segunda-feira, 21 de março de 2022

Celebrar o passado, olhar para o futuro: 50 anos do 25 de Abril arrancam dentro dias

Sessão solene que marca o início do cinquentenário, na véspera do dia em que a democracia passa o tempo da ditadura, esteve marcada para o Largo do Carmo, mas foi alterada. 30 militares de Abril vão ser condecorados.

As comemorações dos 50 anos do 25 de Abril vão arrancar na próxima quarta-feira, com uma sessão solene que vai juntar, no Pátio da Galé, em Lisboa, o Presidente da República, presidente da Assembleia da República e primeiro-ministro. Na cerimónia, que decorrerá nas vésperas do dia em que a democracia portuguesa ultrapassará o tempo de duração da ditadura, serão condecorados com a Ordem da Liberdade 30 militares que estiveram envolvidos na Revolução dos Cravos, alguns a título póstumo.

Inicialmente, a sessão solene de abertura do cinquentenário do 25 de Abril esteve prevista para o Largo do Carmo, o local mais icónico do 25 de Abril - uma escolha simbólica do mesmo espaço em que Marcello Caetano se refugiou logo na manhã de 25 de Abril de 1974, rendendo-se, já ao final da tarde, às forças sob o comando de Salgueiro Maia, o momento em que a revolução triunfa, num largo apinhado de gente, pondo fim a 48 anos de ditadura. Mas a cerimónia acabou por ser mudada para um espaço fechado, face às previsões meteorológicas para a próxima semana.

Além das intervenções das três principais figuras do Estado, e da distinção aos militares de Abril, que vem dar sequência às condecorações que o Presidente da República tem vindo a atribuir aos intervenientes na revolução, na cerimónia da próxima quarta-feira será enterrada uma "cápsula do tempo", que deverá ser aberta em 2074, ano do centenário do 25 de Abril.

A 24 de março, dia em que o regime democrático cumprirá 17 500 dias - mais um que os vividos em ditadura - assinala-se também o Dia do Estudante, e este será o grande tema em destaque nas comemorações, dado que coincide com os 60 anos da crise académica que abalou o regime em 1962. A data será assinalada com o colóquio Primaveras Estudantis: da crise de 1962 ao 25 de Abril, na Reitoria da Aula Magna, em Lisboa. Já ao final da tarde, será inaugurada no Museu de História Natural uma exposição alusiva ao mesmo tema, e que a partir do final do verão será exposta em Coimbra, outra cidade que foi epicentro da contestação estudantil de 1962.

Segundo Pedro Adão e Silva, comissário executivo das comemorações do cinquentenário, o programa foi definido com a preocupação de "pluralismo e diversidade" e uma particular atenção aos jovens, dando eco a uma preocupação repetida pelo Presidente da República, que tem defendido que as comemorações devem celebrar o passado, mas centrar-se sobretudo no futuro, procurando chegar às gerações mais jovens. Na última terça-feira, Marcelo Rebelo de Sousa - que preside à Comissão Nacional das comemorações - voltou a destacar essa ideia, advertindo para o "risco" que seria "olhar só para o passado". "É importante evocar o passado, celebrar o passado, homenagear aqueles que fizeram o 25 de Abril - a memória é fundamental na vida de um povo - mas é preciso olhar para o futuro", referiu o Presidente da República, realçando que, para as gerações mais jovens, a Revolução de Abril já é um acontecimento "longínquo".

"Corporizando a preocupação que o Presidente da República tem sublinhado" e também num "sinal de descentralização", nas palavras de Pedro Adão e Silva, Lamego receberá a 24 de março o espetáculo musical Mais Alto!, dando início a uma digressão que percorrerá o país durante o próximo período letivo, passando pela rede de teatros municipais e pelas escolas.

Ainda à espera do fim do processo eleitoral das legislativas e da tomada de posse dos eleitos para a próxima legislatura, a Assembleia da República vai assinalar a efeméride do próximo dia 24 com um vídeo mapping com conteúdos alusivos ao contraste entre o período da ditadura e a evolução em Democracia, que será projetado na fachada principal do Palácio de São Bento entre as 19h30 do dia 23 e a uma da manhã do dia 24.

Quatro anos de comemorações

Nas próximas semanas há duas outras efemérides que serão assinaladas. Logo no início de abril, no dia 3, passam exatamente 30 anos sobre a data da morte de Salgueiro Maia, um dos grandes ícones da Revolução de Abril. Ainda neste mês cumprem-se também os 50 anos sobre a publicação das Novas Cartas Portuguesas, obra publicada por Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa em 1972, que seria recolhida e destruída pela censura três dias após a publicação, qualificada como imoral e sob a acusação de fazer a defesa da emancipação das mulheres.

As comemorações do cinquentenário do 25 de Abril vão prolongar-se pelos próximos quatro anos, terminando em 2026 com a evocação dos 50 anos sobre a entrada em vigor da Constituição da República Portuguesa, bem como da realização das primeiras eleições legislativas, autárquicas e presidenciais da democracia. Mas o ponto alto das comemorações será em 2024, o ano do cinquentenário.

Susete Francisco | Diário de Notícias - 17 Março 2022 — 00:46

Imagens: 1 - Militares anónimos que operaram o movimento revolucionário; 2 - Vasco Gonçalves, Otelo Saraiva de Carvalho, Rosa Coutinho. - A reação passou e continua a passar...

Sem comentários:

Mais lidas da semana