sexta-feira, 4 de junho de 2021

Portugal | Direito a brincar

Paula Santos | Expresso | opinião

Todas as crianças têm direito a crescer e a serem felizes, têm direito ao desenvolvimento integral, têm direito de aprender e de brincar, têm direito de ser crianças. Aos pais têm de ser asseguradas condições de vida e de trabalho dignas que lhes permita acompanhar o crescimento dos seus filhos.

No entanto, não é esta a realidade no nosso país. A organização da sociedade em que vivemos não é amiga das famílias, nem das crianças. Vivemos tempos, em que não há tempo. Estamos sempre a correr de um lado para o outro, sem tempo por vezes para desfrutar de pequenos momentos de felicidade, mas que fazem toda a diferença nas nossas vidas.

Ritmos de vida acelerados, longos períodos em deslocações entre casa e o local de trabalho, realização de tarefas domésticas após o horário de trabalho, é o dia-a-dia da esmagadora maioria das famílias. Chega ao fim do dia e as famílias não têm tempo para si. Os baixos salários, a precariedade dos vínculos laborais, a desregulação dos horários de trabalho, os elevados ritmos de trabalho, impossibilitam os pais acompanharem adequadamente os seus filhos.

E a epidemia só veio agravar tudo isto, o desemprego, o aumento da exploração e da precariedade, o aumento da pobreza. O isolamento, a suspensão das atividades letivas (entretanto já retomadas), a par da suspensão das culturais e desportivas extracurriculares, o exacerbamento do medo teve impactos muito negativos nas crianças. Muitas crianças deixaram de conviver e de brincar com outras crianças, muitas crianças deixaram de brincar nas ruas, muitas crianças passaram a ter medo de ir à rua.

Os Boris, se não vão para o 'Allgarve' vão para o Polo Norte... Lá há cerveja barata?


Depois de apanhar uma carraspana, ainda ressacado, Boris anunciou que Portugal foi excluído da lista verde para o turismo lusitano que os seus comparsas se preparavam para fazer. 

Os cidadãos ingleses já não viajam para o 'Allgarve', nem naquelas terras soalheiras consumirão os litros incontáveis da cerveja barata que habitualmente consomem quando vêm apanhar sol e enfrascar-se, nem dançam o corridinho, nem cantam com voz arrastada a Tia Anica do Loulé. Em vez disso viajam para outros lugares do mundo sem covid-19, de preferência o Polo Norte, que até é mais perto da ilha que é o seu país. Afinal vão contribuir para aumentar a cota de ursos que por lá anda muito escassa devido ao aquecimento global.

Por no Polo Norte estar um frio de rachar e tudo gelado, os conterrâneos de Boris sabem que fazendo ali turismo também podem apanhar um grande bronze e que se abusarem aquele muito frio também causa escaldões, mais reportados como queimaduras do gelo. No 'Allgarve' têm de ter cuidado com o sol, no Polo Norte têm de ter cuidado com o frio, com o gelo... Desconhecemos se naquele frio há cerveja barata. Mas bronzeados ou muito queimados hão-de regressar à sua ilha.

Entretanto o setor português do turismo, que lhes saca as libras, vai ter de esperar por melhores ocasiões para o debulho. Os hotéis e restaurantes vão continuar vazios em Portugal, as produtoras de cerveja e respetivo comércio vão ter de fazer promoções do produto para embebedar os portugueses com os muitos milhares de litros que os turistas ingleses não consumiram, como fazem sistematicamente quando nos visitam. Mas nem um gole desta vez. A vantagem para a comunidade do 'Allgarve' e do Portugal sóbrio é que não temos de aturar aqueles grandes bêbados, zaragateiros e barulhentos, facilmente referenciados por andarem aos ziguezagues e muito despenteados - como o seu PM exemplar.

Olha do que nos livrámos!

Muito obrigado, Boris Johnson! 

A todos os Boris turistas desejamos boa estada no Polo Norte e muito bom frio e bom gelo. Só têm de ter cuidado para não regressarem mais ursos, porque certo é que covid-19 por lá não apanham. Claro que têm sempre as grandes doses da ilha para apanhar covid-19, caso assim desejem.

MM | PG

Hotéis confirmam: saída de Portugal da "lista verde" gerou cancelamentos em "catadupa"

Balão de oxigénio para o setor durou apenas 22 dias. A partir de terça-feira o país passa para lista amarela, obrigando os turistas britânicos a quarentena de dez dias no regresso. Portugal diz que "lógica" da decisão "não se alcança".

oi sol de pouca dura. O que parecia ser a grande alavanca para a retoma do turismo em Portugal desapareceu ao fim de 22 dias. O Reino Unido anunciou ontem a exclusão de Portugal da "lista verde" dos destinos seguros a partir das 04h00 da próxima terça-feira e os efeitos não se fizeram esperar. Raul Martins, o presidente da Associação de Hotéis de Portugal confirmou ao DV que ontem já havia "cancelamentos de reservas em catadupa", principalmente nas unidades do Algarve, onde "a situação é dramática. O nosso representante na região está a acompanhar a situação e diz que está a ser dramático".

O responsável admite que esta decisão de Londres "vai afetar muito o turismo nacional, porque os britânicos são uma percentagem muito grande de turistas na região e nas próximas três semanas vamos ter perdas muito elevadas, em especial no Algarve. A perspetiva é muito má, voltámos agora, não à estaca zero, mas à estaca um". Sobre o que pode acontecer daqui a três semanas, quando houver nova revisão da lista verde, Raul Martins sublinha que "se não fizermos nada, a situação pode não melhorar. Não fizemos tudo bem, as questões ligadas aos festejos do Sporting e do futebol não foram boas e as autoridades deviam ter tomado outras decisões. Mas se não fizermos nada nestas três semanas, não vamos melhorar".

Querido Reino Unido, ficamos à vossa espera

Joana Petiz | Diário de Notícias | opinião

Nas horas seguintes ao anúncio da abertura da via verde para Portugal, as reservas de ingleses ansiosos por vir aqui passar uns dias dispararam 500%. As companhias aéreas multiplicaram voos vindos de Londres para responder à procura. Só no primeiro dia de corredor aberto, 17 voos trouxeram 5500 britânicos para Faro, fora os que chegaram a outros pontos do país, prometendo estar próxima a recuperação num dos setores mais afetados pela pandemia. E que é fundamental para que a economia portuguesa volte a levantar-se.

Três semanas depois, veio o balde de água fria: o Reino Unido voltou a pôr-nos na lista dos países cuja visita obriga a quarentena. E naturalmente começaram os cancelamentos em catadupa, incluindo para a Madeira e os Açores, que também foram remetidos para essa lista de proscritos.

Portugal, com a habitual dureza dos nossos governantes para com quem vem de fora, "lamentou", "tomou nota" de uma "decisão cuja lógica não se alcança" e prometeu continuar a seguir o plano de desconfinamento traçado, mantendo mão pesada para incumpridores nacionais e as cuidadas restrições que ainda travam muitos negócios - dos restaurantes aos eventos, passando pelos bares e discotecas que ao fim de ano e meio de pandemia continuam sem data para retomar - para que os britânicos voltem a sentir-se seguros.

Uma semana depois do comportamento descontrolado a que todos assistimos dos adeptos ingleses nos festejos de uma final da Champions que só nós aceitámos receber; e no próprio momento em que pela Marina de Vilamoura há cidadãos britânicos aos magotes a passear livremente, sem máscaras e sem grandes restrições, é esta a reação de quem nos governa: "toma nota" da decisão do Reino Unido, justificada com a duplicação da taxa de contágios em Portugal. Mesmo que esses números se traduzam em cerca de 500 casos por dia (bem abaixo dos 4500 britânicos), sem reflexo nos internamentos, e com o país a contabilizar um décimo das mortes registadas pelo Reino Unido desde que a covid aqui chegou.

O governo "toma nota" e fica à espera, a rezar para que a próxima revisão ainda possa salvar-nos o verão, esperando-os ansiosamente a partir de julho, quando talvez ainda possam ajudar a contrariar os efeitos catastróficos que os representantes do turismo português já apontam. Não se alarga em conclusões sobre o que poderá ser feito para compensar pelo menos mais três semanas sem chegadas deste que é o nosso maior mercado emissor de turistas. Nem faz questão de deixar uma palavra que seja sobre o que os especialistas antecipam ser causa principal da subida de casos - o triste espetáculo dos festejos no Porto e o consequente alívio nos comportamentos dos portugueses, cansados de proibições, depois de verem que, para os outros, as leis são mais brandas.

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