quinta-feira, 29 de abril de 2021

A apanhar bolas e bonés em Portugal e arredores

À volta da bola no Curto de hoje, abertura de Ricardo Marques, jornalista do Expresso. Prosa redonda, como o mundo, é o que ele nos traz. E saltita, por aqui e por ali, por acolá, fintando-nos quando passa perto – a redondinha.

Saltitando também as mentiras e manipulações redondas dos políticos - os que mentem, faltando saber quais são os que não mentem. Jornalista tem vida difícil e, tantas vezes, é o primeiro a ser manipulado. Como um vírus “a coisa pega-se”, dizia o avô do outro quando soube que o neto ia enveredar por essa coisa da arte avançada de arauto. “Pobrezinho”, rematou. Adiante.

Hoje no Curto há futebol e peras. É disso que se trata. É o que se percebe. Também no entendimento a inércia dos GNRs que viram (ou não) a porrada que deram a um operador de câmera por aí num qualquer estádio, lá para o norte (parece). Os paramilitares viram mas meteram a viola no saco e assobiaram para o lado (parece). Quem ficou danadinho foi Rui Rio, o treinador (?) do PSD. Outros ficaram…

Belo tema para aqui se tratar logo de rajada. Adiante. Não sem referir que há os que vão ao futebol para assistir a cenas de pugilismo e ouvir berros animalescos. Palavrões e etc.. Até também optar por berrar para aliviar as frustrações e o empobrecimento constante e o enriquecimento por explicar (entender) de uns quantos (uns pouquinhos).

Dizia-se numa publicidade de há décadas atrás: “Texas não é só isto…”. Pois. O Curto também não é só isto que referimos atrás: futebol e porra, berros e palavrões, dinheiro e falcatruas. Nem GNRs com mais para fazer que andar a proteger um operador de câmera só porque um empresário do clube da casa (convidado) o achou com cara de saco de boxe. Como diz em título Ricardo Marques; “Cada um tem o futebol que merece”. Evidentemente. Há os que querem merecer não ver nem saber nada daquilo. Ver uns fulanos a correr atrás de uma bola, sarrafar nas canelas dos adversários, pensarem e dizerem mais ou menos audível “filho de puta” quando ouvem o estridente apito do árbitro… Ena, ena. Esta treta nunca mais acabaria.

Adiante, em modo Curto e grosso: Que se lixe o futebol e os energúmenos que o rodeiam (só os energúmenos). Além disso no desporto há Pintos da Corta em barda… Estão à espera que aconteça o quê? Algo elevado? Transparente? Ora, ora, vocês (desculpem lá) são uns grandes otários e ainda acreditam no Pai Natal. AQdiante. Curto com alguns parágrafos para ler e pensar.

Aqui: “país desconfinado, de fronteira aberta com Espanha”, “Conselho de Ministros começa às 09h30, as decisões devem chegar lá mais para a tarde”. Muito mais para ler. Em vez de andarmos armados em apanha bolas. Ora bolas! Bem, masi vale apanhar bolas do que andar a apanhar bonés – que é coisa que a maioria dos portugueses, europeus e outros da plebe andam a fazer. Ou lhes está a acontecer.

Leia o Curto e exerça a tal “liberdade para pensar” que é o seu slogan. Siga à risca essa liberdade e não se aborreça se lhe chamarem “pedreiro livre”. Avance. Deixe-os pousar.

Desopilado, bradando um muito bom dia, saúde e um queijo acompanhado de um vinho alentejano guloso. Mas, beba com moderação. Pois. Já agora: "chapéus há muitos, seus palermas!" - bradava a velhota na porta dos fundos da Assembleia da República, foi detida. Sim, liberdade para pensar mas não para se dizer o que pensamos. Onde é que já vimos isto antes?

Natal feliz por todo o ano. Pois.

MM | PG


Bom dia este é o seu Expresso Curto

Cada um tem o futebol que merece

Ricardo Marques | Expresso

Lembro-me de, um dia, há muitos anos, um amigo me ter dito que perdera todo e qualquer interesse pelo futebol. É só negócio, desabafou. Eu, claro, não liguei até porque o meu clube tinha acabado de ganhar ao dele - e isso, como toda a gente sabe, é meio caminho andado para eu ter razão e ele não.

Na verdade, como os acontecimentos das últimas semanas vieram provar, o referido indivíduo sempre foi infinitamente mais sábio do que quem escreve estas linhas.

Já nem vale a pena falar da famigerada Super League, esse devaneio de clubes milionários ávidos de mais algum, ou melhor, de muito mais dinheiro.

O que aconteceu em Portugal nos últimos dias, que não é muito diferente do que acontece todos os anos, é a prova provada de que as contas contam mais do que a bola. Muito mais.

Os dirigentes enganam-se, os treinadores erram. Os jogadores falham golos de baliza aberta. A equipa não ganha. O problema não deve ser nosso. A culpa é do árbitro.

A culpa é sempre do árbitro. Há vinte e dois jogadores em campo, mais não sei quantos nos bancos, treinadores e adjuntos, e presidentes na bancada. Tudo gente boa e séria que nunca erra. O único trambiqueiro é o árbitro, e os dois amigos dele que andam de bandeirinha.

Numa semana não vê num pénalti a meu favor, na outra carrega-me os jogadores de amarelos e depois fecha os olhos a um fora de jogo. E não, não falo dos árbitros só quando perco. Quando ganho, e eles até se enganam a meu favor, tenho azar e não estou atento a nenhum dos lances. Mas não há problema: há sempre alguém pronto a queixar-se.

Num ano porque favorece este, no seguinte está a levar o outro ao colo. Passa um ano e, veja-se, quem se queixava está a ganhar e os que tudo controlam estão a perder. Depois muda tudo, mas não muda nada. Não interessa a cor da camisola. A culpa é dos árbitros. Sempre.

A minha equipa é sempre melhor do que a equipa dos outros. Eu sou melhor do que eles. E como isso é uma verdade inatacável, quando as coisas correm mal a culpa não pode ser minha. Nunca. Não pode ser nossa. Jamais. A culpa, lá está, é do árbitro.

O problema desta fé cega num pressuposto falso é que as pessoas, as tais boas e sérias pessoas, tendem a perder o discernimento. O jogo deixa de ser um jogo. Por cá, a doença do nós-contra-o-mundo já leva uns anos valentes e atinge todos por igual. Esta condição tende a agravar-se com o tempo.

Às vezes parece que melhora, mas é uma febre que regressa sempre, como escreve um antigo árbitro. Temo que esta quinta-feira, véspera de mais uma jornada a caminho do fim do campeonato, a conversa ande quase toda à volta do mesmo de sempre.

Desta vez, o episódio em curso na tragédia que é o futebol português envolve um empresário com ligações à equipa do FC Porto, atual campeão nacional e segundo classificado na tabela, e uma alegada agressão a um repórter de imagem. Isto depois de os azuis-e-brancos terem empatado e de o treinador Sérgio Conceição ter sido expulso (já severamente castigado).

Jorge Nuno Pinto da Costa, presidente do Porto, diz numa entrevista ao Porto Canal, que não viu nenhuma agressão nos factos que terão ocorrido mesmo à sua frente depois do jogo contra o Moreirense.

“Depois vi confusão mais abaixo, verifiquei que era o senhor Pedro Pinho a tentar tirar e a tapar a câmara ao repórter de imagem. (…) Atenção que não vi nenhuma agressão nem vi nenhuma imagem em que se veja o Pedro Pinho a agredir aquele senhor.”

O mesmo Jorge Nuno Pinto da Costa, presidente do Porto, diz na mesma entrevista ao Porto Canal que durante o jogo contra o Moreirense viu, tal como “toda a gente”, três penaltis não assinalados a favor da sua equipa.

“E o VAR? Como é possível? Toda a gente viu os penáltis e aquele indivíduo a ver na televisão não vê? O que devemos pensar?”

Sinceramente? Não faço ideia. Ou melhor, vejo que o meu amigo tem razão.

OUTRAS NOTÍCIAS

Segue-se uma breve lista de outros temas e assuntos de que poderá ouvir falar nas próximas horas.

Caminhamos rapidamente para um país desconfinado, de fronteira aberta com Espanha, e nada melhor do que perceber como vai ser a vida a partir da próxima segunda-feira. A AHRESP quer mais e mais depressa e sugeriu ao Governo que autorize os restaurantes a abrirem sem limitação de horários já este fim de semana. O Governo responde e, ao Expresso, diz que está a estudar a situação…. O Conselho de Ministros começa às 09h30, as decisões devem chegar lá mais para a tarde.

Eis algo que o Governo já decidiu: o Estado está "preparado" para garantir uma parte das dívidas sobre moratória nos setores mais afetados pela covid-19, desde que os bancos concedam a "carência necessária" e a "extensão de maturidade adequada", disse o ministro da Economia.

Pois bem, nada como ler o que os banqueiros portugueses pensam sobre a crise. E, por falar em bancos, há alguém a caminho da Caixa Geral de Depósitos.

Haverá dinheiro na conta dos trabalhadores da Groudforce em maio e, tudo leva a crer, também em junho, segundo foi revelado pelo conselho de administração da empresa.

Há novidades sobre o SIRESP: fim de uma parceria e o início de uma direção.

Joe Biden fez a primeira declaração ao Congresso dos EUA. A pandemia e o dinheiro que o Governo quer injectar na economia foram dois dos temas principais do discurso, em que o presidente abordou também as relações com a China, a imigração e, entre outras medidas, a decisão de retirar as tropas do Afeganistão até dia 11 de setembro.

Em Espanha parece estar em curso uma guerrilha política por correio. Depois de balas, e de uma navalha, ontem as autoridades interceptaram mais um subscrito com munições e algumas palavras insultuosas dirigidas ao antigo primeiro-ministro socialista José Luis Zapatero. Mais informação, e contexto, neste artigo do Expresso.

Fiquei em sobressalto, ao fim da tarde de ontem, quando li que o Instituto Nacional de Estatística se arrisca a pagar uma multa de 20 milhões de euros. Isto depois de dados sensíveis de seis milhões de portugueses terem estado sob controlo momentâneo e exclusivo da empresa norte-americana Cloudflare nas ligações estabelecidas ao INE. Isto depois de ter estado boa parte do dia a tentar preencher o inquérito do Censos, com a página a falhar constantemente.

É provável que nas próximas horas, ou dias, sejam conhecidas novidades sobre a proposta da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral de enviar cerca de 3000 militares para Cabo Delgado para apoiarem as forças de segurança e defesa de Moçambique na luta contra os grupos insurgentes que, desde 2017, aterrorizam a província mais a norte. O que falta saber é se o governo de Maputo aceita a oferta…

Morreu Michael Collins, o astronauta que ficou a tomar conta do módulo Columbia, em órbita, enquanto os outros dois da Apolo 11 caminhavam na Lua.

A nova Europa, versão pós-Brexit, começa a desenhar-se a 1 de maio.

O Manchester City foi a Paris marcar dois golos, sofrendo apenas um, e reservar meio-bilhete para a final da Liga dos Campeões.

Presidência portuguesa UE

É hoje conhecido o resultado da votação pelos eurodeputados da proposta da Comissão Europeia para o certificado verde digital. Após este passo, começam as conversações com os Estados-membros para adotar o livre-trânsito digital até ao verão. Uma resolução sobre os preços e a disponibilidade dos testes covid será também hoje colocada a votação. Bruxelas defendeu que a criação do certificado dará "uma perspetiva de esperança" aos cidadãos da UE no combate à pandemia.

A secretária de Estado dos Assuntos Europeus, Ana Paula Zacarias, disse esperar que o certificado "dê um impulso positivo à recuperação social e económica". A presidência portuguesa da UE exortou o Parlamento Europeu a avançar para um "compromisso comum" nas próximas semanas relativamente ao passe verde, falando também na necessidade de reduzir os custos dos testes para viagens.

FRASES

"Por isso, sim, manterei, aliás como sempre, a minha intenção de o consultar, caso ache relevante para a cidade e para auxiliar a minha decisão sobre vários assuntos” - Fernando Medina, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, referindo-se a Manuel Salgado, antigo vereador e visado numa investigação policial sobre crimes no âmbito de processos urbanísticos

"É importante dizer que só há futuro porque aqui chegámos” - Marta Temido, ministra da Saúde, sobre a atual situação de Portugal em relação à pandemia de covid-19

O QUE ANDO A LER

Um livro em que peguei há menos de uma semana e que se chama “deus não é grande - como a religião envenena tudo”

Não é preciso perder tempo a apresentar Christopher Hitchens, que faleceu em 2011. Jornalista, escritor, crítico literário e, acima de tudo, ateu. Via a religião como uma fonte de problemas e era um defensor acérrimo da ciência. Resumindo o autor conta-se a história deste fascinante livro, que percorre milhares de anos, atravessando as principais religiões de fio a pavio, não deixando pedra sobre pedra.

Claro que o ponto de partida de cada um importa, e muito. Haverá quem passe o tempo a concordar, quem desista ao fim de meia dúzia de páginas e, acredito, quem nem sequer se dê ao trabalho de começar. Mas é uma viagem fascinante, não só pelas memórias pessoais e profissionais, da Bósnia ao Sudão, mas principalmente pela erudição com que são tratados os assuntos. Hitchens não é apenas do contra. Conhece as escrituras, sejam elas quais forem, e analisa-as com frieza suficiente para concluir que, apesar de todas as diferenças, as religiões são todas igualmente prejudiciais.

“…A critica mais branda à religião é igualmente a mais radical e a mais devastadora. A religião é fabricada pelo homem. Nem sequer os homens que a fabricaram podem concordar com o que os seus profetas, redentores ou gurus disseram ou fizeram. E podem ainda menos esperar explicar-nos o ‘significado’ de descobertas e desenvolvimentos mais recentes que foram, à partida, quer obstruídos pelas suas religiões quer denunciados por elas. E no entanto… os crentes continuam a afirmar que sabem! Não apenas que sabem, mas que sabem tudo.”

Quem acha que sabe tudo acha que nunca erra. O erro é para os outros.

Desejo-lhe uma quinta-feira tranquila. O Expresso está consigo durante todo o dia, e amanhã nas bancas.

Sugira o Expresso Curto a um/a amigo/a

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