O Presidente da Guiné-Bissau afirmou nesta terça-feira que decidiu concorrer à Presidência, enquanto militar, porque os civis não se entendiam na política. Umaro Sissoco admite que fez como Jair Bolsonaro fez no Brasil.
O chefe de Estado da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, afirmou-se como um militar que assumiu o poder para "pôr ordem" no país, devido ao desentendimento dos atores políticos civis ao longo dos anos e confessa que seguiu os passos de Jair Bolsonaro, atual Presidente do Brasil e militar reformado.
"O vice-Presidente do Brasil disse-me durante a cimeira da CPLP, em Luanda, que o Jair Bolsonaro decidiu candidatar-se à Presidência brasileira por entender que o Brasil não podia correr mais riscos. Porque os civis não se entendem. Então vamos concorrer às presidenciais e, se ganharmos, vamos pôr ordem no Brasil", disse hoje (20.07) o Presidente guineense, referindo-se à conversa que manteve com o vice de Jair Bolsonaro, Hamilton Mourão, na cimeira da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que decorreu em 17 de julho, em Luanda, Angola.
Umaro Sissoco confessou que fez a mesma coisa na Guiné-Bissau porque o país estaria dependente das negociações estrangeiras para resolver as querelas políticas. "No país de Amílcar Cabral, que fez onze anos de luta de libertação nacional, tinha que ter alguém para dizer basta", disse o Presidente guineense, um militar na reserva.
O chefe de Estado falava perante os oficiais militares no ato das celebrações dos 37 anos do Regimento dos Comandos da Guiné-Bissau. Sissoco Embaló, que derrotou o líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira, na segunda volta das presidenciais de 2019, disse que os militares jogam com "a inteligência e os civis com a esperteza", aludindo que os fardados conseguem prever melhor as situações futuras.
"Discursos militaristas"
Mas não tardaram a aparecer críticas ao discurso do Presidente:
"Não aprecio discursos militaristas de seja quem for o Presidente da República, que, independentemente do seu estatuto de Reservista (ou da sua patente militar, questionável, quiçá, duvidosa, por mil e uma razões...), não emergiu como Presidente da República por via de um Golpe de Estado, mas sim, através de um Processo Constitucional e Legal; Político e Democrático (e não Militar); apoiado por um Partido político e sufragado pela maioria do Povo Eleitor Guineense (sem estatuto militar), e não pelas Forças Armadas (de Defesa e Segurança), da Guiné-Bissau!", escreve o analista e escritor guineense Fernando Casimiro (Didinho) que ainda questiona.
"Então porque é que não escolhemos logo o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, evitando gastos com a realização de eleições presidenciais?!", publica o Didinho, um conhecido critico guineense.
Numa comunicação em crioulo, língua materna da Guiné-Bissau, Sissoco Embaló exorta aos militares a manter-se equidistantes das "jogadas políticas", para se afirmarem como forças armadas republicanas.
"Qualquer político que veio para quartel fazer a política, mentem-no logo como soldado e fica de vez como militar".
"Jamais alguém irá usar os nossos militares. Vocês não são se quer a minha propriedade enquanto Comandante em Chefe das Forças Armadas. Vocês são forças republicanas", disse o PR, que justificou o facto de ter militarizado a sua Presidência para incluir todas as forças de defesa segurança no seu regime.
Isto acontece numa altura em que crescem acusações com o Presidente guineense de que quer a todo o custo implementar a ditadura militar na Guiné-Bissau, com restrições às liberdades fundamentais, repressão das forças de ordem contra civis. Sissoco Embaló pretende ainda implantar a sua própria Constituição, que vai concentrar todos os poderes na figura do Presidente.
Braima Darame | Deutsche Welle
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