terça-feira, 20 de julho de 2021

Portugal dos criminosos de colarinhos brancos, de mentes e mãos sujas

Mudar de rumo é o lema de hoje do Curto do Expresso. Da política e de outros meandros obscuros Pedro Candeias assesta a abertura e texto acerca das imundices e crimes do futebol e dos seus maiorais – não deixando de ser “curioso” vermos a mistura dos políticos, governantes e afins misturados com personalidades envolvidas em crimes, dizem eles, os da justiça. Simples: vide fotos e imagens das tvs.

São eles (os que são), dos governos, das políticas e afins. Sorridentes, ladeando banqueiros criminosos do tipo Salgado, são eles com Vieira presidente da águia Vitória, são eles em parcerias e amizades que mais tarde se vêm a revelar com laivos e implicações criminosas. Apesar disso, enfim, são todos bons rapazes e todos amigalhaços, regra geral impunes. Também são, é facto, uns desavergonhados e muito prováveis elementos de gangs de alto calibre… E eis que são da política, governantes, sabendo-se que afinal o que fazem é governarem-se por via do engano e do esbulho aos plebeus – povinho que vai nas loas.

E pronto, está quase tudo dito e escarrapachado por via dos dedos que até parece que adivinham.

Avançando. Mais não merecem essas alcateias de lobos que após 25 de Abril de 1974 usaram os trampolins da vigarice e do opróbrio para conduzirem o país à governação de quase tudo liderado por gangsters.

Resumindo: estamos fartos de gentes desonestas, de criminosos de colarinhos brancos e de mentes e mãos sujas.

A seguir o Curto que vale e vieira – olha que dois.

Sugestão: cacem-nos e grelha com eles. Doa a quem doer.

MM | PG

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Um presidente, um americano e o frango dos ovos de ouro


Pedro Candeias | Expresso | Ilustração Hélder Oliveira

Bom dia,

O que poderia ter sido o início de uma secreta mas frutuosa amizade entre um presidente de um clube de futebol, um investidor norte-americano de Hollywood e um entrepreneur português de primeira água resultou numa confusão dos diabos. Houve buscas, detenções, interrogatórios, medidas de coação, um despacho de indiciação de quase 300 páginas e depois muitos comunicados. Nem todas estas coisas nem todas estas informações estavam exclusivamente relacionadas com este trio improvável – recordemo-nos do discreto e solitário empresário da bola –, mas as ligações entre Luís Filipe Vieira, John Textor e José António dos Santos acrescentaram outro brilhozinho mediático à Operação Cartão Vermelho.

Afinal, não se discutiam apenas as alegadas más-práticas comissionistas em transferências de jogadores e uma OPA esquisita que já fora declarada ilegal; agora estavam em causa supostos esquemas financeiros que punham em causa dinheiros públicos e também a venda encapotada de parte substancial das ações de uma empresa cotada em bolsa sujeita, por isso, a regras apertadas do mercado.

O que veio a seguir não deixou a CMVM sossegada. Em primeiro lugar, Textor disse nada; em segundo lugar, disse ter conhecido José António dos Santos no mundo da alta finança e que era só mais um fã do Benfica; em terceiro, quarto e quinto lugares, disse que não tinha comprado ações para a seguir saber-se que empatou um milhão de euros nelas e que até estivera no Seixal onde conhecera pessoalmente Luís Filipe Vieira. E que era um mãos-largas quando o assunto era futebol.

Do diz-que-disse, a CMVM passou à prática: é tempo de investigar, porque “os eventos das últimas semanas evidenciam infrações passíveis de fazer perigar a integridade do funcionamento do mercado de capitais e a proteção dos investidores, nomeadamente na divulgação de informação ao mercado e de abuso de informação”.

Traduzindo: se o leitor está interessado em investir no empréstimo obrigacionista (35 milhões de euros) da Benfica SAD, cujo prazo termina esta sexta-feira (23 de julho), o melhor é ter cuidado. Um conselho da CMVM.

Não é para menos, na medida em que o clube se encontra num processo acelerado de demarcação do homem que o presidiu durante 18 anos. Há um nome a salvar, negócios a fazer, uma época a preparar e, assim sendo, a administração que sempre estivera com Luís Filipe Vieira cortou radicalmente o cordão que ligava as partes e erigiu uma cerca à volta deste. Foi assim que o fez: Rui Costa assumiu a presidência, o clube anunciou eleições antecipadas até final do ano, a Benfica SAD seguiu o artigo 401.º do Código das Sociedades Comerciais e abriu a porta à renúncia de Vieira.

Neste jogo reputacional, o momento seguinte é o da “averiguação interna” para determinar o que se terá passado lá dentro que tenha possibilitado todo este alegadamente. Resta saber se este passo não é demasiado curto para a crítica que exige uma auditoria forense às contas do clube, um exercício que ultrapasse o deve e haver contabilístico e se foque nas relações interpessoais na administração.

OUTRAS NOTÍCIAS
COVID-19. Em Inglaterra chamaram-lhe “Freedom Day”, pois foi o dia em que os ingleses se libertaram da máscara, o símbolo das restrições em tempo de pandemia. Decretou-se o fim do distanciamento social de segurança, deixou de haver lotações-limite e abriram-se os bares e as discotecas – e ao mesmo tempo aconselhou-se o uso indoor da máscara, a distância de segurança e apelou-se ao sentido da responsabilidade individual. Tudo demasiado confuso e a confusión de confusiones foi o Governo comunicar uma coisa e o seu contrário enquanto o já vacinado Boris Johnson se encontrava em isolamento profilático e o número de casos do país se aproximava do de janeiro. Estas histórias de portugueses (e de um brasileiro-britânico) em Inglaterra tentam explicar o contraste; estas conversas com gente do Algarve tentam enquadrar o turismo na região. Finalmente, um explicador sobre o tema da obrigatoriedade da vacinação em Portugal.

Justiça. O caso Ihor não acabou: o Ministério Público quer levar a julgamento outros sete homens, cinco elementos do SEF e dois seguranças, por omissão de auxílio e ofensas corporais “graves”. No entender do MP, o cidadão ucraniano morreu a 11 de março de 2020 porque ninguém o ajudou, apesar de ser bastante claro para muita gente o que se estava a passar naquelas instalações. A inação e o desinteresse poderão responder em tribunal.

Economia. O fim do processo João Rendeiro aconteceu no Tribunal Constitucional, pois as suas reclamações foram indeferidas; o cenário mais provável para o ex-banqueiro será a prisão. Em questões de segurança, a Autoridade da Concorrência acusou a 2045/Gália, a Comansegur, a Grupo 8, a Prestibel, a Prosegur, a Securitas e a Strong Charon de cartelização em concursos públicos.

Política. Marcelo disse OK à revisão da Constituição e parece que assim estão todos de acordo: o PR, o PM e o candidato a PM. Por outro lado, Marcelo deixou KO a Groundforce, a quem acusou de “prejudicar o país” e a ANA revogou-lhe a licença por uma dívida de 769,6 mil euros.

FRASES
“Saí de lá porque me deram guia de marcha. Na altura chorei”, Santana Lopes, sobre a sua querida Figueira da Foz

“O que protege verdadeiramente as populações não é o helicóptero que chega para apagar o fogo”, António Costa, sobre os incêndios

“Não era eu que ia a conduzir e não me apercebi do que estava a acontecer. E isso não me desresponsabiliza em nada”, Matos Fernandes, sobre excessos de velocidade

“Eu conheço bem o Benfica, mas o Benfica também nos conhece”, Rui Vitória, sobre o reencontro com a equipa da Luz

PODCASTS A NÃO PERDER
🌍 Dino de Santiago é português? É. E é cabo-verdiano? É. O que é uma obra afropolitana? O programador e académico António Pinto Ribeiro fala sobre as gerações de artistas contemporâneos cujas memórias diferidas desafiam a definição da geografia que lhes serve de inspiração. A não perder este África Agora

“Vieira demorou até ao final do filme a perceber que estava morto” Depois de 18 anos no cargo, Luís Filipe Vieira abandonou a presidência do SLB e no Governo Sombra o Cartão Vermelho voltou a ser tema de destaque (Pedro Mexia até quis ser ministro do Destaque só por causa disso)

🎸As mil e uma histórias de amor de Paredes de Coura João Carvalho, promotor do festival Vodafone Paredes de Coura, partilha no Posto Emissor as histórias mais ternurentas e caricatas de quase 30 anos do festival minhoto e fala dos seus ambiciosos planos para 2022

O QUE ANDO A LER
O que deve uma biografia ter? Personagens. Histórias. Contexto. Análise. E “Integrado Marginal” (ed, Contraponto), de Bruno Vieira Amaral sobre José Cardoso Pires, acerta em todos esses pontinhos, pois não é só sobre o escritor, nem sobre a obra do escritor, mas sobre os dois nos variados ciclos da vida de um círculo de amigos, conhecidos, inimigos e familiares, de uma cidade e de um país, de uma ditadura e de uma democracia.

Com capítulos curtos e diretos, com uma abordagem crua que não dispensa muitos pormenores resultantes de pesquisas e entrevistas aturadas, Bruno Vieira Amaral recria o universo onde Cardoso Pires se movimentou e cresceu até se tornar um nome relevante da nossa literatura. Percebemos através de "Integrado Marginal" a complexidade da personalidade deste escritor, inflexível, duro, intransigente, por vezes violento e adepto das cabeçadas à Cais do Sodré e do pugilato urbano, mas também minucioso, perfeccionista e ciclotímico nas suas autoavaliações.

Além de tudo isto, a biografia tem um bónus: as constantes recensões críticas de Amaral aos textos d’“o Pires” ao longo do tempo, uns bons e outros nem tanto assim, segundo o autor, que dão músculo a “Integrado Marginal” e o transformam num livro completíssimo.

Por hoje é tudo.

Continue a seguir-nos em Expresso, Expresso EconomiaBlitz, ouça os nossos Podcasts, assista a este projeto multimédia sobre as famosas camisolas poveiras e não perca os Jogos Olímpicos na Tribuna Expresso. Começam sexta-feira, mas já há perfis e artigos para ler.

Gostou do Expresso Curto de hoje?

Sem comentários:

Mais lidas da semana