sábado, 2 de abril de 2022

OS RATOS COMILÕES E A LOUCURA À SOLTA -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A República Popular da China é o país herdeiro da  China Imperial, nascida no Século III antes de Cristo (Dinastia Qin ou Chin) e que durou até ao Século XX, quando os europeus levaram o colonialismo a quase todo o mundo, particularmente a Inglaterra, essa impúdica bacante. Os chineses conheciam a “divina arte da imprimissão” mais de mil anos antes de Gutenberg. 

O primeiro jornal em papel foi publicado em 713 depois de Cristo (Kaiyuan, nome dado ao ano em que foi publicado), na cidade de Pequim. Em 1041, também na China, foi inventado o tipo móvel, um avanço extraordinário na impressão. Esses tipos eram produzidos numa liga de bronze, à moda da Coreia, país cujos mestres tipógrafos inventaram essas miniaturas. No ano de 1908, os chineses comemoraram o milenário do jornal Ta King Pao (Gazeta de Pequim). 

Um tal Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, político belga da direita extremista que se reclama de liberal, teve o desplante de ameaçar e chantagear a República Popular da China. Um garoto atrevido manda na União Europeia. E como só conhece a História da Europa, comporta-se como um rapazola que desafia o mundo e quer travar a ventania com as mãos. Pela voz daquela besta insanável, a União Europeia ameaçou e chantageou a República Popular da China. Não se atrevam a apoiar a Federação Russa na maka da Ucrânia! 

Ursula von der Leyen, uma política da direita alemã, boneca barbie com tiques nazis, é a presidenta da Comissão Europeia. Também ameaçou e chantageou a República Popular da China. Com a embalagem que levava, estendeu as ameaças à Federação Russa, o maior país do planeta (tem fronteiras com a China e os EUA!) e a maior potência militar. Estas faltas de respeito não admiram. Os europeus passaram por cima de países e povos no advento do colonialismo. Escravizaram praticamente todo o mundo. Protagonizaram genocídios terríveis. Destruíram culturas florescentes. Arrasaram a Humanidade.

África. O império de Cartago nasceu em 814 antes de Cristo. Arrasado pelas potências europeias ocidentais. O império Axum nasceu no ano 100 antes de Cristo mas tinha a Núbia que nascera no ano 780 antes de Cristo. Arrasado pelas potências europeias ocidentais. O império do Gana nasceu no ano 700 antes de Cristo. Arrasado pelas potências europeias ocidentais. Zimbabwe nasceu no ano de 1200. Arrasado pelas potências europeias ocidentais. Mali nasceu em 1230. Arrasado pelas potências europeias ocidentais. Abissínia (Etiópia) nasceu em 1270. Foi sendo destruído pelas potências europeias ocidentais. Oyo nasceu em 1300. Arrasado pelas potências europeias ocidentais. Mais o nosso Reino do Congo!

Américas. Impérios Inca e Asteca. Índios de todo o continente. Arrasados pelas potências ocidentais e os EUA. Aborígenes da Austrália. Arrasados. Os europeus e norte-americanos têm um cadastro arrepiante como assassinos e genocidas. Agora perderam-se de amores pela Ucrânia. Em vez de acabarem com a OTAN (ou NATO) como organização militar reaccionária, agressiva e ofensiva, ameaçam e chantageiam quem não lhes obedece. Estão de tal forma cegos que nem conseguem perceber que são pobres moscas poisadas num comboio. 

A Federação Russa é o maior país do planeta. Tem fronteiras com a República Popular da China e com os EUA! É a maior potência militar do mundo. E uns pobres diabos, de Washington a Lisboa, armados de palavreado oco, ameaçam e chantageiam, faltam ao respeito de quem não pensa como eles. É e vidente que a Federação Russa vai mesmo desmilitarizar e desnazificar a Ucrânia. Não há recuo. Em vez de convencerem o presidente Zelensky a abdicar da OTAN (ou NATO) e ilegalizar as organizações nazis, atiram com achas para a fogueira. Bem vistas as coisas, as potências ocidentais só têm a perder com esta atitude. A Ucrânia está a ser destruída. Os ucranianos morrem e só fogem os que podem, porque Zelensky e seus nazis fazem dos homens com mais de 18 anos e menos de 60, escudos humanos.

A expansão da OTAN (ou NATO) para o Leste da Europa é uma provocação inaceitável. Os responsáveis da Federação Russa andam há anos alertando para o perigo que representa para a segurança do país. Dizem, desde 2014, que está em causa a “segurança existencial” do maior país do planeta que é também a maior potência militar. Enlouqueceram todas e todos no ocidente? O meu conselheiro militar, em relação à postura do Ocidente, contou-me esta alegoria:

Um rato comilão encontrou um grande frasco cheio de grãos. Começou a comer desalmadamente. Comeu, comeu, comeu e quando acabou de se banquetear descobriu que os grãos estavam no fim e ele já não podia sair do frasco. Ficou preso lá no fundo e à mercê de todos os perigos. Os políticos do Ocidente, de Washington a Lisboa, famintos de tudo e mais alguma coisa, começaram a empanturrar-se de grãos alheios e agora descobriram que estão no fundo do poço e ninguém vai tirá-los de lá. Mesmo que implorem clemência. Mas duvido que sejam ouvidos. Têm tantos crimes às costas, tanto genocídio, causaram tanta dor no mundo que dificilmente serão socorridos.

A Associação dos Especialistas Angolanos em Relações Internacionais (AEARI), homenageou o Presidente Agostinho Neto, o Presidente José Eduardo dos Santos, Jonas Savimbi, Holden Roberto e Mário Pinto de Andrade. A instituição diz que é parceira do Estado. Deve ser porque a homenagem foi marcada para o Mausoléu.

O presidente da associação, Adelino Sebastião, explicou que as figuras escolhidas são homenageadas “na qualidade de intervenientes no processo de paz e reconciliação nacional, nas várias modalidades escolhidas, em acolhimento de uma trajectória ímpar, cujos feitos marcaram épocas importantes da nossa história como país".   

O senhor Adelino Sebastião está dramaticamente equivocado. Jonas Savimbi disparou contra o seu povo, destruiu a paz, sabotou a reconciliação nacional e a sua “trajectória ímpar” foi como traidor da Luta Armada de Libertação Nacional e ajudante do regime racista de Pretória quando impôs uma guerra aos angolanos para pôr em causa a soberania nacional e a integridade territorial. As marcas que Savimb i deixou “na nossa história como país” são as da traição, morte de milhares de inocentes, destruições, refugiados e deslocados.

Não vou mais longe. Mas homenagear Florbela Malaquias e Jonas Savimbi é um insulto e um ultraje a uma mulher que foi vítima do chefe da UNITA. Ela e a sua família. A loucura dos europeus chegou ao presidente da Associação dos Especialistas Angolanos em Relações Internacionais.

* Jornalista

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