domingo, 30 de janeiro de 2022

Portugal | O PAÍS QUE VAI A VOTOS É MESMO ABSTENCIONISTA?

Artur Cassiano | Diário de Notícias

Os portugueses elegem hoje, pela 17ª. vez, os deputados na Nação. Onde se vota mais e menos? Que círculos mais deputados colocam no parlamento? Quanto vale um voto? Qual é o perfil-tipo dos eleitos e quanto tempo ficam no parlamento? Somos mesmo um país de abstencionistas ou as contas estão mal feitas? As respostas no DN, no dia de (quase) todas as decisões.

Para que país devemos olhar, quando olhamos para a abstenção? Para o do território nacional que teve 45,5% de não votantes ou para o que inclui os emigrantes e que faz subir a abstenção [a mais alta de sempre em legislativas] para os 51,43%?

Faz sentido analisar o comportamento eleitoral como um todo - "o comportamento cívico dos portugueses" - quando, por exemplo, em 2019 só 10,79% [percentagem que desde 2009 poucas alterações sofreu] dos emigrantes votou?

Para que país devemos olhar quando mais de um milhão de "eleitores-fantasma" distorcem a abstenção em 10%, para a abstenção que fica nos 35,5% do território nacional ou para os 41,43% com os emigrantes?

Paula do Espírito Santo, professora auxiliar, no ISCSP, com agregação nas áreas de sociologia política, sociedade civil e cultura política e métodos de investigação, defende que se deve "olhar para os valores da abstenção tendo em conta o contexto demográfico, territorial e cultural da sociedade Portuguesa, um país de emigração, de diáspora e transculturalmente unido. Ou seja, quando se focam os valores da abstenção, estes devem ser lidos, não apenas, em termos globais, mas tendo em conta (também) a territorialidade, sabendo-se que uma parte significativa da população eleitora portuguesa está no estrangeiro (em torno de um milhão e meio de eleitores) e que desta parte de eleitores (os emigrantes portugueses) apenas uma parte residual vota (ex. nas eleições legislativas de 2015 e 2019, com valores de participação eleitoral em torno dos 10%, mesmo quando se multiplicou este numero de inscritos de 242852 inscritos, em 2015, para 1468754 inscritos).

A investigadora do ISCSP, avisa, por isso, que "quando se focam os valores da abstenção eleitoral, as leituras interpretativas quanto a causas da mesma devem ser mais contidas ao encontrarem-se respostas na falta de interesse pelo voto por parte dos eleitores portugueses. A suposta 'falta de interesse' no voto não explica a abstenção".

"As causas da abstenção", explica, "devem ser encontradas nos mecanismos de acesso ao voto por parte da fatia de eleitores que precisamente mais se abstém (e de que forma se abstém, se considerarmos cerca de 90% de abstenção nas eleições legislativas de 2015 e 2019)".

Ou seja, considera Paula do Espírito Santo, "o voto tem dimensões de territorialidade que o explicam e tornam desigual, e que vistas em valores globais, pode ser falimente mal interpretada com respostas e causas que encontram na desmobilização dos eleitores, como um todo, a resposta mais imediata e aparente. Ora, isto é errado: as explicações superficiais sobre a relação entre desmobilização e abstenção continuarão a promover a incapacidade de se resolver este problema, simplesmente porque o problema da abstenção eleitoral que afeta a nossa democracia está mal diagnosticado".

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