sábado, 17 de abril de 2021

Líder da oposição em São Tomé acusa PR de "passividade" perante abusos de poder

O líder da Ação Democrática Independente (ADI), oposição em São Tomé e Príncipe, acusou hoje os partidos no poder de serem "uma associação privada" que procura o enriquecimento ilícito e comete abusos de poder, perante "a passividade" do Presidente.

"Esse grupo político, bem identificado, com as suas figuras de proa, constitui um perigo para todos os são-tomenses", disse Patrice Trovoada, numa declaração transmitida nas redes sociais a propósito do apoio do seu partido à candidatura do antigo ministro Carlos Vila Nova às eleições presidenciais marcadas para 18 de julho.

A chamada `nova maioria`, composta pelo partido MLSTP-PSD e pela coligação PCD/MDFM/UDD, "representa uma associação privada que defende interesses exclusivamente económicos e tem por única ideologia o enriquecimento ilícito e descarado, o atropelo arrogante das leis e o abuso do poder e temos de reconhecer que tem progredido, infelizmente, aproveitando-se da passividade do atual Presidente da República", afirmou Patrice Trovoada, antigo primeiro-ministro (2014-2018).

O chefe de Estado, Evaristo Carvalho, foi apoiado pela ADI nas presidenciais de 2016 e ainda não se pronunciou sobre se será candidato a um segundo mandato.

Sobre as próximas eleições, Patrice Trovoada afirmou que "os candidatos às presidenciais que deverão manter a todo o custo o MLSTP, PCD, MDFM, UDD no governo são todos a face da mesma moeda e têm participado e convivido ativamente com todas as incongruências, crueldades e barbaridades que têm acontecido desde que tomaram o poder", após as eleições legislativas de outubro de 2018, em que a ADI foi a força mais votada, mas não conseguiu garantir maioria parlamentar que permitisse apoiar um executivo.

A candidatura apoiada pela ADI tem como principal motivação "pôr um travão ao projeto político daqueles que visam o controlo absoluto de todas as instituições que concorrem ao funcionamento de Estado de Direito democrático, pela `nova maioria`, a fim de favorecer a sua permanência infinita no poder", afirmou.

Na sua declaração, Patrice Trovoada, que se encontra fora de São Tomé desde pouco depois das eleições legislativas, comentou que a sua eventual candidatura às presidenciais não foi equacionada.

"Eu nunca me considerei uma proposta em cima da mesa", afirmou, criticando uma proposta de alteração da lei eleitoral apresentada pelo PCD que visava impedir candidaturas de cidadãos na diáspora, mas que foi vetada pelo Presidente da República.

"Denunciámos assim as manobras e expusemos as reais intenções desses partidos, uma vez que tentaram violar vários artigos da Constituição de forma grosseira, só para atingir objetivos bem confessados de impossibilitar a minha candidatura às presidenciais", disse.

Patrice Trovoada reconheceu que a sua figura não reúne consenso no país.

"O meu percurso como primeiro-ministro e o meu perfil, embora hoje muitos dos nossos adversários reconheçam o mérito, têm suscitado muito, mas mesmo muito ódio, e felizmente também algum amor", afirmou, desabafando: " Ninguém é perfeito".

"E, se calhar, por ter sido sempre movido pelos imperativos de reformarmos a economia, as nossas instituições, nomeadamente judiciais, mudarmos as nossas mentalidades e aumentarmos a nossa produtividade, bem como a sustentabilidade das finanças públicas, sou um democrata longe de ser consensual e, a meu ver, pouco adaptado à função presidencial no nosso atual regime político", acrescentou.

A ADI pretendeu inicialmente encontrar um candidato presidencial oriundo da sociedade civil, mas isso não foi possível.

"Não havia da nossa parte qualquer exigência política, como por exemplo de demissão do Governo antes do fim da atual legislatura", comentou.

"Infelizmente, a crueldade do confronto político no nosso país, feito de golpes baixos, sujos, perseguições políticas, ataques pessoais e irresponsáveis e diversas pressões de todo o tipo, se calhar condicionaram a decisão de encabeçar esse projeto por parte das personalidades da sociedade civil solicitadas", referiu.

Carlos Vila Nova, ministro das Obras Públicas, Infraestruturas, Recursos Naturais e Ambiente do governo liderado por Patrice Trovoada, "é o candidato capaz de anunciar um novo ciclo político de magistratura de influência tolerante, dialogante, mas com empatia e a determinação necessárias ao respeito escrupuloso das leis da República, da justiça social e a defesa dos mais fracos", afirmou.

Da parte do Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe - Partido Social-Democrata (MLSTP-PSD), no poder, o candidato apoiado será o antigo primeiro-ministro Guilherme Pósser da Costa, mas alguns militantes do partido - a antiga primeira-ministra e candidata nas presidenciais de 2016, Maria das Neves, o antigo líder social-democrata Jorge Amado, a ex-ministra dos Negócios Estrangeiros do atual Governo, Elsa Pinto, e o coronel na reserva Victor Monteiro - já manifestaram a intenção de avançar com candidaturas independentes às eleições de 18 de julho.

RTP | Lusa

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