Alberto Castro, Londres
O atual parlamento britânico tem na presente legislatura 65 membros oriundos de minorias étnicas em país cuja população negra não chega aos 3%.
O governo de Boris Johnson tem representantes de minorias em cargos importantes. Dois dos quatro principais ministérios têm como titulares Priti Patel (Ministério do interior) e Rishi Sunak (Ministério das Finanças), sendo a primeira de origem hindu-ugandesa e o segundo de origem paquistanesa. Fazem também parte do Executivo em pastas não menos importantes, Kwasi Kwarteng (Comércio, Energia e Estratégia Industrial) James Cleverly (secretaria de Estado para o Oriente Médio e Norte da África), que serviu como co-presidente dos Conservadores (2019-20), e Kemi Badenoch vice-ministra do Tesouro, cargo que acumula com a titularidade do Ministério da Igualdade, todos pretos afrodescendentes.
É em resultado de intensa luta contra o racismo que se vê representantes de minorias ocupando cargos de relevância nos sucessivos governos britânicos desde que Paul Boateng, de origem no Gana, serviu como secretário de Estado de Tesouro no governo Blair. Portanto, nada a ver com presença e cargos ocupados por representantes de maiorias minorizadas e de minorias em sucessivos governos brasileiros, incluindo o petista.
É certo que os tories sob a liderança de Boris estão mais à direita do que sob liderança de seus antecessores em resultado de uma estratégia para neutralizar no Reino Unido o avanço da extrema-direita e dos ultra-nacionalistas de Nigel Farrage. Mas são erradas as comparações que jornalistas e analistas da esquerda no Brasil fazem, colocando BoJo com Bolsonaro e bando no mesmo patamar.
Jornalistas e analistas políticos ditos progressistas mas cujos convidados para debater o Brasil raramente são negros e, quando estes aparecem, é prá falar sobre o racismo em consequência de alguma tragédia ocorrida intra ou extra muros. Nesse quesito salve nos mídias alternativos, entre raras exceções, a TV 247 e o canal do Eduardo Moreira pelo esforço que estão fazendo para dar visibilidade à diversidade racial brasileira.
Jornalistas e comentaristas que se espantam ao ver negros ocupando lugares relevantes na administração Biden, em país em que a população negra ronda os 13%, atribuindo ao fato uma espécie de enganação à população negra e à opinião pública mundial. Não sabem, ou não se lembram, que o Rev. Jesse Jackson foi por 2 vezes (1984/1988) pré-candidato democrata a presidente dos EUA, que Colin Powell foi secretário de Estado e respeitado chefe militar, Condy Rice, chefe da diplomacia, Obama eleito pelo povo americano tal como Kamala agora e que, antes deles, havia governadores, senadores, prefeitos e deputados negros elegidos.
Jornalistas e comentaristas que zombaram de George W Bush vendo nele um inculto quando o então presidente norte-americano teria perguntado ao então homólogo brasileiro Fernando Henrique Cardoso se não havia negros no Brasil, durante uma visita de Estado deste à Casa Branca em 2002. Viram na ironia uma gafe e não o espanto de Bush ao não ver negros na delegação do presidente do país com a maior população negra fora da África, exceptuando a Nigéria.
Jornalistas e comentaristas racistas que se ficaram pela versão da polícia quando em 2011 Paulo Sérgio Ferreira, um homem negro, escalou o mastro e ateou fogo a um pedaço da bandeira nacional na Praça dos Três Poderes, em Brasília, justificando o ato como forma de chamar a atenção para as questões raciais no Brasil, ao qual chamou de "pátria assassina de negros". Para a polícia o homem sofria de distúrbios mentais.
Voltando ao BoJo, de lembrar que foi durante a gestão dele enquanto prefeito de Londres que foi aprovada a construção do memorial da escravatura, a ser construído no Hyde Park, e que o mesmo não partilha de ideias reacionárias de Bolsonaro quanto ao clima, questão de gênero, LGBT, religião, entre outras. BoJo é meio maluco, oportunista, diz uns disparates de vez em quando, mas não é Bolsonaro.
Alberto Monteiro de Castro, em 29.01.2021
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