própria vacina contra o coronavírus à disposição da população no primeiro trimestre de 2021.

Na Amazônia, devastação financiada pelos bancos


#Publicado em português do Brasil

Investigação revela: instituições financeiras continuam injetando dinheiro em commodities associadas à derrubada da mata. Crédito cresceu 40% desde 2015, quando foi assinado o Acordo de Paris. Só frigoríficos receberam R$ 235 bilhões

Pedro Papini, Fernanda Wenzel e Naira Hofmeister, em O Eco | em Outras Palavras

Ao mesmo tempo em que cobram medidas do governo federal contra o desmatamento da Amazônia, instituições financeiras no Brasil e no exterior seguem investindo bilhões de dólares em atividades associadas à destruição da floresta. Levantamento da Forests and Finance (F&F), uma coalizão de ONGs que investiga financiamentos associados à destruição das principais florestas tropicais do mundo, revela que os frigoríficos recebem mais recursos de bancos do que outras commodities no país.

A F&F rastreou R$ 990 bilhões investidos entre 2016 e 2020 na produção de carne bovina, óleo de palma, papel e celulose, borracha, soja e madeira em três regiões do mundo. O valor é referente a operações de crédito e de compra de ações e títulos de dívida e foi convertido em reais pela cotação do dia 28 de agosto.

Mais da metade do total, R$ 560 bilhões, veio para o Brasil, sendo 42%, ou R$ 235 bilhões destinados à criação e abate de gado em áreas onde o boi suplanta a mata nativa. Na Amazônia, onde dois terços de tudo o que é desmatado anualmente vira pasto, os três frigoríficos com maior capacidade de abate (JBS, Marfrig e Minerva), receberam investimentos de R$ 59,5 bilhões entre 2016 e abril de 2020.

O eterno Intendente de Porto Alegre: José Montaury


Carlos Roberto Saraiva da Costa Leite* | Porto Alegre | Brasil 
   
    Conhecido como o “eterno intendente” (prefeito) da Capital gaúcha, José Montaury de Aguiar Leitão (1858-1939) era natural de Niterói (RJ) onde se graduou, em Engenharia Civil, na famosa Escola Politécnica, na qual estudaram figuras que se tornaram ilustres no cenário nacional.  

   Ao exercer o cargo de funcionário federal, da Comissão de Terras e Estabelecimento de Imigrantes, no Rio Grande do Sul, ele conheceu várias cidades gaúchas. Este fato o motivou a fixar moradia em Porto Alegre. Homem de confiança de Júlio de Castilhos (1860-1903) e de Borges de Medeiros (1863-1961), Montaury militava nas bases do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR), tendo sido indicado pela cúpula do poder político, para concorrer ao cargo de intendente municipal.  

    De acordo com a historiadora Margaret Bakos, em seu livro Porto Alegre e seus eternos intendentes (2013), Montaury foi eleito e reeleito, por sete vezes consecutivas, no período de 15 /03/1897 até 15/10 /1924, governando Porto Alegre durante 27 anos.  

     O pioneiro

    No ano 1897, ele criou o serviço de Assistência Pública do País, que incluía postos de primeiros socorros e o atendimento à população carente. Porto Alegre foi a primeira capital, no Brasil, a implantar este serviço. Alguns pesquisadores consideram que esta ideia tenha dado origem ao conhecido Pronto Socorro Municipal., que foi inaugurado, mais tarde, em 19 de abril 1944, por Loureiro da Silva (1902-1964)  

    O progresso da Urbe

    Em sua importante obra, O Príncipe Negro (2007), o jornalista Roberto Rossi Jung nos narra que, neste período, o crescimento econômico e populacional de Porto Alegre ocorreu graças ao comércio do seu porto, ao fluxo de imigrantes alemães, italianos e a uma parcela da população negra que, após a Abolição da Escravatura (1884) ocorrida, na então Província de São Pedro (RS), quatro anos antes da Lei Áurea (1888), dirigia-se à Capital em busca de trabalho. O censo de 1900 registrou 73.474 porto-alegrenses.

    Ao iníciar o século 20, o viajante alemão Schwartz Bernard, quando visitou Porto Alegre, considerou a cidade progressista, aproximando-se do modelo europeu de urbanidade.

     Símbolo da arquitetura positivista

    Durante a administração de Montaury, foi construído o prédio da antiga Prefeitura Municipal, cuja arquitetura, de influência positivista, ficou a cargo do engenheiro João Cattani, tendo sido o autor do projeto o arquiteto veneziano Luiz Carrara Colfosco. Inaugurado em 1901, o prédio representa a hegemonia, na época, do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR). Neste local, durante anos, Montaury despachou, em um período da nossa história, no qual o voto não era secreto e as mulheres não participavam do pleito.

Mais lidas da semana