Esta manhã, Fernando Alves conversou com Ângelo Correia, antigo ministro da Administração Interna e coordenador do Conselho Estratégico Nacional do PSD para a Defesa Nacional. Para o social-democrata, o eurodeputado não tem qualidades de líder, e foi empurrado pelo movimento do Passismo, que quer liderar na sombra. "Todo o Passismo está em volta de Rangel", atira.
Ângelo Correia, histórico deputado constituinte do PSD em várias legislaturas, não tem dúvidas de que "Rio não tem comparação, em termos de liderança, com Rangel". Em entrevista emitida na Manhã TSF, o antigo presidente do Congresso do PSD e vice-presidente da Comissão Política Nacional acusou o eurodeputado candidato a líder dos sociais-democratas de não ser um líder, e de constituir, em vez disso, uma promessa de um "regresso ao Passismo sem Passos Coelho".
"Todo o Passismo está em volta de Rangel. Quem vai mandar em Rangel - porque vai ser mandado; Rangel não é líder, é um problema que ele tem - vai ser o Passismo." O antigo ministro da Administração Interna, que presidiu, no Parlamento, a várias comissões, desde a Defesa nacional aos Assuntos Europeus, passando pelo poder local, desmonta em Paulo Rangel a capacidade de condução e de inspirar autoridade."Não se pode ser líder de uma organização sem ser ele próprio líder, isto é: ter condições de motivação, de abrangência, de colocar as pessoas a trabalhar e, sobretudo, de, nos momentos decisivos, ter uma opinião que comanda. 'Comanda' não é 'manda'; entre 'mandar' e 'comandar' há um prefixo que é 'co'... que diz tudo", complementa, quando questionado pelo jornalista Fernando Alves.
Ângelo Correia, que lembra ter pertencido ao mundo do 25 de Abril, com estruturas de debate, com intensidade, com vigor, mas também com esclarecimento, lamenta que, desde então, o debate democrático de ideias se tenha empobrecido, debruçando-se, em vez disso, no "politicamente correto". Os debates de hoje são, por isso, na ótica do social-democrata, "pantanosos", numa procura pela "rapidez, e não fluidez". O apoiante de Rui Rio exalta, por isso, alguns aspetos do comando do antigo autarca do Porto. "Rui Rio teve uma atitude e um desempenho no PSD que mostrou que uma das questões graves que o PSD sempre atravessou foi a ausência de pensamento. Não pensava, não debatia internamente as questões..."
Rio criou o Conselho Estratégico Nacional, que possibilitou que, em todas as áreas da governação, passasse a haver equipas em todos os distritos, promovendo as questões de forma a transformar a ideia em ação.
"A política tem de ter ideias mas torná-las ativas e válidas", salienta Ângelo Correia, que considera que o atual líder conquistará o seu espaço (e votos) nas direções das estruturas locais.
A Paulo Rangel, continua a dedicar críticas, socorrendo-se do pensamento de um histórico socialista. "Manuel Alegre dizia uma coisa espantosa há coisa de 20 anos: é essencial que as culturas democráticas se sobreponham às culturas do aparelho."
Os aparelhos, por vezes, vivem de si, para si, passando por cima dos interesses coletivos, diz o antigo governante da pasta da Administração Interna, que rejeita "pessoas que vivem a pensar muito em qual será o seu futuro e não no futuro daqueles que representam".
Para o histórico social-democrata, a matriz ideológica do partido mantém-se constante, salvo raras exceções esporádicas em períodos excecionais (em 2010 e 2015). Esta base estruturante, defende, permite à força política representar simultaneamente o interior e o litoral, os mais pobres e os mais ricos, e, sobretudo, aglomerar com base na classe média.
Ângelo Correia acredita que é a um espaço de centro e centro-esquerda que o PSD pode ir conquistar eleitores. "O nosso grande objetivo é representar a classe média, que, evidentemente, se espraia, mais para a direita, mais para a esquerda, para outros setores, e justamente essa postura, esse posicionamento, leva-nos a pensar que hoje em dia o espaço eleitoral onde o PSD pode ir conquistar votos não é no centro-direita, é no centro-esquerda."
"Quanto mais um partido como o PSD se posicionar nessa área, mais facilmente cativa as pessoas descontentes que não gostarão nem quererão ir para uma visão de centro-direita", advoga. "Onde é que vamos buscar votos? Ao Chega? Nem pensar nisso! Rangel pode ter essa pretensão, nós não."
Distanciando-se do eurodeputado, o apoiante de Rio refere mesmo que um posicionamento de centro-direita situa-se mais perto do Chega .
Ângelo Correia não hesita: "O país governa-se no centro."
Quanto à celeuma decorrente de um equilíbrio com o Chega nos Açores, o antigo ministro considera que o PSD aprendeu várias lições. "Acima de tudo, André Ventura já perdeu, já percebeu que não pode impor, mas também nós no PSD percebemos uma coisa: as autonomias regionais são algo para se respeitar."
"O Chega é um partido desconhecido para nós, é um local geométrico dos protestos nacionais", assinala, analisando ainda: "Na política, vivemos só do protesto, ou da construção? O protesto serve para alguma coisa? Para construirmos alguma coisa. O que sai do Chega em termos de construção? Zero. A ligação com o Chega é impossível de fazer."
Já quanto a possíveis coligações com o CDS, o histórico deputado constituinte do PSD acredita que esta aliança pode ser tratada num momento pré ou pós-legislativas, aguardando o PSD pela definição da liderança interna dos centristas.
Questionado também sobre se Rui Rio poderá ter razões de queixa de Marcelo Rebelo de Sousa, Ângelo Correia manteve-se moderado e desdramatizou: "Eu acho que tem, mas não vai expressar. Vai respeitar..."
"Há um dado que em democracia é essencial. Por mais que a pessoa de Marcelo, às vezes, possa eventualmente caminhar por situações e por caminhos não desejáveis para nós, a figura do Presidente da República tem de ser da máxima respeitabilidade para todos nós."
Desejando que seja reconduzido como líder do PSD, o antigo governante aconselha Rio a esquecer as dores e a abrir o partido até àqueles que atacaram "excessivamente" a liderança.
O segundo convidado da semana em que a TSF acompanha o percurso até às diretas no PSD foi Ângelo Correia. O histórico militante e fundador do PPD/PSD é também gestor de empresas e antigo governante da Aliança Democrática (PPD/CDS/PPM). Nestas diretas, apoia Rui Rio.
A TSF iniciou, na segunda-feira, um ciclo de curtas entrevistas diárias com notáveis do PSD, partido cujas diretas se realizam no próximo sábado. Pela antena e site da TSF vão passar apoiantes declarados das candidaturas de Rio e Rangel, e, no último dia, alguém que se reclama equidistante.
TSF | Imagem: Ângelo Correia - A caminho das diretas no PSD © Gustavo Bom/Global Imagens
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