sexta-feira, 25 de setembro de 2020

EUA | Desemprego nunca visto e colapso económico sem precedentes

#Publicado em português do Brasil

Desemprego crescente nos EUA: mais de um milhão de reclamações de subsídio de desemprego por 27 semanas consecutivas, colapso econômico sem precedentes

Stephen Lendman | Global Research, 25 de setembro de 2020

Nada remotamente parecido com o que aconteceu desde janeiro jamais aconteceu antes nos Estados Unidos.

Pela 27ª semana consecutiva, mais de um milhão de americanos em idade produtiva entraram com pedidos de seguro-desemprego (SD).

Os números da semana passada incluem 870.000 que se inscreveram para o UI regular do estado, junto com outros 630.000 que se inscreveram para Assistência ao Desemprego Pandêmico (PUA) - o programa federal para trabalhadores não qualificados para o UI.

Oferecendo até 39 semanas de benefícios, o PUA expira no final do ano.

Como a maioria dos estados oferece 26 semanas de SD, muitos trabalhadores americanos desempregados esgotaram seus benefícios.

Eles ainda são elegíveis para 13 semanas adicionais de Compensação de Desemprego de Emergência Pandêmica (PEUC) - disponível apenas para indivíduos que receberam UI estadual.

A partir da próxima semana, com a queda das reivindicações do SD, as reivindicações do PEUC aumentarão proporcionalmente - o total de reivindicações permanece nos níveis da Grande Depressão, sem programas do Congresso ou da Casa Branca propostos para reverter as coisas antes das eleições de 3 de novembro.

Como os relatórios sobre reclamações PEUC estão atrasados, eles não aparecerão até 8 de outubro.

Israel e os Emirados assinam os “Acordos de Abraão”

O beneficiário não é aquele que é apresentado como tal

Thierry Meyssan*

O tratado israelo-emiradense altera a retórica a propósito do Médio-Oriente e torna possível uma paz israelo-árabe. Ele interrompe as inexoráveis trincadelas nos territórios árabes por parte de Israel e estabelece relações diplomáticas entre Israel e o líder do mundo árabe. Se se quiser examinar de perto sem preconceitos uma situação onde o medo, a violência e o ódio provocam injustiças manifestas, forçoso é constatar que a iniciativa do Presidente Trump desbloqueia um conflito crispado desde há vinte e sete anos. A sua candidatura foi imediatamente apresentada ao prémio Nobel da Paz.

Asituação no Médio-Oriente está bloqueada desde os Acordos de Oslo assinados por Yitzhak Rabin e Yasser Arafat, em 1993. Eles foram completados pelo Acordo Jericó-Gaza, que reconhecia certas prerrogativas à Autoridade Palestiniana e os Acordos de Wadi Araba que concluíam a paz entre Israel e a Jordânia.

À época, o governo israelita (israelense-br) pensava numa separação permanente dos Palestinianos. Para isso, estava pronto a criar um pseudo-Estado palestiniano desprovido de vários atributos de soberania, nomeadamente um exército e finanças independentes. O trabalhista Yitzhak Rabin havia já previamente feito experiências com bantustões na África do Sul, onde Israel aconselhava o regime do apartheid. Uma outra experiência tinha decorrido na Guatemala com uma tribo maia, sob as ordens do General Efraín Ríos Montt.

Yasser Arafat aceitou os Acordos de Oslo para fazer esbarrar o processo da Conferência de Madrid (1991). Os Presidentes George W. Bush e Mikhail Gorbachev tentaram impor a paz a Israel removendo Arafat da cena internacional com o apoio dos dirigentes árabes.

Apesar de tudo isso, inúmeros comentadores creem poder afirmar que os Acordos de Oslo podiam chegar à paz.

Nações Unidas com 75 anos ... De volta ao futuro

#Publicado em português do Brasil

Strategic Culture Foundation | editorial

As Nações Unidas foram formadas após a derrota mundial do fascismo e no nascimento da Guerra Fria. Setenta e cinco anos depois, essas correntes perniciosas estão ressurgindo. Parece incrível que, na memória viva, a geopolítica aparentemente voltou a ter uma dinâmica tão destrutiva e potencialmente catastrófica.

Talvez “circulando de volta” seja a expressão errada. Talvez o mundo nunca tenha deixado as cinzas do fascismo e da Segunda Guerra Mundial totalmente para trás. A suposta morte do fascismo e o nascimento da Guerra Fria não são eventos separados. Eles estão inter-relacionados, meramente diferentes manifestações da mesma patologia.

A 75ª assembléia geral anual da ONU se reuniu esta semana em sua sede em Nova York em circunstâncias sinistras. Pela primeira vez na história do corpo mundial, os delegados estavam ausentes devido à pandemia de coronavírus que devastou a maioria das 193 nações do globo. Os líderes mundiais participaram do fórum por meio de videoconferência remota de seus próprios países, em vez de subir ao pódio em Nova York.

Antonio Guterres, o nono secretário-geral da ONU, abriu a sessão com um apelo urgente para que os Estados Unidos e a China evitem uma escalada da Guerra Fria. Ele alertou que em um momento de pandemia que ameaça a pobreza global, a fome e o número crescente de mortes, o mundo não pode permitir um confronto titânico entre as duas maiores economias nacionais.

Entre os líderes mundiais que participaram do fórum internacional estavam o presidente dos EUA, Donald Trump, o chinês Xi Jinping e o russo Vladimir Putin. (Os endereços gravados podem ser vistos aqui , aqui e aqui .) Enquanto Xi e Putin faziam discursos que eram internacionalistas em espírito e tom proporcional, enfatizando solidariedade, cooperação e paz, Trump proferia um discurso cheio de rancor, recriminação, militarismo e arrogância nacionalista.

Ignorando completamente os apelos para evitar uma Guerra Fria, o presidente americano mergulhou em provocações arrepiantes contra a China, acusando-a de desencadear uma pandemia no mundo, que ele zombeteiramente chamou de “vírus da China” e “peste”. Como seu governo tem feito repetidamente nos últimos meses, Trump exigiu que o mundo responsabilizasse a China. Washington fomentou uma nova Guerra Fria com a China, muito parecida com o impasse de décadas entre os EUA e a antiga União Soviética. A politização da pandemia do coronavírus pelo governo Trump é apenas uma representação de um confronto geopolítico mais amplo que os EUA estão perseguindo contra a China, que decorre de um declínio percebido no poder global americano.

Mais cinco mortos e 899 novos casos por covid-19 em Portugal

Há mais cinco mortes associadas à covid-19 e 899 novas infeções, esta sexta-feira. Desde 10 de abril, dia em que foram registados 1516 novos casos, que Portugal não registava um aumento tão substancial de novos infetados.

No total, morreram 1 936 pessoas com o novo coronavírus desde o início da pandemia no nosso país. Mais de 72 mil pessoas (72 055) foram diagnosticadas com a covid-19 desde março, altura em que foi registado o primeiro caso em Portugal.

Esta sexta-feira, nas últimas 24 horas, 327 pessoas recuperaram da doença, perfazendo um total de 47 003 doentes recuperados. Neste momento, há 23 116 casos ativos em Portugal - mais 567 do que no dia anterior.

O número de doentes internados registou também um aumento face a quinta-feira. Hoje, há mais 36 pessoas internadas com covid-19 (ontem foram mais 17) e mais uma pessoa nos cuidados intensivos (86 no total).

Das cinco vítimas mortais registadas esta sexta-feira, três foram contabilizadas na região de Lisboa e Vale do Tejo, uma era do Norte e uma residia no Centro. As mortes correspondem a duas mulheres e dois homens com mais de 80 anos e uma mulher com idade entre os 70 e os 79 anos. 

O número de novos casos registado foi mais elevado em Lisboa (mais 505), enquanto no Norte foram contabilizados mais 263 infetados. O Centro tem mais 52 doentes, o Alentejo mais 30, o Algarve mais 47 e os Açores têm mais duas pessoas infetadas. Apenas a Madeira não registou nenhum caso esta sexta-feira.

Rita Neves Costa | Jornal de Notícias

Imagem: Portugal tem registado aumento dos internamentos devido à covid-19 // Pedro Correia/Arquivo Global Imagens

PARABÉNS A VOCÊS

Expresso Curto de que temos andado arredios. Hoje não falhamos, há aniversários pelas fileiras do tio Balsemão. Ao lerem perceberão o que estamos a referir. Dito. 

No Curto, depois do apagar das velas incrustadas no bolo, nos bolos (Martim Silva, autor, também faz 47 anos), vem à baila a Lixeira Branca e as trumpalhadas geradas pelo despenteado mental que dá por Donald, o monstro que nada tem que ver com o pato otário-simpático da Disney. As eleições presidenciais nos EUA são a vedeta de primeira linha do Expresso Curto depois dos aniversários. Vá nessa e saiba mais. Já agora: parabéns Expresso, parabéns Martim. E ainda: parabéms tardios ao tio Balsemão, octagenário supimpa, maioral da Impresa e arredores, que no passado dia 1 de Setembro comemorou os seus 83 anos de vida. Conte mais. Acreditamos que não está incluído nas listas covid-19 em que andam a “despachar” os idosos. Força.

Depois de tanto tarantantam será de bom-tom terminar por aqui este intróito PG. Da atualidade nacional – exptuando os aniversários acima referidos – pouco há para dizer, além de que este país está novamente a assemelhar-se a uma pestilenta sarjeta, onde António Costa anda a bater com a cabeça nas paredes por natural efeito de ter perdido o fio à meada que inicialmente pareceu dominar com alguma justiça e laivos de democracia, de transparência e de sabedoria. Enfim, isso já lá vai… E não vai voltar. Do S do PS ser apropriado a sarjeta em vez de socialista não é novidade, é cíclico.

Siga para o Curto. Bom fim-de-semana. Defenda-se do covid-19, a si e às crianças, já que o governo e os peritos também andam às aranhas e na barafunda que não nos ajuda, antes pelo contrário. Confunde-nos e despacha os velhos e os mais fragilizados num ápice… Parabéns a vocês, aniversariantes, e também aos que se vão safando dos efeitos da pandemia.

MM | PG

IMAGEM DO DIA -- António Passos Costa Coelho


Imagem do dia acima revelada é da personagem mais que vista de um ator da política que vem sofrendo de dupla personalidade, a exemplo dos imensos políticos já conhecidos na "praça portuguesa". Pelo menos dupla personalidade. Diz aos portugueses uma coisa e pratica outra: protege os ultraricos com excessivos custos para a classe médiabaixa e incontáveis prejuízos para os mais pobres, cada vez mais pobres, cada vez mais excluídos. Na melhor das hipóteses, o primeiro-ministro de Portugal é um dois em um, transportando-nos para anos transatos da vigência do primeiro-ministro anterior, Passos Coelho. Que mentia com todos os dentes sorrindo perante a fome e a miséria que instalou em Portugal. Neste segundo mandato como PM Costa não é quase nada diferente, apenas mais popularucho, às vezes. Também com um Rio à mistura ele está a ser um mar de António Passos Costa Coelho, porque não sentir e dizer?! 

Redação PG

Enquanto o sistema financeiro continua protegido, o Governo falha em proteger o SNS

No dia em que PS e PSD chumbaram o requerimento do Bloco para a divulgação integral da auditoria ao Novo Banco, Catarina Martins assinalou que o executivo tarda em cumprir o que acordou com o Bloco no Orçamento para proteger o Serviço Nacional de Saúde.

Durante o debate no plenário parlamentar, a coordenadora bloquista questionou a afirmação da ministra da Saúde, que disse esta quarta-feira que há mais médicos no SNS do que havia em 2019, referindo que não é essa a informação que consta do portal do SNS.

“Comparando com janeiro, tínhamos em julho menos 130 médicos de carreira e menos 452 internos. Há mesmo menos médicos no SNS. As listas de espera para consultas ou cirurgias aumentam, há mais utentes sem médico de família e muitos profissionais de saúde estão exaustos. Só nos meses de verão, fizeram mais de seis milhões e meio de horas extraordinárias”, apontou.

Acrescentando que se avizinha também uma vaga de despedimentos e de aumento do desemprego, Catarina Martins sublinhou que, “até agora, tudo o que sabemos das intenções do governo, além do plano de investimento com fundos europeus que ainda não são certos, é que pretende continuar a garantir o financiamento dos prejuízos do Novo Banco, mesmo sabendo que pode estar a ser enganado pela Lone Star”.

“E nem o pouco que já sabemos sobre as perdas do Novo Banco, e que está na auditoria que foi feita, vai ser integralmente divulgado porque PS e o PSD esta manhã juntaram-se para manter o segredo”, acrescentou a dirigente do Bloco.

Catarina Martins lamentou que “enquanto o sistema financeiro continua protegido”, o Governo tarde em cumprir o que acordou com o Bloco no Orçamento do Estado (OE) para proteger o Serviço Nacional de Saúde.

“E se há urgência é mesmo a contratação de profissionais de saúde”, afirmou a coordenadora bloquista, recordando que o OE para 2020 previa mais 8.400 profissionais contratados em 2020 e 2021.

“Ou seja, este ano deviam ter sido contratados de forma permanente mais 4.200 trabalhadores para o SNS, para além das contratações devidas para substituição de reformas ou situações extraordinárias de pico. Ora, estas contratações pura e simplesmente não foram feitas”, frisou.

No que respeita ao caso dos médicos, a situação “é flagrante: este ano, e no momento em que mais precisava, o SNS perdeu quase 600 médicos, até julho. Não é que não existam. Há 1.000 médicos só à espera da vaga para especialidade. Mas não são reforçadas as vagas para especialidade, nem foram contratados mais médicos”, avançou Catarina Martins.

A dirigente do Bloco fez ainda referência ao caso dos restantes profissionais de saúde, repudiando as contratações de apenas quatro meses e reivindicando a sua contratação definitiva.

Fascismos e autopunição

Miguel Guedes* | Jornal de Notícias | opinião

A recusa em aceitar a realidade é um ponto de partida para a mentira, uma espécie de "pole position" forçada para impedir, por todos os meios, que quem vem atrás passe para a frente, ultrapasse. Chama-se, vulgarmente, batota.

A pouco mais de um mês das eleições presidenciais norte-americanas, o cuidado que Trump coloca na tentativa de se eternizar no poder é sintomático do que fará na noite eleitoral, caso as perca. Os EUA assistem, pela primeira vez, ao contorcionismo de um presidente que não se compromete com uma transição pacífica caso seja derrotado por Joe Biden na noite de 3 de Novembro.

Caso único. É o próprio poder que, antecipadamente, acusa o seu próprio sistema de fraude eleitoral, condicionando-o a um caso de derrota conveniente. As acusações de fraude eleitoral e de ilegitimidade, até aqui privilégios dos oposicionistas em todo o Mundo perante os abusos dos poderes instalados, transferiram-se para o poder da Casa Branca.

Donald Trump, ambicioso por voltar a fazer crescer a América e liderar o Mundo, não consegue controlar uns papelinhos de voto para ganhar o álibi que lhe permita não aceitar a previsível derrota que, como as sondagens apontam, vem a caminho. Para reforçar a tese, recorre-se ao Supremo Tribunal onde, no mesmo dia em que não assegurava a transição pacífica, colocou um homem de mão para lhe garantir a eleição na secretaria.

Criar o problema e fazer do problema a solução. Uma mente tortuosa a entregar o país a um divisionismo entrincheirado de guerra civil, a silabar fascismo e a celebrar golpadas eleitorais do Terceiro Mundo ao espelho. Donald Trump, em caso de derrota, vai querer usar a violência nas ruas que agora semeia, autoriza ou menospreza.

Demasiados casos. Depois de Neto Moura nos tribunais, a realidade à distorção com Francisco Aguilar na Universidade de Lisboa ou com centenas de congressistas do Chega reunidos sem cumprir regras de saúde pública em Évora. O movimento de saída dos armários de muitos protofascistas é, como bem salientava Pacheco Pereira na "Circulatura do quadrado" na TVI, uma realidade com libido.

"Existe uma relação entre a extrema-direita e estas fantasias homoeróticas que foram importantes no nazismo. É uma obsessão fálica", salientava. E de facto, todo este enredo de castração química, propostas de pena de morte ou subtracção dos ovários a mulheres que queiram abortar, transpira muita rejeição interior e autopunição. "A obsessão pela castração é fálica. Gosto das coisas que vêm dali, mas quero cortar", acrescenta Pacheco Pereira. Está nos livros, está na vida.

Tão ou mais perigoso é que, há 30 anos, um professor continue a leccionar na Faculdade de Direito de Lisboa, defendendo temáticas como o julgamento do "socialismo de género e identitário" como se julgaram os crimes do Holocausto, versando o "ódio cristofóbico", a "suástica que flutua orgulhosa no Ocidente", tratando as mulheres por "canalhas" ou "desonestas", enquanto está a ser julgado por violência doméstica num tribunal onde declarou "morte a todos os feministas", entre outros dislates. Professor de Direito Penal. Puna-se.

*Músico e jurista

O autor escreve segundo a antiga ortografia

Mente criminosa - A outra face de Winston Churchill

Winston Churchill, Primeiro-Ministro do Reino Unido durante a Segunda Guerra Mundial e líder da Oposição conservadora no termo desse conflito, acreditava que era preciso utilizar a bomba atómica contra várias cidades da URSS para intimidar o Kremlin e manter em respeito «o comunismo».

O historiador britânico Richard Toye descobriu, nos arquivos do New York Times, vários textos sobre um memorando que Julius Ochs Adler, antigo oficial do Exército dos Estados Unidos que se tornara chefe de redacção do jornal após a guerra, havia escrito sobre uma entrevista que manteve com Churchill em Janeiro de 1951, portanto 6 anos após o fim do conflito e apenas 6 meses antes do regresso de Churchill ao posto de Primeiro-Ministro.

De acordo com Julius Ochs Adler, Churchill pensava que seria preciso usar a bomba atómica sobre pelo menos uma cidade soviética em cada 30.

Os bombardeamentos nucleares preconizados por este político britânico não diziam respeito apenas à União Soviética. Churchill achava que era preciso utilizar a bomba atómica igualmente contra a China, então governada por Mao Zedong.

Voltairenet.org | Tradução Alva

Ver igualmente:
-- «La Seconde Guerre mondiale aurait pu prendre fin en 1943», par Viktor Litovkine, Réseau Voltaire, 30 mars 2005.
-- «Si l’Armée rouge n’avait pas pris Berlin...», par Viktor Litovkine, Réseau Voltaire, 1er avril 2005.

Quem Está por Trás da Juíza que Processa Assange?

Manlio Dinucci*

Emma Arbuthnot é a Magistrada (Chief Magistrate) que, em Londres, instruiu o julgamento de extradição de Julian Assange para os Estados Unidos, onde aguarda uma condenação de 175 anos de prisão por "espionagem", ou seja, por ter publicado, como jornalista investigador, provas dos crimes de guerra dos EUA, incluindo vídeos das mortes de civis no Iraque e no Afeganistão.

No processo, atribuído à Juíza Vanessa Baraitser, todos os pedidos de defesa foram rejeitados. Em 2018, depois das acusações de agressão sexual na Suécia caducarem, a Juíza Arbuthnot recusou-se a anular o mandado de prisão, para que Assange não pudesse obter asilo no Equador.

Arbuthnot rejeitou as conclusões do Grupo de Trabalho das Nações Unidas sobre a detenção arbitrária de Assange. Também não foram escutadas as do responsável da ONU contra a tortura: “Assange, detido em condições extremas de isolamento injustificado, mostra os sintomas típicos de uma exposição prolongada à tortura psicológica”.

Em 2020, enquanto milhares de detidos foram transferidos para prisão domiciliária como medida anticoronavírus, Assange foi deixado na prisão, exposto ao contágio em condições físicas comprometidas. No tribunal, Assange não pode consultar os advogados, mas é mantido isolado numa gaiola de vidro blindada e ameaçado de expulsão se abrir a boca. O que está por trás dessa persistência?

O Ocidente deveria sentar-se sobre o seu traseiro, calar a boca e ouvir "os outros"!

Andre Vltchek [*]

Este é um artigo recente de Andre Vltchek (1962-2020), antes do seu falecimento em Istambul dia 22 de Setembro.   Seu último ensaio publicado foi Guo Wengui – So Anti-Chinese that even US Establishment Cannot Stomach Him.

Vltchek foi escritor, realizador de cinema, fotógrafo, jornalista, analista político e um ardente anti-imperialista.   A sua posição consequente e lúcida foi um exemplo do que deve ser um jornalismo combativo e de ideias, o qual se contrapõe ao jornalismo pasteurizado dos media corporativos que nos mentem & omitem diariamente.  Tal como o co-fundador de resistir.info, Miguel Urbano Rodrigues, Andre Vltchek constitui um exemplo para todos nós.

Sempre nos disseram o que pensar; o que é correcto e o que é errado. Pelos sujeitos brancos que moram ou vieram da Europa e da América do Norte. Eles sabiam de tudo. Eles eram os mais qualificados.

Quando escrevo "branco", não me refiro apenas à raça ou cor da pele. Para mim, "branco" é a sua cultura, aquela a que pertencem. Sim, a sua identidade.

Nós russos, cubanos, venezuelanos, chineses, iranianos, turcos não somos realmente "brancos", mesmo que a cor da nossa pele seja essa. Não que estejamos ansiando por ser brancos, realmente! Temos nossa própria maneira de viver e pensar e a maior parte de nós está do lado dos oprimidos, dos 'miseráveis do mundo', intuitivamente. Durante séculos as nossas nações foram saqueadas e atacadas. Milhões de nosso povo desapareceram durante invasões, genocídios, como aqueles na África e em todas as outras partes do mundo 'não-branco'.

Sempre fomos estudados; sempre fomos analisados, fomos descritos por aqueles confiantes escribas e repórteres vindos sobretudo do Reino Unido e da América do Norte. Eles sabem melhor quem somos e que tipo de sistemas políticos e culturais merecemos e deveríamos almejar. Estas pessoas sabem como falar. Seus sotaques são tão perfeitos, tão "científicos". Se eles dizem alguma coisa, isso deve ser pura verdade, simplesmente porque são qualificados, pois dominam o mundo há séculos.

Nós, os Outros, espera-se que calemos e ouçamos, a fim de aprender quem realmente somos, com os mestres do universo. Porque aos seus olhos não somos ninguém, apenas pouco mais que animais. E os animais não falam; eles só ouvem, recebem ordens e servem. Eles também são abatidos obedientemente, quando "é necessário".

Esperava-se que os decisores brancos do mundo soubessem acerca de nós, muito melhor do que sabemos acerca do nosso próprio povo e dos nossos países.

Deus proíba um de nós, indivíduos "não brancos", ousar emitir publicamente algum julgamento, especialmente um julgamento negativo, sobre a Europa, América do Norte ou Austrália!

Bem, em primeiro lugar, ninguém nos ouviria, porque nada se espera de nós, não podemos julgar o Ocidente. Estamos aqui para nos sentarmos polidamente, submissamente, para ouvir e tomar notas.

Será que vê frequentemente um chinês num programa de televisão britânico ou americano, a apresentar análises comunistas do Ocidente? Será que já viu um socialista iraniano ou chavista venezuelano a criticar o capitalismo britânico ou canadiano? Isso seria impensável, não é?

E honestamente, olhe para os chamados meios de comunicação independentes ou "progressistas" nos Estados Unidos ou Canadá. A situação lá é basicamente a mesma dos principais jornais e estações de televisão, com algumas raras, muito raras, excepções.

Mais uma vez, os brancos, sobretudo os anglo-saxões, "conhecem o que é melhor": seja a respeito dos recentes protestos anti-racistas nos Estados Unidos, seja a própria origem do COVID-19. Mesmo que não saibam nada, absolutamente nada, eles ainda são considerados os mais bem informados, os "peritos" mais qualificados. Só porque têm nomes, aparências e pronúncias adequadas. Só porque são brancos, arrumados e capazes de mentir de maneiras aceitáveis.

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