Especialistas dizem que os confinamentos têm os dias contados. A vacinação também não progride como esperado. Por isso, poderá ser preciso aprender a viver com o coronavírus.
É o primeiro dia de aulas após o encerramento por causa da pandemia, no Uganda.
"Não posso abraçar as minhas amigas. É mau, mas é assim que nos protegemos", afirma a pequena Bridget Akankwasa, que estuda na Escola Santa Maria, em Kiwatule, um subúrbio da capital, Kampala.
Ela é umas das 15 milhões de crianças que podem voltar à escola esta semana, no país. O Uganda é o último a reabrir as salas de aula depois de fechar portas devido à Covid-19, segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
Quase dois anos depois, no entanto, poucas crianças regressaram a esta escola primária privada. O diretor Joseph Mukasa está surpreendido: "Quando tivemos de fechar a escola, tínhamos aqui 300 alunos. Mas hoje nem 20 apareceram. Espero que mais crianças venham durante a semana."
Especialistas em educação admitem que grande parte das crianças nos países africanos não voltará à escola: depois de a pandemia ter paralisado a vida pública, muitas tiveram de trabalhar para sustentar as suas famílias e muitas raparigas foram forçadas a casar.
Confinamentos são coisa do passado?
Os confinamentos parecem estar a acabar em África: já não são a melhor forma de conter a Covid-19, segundo o diretor do Centro Africano de Controlo de Doenças (CDC), John Nkengasong.
O responsável aponta como um bom exemplo a África do Sul, onde o Governo não ordenou restrições drásticas perante a recente onda de infeções desencadeada pela variante Ómicron.
"Estamos muito encorajados com o que vimos na África do Sul, onde se olhou para os dados em termos de gravidade [das infeções]. Acabou o tempo em que utilizávamos os confinamentos rigorosos como ferramenta. Deveríamos usar as medidas sociais e de saúde pública de uma forma mais prudente e equilibrada, à medida que a vacinação aumenta."
Porém, menos de 10% da população de África está totalmente vacinada contra o coronavírus, de acordo com os últimos números do CDC.
John Nkengasong diz que a Covid-19 se pode tornar endémica no continente, dado o ritmo lento da vacinação, uma perspetiva partilhada por cientistas em todo o mundo – o vírus estará sempre presente na população a algum nível, à semelhança da gripe ou da varicela.
"É uma enorme possibilidade. Não acredito que consigamos atingir taxas de vacinação mais elevadas", diz Angelique Coetzee, presidente da Associação Médica Sul-Africana.
O problema não é só conseguir as vacinas, mas também a logística e a distribuição, acrescenta Coetzee.
Há, no entanto, outras soluções além da vacinação: máscaras, distanciamento físico, comprimidos e sprays nasais, sugere a médica que ajudou a descobrir a variante Ómicron na África do Sul.
Restrições a viagens não são necessárias
Não fazer nada e deixar a pandemia seguir o seu curso está fora de questão, alertam os virologistas: o preço a pagar seria um elevado número de doenças graves, sequelas e mortes.
Yap Boum, representante regional para África do Epicentre, o braço de investigação dos Médicos Sem Fronteiras, aponta um dos desfechos possíveis, com a prevalência da Ómicron: "Se tivermos estabilidade e não surgir outra variante, esta pode tornar-se predominante, com sintomas muito leves ou mesmo assintomática, o que significa que podemos aprender a viver com ela", afirma em entrevista à DW.
Sobretudo idosos e doentes devem vacinar-se, também antes de viajar, diz Boum. Mas o camaronês não acredita que, a longo prazo, sejam necessárias restrições a viagens. "Porque, se a Covid-19 se tornar endémica, as pessoas podem apanhar a doença em qualquer lugar, mesmo que seja um número pequeno de pessoas. Este poderá ser o novo mundo pós-Covid."
Martina Schwikowski, Julius Mugambwa | Deutsche Welle
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