terça-feira, 20 de julho de 2021

Portugal | Um tratado de hipocrisia governamental

Paulo Baldaia* | TSF | opinião

Em 2016, o preço do barril do petróleo estava em queda, abaixo dos 40 dólares, e o governo resolveu aumentar o ISP para compensar as perdas fiscais. O que o governo fez foi aumentar a percentagem do imposto no preço final da gasolina para o consumidor. Aumentou a margem. Entretanto, o preço do barril já vai a caminho dos oitenta dólares e o Estado recolhe cada vez mais impostos.

Agora, como que a pedido, se é que não foi mesmo a pedido, a Entidade Nacional do Setor Energético (ENSE) divulgou um estudo que mostra que as gasolineiras aumentaram a margem de lucro bruto no preço final, durante a pandemia, quando diminui a venda de combustíveis. Ou seja, as empresas fizeram exatamente aquilo que viram o governo fazer.

Deu jeito o estudo da ENSE, porque nesse mesmo dia o ministro do Ambiente pôde ir à Assembleia falar deste "desaforo" das gasolineiras que colocam os combustíveis em valores que já ninguém pode pagar. Ainda ontem meti gasolina simples a um euro e oitenta cêntimos, 360 escudos na moeda antiga, vinte contos de rei para encher um depósito de 60 litros.

Acontece que nas parcelas que compõem o preço final da gasolina, os impostos valem 60% e as ditas margens menos de 10%. Ora, se o Executivo não mexe no que vale quase dois terços do preço e se propõe retirar uns cêntimos às ditas margens, é claro que os combustíveis vão continuar altos. Espanta-me, aliás, tanta inabilidade política, porque com este tratado de hipocrisia, toda a gente vai perceber que há duas razões para a gasolina estar cara, uma é o preço do petróleo e a outra, ainda mais importante, é o que o Governo nos cobra de impostos cada vez que metemos gasolina para ir trabalhar ou visitar os parentes à terra.

Para final de conversa, devo dizer que a mim nem me incomoda que os combustíveis sejam caros, mesmo por causa dos impostos. O ambiente agradece que poupemos na utilização de combustíveis fósseis. O que era bom é que esses impostos servissem para termos transportes públicos ao nível do que se faz no mundo desenvolvido.

E acima de tudo que o Governo não nos atirasse estudos para os olhos, para ver se nós esquecemos esta carga brutal de impostos com que temos de viver.

*Jornalista 

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