Bom dia, se conseguirem que assim seja. Lutem por isso, merecem. Esta vai ser a porta de entrada do Curto do Expresso, lavra do PG. Depois Martim Silva, com a mão no ferrolho, abre a porta para o Curto que ainda há umas poucas horas lavrou e semeou para que o colhêssemos. Boa agricultura.
Ontem falou-se da AstraZeneca, a vacina, nos dias anteriores também. Hoje fala-se da AstraZeneca. Aqui no Curto também Martim Silva volta à vacina que mata ou não mata cidadãos… Na Europa, na chamada União Europeia, a EMA – Agência Europeia do Medicamento – anda aos ziguezagues. Depois de vir a terreno dizer que a AstraZeneca não matava nada (as pessoas que morreram após a tomarem é que já tinha marcada viagem para o outro lado), tem estado agora a pensar melhor e vai pronunciar-se esta tarde, segundo anunciam. Ontem, no PG, Susana Charrua escreve sobre aquilo que ela chama de barafunda, com misturas de mentes criminosas, incompetentes… Talvez. Podem ler aqui: Barafunda das vacinas covid-19 dá azo às teorias da conspiração? Teorias da conspiração… Talvez não, em certas e incertas vertentes. Estamos entregues aos bichos do capitalismo severo, selvagem, que abre todas as portas ao neoliberalismo desumano, tantas vezes assassino.
Sobre essa tal beberragem AstraZeneca por nós estamos conversados. Resta salientar que duvidamos da EMA e de quase todos os estandartes que a UE tem desfraldado para tapar as suas incompetências, as suas incongruências, as suas mais que visíveis rendições ao poderoso mercado dos medicamentos e outros. Assim é impossível confiar nessa UE que nos julga todos imbecis, que adotou o figurino e todos os procedimentos de todo o mundo, cujo resultado é a liquidação de vidas de boa parte da população mundial. No caso especifico de vastos milhares de cidadãos europeus. As teorias de conspiração crescem...
Adiante, que se faz tarde, e José Sócrates é chamado à baila no Curto de hoje. Mais uma vez. Escreve hoje Martim:
“Às 14.00 desta sexta-feira o juiz Ivo Rosa, que liderou a instrução do processo judicial Operação Marquês, a maior investigação de corrupção do Portugal democrático, vai proferir a decisão instrutória: ou seja, vai dizer se José Sócrates e as quase três dezenas de arguidos vão ou não a julgamento pelos crimes de que são acusados.”
Sim. O juiz decidirá. Mas como a AstraZeneca a barafunda é tanta que não sabemos para que lado nos virarmos. A não ser para ficarmos desconfiados. Desconfiar sempre é o lema da populaça, dos mal governados e tantas vezes vigarizados e roubados com adornantes palavras dos doutos dirigentes. Não todos, mas alguns. Demasiados. E então, para que lado se vai virar o juiz Ivo Rosa no Caso Sócrates? Veremos.
A antecipação do Curto já vai longa. Vamos deixar-vos a ler o que interessa na lavra de Martim Silva.
Por nós consideramos que este é o fantástico mundo ao estilo de Sócrates, AstraZenaca e similares. Bom dia, um queijo, um tinto alentejano de estalo e a predisposição de exigirmos que acabem com as barafundas e dêem lugar à honestidade. Só então poderemos confiar nos que no topo dispõem as normas. Estamos desconfiados, pois claro que andamos desconfiados. E vocês não? Pois. A seguir o Curto, do Expresso.
Mário Motta | Redação PG
Bom dia este é o seu Expresso Curto
O berbicacho Astrazeneca... e o berbicacho Sócrates
Martim Silva | Expresso
Bom dia,
Este é o seu Expresso Curto desta quarta-feira, 7 de abril. Entre hoje e amanhã
deve perceber-se a dimensão exata do ‘berbicacho’ (cito palavras do nosso
primeiro-ministro) que volta a envolver a vacina da Astrazeneca contra a
Covid-19.
E faltam pouco mais de 48 horas para aquele que deve ser um dos momentos do
ano. Às 14.00 desta sexta-feira o juiz Ivo Rosa, que liderou a instrução do
processo judicial Operação Marquês, a maior investigação de corrupção do
Portugal democrático, vai proferir a decisão instrutória: ou seja, vai dizer se
José Sócrates e as quase três dezenas de arguidos vão ou não a julgamento pelos
crimes de que são acusados.
Não é preciso consultar o instituto de meteorologia para dizer: isto vai
aquecer.
Venha daí comigo
Em matéria de vacinas, comecemos pelo início. Em Portugal, já
levaram pelo menos uma toma da vacina 1,3 milhões de pessoas. Ou seja, 13
por cento dos portugueses já têm pelo menos parte da vacina (a primeira toma)
administrada. Se preferir, 87 por cento dos portugueses ainda não tomaram
qualquer vacina contra a Covid-19. Uma questão de perspetiva.
O nosso processo de vacinação está ancorado em boa medida na vacina da
Astrazeneca. Aliás, em todo o planeta esta era vista como a vacina salvadora:
não precisava de temperaturas tão baixas para ser armazenada; custa cinco vezes
menos que outras vacinas disponíveis; iam ser distribuídas 3 mil milhões de
doses este ano, incluíndo para países menos desenvolvidos.
Bem, isto era o que pensávamos que ia ser. A realidade tem sido outra. Se bem
está recordado, a vacina da Astrazeneca tem estado envolvida numa série de
peripécias e polémicas. As notícias sobre o surgimento de complicações em
pessoas que tomaram a vacina levaram há semanas vários países a suspender a
administração desta vacinas.
Recorde-se que num universo de 18 milhões de doses administradas, houve 30
casos de formação de coágulos em pessoas que tomaram a vacina da Astra
Zeneca. Sete morreram.
Mas os organismos responsáveis garantiram que a vacina era segura e que o
programa de vacinação deveria prosseguir, até porque os benefícios superavam
claramente os riscos. E a vacinação foi retomada nos países em que tinha sido
interrompida.
Ora, se pensávamos que o problema já estava resolvido, não está.
Ontem de manhã um alto responsável da EMA, a agência europeia do medicamento,
veio dizer que estava confirmada a ligação entre a toma da vacina da
Astrazeneca e os casos registados de tromboses. Numa entrevista ao jornal
italiano 'Il Messaggero', o responsável pela estratégia de vacinação da EMA,
Marco Cavaleri, confirmou a existência de uma relação entre a vacina
desenvolvida pela Universidade de Oxford e o laboratório AstraZeneca e a
ocorrência de coágulos de sangue raros em pessoas vacinadas.
O alarme foi imediato, até porque as declarações, numa entrevista a um
jornal italiano, não tinham mais explicações. Só para dar um exemplo, por cá
António Costa admitia pouco depois que poderíamos estar na presença de novo
‘berbicacho’ a complicar um processo de vacinação nos países europeus
que tem estado cheio de tropeções.
A meio da tarde, a mesma EMA
veio corrigir as declarações do seu responsável. Dizendo que afinal o
tal nexo causal entre a vacina e uma rara formação de coágulos sanguíneos não
está provada.
As conclusões do comité de segurança deverão ser conhecidas hoje ou amanhã,
quinta-feira.
Pergunto-me se o mal não está feito, depois de todas as dúvidas levantadas nos
últimos tempos.
E agora que tanto falamos de vacinas, há mais uma francesa, da Valneva, cujos resultados iniciais parecem muito promissores.
Nesta altura, já podemos concluir que a maioria dos países da União Europeia (UE) não conseguiu cumprir a meta de ter pelo menos 80 por cento dos idosos (com 80 anos ou mais) e 80 por cento dos profissionais de saúde vacinados contra a covid-19 até ao final de março. Portugal, no entanto, conseguiu cumprir já uma das metas: 84,3 por cento da população com mais de 80 anos já recebeu a primeira dose da vacina. O Governo português estima que os profissionais de saúde considerados prioritários estejam todos vacinados até ao dia 11 de abril, o que representa que o país cumprirá entretanto as duas metas intercalares definidas pela Comissão Europeia.
No outro espectro está a Bulgária, o país que ocupa a pior posição: apenas cinco por cento dos maiores de 80 anos já foram vacinados e apenas 17,6 por cento dos médicos e enfermeiros búlgaros receberam a primeira dose da vacina.
Com cerca de 107 milhões de doses já distribuídas e mais 360 milhões
programadas para serem entregues durante este trimestre, a UE mantém a
esperança de ter toda a população adulta imunizada até 21 de setembro.
Os problemas com as vacinas da Astrazeneca não são apenas à volta das dúvidas
sobre a sua eficácia e segurança. São também relacionados com a sua produção.
Ontem, a União Europeia veio negar ter bloqueado a exportação de um lote de três
milhões de vacinas da companhia para a Austrália (que também está com
a vacinação atrasada).
Entretanto, e à medida que vão sendo dados passos no sentido da concretização
do chamado 'passaporte de vacinação', os organismos europeus de protecção de
dados alertam para a necessidade de serem protegidos
os dados e informações pessoais dos cidadãos.
OPERAÇÃO MARQUÊS
Na Comissão Política, o podcast
de política do Expresso, o tema Operação Marquês é o prato forte desta semana.
Vale a pena ouvir.
Já na última edição do Expresso semanário tinhamos dado grande destaque ao
tema, com este
texto questionando o impacto que a decisão do processo poderá ter na
justiça e na política. E também este, que olha para o processo e tenta antever
o que se poderá passar, nomeadamente se
a acusação de corrupção a José Sócrates não for confirmada. E ainda este,
dando conta de como o despacho de Ivo Rosa já ultrapassa as seis
mil páginas (e as últimas informações apontam para uma leitura das
conclusões que poderá levar duas horas).
Na sua edição desta qurta-feira, o Público dá destaque a um trabalho em que se
afirma que em Portugal os nomes de Sócrates
e Ricardo Salgado são figuras centrais no imaginário sempre que se fala de
corrupção.
Para sexta-feira, quando for conhecida a decisão instrutória, estamos a
preparar no seu Expresso digital um grande trabalho envolvendo os nossos
jornalistas e colunistas, de forma a levar até si a melhor informação e opinião
sobre o tema. Vá estando atento.
OUTRAS NOTÍCIAS
Cá dentro
Já aqui falámos sobre José Sócrates, a propósito da Operação Marquês. Mas o
nome do antigo primeiro-ministro é também lembrado quando se assinalaram os dez
anos do pedido de resgate de Portugal, na sequência da crise das dívidas
soberanas. Lembra-se? Lembramo-nos todos, seguramente.
Na Madeira, prepara-se a utilização de cães
farejadores para detectar a chegada de passageiros ao aeroporto de
infectados com a Covid-19.
O BE acusa o Estado de estar a colocar dinheiro
a mais no Novo Banco. No Parlamento, prosseguem as audições da comissão
de inquérito às perdas do Novo Banco, tendo sido ouvido um antigo
responsável de risco do Banco Espírito Santo.
Na preparação das Autárquicas,
o partido de Rio prepara o apoio a nomes polémicos, como o de Suzana Garcia
para a Amadora, e o de Isaltino Morais em Oeiras.
O concurso para novas
concessões de distribuição de eletricidade derrapa.
Na Ciência, temos o nosso colega Vírgilio Azevedo a escrever sobre como grandes lentes
desenhadas por astrofísicos portugueses vão ser enviadas para o mega
observatório situado no Chile.
Lá fora
Os números da pandemia no planeta voltam
a subir e para números alarmantes que fazem pensar em nova vaga da
doença à escala global.
Como é que a China conta convencer 650 milhões de pessoas a serem vacinadas
contra a Covid? Oferecendo-lhes
um gelado...
A
pandemia piorou tudo e “as ratazanas continuam a morder crianças durante a
noite” em Portugal: o relatório da Amnistia Internacional
Benjamin Netanyahu designado
para formar Governo
A
Foi morto
pela polícia o médico da Marinha norte-americana que disparou sobre
duas pessoas.
Opositor
russo Navalny prossegue greve de fome apesar de doença respiratória
50
anos da morte de Stravinsky: a vida de um compositor russo e universal
revisitada através da sua obra
TRIBUNA
Esta quarta-feira, o FC
Porto defronta o Chelsea para a primeira mão dos quartos de final da
Liga dos Campeões. Os portistas jogam em casa, mas casa neste caso significa
Sevilha (onde os portistas já festejaram uma conquista europeia).
Aqui pode ficar a saber mais sobre Tuchel
e o seu projeto para o clube londrino.
Na última noite, o Real Madrid bateu o Liverpool e o Manchester City derrotou o
Borussia de Dortmund.
Fora da Champions, em Espanha continua a dar polémica um alegado insulto
racista a um jogador do Valência.
Luís
Filipe Vieira era suspeito de branqueamento de capitais e de burla
qualificada. Mas o processo acabou arquivado.
FRASES
(Nos últimos dias, aqui no Expresso, anda uma polémica assanhada sobre se os
comunistas comiam criancinhas... Como gosto muito de polémicas em jornais e
como gosto de ler gente culta a escrever em jornais e como gosto de História,
deixo-lhe vários links sobre esta acesa troca de palavras que mete Francisco
Louçã e Henrique Monteiro, com Daniel Oliveira pelo meio. Não são frases, são
artigos, mas valem uma leitura)
Tudo começou na semana passada, pela pena de Henrique
Monteiro, criticando um comentário de Louçã
na SIC Notícias: "Académico, conselheiro de Estado, conselheiro
do Banco de Portugal… de que serve tudo isto? Para desmentir a História e
atacar uma deputada municipal, com ano e meio de atraso? Para deturpar o que
foi dito, numa desonestidade intelectual que dói?"
Depois, Francisco
Louçã respondeu-lhe. "Bem sei que Henrique Monteiro quer
fugir da questão como o pistoleiro que sai aos tiros do saloon para fingir que
não esteve lá. Tem um problema: é que a tal frase, “os comunistas comem
crianças”, é uma afirmação factual e Monteiro, que foi jornalista, sabe que
esta só pode ser ou verdade ou mentira".
E Também Daniel
Oliveira decidiu opiniar sobre o assunto. "Espanta-me que
Louçã, que se fez trotsquista por reação aos crimes de Estaline, não tenha
percebido a gravidade de fazer uma piada com o seu maior crime. E que haja quem
acredite que um trotsquista pode ser negacionista dos crimes do estalinismo"
Já esta quarta-feira, Henrique volta ao tema: "O
síndroma da loucura política (e uma resposta à desonestidade de Louçã)"
O QUE ANDO A LER
Já passou algum tempo desde que aqui estive para um Expresso Curto. Dessa
forma, por mim já viajaram vários livros, que agora aproveito para lhe sugerir.
De Kazuo Ishiguro, recém Prémio Nobel, ainda nada tinha lido. Mas a
história deste último "Klara e o Sol", com o cenário futurista
de robots e inteligência artificial e dos seus limites, chamou-me a atenção. Conseguirá
um dia uma máquina replicar o que há de único na natureza humana? Aqui
pode ler a recensão do livro.
O último de Arturo Perez Reverte. "Cães Maus Não Dançam".
A narrativa é surpreendente, dado que o livro é contado por um narrador que
é... um cão. Isso mesmo, um cão que foi uma espécie de máquina de guerra,
envolvido em lutas ilegais, e que agora goza uma merecida reforma.
No Expresso, entrevistámo-lo recentemente e falámos
sobre este livro com o escritor espanhol:
"Amo muito os cães. Sempre
tive um ou vários, pelo menos desde que, há 30 anos, a minha vida estabilizou e
passei a ter uma casa — antes era um vagabundo, um nómada. Neste momento, tenho
quatro cães, dois da minha filha. O cão tem virtudes que gostaria de ver nos
seres humanos. A vida endureceu-me em muitos aspetos, mas continuo a sofrer com
o sofrimento de um cão. Indigna-me. Digo-lhe mais: mataria por muito poucas
coisas, mas mataria quem fizesse mal a um cão. Sem qualquer remorso, com as
minhas próprias mãos."
Duas notas ainda para "Uma Longa Viagem com Vasco Pulido
Valente", de João Céu e Silva, que numa longa entrevista (na verdade,
dezenas delas feitas ao longo dos últimos anos) a Vasco Pulido Valente, um dos
melhores colunistas e maiores polemistas nacionais das últimas décadas, traça
um perfil do historiador falecido no ano passado, mas também um percurso
histórico de Portugal desde o século XIX.
E, também de um jornalista, e sobre corrupção, "45 Anos de Combate à
Corrupção", de Luís Rosa, nosso colega do Observador. Um livro muito
oportuno numa altura em que tanto se fala do tema.
Antes de me despedir, apenas quero lembrar que com a edição do Expresso semanal
desta semana, que está nas bancas na sexta-feira, será distribuído
gratuitamente um clássico do nosso jornal. O MAPA
DE ESTRADAS, naturalmente devidamente atualizado. E dentro de duas semanas,
a 23, será a vez de poder voltar a contar com um Expressinho,
para os leitores mais novos.
Tenha um excelente dia. Com mais ou menos esplanadas mas sempre com cuidado e
protegido.
Boas leituras
Sugira o Expresso Curto a um/a amigo/a
Imagens: Logo da EMA | AstraZeneca por Dado Ruvic / Reuters
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