António Guterres já apelou a uma «investigação independente», enquanto a Rússia «rejeita as acusações de massacre de civis» e pretende reunir o Conselho de Segurança da ONU para debater a questão.
AbrilAbril | editorial
As imagens que proliferam nas televisões e nas redes sociais, a propósito de um alegado massacre de civis na cidade ucraniana de Bucha serviram, antes de qualquer investigação séria, conforme reclama o secretário-geral da ONU, para condenar o Exército russo, que rejeita «julgamentos sumários» e fala de factos que não corroboram a versão dos responsáveis ucranianos.
Conforme escreve Carmo Afonso esta segunda-feira no jornal Público, é difícil distinguir a informação que as máquinas de propaganda põem a circular da que nos «chega através do verdadeiro trabalho jornalístico», mas é um erro pensar-se que «ninguém aceita ser informado pela propaganda de guerra».
A articulista sublinha ainda a ideia de que «algumas pessoas querem precisamente receber informação que corrobore na íntegra a sua interpretação da guerra. Aplaudem quem noticia factos que dêem razão ao que têm vindo a dizer. Têm pouca, ou nenhuma, margem para dar atenção ao que contradiz, ou que julgam contradizer, essa interpretação».
Daí que, independentemente das restrições impostas a informações contrárias ao pensamento único oficial e, não sendo a denúncia da guerra e das suas atrocidades incompatível com a necessidade de procurar conhecer a realidade dos factos, nos debruçámos sobre o artigo publicado pelo major-general Raul Cunha, a propósito das imagens de um vídeo sobre os alegados massacres em Bucha.
No referido artigo, questiona-se, por um lado, o facto de todos os corpos estarem «na mesma rua e só numa área de algumas centenas de metros», enquanto «a maioria das casas está intacta» e sem «marcas de tiros». Por outro, chama-se a atenção para o facto de que «as viaturas só se desviam dos corpos e os militares ucranianos não mostram qualquer emoção, nem sequer se apressam a verificar se há alguém ainda vivo», para além de haver «um momento em que um dos cadáveres move a mão, ouve-se o militar ucraniano a comentar esse facto e ninguém lhe dá importância».
Este militar, que observou noutros teatro de guerra «situações idênticas», refere ainda que as tropas russas terão deixado Bucha «alguns dias antes de serem descobertas as "vítimas da ocupação" sem que as Forças Armadas da Ucrânia tivessem dado «conta disso imediatamente» e, por isso, terem bombardeado com artilharia aquela cidade «durante quase três dias», cujo resultado pode ter sido a morte daqueles civis, «mas nunca naqueles locais e naquele formato». Considera ainda que «os corpos foram levados e dispostos, mas os produtores do "cenário" tiveram preguiça de os colocar em lugares diferentes ou dentro de pátios e assim poderão ser facilmente desmascarados, desde que haja a determinação de fazer os necessários exames com imparcialidade e seriedade».
Não será difícil verificar esta realidade, segundo o major-general Raul Cunha, bastando para tal «providenciar de imediato» a realização de «exames para determinar a hora da morte» das vítimas, para depois «correlacionar esses dados com os do controlo objectivo e real da OTAN por meio de imagens de satélite, os quais indicarão com precisão a data da saída das tropas russas».
Eis mais um contributo para procurar esclarecer a verdade e evitar, como escreve Carmo Afonso, que a uma guerra que já «fez muitas vítimas não se deve permitir que faça mais uma: a verdade».
Imagem: / telegra.ph
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