quinta-feira, 9 de setembro de 2021

HRW denuncia crimes sexuais em troca de ajuda humanitária

MOÇAMBIQUE

A Human Rights Watch (HRW) alertou esta quarta-feira (08.09) para casos de exploração e abuso sexual de mulheres em troca de ajuda humanitária em Cabo Delgado. Autoridades governamentais já estarão a par dos incidentes.

A investigadora da organização não-governamental HRW Zenaida Machado afirmou que, no mês passado, falou com uma mulher de 23 anos que, à chegada de Pemba, capital da província, recebeu uma proposta de um trabalhador de ajuda humanitária que lhe ofereceria abrigo em troco de sexo.

De acordo com a investigadora, a mulher recusou e, com medo de novos episódios de assédio, não se dirigiu às autoridades locais. "Em vez disso, ela decidiu ficar na casa de outro familiar deslocado em Pemba com outras 38 pessoas", referiu.

A autora do comunicado registou também que a organização não-governamental Centro de Integridade Pública (CIP) relatou, no ano passado, "que os líderes comunitários abusaram sexualmente dezenas de mulheres deslocadas em Cabo Delgado em troca de ajuda humanitária".

Zenaida Machado remeteu também para uma investigação, divulgada esta semana pelo Centro de Jornalismo Investigativo, que "descobriu igualmente que alguns trabalhadores de ajuda humanitária exigiram dinheiro ou sexo antes de distribuírem pacotes alimentares a mulheres em vários campos de deslocados" em Cabo Delgado.

"Infelizmente estas acusações não são novas", lamentou a investigadora, que destacou os abusos contra sobreviventes do ciclone Idai, que atingiu o território moçambicano em 2019.

Governo pode estar a ignorar abusos

"A Human Rights Watch desconhece qualquer compromisso público ou ações tomadas pelo Governo moçambicano para investigar ou punir os responsáveis por tais abusos", sublinhou a investigadora, que pediu às autoridades moçambicanas para "investigar e processar adequadamente aqueles que utilizam as suas posições de poder para cometer estes crimes".

A província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, é palco de ataques por grupos armados desde 2017, descritos por vários governos e entidades internacionais como "terroristas".

A luta contra os insurgentes ganhou um novo impulso, quando, em 8 de agosto, forças conjuntas de Moçambique e do Ruanda reconquistaram a estratégica vila portuária de Mocímboa da Praia, que estava nas mãos dos rebeldes desde 23 de março.

Na sequência dos ataques em Cabo Delgado, há mais de 3.100 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e mais de 817 mil deslocados, de acordo com as autoridades moçambicanas.

Deutsche Welle | Lusa | AFP

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