Um dia a Aranha encontrou a Lebre na floresta do Maiombe e saudaram-se como se fossem as melhores amigas do mundo. Depois cada uma foi preparar um sítio para pernoitar. Tinham acabado uma etapa da viagem iniciada há muito tempo. A tecedeira de teias, em demanda de um bom sítio para viver, a outra andava à procura do caminho para o mar. Uma fugia das pessoas que estavam sempre a destruir as teias que cuidadosamente urdia dentro das casas. A outra andava ao sabor da aventura, quase sempre perdida.
A Aranha disse à Lebre:
- Toma atenção porque o Homem é um animal muito mau, anda na vertical como um pauzinho, desloca-se com as suas duas pernas. Eu vivi numa casa e protegia aquela família das moscas e mosquitos. Mas os ingratos, em vez de me agradecerem, tentaram matar-me. Um belo dia,destruíram a minha teia com uma vassoura.
A Lebre ficou muito admirada porque nunca tinha ouvido falar de homens e pediu mais conselhos à amiga Aranha. E ela disse-lhe para temer o elefante, porque não sabe onde põe as suas patorras e esmaga tudo no seu caminho.
- O que devo fazer ao esquilo que deixou cair um abacate nas minhas costas? - Perguntou a Lebre.
E a Aranha disse que não devia fazer confusões entre acidentes e maldades. O Esquilo não é maldoso!
No dia seguinte, ambas partiram para o seu destino. A Lebre encontrou no caminho uma mata densa, impenetrável. Medrosa, olhou para todos os lados, para localizar o perigo. Andou muito lentamente até que encontrou uma vereda, atravessada por um tronco de árvore carcomido. Decidiu descansar ali um pouco. De repente, o Cágado espreitou o que se passava, meio escondido por um manto de folhas.
- Quem está aí? – Perguntou a Lebre.
- Sou o Cágado.
- Estás escondido nessa carapaça para fazer mal aos viajantes?
- Não, esta é a minha casa. Para onde vais?
- Ando à procura do mar, disseram-me que é um sítio que nunca foi visto por nenhum animal do Maiombe.
O Cágado não sabia onde era o mar mas lembrou-se do seu amigo Venga-Mbau que conhece todo o mundo. Os dois foram à procura do sábio e encontraram-no a descansar sob a copa de uma árvore frondosa.
Venga-Mbau disse à Lebre como podia chegar ao mar. E não se esqueceu de explicar que sem Sol, sem Lua e as Estrelas, podia sempre orientar-se pela brisa quente que sopra em Março.
- Para chegares ao destino tens que conhecer o Norte, o Sul, o Leste e o Oeste. De noite tens a Lua de as Estrelas. Vou ensinar-te a ler o teu destino.
Depois de muitas lições a Lebre seguiu viagem. Andou, andou e um dia chegou à praia, margem do mar que não tem fronteira nem barreiras. Ficou a observar as ondas. Pensava que o mar fosse uma coisa viva, que respira. Afinal era uma imensa lagoa.
- Agora já posso dizer a todos os animais do Maiombe que vi o mar. Mas se eu regressar de mãos vazias ninguém vai acreditar. Tenho de levar provas!
Então tentou apanhar peixinhos, mas eles fugiam quando ela se aproximava. Depois tentou apanhar caranguejos mas eles atacavam com as suas tenazes afiadas. Então a lebre reparou nas conchinhas espalhadas na areia. Encheu o saco de conchas para mostrar aos animais que esteve mesmo no mar.
Na manhã do dia seguinte, bem cedo, pôs-se outra vez a caminho. Encontrou grandes lavras bem limpas, muitas picadas e veredas, belas pastagens. A primeira pessoa que viu, foi um pastor com o seu rebanho. O homem cantava sem parar. De vez em quando gritava e o rebanho obedecia. O seu cão ajudava-o a juntar os animais tresmalhados. Afinal o Homem era mesmo muito poderoso, dominava os animais só com a voz e o seu cão.
Curiosa, quis saber como eram os outros homens e foi-se aproximando da aldeia. Quando viu as mulheres fazendo farinha no pilão e os homens sentados à porta de casa conversando, lembrou-se dos avisos da amiga Aranha. Mas demasiado tarde. Um caçador tinha montado uma armadilha no caminho e ela foi apanhada.
*Esta história foi-me contada por José Casimiro em Cabinda
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