Mudar de rumo é o lema de hoje do Curto do Expresso. Da política e de outros meandros obscuros Pedro Candeias assesta a abertura e texto acerca das imundices e crimes do futebol e dos seus maiorais – não deixando de ser “curioso” vermos a mistura dos políticos, governantes e afins misturados com personalidades envolvidas em crimes, dizem eles, os da justiça. Simples: vide fotos e imagens das tvs.
São eles (os que são), dos governos, das políticas e afins. Sorridentes, ladeando banqueiros criminosos do tipo Salgado, são eles com Vieira presidente da águia Vitória, são eles em parcerias e amizades que mais tarde se vêm a revelar com laivos e implicações criminosas. Apesar disso, enfim, são todos bons rapazes e todos amigalhaços, regra geral impunes. Também são, é facto, uns desavergonhados e muito prováveis elementos de gangs de alto calibre… E eis que são da política, governantes, sabendo-se que afinal o que fazem é governarem-se por via do engano e do esbulho aos plebeus – povinho que vai nas loas.
E pronto, está quase tudo dito e escarrapachado por via dos dedos que até parece que adivinham.
Avançando. Mais não merecem essas alcateias de lobos que após 25 de Abril de 1974 usaram os trampolins da vigarice e do opróbrio para conduzirem o país à governação de quase tudo liderado por gangsters.
Resumindo: estamos fartos de gentes desonestas, de criminosos de colarinhos brancos e de mentes e mãos sujas.
A seguir o Curto que vale e vieira – olha que dois.
Sugestão: cacem-nos e grelha com eles. Doa a quem doer.
MM | PG
Bom dia este é o seu Expresso CurtoUm presidente, um americano e o frango dos ovos de ouro
Pedro Candeias | Expresso | Ilustração Hélder Oliveira
Bom dia,
O que poderia ter sido o início de uma secreta mas frutuosa amizade entre
um presidente de um clube de futebol, um investidor norte-americano de
Hollywood e um entrepreneur português de primeira água resultou numa
confusão dos diabos. Houve buscas, detenções, interrogatórios, medidas de
coação, um despacho de indiciação de quase 300 páginas e depois muitos
comunicados. Nem todas estas coisas nem todas estas informações estavam
exclusivamente relacionadas com este trio improvável – recordemo-nos do discreto
e solitário empresário da bola –, mas as ligações entre Luís
Filipe Vieira, John Textor e José António dos Santos acrescentaram outro
brilhozinho mediático à Operação Cartão Vermelho.
Afinal, não se discutiam apenas as alegadas más-práticas comissionistas em transferências
de jogadores e uma OPA esquisita
que já fora declarada ilegal; agora estavam em causa supostos esquemas
financeiros que punham em causa dinheiros
públicos e também a venda encapotada de parte
substancial das ações de uma empresa cotada em bolsa sujeita, por
isso, a regras apertadas do mercado.
O que veio a seguir não deixou a CMVM sossegada. Em primeiro lugar, Textor disse
nada; em segundo lugar, disse ter conhecido José António dos Santos no mundo da
alta finança e que era só mais um fã do Benfica; em terceiro, quarto e
quinto lugares, disse que não tinha comprado ações para a seguir saber-se que
empatou um milhão de euros nelas e que até estivera no Seixal onde
conhecera pessoalmente Luís Filipe Vieira. E que era um mãos-largas quando o assunto
era futebol.
Do diz-que-disse, a CMVM passou à prática: é tempo de investigar, porque “os
eventos das últimas semanas evidenciam infrações passíveis de fazer perigar a
integridade do funcionamento do mercado de capitais e a proteção dos investidores,
nomeadamente na divulgação de informação ao mercado e de abuso de informação”.
Traduzindo: se o leitor está interessado em investir no empréstimo
obrigacionista (35 milhões de euros) da Benfica SAD, cujo prazo termina
esta sexta-feira (23 de julho), o melhor é ter cuidado. Um
conselho da CMVM.
Não é para menos, na medida em que o clube se encontra num processo
acelerado de demarcação do homem que o presidiu durante 18 anos. Há um nome a
salvar, negócios a fazer, uma época a preparar e, assim sendo, a administração
que sempre estivera com Luís Filipe Vieira cortou radicalmente o cordão
que ligava as partes e erigiu uma cerca à volta deste. Foi assim que
o fez: Rui Costa assumiu a presidência, o clube anunciou eleições
antecipadas até final do ano, a Benfica SAD seguiu o artigo
401.º do Código das Sociedades Comerciais e abriu a porta à renúncia
de Vieira.
Neste jogo reputacional, o momento seguinte é o da
“averiguação interna” para determinar o que se terá passado lá dentro que
tenha possibilitado todo este alegadamente. Resta saber se este passo
não é demasiado curto para a crítica que exige uma auditoria forense às
contas do clube, um exercício que ultrapasse o deve e haver contabilístico e se
foque nas relações interpessoais na administração.
OUTRAS NOTÍCIAS
COVID-19. Em Inglaterra chamaram-lhe “Freedom Day”, pois foi o dia em que os
ingleses se libertaram da máscara, o símbolo das restrições em tempo de
pandemia. Decretou-se
o fim do distanciamento social de segurança, deixou de haver
lotações-limite e abriram-se os bares e as discotecas – e ao mesmo tempo
aconselhou-se o uso indoor da máscara, a distância de segurança e apelou-se ao
sentido da responsabilidade individual. Tudo demasiado confuso e a confusión
de confusiones foi o Governo comunicar uma coisa e o seu contrário
enquanto o já vacinado Boris Johnson se encontrava em isolamento profilático e
o número de casos do país se aproximava do de janeiro. Estas histórias de
portugueses (e de um brasileiro-britânico) em Inglaterra tentam
explicar o contraste; estas conversas com gente do Algarve tentam enquadrar
o turismo
na região. Finalmente, um explicador sobre o tema
da obrigatoriedade da vacinação em Portugal.
Justiça. O caso
Ihor não acabou: o Ministério Público quer levar a julgamento outros
sete homens, cinco elementos do SEF e dois seguranças, por omissão de auxílio e
ofensas corporais “graves”. No entender do MP, o cidadão ucraniano morreu a 11
de março de 2020 porque ninguém o ajudou, apesar de ser bastante claro para
muita gente o que se estava a passar naquelas instalações. A inação e o
desinteresse poderão responder em tribunal.
Economia. O fim do processo João Rendeiro aconteceu
no Tribunal Constitucional, pois as suas reclamações foram indeferidas; o
cenário mais provável para o ex-banqueiro será a prisão. Em questões de
segurança, a Autoridade da Concorrência acusou a 2045/Gália, a Comansegur,
a Grupo
Política. Marcelo disse OK à revisão
da Constituição e parece que assim estão todos de acordo: o PR,
o PM e o candidato a PM. Por outro lado, Marcelo deixou KO a Groundforce, a
quem acusou
de “prejudicar o país” e a ANA revogou-lhe a licença
por uma dívida de 769,6 mil euros.
FRASES
“Saí de lá porque me deram guia de marcha. Na altura chorei”, Santana
Lopes, sobre a sua
querida Figueira da Foz
“O que protege verdadeiramente as populações não é o helicóptero que chega para
apagar o fogo”, António Costa, sobre os incêndios
“Não era eu que ia a conduzir e não me apercebi do que estava a acontecer. E
isso não me desresponsabiliza em nada”, Matos Fernandes, sobre excessos
de velocidade
“Eu conheço bem o Benfica, mas o Benfica também nos conhece”, Rui Vitória,
sobre o reencontro
com a equipa da Luz
PODCASTS A NÃO PERDER
🌍 Dino
de Santiago é português? É. E é cabo-verdiano? É. O que é uma obra
afropolitana? O programador e académico António Pinto Ribeiro fala
sobre as gerações de artistas contemporâneos cujas memórias diferidas desafiam
a definição da geografia que lhes serve de inspiração. A não perder este África
Agora
⚽“Vieira
demorou até ao final do filme a perceber que estava morto” Depois de
18 anos no cargo, Luís Filipe Vieira abandonou a presidência do SLB e no
Governo Sombra o Cartão Vermelho voltou a ser tema de destaque (Pedro Mexia até
quis ser ministro do Destaque só por causa disso)
🎸As
mil e uma histórias de amor de Paredes de Coura João Carvalho,
promotor do festival Vodafone Paredes de Coura, partilha no Posto Emissor as
histórias mais ternurentas e caricatas de quase 30 anos do festival minhoto e
fala dos seus ambiciosos planos para 2022
O QUE ANDO A LER
O que deve uma biografia ter? Personagens. Histórias. Contexto. Análise. E “Integrado
Marginal” (ed, Contraponto), de Bruno Vieira Amaral sobre José Cardoso Pires,
acerta em todos esses pontinhos, pois não é só sobre o escritor, nem sobre a
obra do escritor, mas sobre os dois nos variados ciclos da vida de um círculo
de amigos, conhecidos, inimigos e familiares, de uma cidade e de um país, de
uma ditadura e de uma democracia.
Com capítulos curtos e diretos, com uma abordagem crua que não dispensa muitos
pormenores resultantes de pesquisas e entrevistas aturadas, Bruno Vieira
Amaral recria o universo onde Cardoso Pires se movimentou e cresceu até se
tornar um nome relevante da nossa literatura. Percebemos através de
"Integrado Marginal" a complexidade da personalidade deste escritor,
inflexível, duro, intransigente, por vezes violento e adepto das cabeçadas à
Cais do Sodré e do pugilato urbano, mas também minucioso, perfeccionista e
ciclotímico nas suas autoavaliações.
Além de tudo isto, a biografia tem um bónus: as constantes recensões
críticas de Amaral aos textos d’“o Pires” ao longo do tempo, uns bons e outros
nem tanto assim, segundo o autor, que dão músculo a “Integrado Marginal” e o
transformam num livro completíssimo.
Por hoje é tudo.
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