sábado, 30 de abril de 2022

O POVO DO IÉMEN TAMBÉM SOFRE ATROCIDADES

Kathy Kelly*

Grupos de direitos humanos criticaram a coligação liderada pela Arábia Saudita/EAU por bombardear estradas, zonas de pesca, instalações de esgotos e saneamento, casamentos, funerais e até mesmo um autocarro escolar infantil. Num ataque recente, os sauditas mataram sessenta migrantes africanos mantidos num centro de detenção em Saada.

A meta das Nações Unidas era arrecadar até 15 de março mais de US$ 4,2 mil milhões para o povo do Iémen devastado pela guerra. Mas quando esse prazo terminou, apenas US$ 1,3 mil milhões tinham chegado. 

“Estou profundamente desapontado”,disse Jan Egeland, secretário-geral do Conselho Norueguês para Refugiados. “O povo do Iémen precisa do mesmo nível de apoio e solidariedade que vimos para o povo da Ucrânia. A crise na Europa afetará drasticamente o acesso dos iemenitas a alimentos e combustível, tornando ainda pior uma situação já terrível.”

Com o Iémen a importar mais de 35% do seu trigo da Rússia e da Ucrânia, a interrupção do fornecimento de trigo causará aumentos crescentes no preço dos alimentos.

“Desde o início do conflito na Ucrânia, vimos os preços dos alimentos dispararem mais de 150%”, disse Basheer Al Selwi, porta-voz da Comissão Internacional da Cruz Vermelha no Iémen. “Milhões de famílias iemenitas não sabem como fazer a sua próxima refeição.”

O terrível bloqueio e bombardeio do Iémen, liderado pela Arábia Saudita e pelos Emirados Árabes Unidos, está agora a entrar no seu oitavo ano. As Nações Unidas estimaram, no outono passado, que o número de mortos no Iémen chegaria a 377.000 pessoas até o final de 2021.

Os Estados Unidos continuam a fornecer peças sobressalentes para os aviões de guerra da coligação saudita/EAU, juntamente com a manutenção e um fluxo constante de armamentos. Sem esse apoio, os sauditas não poderiam continuar os seus ataques aéreos assassinos.

No entanto, tragicamente, em vez de condenar as atrocidades cometidas pela invasão saudita/EAU, o bombardeio e o bloqueio do Iémen, os Estados Unidos estão a aproximar-se dos líderes desses países. À medida que as sanções contra a Rússia interrompem as vendas globais de petróleo, os Estados Unidos estão a entrar em negociações para se tornarem cada vez mais dependentes da produção de petróleo saudita e dos Emirados Árabes Unidos. E a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos não querem aumentar a sua produção de petróleo sem um acordo dos EUA para os ajudar a aumentar os seus ataques contra o Iémen.

Grupos de direitos humanos criticaram a coligação liderada pela Arábia Saudita/EAU por bombardear estradas,  zonas de pesca, instalações de esgotos e saneamento, casamentos, funerais e até mesmo um autocarro escolar infantil. Num ataque recente, os sauditas mataram sessenta migrantes africanos mantidos num centro de detenção em Saada.

O bloqueio saudita ao Iémen sufocou as importações essenciais necessárias para a vida quotidiana, forçando o povo iemenita a depender de grupos de ajuda para sobreviver.

Existe outra forma. Os deputados americanos Pramila Jayapal, de Washington, e Peter De Fazio, do Oregon, ambos democratas, estão agora à procura de co-patrocinadores para a Resolução dos Poderes de Guerra do Iémen, que exige que o Congresso corte o apoio militar à guerra da coligação liderada pela Arábia Saudita/EAU contra o Iémen.

Em 12 de março, a Arábia Saudita executou 81 pessoas, incluindo sete iemenitas – dois deles prisioneiros de guerra e cinco deles acusados de criticar a guerra saudita contra o Iémen.

Apenas dois dias após a execução em massa, o Conselho da Corporação do Golfo, incluindo muitos dos parceiros da coligação que atacou o Iémen, anunciou a disposição saudita de sediar negociações de paz na sua própria capital, Riad, exigindo que os líderes Ansar Allah do Iémen (informalmente conhecidos como Houthis) arriscassem a sua execução pela Arábia Saudita para discutir a guerra.

Os sauditas há muito insistem numa resolução da ONU cheia de falhas, que pede aos combatentes houthis que se desarmem, mas nunca menciona a coligação saudita/EAU, apoiada pelos EUA, como uma das partes em conflito. Os houthis dizem que virão à mesa de negociações, mas não podem contar com os sauditas como mediadores. Isso parece razoável, dado o tratamento vingativo da Arábia Saudita contra os iemenitas.

O povo dos Estados Unidos tem o direito de insistir que a política externa dos EUA se baseie no respeito aos direitos humanos, na partilha equitativa de recursos e no compromisso sincero de acabar com todas as guerras. Devemos apelar ao Congresso para que use a influência que tem para impedir o bombardeio aéreo contínuo do Iémen e patrocinar a próxima resolução de Jayapal e De Fazio.

Também podemos reunir humildade e coragem para reconhecer os ataques dos EUA contra civis iemenitas, indemnizar pelos danos e expurgar os terríveis sistemas que sustentam o nosso militarismo desenfreado.

*KATHY KELLY co-coordena o Voices for Creative Nonviolence e trabalhou em estreita colaboração com os Afghan Youth Peace Volunteers. É autora de Other Lands Have Dreams [Outras Terras Têm Sonhos] publicado pela CounterPunch / AK Press. Pode ser contactada em: Kathy@vcnv.org

Fonte: https://www.counterpunch.org/2022/03/24/the-people-of-yemen-suffer-atrocities-too/, publicado e acedido em 24.03.22

Imagem: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-46322964

Tradução de TAM

Publicado em Pelo Socialismo

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