quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Os EUA à beira da guerra civil

Thierry Meyssan*

No presente artigo, o autor procura chamar a nossa atenção sobre um facto difícil de conceber para os Ocidentais : o povo norte-americano vive uma crise de identidade. Ele está tão profundamente dividido que a eleição presidencial não visa apenas eleger um chefe, mas também determinar o que deve ser o país (império ou nação ?). Nenhum dos dois campos está disposto a aceitar perder, tanto e de tal forma que qualquer um deles poderá recorrer à força para impor o seu ponto de vista.

Quando se aproxima a eleição presidencial nos Estados Unidos, o país divide-se em dois campos que mutuamente se atribuem a desconfiança de preparar um golpe de Estado. De um lado o Partido Democrata e os Republicanos extra-partido, do outro os Jacksonianos, que se tornaram a maioria no seio do Partido Republicano sem partilhar a sua ideologia.

Lembram-se, certamente, já em Novembro de 2016, que uma empresa de manipulação dos média (mídia-br) dirigida pelo mestre de Agit-Prop, David Brock, recolhia mais de 100 milhões de dólares para destruir a imagem do Presidente-eleito antes mesmo dele ter sido investido [1]. Desde essa data, quer dizer antes de ele poder fazer fosse o que fosse, a imprensa internacional descreve o Presidente dos Estados Unidos como um incapaz e um inimigo do povo. Certos jornais foram ao ponto de apelar ao seu assassinato. Durante os quase quatro anos seguintes, a sua própria Administração não parou de o denunciar como um traidor pago pela Rússia e a imprensa internacional criticou-o ferozmente.

Actualmente, um outro grupo, o Transition Integrity Project (TIP), planeia (planeja-br) cenários para o derrubar durante a eleição de 2020, quer ganhe ou perca. Este caso tornou-se assunto nacional desde que a fundadora do TIP, a professora Rosa Brooks, se espalhou num longo artigo no Washington Post, da qual ela é uma colaboradora regular [2].

Julian Assange, Prometeu acorrentado

#Publicado em português do Brasil

Ele está sendo punido não por roubar o fogo, mas por expor os poderosos à luz da verdade e provocar o deus do Excepcionalismo. Este é o conto de uma tragédia da Grécia Antiga, reencenada na Anglo-América.

Em meio ao silêncio estrondoso e à indiferença quase universal, acorrentado, imóvel, invisível, um esquálido Prometeu foi transferido da forca para um julgamento-espetáculo em um falso tribunal gótico construído no local de uma prisão medieval.

Cratos, personificando o Poder, e Bia, personificando a Violência, haviam devidamente acorrentado Prometeu, não a uma montanha no Cáucaso, mas ao confinamento solitário em uma prisão de segurança máxima, subjugado à implacável tortura psicológica. Em nenhuma das torres Ocidentais de vigilância, nenhum Hefesto se ofereceu para forjar qualquer grau de relutância ou mesmo uma migalha de piedade.

Prometeu está sendo punido não por roubar o fogo – mas por expor os poderosos à luz da verdade, provocando, assim, a ira desenfreada de Zeus, o Excepcionalista, que só é capaz de orquestrar seus crimes sob múltiplos véus de segredo.

O mito do sigilo – que envolve a capacidade de Zeus controlar o espectro humano – foi rompido por Prometeu. E isso é anátema.

Portugal | Covid-19. Reunião de urgência do gabinete de crise na sexta-feira

O primeiro-ministro, António Costa, convocou com caráter de urgência, para sexta-feira, em São Bento, uma reunião do gabinete de crise para o acompanhamento da evolução da covid-19 em Portugal, disse hoje à agência Lusa fonte do Governo.

A mesma fonte adiantou que a reunião, que se inicia às 11h30, surge na sequência do "contínuo aumento" de novos casos diários de infeção com o novo coronavírus e pela necessidade de "reforçar a sensibilização dos cidadãos para a adoção de medidas de prevenção e de segurança contra a covid-19".

Do gabinete de crise, que se reuniu pela última vez em 29 de junho, em São Bento, fazem parte os ministros de Estado, da Economia e da Transição Digital, Pedro Siza Vieira, de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, de Estado e da Presidência, Marina Vieira da Silva, de Estado e das Finanças, João Leão, da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho, da Administração Interna, Eduardo Cabrita, do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, da Saúde, Marta Temido e das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos.

Integram ainda este gabinete de crise os secretários de Estado dos Assuntos Parlamentares, Adjunto do Primeiro Ministro, Adjunto e da Defesa, da Juventude e Desporto e da Mobilidade.

Portugal contabiliza hoje mais 10 mortes relacionadas com a covid-19 e 770 novos casos de infeção com o novo coronavírus, segundo o boletim epidemiológico da Direção-Geral da Saúde (DGS).

Desde o início da pandemia, Portugal já registou 1.888 mortes e 66.396 casos de infeção.

A DGS indica que cinco mortes foram registadas na região Norte, duas na região de Lisboa e Vale do Tejo, duas na região Centro e uma na região do Algarve.

Em vigilância estão 37.804 contactos, mais 517 do que na quarta-feira.

Notícias ao Minuto | Lusa | Imagem: © Getty Images

Covid-19. Portugal regista mais dez mortes e 770 novos casos

Já é conhecido o boletim epidemiológico desta quinta-feira. É o maior número de novas infeções diárias desde 10 de abril. Não se contabilizavam tantos óbitos desde 9 de julho.

Portugal registou, nas últimas 24 horas, mais dez mortes (uma variação de 0,53%, sendo que não se contabilizavam tantos desde 9 de julho, quando houve 13) e 770 novos casos (mais 1,17% em relação a ontem e maior número de casos diários desde 10 de abril) do novo coronavírus. As informações constam do mais recente boletim epidemiológico divulgado esta quinta-feira pela Direção-Geral da Saúde (DGS). No total, desde o início da pandemia, o nosso país contabilizou 1.888 óbitos e 66.396 infeções. 

Há 19.714 casos ativos, o que representa um aumento de 494 em relação a ontem, somando-se também mais 517 contactos em vigilância tendo em conta o último boletim. Por outro lado, somam-se neste momento 44.794 recuperados, mais 266. 

Quanto a casos em internamento, há 488, menos dois tendo em conta o último boletim. Em Unidades de Cuidados Intensivos estão 59 pacientes. 

Por regiões, Lisboa e Vale do Tejo é a que contabiliza mais infeções confirmadas (33.960, mais 373 em relação a ontem). Quanto a mortes, são 711, mais duas. Segue-se o Norte do país, com 23.984 casos, o que representa mais 255 em relação ao último boletim. Houve 864 mortes, mais cinco. 

No Centro, há 5.480 infeções confirmadas (mais 97) e 256 mortes (mais duas). Já no Algarve, somam-se 1.304 casos (mais 27), mantendo-se os 19 óbitos. 

Por fim, no Continente, surge o Alentejo, com 1.231 casos, mais 14. Quanto a mortes, são 23, mais uma em relação ao último boletim da DGS. 

Nas regiões autónomas, os Açores contabilizam mais um caso, passando para os 241. Há 15 óbitos a lamentar. Já na Madeira há mais três infeções, sendo o total de 196. O arquipélago não tem qualquer morte a registar. 

Já quanto à caracterização demográfica dos casos confirmados, houve 29.987 casos em homens e 36.409 em mulheres. Morreram 952 pessoas do sexo masculino e 936 do sexo feminino.  

De recordar que, de acordo com os dados revelados na quarta-feira, foram contabilizados mais 605 infetados pelo novo coronavírus e mais três mortes associadas à doença. 

Notícias ao Minuto

Portugal | Covid-19: Segunda vaga é inevitável - médica

"O meu receio é de que não tenhamos recursos humanos"

Sandra Brás, especialista em Medicina Interna e coordenadora da unidade dedicada à Covid-19 no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, deixa o alerta. As equipas estão cansadas e uma segunda vaga pode exigir demasiado dos profissionais de saúde.

"Não sei se vai ser fácil dizer 'a segunda vaga está aí', mas acho inevitável que ela chegue." Sandra Brás, especialista em Medicina Interna no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, vê com "preocupação" a iminência de um segundo momento da Covid-19. A clínica é uma das coordenadoras do serviço que dá assistência aos doentes internados devido ao novo coronavírus e garante que "o hospital está a preparar-se". O que a inquieta são os profissionais de saúde.

Sandra Brás tem assistido de perto aos esforços de enfermeiros e médicos. Tudo o que lhes tem sido pedido pode levá-los à exaustão, alerta. "Não temos problemas de espaço físico. O que me preocupa é o cansaço das equipas. Os enfermeiros passam mais tempo com os doentes do que os médicos. São eles que fazem a higiene do doente, que lhe dão a medicação, e é muito difícil vestir aqueles fatos, estar dentro deles durante horas. Começam a estar cansados."

"Para abrir enfermarias, precisamos de profissionais. O meu receio é de que não tenhamos recursos humanos." Apesar das dificuldades, a médica continua a dedicar tempo aos pacientes que superaram o vírus na primeira vaga. Sente falta da disponibilidade que sempre ofereceu aos doentes, de os ouvir e de lhes conhecer o percurso de vida. "Passamos menos tempo com eles, para nos protegermos. Sabemos pouco da história deles enquanto pessoas. Sabemos da doença e da história deles enquanto doentes, mas saber deles não é só saber quando começou a falta de ar, a tosse e a febre."

Portugal | O SNS é a solução para garantir o direito à saúde

Paula Santos | Expresso | opinião

Os últimos meses tornaram mais evidente perante todos a importância do Serviço Nacional de Saúde na garantia do acesso à saúde. O Serviço Nacional de Saúde foi e é fundamental no combate à epidemia. Quando os grupos privados fecharam portas, foi o Serviço Nacional de Saúde e os seus profissionais de saúde que estiveram presentes. Há poucos dias ficámos a saber que há hospitais privados que rejeitam grávidas com teste positivo à covid-19, deixando claro que estão bem mais preocupados com o negócio da doença e com os seus lucros.

Estão colocadas enormes exigências ao Serviço Nacional de Saúde que impõem o reforço do investimento na contratação de mais trabalhadores, no aumento do número de camas e de equipamentos, para aumentar a sua capacidade de resposta nos próximos tempos.

Para além da preparação para o período de inverno que se aproxima e para uma eventual segunda vaga da epidemia, o Serviço Nacional de Saúde tem de reforçar a sua capacidade para recuperar as consultas, as cirurgias e os exames e tratamentos que ficaram por fazer.

De acordo com os dados que constam do Portal da Transparência do SNS, entre janeiro e julho de 2020 fizeram-se menos 4,6 milhões de consultas nos cuidados de saúde primários, menos 99 mil cirurgias e menos um milhão de consultas hospitalares, comparando com o período homologo de 2019. Na área dos meios complementares de diagnóstico e terapêutica, no mesmo período, há uma redução de 7,8 milhões de atos em medicina física e de reabilitação, uma redução de 7,2 milhões de atos nas análises clínicas e uma redução de 1,1 milhões de atos de radiologia.

O Serviço Nacional de Saúde tem de continuar a tratar os doentes covid e ao mesmo tempo avançar na recuperação dos cuidados de saúde.

Portugal | CGTP-IN: Dar poder unilateral aos patrões é «inaceitável»

A Intersindical contesta que as entidades patronais passem a dispor de um «poder discricionário e praticamente absoluto» para alterar unilateralmente os horários de trabalho, sem negociação.

Em causa está a proposta de projecto de lei que pretende estabelecer um regime excepcional e transitório de reorganização do tempo de trabalho, com vista a minimizar os riscos de transmissão do novo coronavírus, assumindo um carácter obrigatório nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, nos locais de trabalho em que se verifique a prestação de trabalho em simultâneo por 50 ou mais trabalhadores.

Esta terça-feira, a secretária-geral da CGTP-IN, Isabel Camarinha, já tinha criticado o facto de o documento ter sido apresentado sem garantir uma auscultação prévia aos parceiros sociais, dentro dos prazos legais, salientando que, perante alterações à legislação do trabalho, a audição das associações sindicais é obrigatória e há trâmites a respeitar.

Contactada pelo AbrilAbril sobre o teor do parecer, a Intersindical revela que a concessão de uma «tão ampla margem de discricionariedade às entidades patronais, numa matéria tão sensível» como é a organização do tempo de trabalho, fragiliza «ainda mais» a posição dos trabalhadores na relação laboral, numa altura em que «o medo e a incerteza gerados pela pandemia e pela crise económica que lhe está associada» os tornaram «vulneráveis a todas as pressões».

Lutas identitárias: a esquerda em confinamento

Uma ideologia que não se traduza na luta de classes está condenada ao apaziguamento da exploração capitalista, contribuindo objectivamente para a sua continuidade. É uma esquerda em confinamento.

Manuel Augusto Araújo | AbrilAbril | opinião

Os estrénuos e estrepitosos corifeus das políticas identitárias, das causas fracturantes em que a raça, o género, o sexo, a cor são as novas frentes de luta, consideram que a condição social, as classes sociais dissolveram-se até ser um resíduo que não conta no mundo globalizado pós-industrial. Essas são as bandeiras de luta da esquerda cosmopolita que abandonou as teorias marxistas, para as quais a exploração só é eliminada com a abolição da propriedade privada pela revolução. O seu objectivo, ainda que camuflado por enérgicas palavras de ordem que simulam uma radicalidade logo factualmente desmentida, é o mudar de vida sem mudar a vida. É considerar e aceitar que a luta de classes está ultrapassada no quadro actual do capitalismo – porque acabar com o modo de produção capitalista, para esses radicais de esquerda, está fora de questão. É a deriva reformista que abandona definitivamente o campo de batalha da luta de classes, em que se luta para acabar com o capitalismo, substituindo-a pela luta pelo controlo político das políticas económicas, aceitando que o capitalismo mau pode evoluir para um capitalismo bom, com a ilusão de que a burguesia acabará motivada pelas lutas identitárias e as causas fracturantes, assumindo uma cultura de responsabilidade social para que tudo acabe no melhor dos mundos das virtudes públicas e vícios privados da sociedade burguesa. São indiferentes às evidências de a democracia não ser possível no quadro global em que as desigualdades se agravaram, aumentando exponencialmente desde os anos 60 até ao ano de 2010, em que se contabiliza que 1% dos mais ricos do planeta controlam 46% de toda a riqueza mundial, o que exige da esquerda uma ampla unidade para uma luta continuada contra o neoliberalismo, unidade que é estilhaçada pelo segmentarismo identitário que faz o jogo da concentração do poder do dinheiro desertando do campo de batalha entre o capital e o trabalho, da luta de classes na sua forma actual, que tem por objectivo final acabar com a exploração capitalista que só se elimina com a abolição da propriedade privada pela revolução.

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