domingo, 6 de setembro de 2020

Morte de Luciano Hornay provoca dor e consternação em Timor-Leste



Luciano Hornay, Vice-Secretário Geral do Partido Socialista de Timor (PST), faleceu um dia antes de completar 42 anos de idade. Um dos melhores quadros superiores do PST, matemático e político, militante de primeira linha, deixou viúva e quatro filhos.

Luciano Hornay, conhecido na luta clandestina pelo nome de código “Namadoras”, teve um vasto e digno percurso de vida, a ser respeitado e seguido pelas gerações vindouras.

O saudoso nasceu no dia 18 de Agosto de 1978 em Barikafa, Luro, Lospalos (ponta Leste de Timor). Após ter frequentado estudos do ensino primário e secundário, conhecido pelos amigos por ser muito metódico e possuir um raciocínio lógico, rápido e excepcional, Luciano ingressou no Ensino Superior, estudou Ciências Políticas na Universidade de Díli (UNDIL), licenciou-se em Ciências Matemáticas na Universidade Nacional de Timor Lorosae (UNTL) e concluiu o curso de mestrado em Direito na Universidade da Paz, tendo sido professor assistente na Universidade de Díli.

Desde cedo iniciou actividades na luta clandestina pela libertação de Timor-Leste. De forma militante e patriótica, Namadoras destacou-se rapidamente pela sua capacidade de gestão e organização nas estruturas políticas onde esteve envolvido e pelo rigoroso sentido de disciplina táctica e estratégica.




O percurso de um militante nacionalista e socialista

Em 1995, Luciano Hornay foi chamado a integrar a célula política da Associação Socialista de Timor (AST), tornando-se um elemento estratégico de ligação com a frente armada, com o Comandante Asu e o Comandante Kia.

Em conformidade com o que está documentado no livro “Timor-Leste: Sociedade, Estado e Processos Eleitorais” da autoria da Comissão Nacional de Eleições (CNE), editado em 2015, a AST foi uma estrutura política que desempenhou um papel chave no processo de luta de libertação nacional de Timor-Leste.

Efectivamente, segundo relata a Comissão Nacional de Eleições (2015):

"A AST resultou da determinação de um grupo de dirigentes da Organização da Juventude Católica Comunistas de Timor-Leste (OJECTIL), fundada em 20 de Dezembro de 1981, e vinculada ao Partido Marxista-Leninista/FRETILIN, criada em 3 de Março de 1981, que, com a evolução política nacional, por sua vez, se transformou em 31 de Outubro de 1989 na Frente Estudantil Clandestina para a Independência de Timor-Leste (FECLITIL) e em 20 de Dezembro de 1981 na Associação Socialista de Timor (AST), transformando-se, em 13 de Maio de 1997, no actual PST – Partido Socialista de Timor”.

Fonte: Timor-Leste: Sociedade, Estado e Processos Eleitorais - Comissão Nacional de Eleições de Timor-Leste, p. 16, 2015

Em 1995, Luciano Hornay, de forma determinada, decidiu integrar a célula política da AST como elemento de ligação com a frente armada.

Entre 1996 e 1997, sempre sob supervisão de Avelino Coelho / Shalar Kosi F.F., actual Presidente do PST, tornou-se membro da Brigada Negra (Comando Especial das FALINTIL – Forças Armadas de Libertação Nacional de Timor-Leste para a Guerrilha Urbana) tendo actuado em Sakobil, Díli, na luta urbana e clandestina, na ligação com a Frente Armada na ponta Leste.

Em 2000, como Delegado do Município de Lospalos, logo após o Referendo, participou no primeiro Congresso Nacional do PST tendo sido eleito membro do Comité Central (1999-2004).

A partir de 2000 destacou-se pela defesa dos direitos e dos interesses dos trabalhadores e organizou de forma muito activa os Centros de Trabalho em Díli sob supervisão do PST.

No período compreendido entre 2004 e 2009, como membro do Comité Central, fez parte do Congresso Nacional do PST e da Comissão de Reorganização do partido desde 2007. Entre 2004 e 2009 desempenhou funções como Comissário Político em Viqueque. Também neste período, Luciano Hornay ajudou a estabelecer o Comité de Base do PST em Covalima/Suai, tendo, em 2007, acompanhado a Direcção do Partido nas campanhas políticas em Suai.

Desde 2007 a 2017, durante dez anos, Luciano Hornay exerceu actividades políticas de muito relevo, com destaque para o seu envolvimento nas candidaturas presidenciais do PST.

Luciano, para além de Comissário Político, foi responsável pelo estabelecimento de Cooperativas de Produção do PST em Waguia-Ossu, em Kairui-Laleia, e no serviço de formação de quadros de Direcção do partido, bem como em actividades de formação para agricultores nas áreas de cooperativas do PST.

Entre 2004 e 2009, foi Presidente do “Sindicato de Camponeses e Trabalhadores Socialistas de Timor (SBST)”, um sindicato oficialmente registado nas estruturas governamentais, e integrou a equipa da redacção e edição da Revista “Vanguarda, Militância PST”.

Em 2015 participou no Congresso Nacional do PST como Comissário Político do Município de Viqueque, tendo sido eleito para o cargo de Primeiro Vice-Secretário Geral do Partido, membro do Departamento de Orientação Política e Ideológica e membro do Bureau Político.

Luciano Hornay também integrou a equipa de redacção do jornal “Suara Socialist PST” e coordenou a distribuição do jornal ao nível nacional.

Foi candidato pelo PST para o Parlamento Nacional nas eleições gerais de 2007, 2012 e 2017, bem como candidato pelo PST nas listas da coligação Movimento Social Democrata (MSD) para as eleições gerais antecipadas realizadas em 2018, tendo-se destacado pela sua actividade nas brigadas e campanhas eleitorais do Partido.

Entre 2007 e 2012, Luciano Hornnay foi Director Nacional de Energias Renováveis na Secretaria de Estado e até à sua morte desempenhou o cargo de Director Nacional de Energias Renováveis no Ministério das Obras Públicas de Timor-Leste.

Manifestação em Díli contra a assinatura do Tratado do Mar de Timor-Leste

Segundo o Tratado do Mar de Timor, as fronteiras marítimas não deviam ser discutidas durante um período de 50 anos. Após este acordo houve um grande levantamento popular de contestação em Díli.

O livro da Comissão Nacional de Eleições, sobre essa matéria, refere o seguinte:

"A discordância não se fez esperar e em 2002 realizou-se uma grande manifestação organizada pelo Partido Socialista de Timor (PST) que em conjunto com a sociedade civil fizeram uma concentração e greve de fome frente à Embaixada da Austrália em Díli, exigindo a renegociação do Tratado de Timor acordado entre a Austrália e a Indonésia em 1989.”

Fonte: Timor-Leste: Sociedade, Estado e Processos Eleitorais - Comissão Nacional de Eleições de Timor-Leste, p. 17, 2015

Também, nesta intervenção, Luciano Hornay teve um papel decisivo na mobilização dos militantes e na campanha de sensibilização.

Mais tarde, em 2016, realizou-se nova manifestação e Luciano Hornay esteve presente. - na imagem

Nesta manifestação de 2016, organizada pela ACBN – Associação de Combatentes da Brigada Negra, pelo PST, pelo MKOTT e por outras organizações que defendiam a definição das fronteiras marítimas, conforme ilustra a foto, pode ver-se na primeira fila, à esquerda, Hélder Lopes, um outro notável militante de causas,Vice-presidente do PST (falecido em 2017), e Luciano Hornay.

Luciano Hornay faleceu por doença no Hospital Guido Valadares, em Díli. A sua memória permanecerá nos corações dos seus familiares, camaradas e amigos mais próximos como uma pessoa íntegra, sempre com um sorriso doce e aberto, um verdadeiro companheiro, simples e solidário. Que descanse em paz.


*PhD em Educação / Universidade de Lisboa

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