terça-feira, 16 de março de 2021

Andamos a apanhar bonés e balões?

Curto hoje, por Raquel Moleiro, do Expresso. Tem balões e tudo. Não são de soro mas sim dos de andarem de mão em mão de crianças que retomaram as aulas presenciais nas escolas. O covid-19 é transmissível via balões? Claro que sim. Mas para as crianças está tudo bem. O que importa é andarem na escola, mesmo que corram riscos do contágio. Parece que as estatísticas são benéficas nos números de crianças que morreram por covid-19. Ainda bem. 

Não se sabe é quantos avós, de algumas dessas crianças, já foram ou vão ser contagiados pelos netos(as). Já aconteceu? Há-de ter acontecido. Consta nas estatísticas? Que saibamos, não. De preferência o melhor é os avós fugirem dos netos ou os netos estarem proibidos de visitarem os avós. É a solução. Mas para os netos que vivem com os avós, e há muitos desses, já não há solução. Ou haverá? Bem, paciência. Mais velhos menos velhos – e outros fragilizados - que “batam a bota” não interessa nada. Afinal até dá jeito ao SNS e ao Centro Nacional de Pensões em muitos casos ocorridos (milhares) e a ocorrer. A poupança dá jeito. Além disso não andam sempre a importunar os médicos do SNS nos Centros de Saúde e a pedirem ciclicamente receitas de medicamentos comparticipados. Está à vista que os que dizem por essa otica que “o covid-19 dá jeito” corresponde há realidade. E até, sendo verdade, que esta terrível maleita virai faz parte de políticas de controle e gestão do número de cidadãos do mundo, compreende-se que os confinamentos-desconfinamentos andem aos soluços… Credo, a populaça é mesmo muito má-língua e avança com teorias da conspiração por tudo e por nada… Pois.

Que não existem discos voadores com ETs, que no Iraque havia armas de destruição massiva e Bush falou verdade, que Durão Barroso ao alinhar com Bush no castigo a Sadam (enforcamento), invasão do país e implantação da guerra naquele país foi em defesa da democracia (alinhou e agora os “tachos” chovem-lhe em cima), que o BES era um banco seguro, como disse Cavaco Silva… Isso tudo e é só recordações pela “rama”… E agora: covid-19 igual a China, que era só um “resfriado”, uma “constipaçãozinha”… Etc., etc..

Certo é que a desorganização acerca do covid-19 está muito bem organizada… E os contágios sobem, descem, sobem… Já morreram milhões por todo o mundo e em Portugal (talvez porque os números eram “insignificantes”) lá houve uma aberta e já se caminha para duas dezenas de milhares de óbitos. Entendemos ou andamos a apanhar bonés?

Pronto. Está bem. Seja o que os deuses quiserem. Desculpem qualquer coisinha. Foi sem querer.

Afinal a função e o espírito desta entrada para apresentar o Curto, do Expresso descambou e alongou-se exageradamente. Dirão alguns e algumas que aqui virão: “não há pachorra”. Pois não. Deparar com conjeturas “irracionais e conspiratórias” daqueles que já viveram longas dezenas de anos e viram quanto dirigentes políticos já fizeram merda contra a humanidade - apoiados tantas vezes em militares, cientistas, doutores da mula ruça e outros jagunços de más índoles – não conta nada... Desculpem qualquer coisinha.

Adiante que se faz tarde e “a política é uma porca”. E isso lembra febras, porque está quase na hora do almoço (para os que almoçam).

Adiante.

Bom dia e bom Curto, que vale sempre a pena quando a alma não é pequena. Leiam, pensem. Não dói nada. Exibir transparência aos poderes instituídos também não. Democracia sem justiça nem transparência não é democracia. Todos sabemos isso mesmo. Andamos é a fazer de conta que vivemos em democracia de facto. E não. Infelizmente, não. Andamos a apanhar bonés e balões. Ou não?

A seguir: o Curto de Expresso. Bom. Vale… pensar.

MM | PG


 

Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Até quando os balões? (ou como é difícil acreditar na felicidade)

Raquel Moleiro | Expresso

Ontem, quando o fui acordar já tinha os olhos abertos. Estava em pulgas como se fosse véspera de Natal. Lembrei-o que naquele dia voltava para a escola, mas não era preciso. ‘Eu sei!’, disse num disparo, quase tão rápido como ele a sair do meio do edredão, num restolhar de tecidos e com obediência rara àquela hora da manhã (ou a qualquer outra). Está no 2º ano. Na estreia da primária aprendeu a ler e a contar em confinamento. No ano seguinte – este – foi via zoom que decorou as primeiras tabuadas e lhe cantaram os parabéns. Mas mais do que a matéria, que depressa recupera, foram os amigos que mais falta lhe fizeram, no aniversário e no dia-a-dia, os ‘manos’ como os trata, o trio terrível da professora Margarida que em fevereiro não pôde soprar as velas do seu bolo verde Minecraft. “Se nos sentarem juntos ao almoço vai ser o melhor dia da minha vida”, antecipava. Afinal, foram quase cinquenta dias de separação.

O colégio encheu-se de balões para o reencontro feliz. Os pais estavam em êxtase, com os sorrisos a subir das máscaras para os olhos. Ali e em todo o país, das creches ao quarto ano. Em 2020, no início do primeiro confinamento, havia receio do desconhecido, medo de voltar; agora existe alívio – eu confesso que quase chorei de alegria quando António Costa anunciou a reabertura do 1º ciclo. “A mãe já volta, vai só ali trabalhar sete horinhas”, ouviu ontem o Expresso em reportagem numa escola do Seixal. Trabalhar sem crianças ao pé parece um filme de ficção científica ao som do Enjoy the silence dos Depeche Mode. E beber uma bica tirada no café? Não tem preço. E deambular numa livraria? Agora só falta conseguir vaga no cabeleireiro para cortar a franja que me dá há muito visibilidade reduzida e voltar a ser loira por inteiro (a morena que há em mim ganhou centímetros de terreno capilar).

desconfinamento arrancou bem e vai acumulando boas notícias. Desde agosto que não havia um número tão baixo de novas infeções por covid-19 (256) - para manter a incidência dentro do limite para o desconfinamento, Portugal não deve passar uma média de 880 casos diários. E até os óbitos (10) recuaram a valores de outubro de 2020 (veja aqui todos os gráficos).

Faz hoje um ano exatamente que era registada a primeira morte em Portugal por covid-19, no Hospital de Santa Maria - Mário Veríssimo, 80 anos, antigo enfermeiro e massagista do extinto Estrela da Amadora – e o país seguia em sentido inverso: medo crescente, fechamento progressivo. Daí a três dias era declarado o primeiro Estado de Emergência. Vamos já no 13º.

cenário por concelhos também evolui favoravelmente. Apesar de ainda haver municípios acima do limite máximo de incidência definido pelo Governo, 78% do país está abaixo desse patamar. E um em cada três concelhos está dentro da linha verde, com menos de 60 novas infeções por 100 mil habitantes. São estes os números que permitiram a saída de Portugal da lista vermelha de países identificados por Inglaterra como potencialmente perigosos ao nível de contágios e cujos viajantes são obrigados a fazer quarentena em hotéis à chegada a solo britânico. Já não vai a tempo de tirar o turismo de uma crise sem paralelo, mas é uma ajuda. Venham a nós as reservas.

Mas há um ‘mas’. Há sempre um ‘mas’. Os balões do contentamento rebentam quando se aproximam do plano nacional de vacinação. Um a um. Pum pum pum. A par da Alemanha, França, Espanha e Países Baixos, Portugal (Açores e Madeira incluídos) suspendeu ontem a utilização da vacina da AstraZeneca na campanha de imunização contra a covid-19, após suspeitas de estar relacionada com casos de formação de coágulos sanguíneos, alguns mortais. O comité de farmacovigilância da Agência Europeia do Medicamento (EMA) está a investigar, volta hoje a atualizar a informação e reúne quinta-feira de emergência. A esperança está agora em que uma eventual manutenção da posição desta entidade acabe por levar os estados-membros a levantar a suspensão.

A campanha de testagem em massa nas creches, pré-escolar e 1.º ciclo arranca hoje - até sexta-feira todos os docentes e não docentes desses níveis de ensino deverão ter realizado o teste de diagnóstico da Covid-19 - mas a vacinação destes profissionais com a AstraZeneca, que deveria começar no próximo sábado, foi suspensa, devendo ser reagendada para o fim de abril. O coordenador da task-force, Henrique Gouveia e Melo, já veio reconhecer que o calendário traçado vai sofrer um atraso de "cerca de duas semanas”. Portugal mantém em armazém as 200 mil vacinas até que haja dados mais esclarecedores sobre a sua segurança.

Já foram administradas, até ao momento, cerca de 400 mil doses da AstraZeneca em território português, sem registo de reações adversas graves. “Se foi vacinado, mantenha-se tranquilo e atento”, recomenda Graça Freitas. O epidemiologista Pedro Simas também acalma as preocupações: “Toda a evidência indica que a vacina é segura”.

O problema é que qualquer grãozinho de areia no plano atrasa a imunidade e trava a diminuição dos casos de transmissão e da progressão de novas variantes - está a ser investigada uma nova variante detetada na Bretanha -, e consequentemente dos internamentos hospitalares e mortes. E na Europa há sinais preocupantes em ItáliaFrança, Alemanha, Hungria. Enquanto Portugal desconfina, outros põem novamente trancas ao vírus, a provar que nem com a vacinação em curso se evitam novas ondas.

O meu filho nem quer ouvir falar sobre portas fechadas. O primeiro dia de liberdade escolar foi intenso e cumpriu todas as expectativas, marcadas a pó e suor no pólo branco e a vermelho nas bochechas do rosto. Até houve bolo do aniversário de uma colega da sala. E calor em Sintra. Enquanto termino este curto, para que esteja disponível de manhã cedo, ele dorme. Caiu na cama e ferrou, o que não acontecia há demasiado tempo. Na mochila já está guardado o boneco de nome impronunciável que quer levar esta terça-feira para mostrar aos amigos. “Eu sei que não posso levar brinquedos para partilhar. Eu mostro só na minha mão. Vá lá…”

OUTRAS NOTÍCIAS

O chumbo da Eutanásia. O Tribunal Constitucional chumbou a lei de despenalização da Eutanásia e Marcelo não perdeu tempo a vetá-la e a enviá-la de volta ao Parlamento. Agora, compete aos deputados decidirem o que fazer ao diploma e já há propostas para o tentar alterar, contornando as objeções dos juízes que nela viram violações à Constituição. O TC deixou uma ajuda. Os juízes concluem que a questão da inviolabilidade da vida humana “não constitui obstáculo inultrapassável”, sendo preciso agora que o legislador elabore uma lei com as condições “claras, precisas, antecipáveis e controláveis” em que a eutanásia possa ocorrer. Com conceitos imprecisos não vão lá.

Luta por Lisboa. O Bloco de Esquerda decidiu ir sozinho à guerra autárquica na capital e apresentou ontem ao fim do dia a deputada Beatriz Gomes Dias como candidata. Na mesma corrida está também confirmado Carlos Moedas, apoiado pelo PSD e CDS. E hoje junta-se um terceiro concorrente: Nuno Graciano, apresentador de TV, empresário de queijos e agente imobiliário, é a aposta do Chega para Lisboa com apresentação formal junto ao Padrão dos Descobrimentos. Medina ainda não avançou oficialmente, a Iniciativa Liberal teve mas já não tem candidato e o PAN está agora noutras lutas: depois da saída de André Silva da liderança, Inês de Sousa Real é a “sucessora natural” de que se fala. A olhar para o nível nacional, PSD e o CDS assinam esta terça-feira o acordo que define os moldes das mais de cem coligações que ambos os partidos irão formalizar para as eleições autárquicas.

Ponte sobre o Douro. É lançado hoje nos Jardins do Palácio de Cristal o concurso público internacional de conceção da nova ponte sobre o rio Douro, entre o Porto (Campo Alegre) e Vila Nova de Gaia, cuja construção deverá ter início em 2023. Na mesma cerimónia, onde estará presente António Costa e o ministro João Pedro Matos Fernandes, será também lançada uma extensão do Metro do Porto com mais uma linha e sete novas estações.

As vendas da EDP. No Parlamento, estará esta terça-feira o presidente executivo da EDP para explicar a venda de seis barragens à Engie e se a transação devia ou não pagar impostos. A forma como a EDP desenhou o negócio de 2,2 mil milhões de euros foi uma operação "standard", como lhe chamou o CEO da EDP, ou uma transação cuidadosamente planeada, com a arte dos melhores assessores jurídicos e fiscais, para evitar impostos, como acusou o Bloco de Esquerda?

Rumo ao mundial 2022. Fernando Santos divulga esta terça-feira, na Cidade do Futebol (Oeiras), os convocados da Seleção Nacional para o triplo confronto da qualificação para o Campeonato do Mundo de 2022, que vai ser disputado no Qatar. O primeiro jogo realiza-se em Turim, frente ao Azerbaijão, a 24 de março. Três dias depois, Portugal defronta a Sérvia, em Belgrado, e a 30 de março o Luxemburgo.

No Name Boys. O Tribunal de Lisboa considera que deve ser o Tribunal de Cascais a realizar a instrução do caso das agressões praticadas por elementos da claque do Benfica, uma vez que o crime mais grave ocorreu naquele concelho, e declarou-se, por isso, territorialmente incompetente para avançar com a fase de instrução. “Os factos consubstanciadores do crime mais grave (homicídio qualificado na forma tentada) ocorreram em São João do Estoril”, lê-se no despacho a que o Expresso teve acesso.

Bolsonaro take IV. Com a pandemia de Covid-19 no seu ponto mais crítico, o Presidente brasileiro Jair Bolsonaro trocou pela quarta vez o ministro da Saúde no espaço de um ano. Marcelo Queiroga, o AGORA eleito, é cardiologista. Desde o início da pandemia, já morreram no Brasil cerca de 280 mil pessoas e 11,5 milhões foram infetadas.

FRASES

"A criança tem direito à educação desde que nasce."
Associação Portuguesa de Profissionais de Educação de Infância (APEI), que entregou, esta segunda-feira, na Assembleia da República, uma petição com 14.005 assinaturas a pedir a inclusão das crianças entre os 0 e os 3 anos na Lei de Bases do Sistema Educativo.

“Estamos a gastar milhares de milhões de dólares em armas que não nos protegem, enquanto negligenciamos a violência sofrida por uma em cada três mulheres no mundo”
António Guterres, secretário-Geral das Nações Unidas, a pedir esta segunda-feira aos países-membros da organização um plano de emergência sobre a violência contra mulheres e raparigas.

"Fiz esta tatuagem para sentir que ele ia estar sempre comigo dentro de campo. Agora temos de continuar e levá-lo para sempre connosco"
Rui Silva, jogador da seleção portuguesa de andebol, ontem à chegada a Lisboa depois do apuramento para os jogos olímpicos, a explicar porque tatuou o rosto do guarda-redes Alfredo Quintana que morreu durante um treino do FCP.

“A segunda e a terceira vagas da pandemia mostram que ainda estamos numa situação de emergência, longe de vencermos a crise e, por isso, temos de manter todas as nossas medidas ativas”
Mário Centeno, governador do Banco de Portugal em entrevista à Agência Reuters

"Com base nos dados que temos e devido à disseminação da estirpe [detetada inicialmente no] Reino Unido, defendemos veementemente voltar ao confinamento agora para evitar uma terceira vaga forte"
Christian Karagiannidis, diretor científico da associação britânica de médicos intensivistas, em declarações à rádio pública.

O QUE ANDO A VER

Como ontem foram anunciadas as nomeações para os Óscares e o streaming é o grande vencedor do confinamento, troco momentaneamente os livros pelo ecrã da televisão. Recorro ao Jorge Leitão Ramos e descubro que na Netflix há “Mank”, de David Fincher (com dez nomeações), “Ma Rainey's Black Bottom” (cinco, entre as quais de Viola Davis e Chadwick Boseman nos atores principais), “The Trial of the Chicago 7” (seis, onde se destaca a de Sacha Baron Cohen para Melhor Ator Secundário), “News of the World” (quatro), “Hillbilly Elegy” (duas, uma das quais de Glenn Close), “Pieces of a Woman” (Vanessa Kirby como melhor atriz), “The White Tiger” (Melhor Argumento Adaptado)… A lista é infindável e cresce com mais obras na Amazon Prime, Apple Tv, Disney+ e algumas nas salas tradicionais – como Nomadland, da realizadora Chloe Zhao - em Portugal os cinemas abrem a 19 de abril, na própria semana da cerimónia dos Óscares marcada para dia 25.

Descubro com espanto que nem mesmo com os filmes disponíveis na televisão fui capaz de ver alguns dos potenciais oscarizados – eu sou mais séries. Por isso, avancei pelo topo: ontem comecei “Mank”. Adorava ter visto de enfiada, mas tinha este curto para escrever e não fosse cair na asneira de ser spoiler involuntária mais vale não saber por que caminhos corre a trama.

O filme conta a história de Herman J. Mankiewicz (1897–1953), o argumentista de “Citizen Kane”. A história começa em 1940 quando Mank – a sua alcunha -, interpretado por Gary Oldman, era já uma estrela em queda, longe dos tempos em que tinha conhecido todos os magnatas dos maiores estúdios de Hollywood. E relata, em avanços e recuos, o passado de fama e o presente frenético a escrever o argumento da obra prima de Orson Welles, numa casa na Califórnia, junto ao deserto, alimentado a cigarros e álcool e a queimar o prazo de apenas 60 dias dado pelo famoso realizador.

É a preto e branco, numa clara homenagem à era de ouro do cinema, e mais não digo. Ide ver.

Este Expresso curto fica por aqui. Tenha uma ótima terça-feira, com toda a informação disponível no ExpressoTribuna e Blitz.

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