domingo, 16 de maio de 2021

Moçambique | Ataque de Palma multiplicou sofrimentos da população

Para além do impacto imediato sobre a população, o ataque contra a cidade de Palma, em Cabo Delgado, em março passado, tem sequelas negativas de longo prazo, adverte Agência de Desenvolvimento Integrado do Norte (ADIN).

A invasão de Palma por insurgentes em 24 de março e a resposta armada por parte das tropas governamentais deixaram cicatrizes profundas. Dezenas de civis morreram. Segundo a Organização Internacional das Migrações (OIM), 47 mil pessoas fugiram da violência desencadeada pela ação terrorista.

Muitas procuraram refúgio nas matas, outras em lugares considerados seguros, como Pemba, e há mesmo quem tenha optado pela vizinha Tanzânia, desfalcando ainda mais o que era considerada a "região do futuro". 

Armindo Ngunga, diretor da Agência de Desenvolvimento Integrado do Norte (ADIN), diz que o ataque contra Palma está na origem de outras mudanças importantes: "Uma ação daquelas deixou sequelas profundas: casas queimadas, infraestruturas destruídas, vidas perdidas e isso deixa qualquer lugar em condições deploráveis."

Quebra nos investimentos

Falta reerguer as infraestruturas, disse Ngunga à DW África, admitindo que "vai levar algum tempo", acrescentando: "É um exercício que tem de ser feito para se repor a vida naquela cidade, uma grande Palma".

A extrema insegurança tem também impacto negativo sobre os investimentos e o desenvolvimento da região. A petrolífera francesa Total decidiu suspender as suas atividades, pelo menos temporariamente, devido à escalada do terrorismo.

O diretor da ADIN diz que a retirada da multinacional que explora gás em Palma é um sintoma. "Um dos grandes problemas que o ataque de Palma causou é que provocou a queda massiva das empresas. Palma era capaz de ter sido talvez uma das cidades com mais empresas deste país, atraídas pelo fenómeno Total."

Muita gente perdeu o emprego, alerta Ngunga. "Tudo isso afeta negativamente a vida em Palma".

Refugiados sem assistência adequada

A situação é agravada pela falta de diversificação da economia moçambicana.

Os moçambicanos estão agora de olhos postos num Governo sem meios suficientes para assistir os  aproximadamente 714 000 deslocados internos, em toda a província.

Adriano Nuvunga, diretor da ONG Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD), denuncia a situação de penúria em que vivem os deslocados de Palma e alerta para um problema que pode advir de uma situação de negligência: "Cada vez mais deslocados internos vão chegando sem apoio adequado".

Trata-se, na maioria, de "crianças e mulheres em situação de extrema vulnerabilidade, sem qualquer tipo de apoio, que se adicionam àqueles que já estavam na periferia de Pemba sem qualquer tipo de apoio", disse Nuvunga à DW África.

"Presas fáceis do terrorismo"

O resultado é um aumento da tensão, "porque a insatisfação esteve na origem da situação e isso pode contribuir para que, num futuro breve, mais jovens possam estar em situação de vulnerabilidade e por isso possam ser facilmente recrutáveis para ingressarem as fileiras dos terroristas", avisa Nuvunga.

Armindo Ngunga realça que muitos jovens que abandonaram Palma não eram de lá. Mas diz-se ciente do risco que correm os jovens locais deslocados em situação de vulnerabilidade económica: "Também é preciso fazer um trabalho para que aqueles jovens não sejam presas fáceis do terrorismo."

»»Artigo atualizado às 19:18 (CET) de 14 de maio de 2021.

Nádia Issufo | Deutsche Welle

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