ONU não tem conhecimento de programa de armas biológicas da Ucrânia
O conselho de segurança esteve, esta tarde, reunido a pedido da Rússia. Moscovo acusou a Ucrânia e os Estados Unidos de terem desenvolvido armas biológicas, mas não apresentou qualquer prova.
Rússia diz que teve conhecimento de que a Ucrânia está a tentar destruir o programa de armas biológicas, que desenvolveu durante anos em mais de 30 laboratórios. Tudo está a ser feito a mando dos Estados Unidos.
Segundo Moscovo, os dois países estavam a tentar melhorar os patogénicos de doenças como a peste, cólera e leptospirose. O embaixador garantiu mesmo que os ucranianos e americanos chegaram a usar aves migratórias que têm rotas através da Rússia. Aves infetadas, mas que felizmente foram todas apanhadas. Vasily Nebenzya acrescentou que os surtos de poliomielite, sarampo, difteria e tuberculose que têm surgido na Ucrânia estão ligados a estas investigações e acusou o regime de Kiev de estar a usar o povo ucraniano como cobaia.
O embaixador garante que os americanos deram agora ordens para que tudo fosse destruído, para que os russos não encontrassem provas, e o Pentágono avisou os ucranianos de que se houvesse algum acidente deviam responsabilizar as forças russas.
Nebensya avisou os europeus de que todos estariam em perigo e garantiu que na página do ministério da defesa russo, na internet, estavam publicadas mais informações. O embaixador prometeu entregar provas detalhadas aos países do conselho de segurança.
Antes do embaixador russo, a Alta representante da ONU para o desarmamento, Izumi Nakamitsu, tinha dito que as Nações Unidas não conhecem qualquer programa de armas biológicas da Ucrânia.
A embaixadora norte-americana começou a intervenção lembrando que, há um mês, numa reunião do mesmo conselho de segurança, o secretário de estado disse que a Rússia ia fazer esta manobra. Criar um pretexto para usar armas químicas. Linda Thomas Greenfield disse que mundo assistiu, esta tarde, ao vivo, ao que Antony Blinken previu.
Washington garantiu que a Ucrânia não tem qualquer programa de armas biológicas, apenas laboratórios de investigação médica, e que os Estados Unidos estão a ajudar a desenvolver essas pesquisas de forma segura.
Greenfield adiantou que é a Rússia que tem um programa de armas químicas e biológicas e já as usou, em Navalny e nos Skripal, por exemplo. É Moscovo que protege Bashar Al assad, que usou armas químicas contra o próprio povo. A Rússia tem uma longa história de acusar os outros de crimes que vai cometer.
A embaixadora lembrou que a Rússia é o agressor nesta guerra e não pode esconder as escolas, infraestruturas de saúde, sistema de água e eletricidade que destruiu. Apesar de todos os esforços os jornalistas e os próprios ucranianos estão a documentar tudo o que acontece.
Linda Thomas Greenfield acrescentou que aceitou a realização da reunião desta sexta-feira para que todos assistissem à atuação Russa.
A Ucrânia, que se referiu sempre à Rússia como o país que ocupou o lugar da União Soviética, lembrou a longa lista de mentiras de Moscovo: não atacaram a Ucrânia, não atingem alvos civis e a grávida ferida no ataque à maternidade de Mariopol era uma atriz. Sergiy Kyslytsya informou que a grávida se chama Marianna e teve a filha esta madrugada. A bebé nasceu saudável e chama-se Verónica.
O embaixador disse ainda que as palavras de Nebenzya não contam para nada, é preciso ouvir o homem que planeou tudo, Vladimir Putin. Ele acrescentou que as fantasias do presidente russo sobre armas biológicas são perigosas. A Ucrânia teme o uso dessas armas no conflito e Kyslytsya perguntou o que vão usar, "rockets, mísseis, bombas, já experimentámos tudo. Onde vai ser o ataque, em escolas, hospitais, blocos de apartamentos?"
A China considerou a situação na Ucrânia muito complexa, mas defendeu que as preocupações russas não devem ser descartadas e deve ser autorizada uma verificação independente. O representante de Pequim disse que esperava mais informações.
Países como a Albânia, França, Reino Unido e Noruega acusaram a Rússia de usar o conselho de segurança para fazer propaganda e espalhar desinformação. Queixaram-se ainda do tempo que perderam e defenderam que o conselho se mantém focado nas ameaças reais.
Antes de a reunião ser encerrada, o embaixador russo voltou a falar para dizer que não ficou surpreendido com o facto de os países ocidentais não terem falado das acusações concretas que foram feitas. Lembrou que quem usou o conselho de segurança foram os Estados Unidos quando Collin Powell apresentou as "provas" contra o Iraque. Disse que os americanos também mataram civis no Iraque e noutros países, mas ninguém falou disso. Agora todos apontam o dedo à Rússia.
Na resposta, Linda Thomas Greenfield disse que não ia dar mais tempo de antena aos russos porque era isso que eles queriam. Limitou-se a uma frase: "parem os ataques e parem o sofrimento dos ucranianos".
Margarida Serra | TSF
Imagem: Ilustrativa. Reuters/ Carlo Alegri
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