terça-feira, 24 de maio de 2022

DUDA ROGÉRIO E A BEBEDEIRA BELICISTA – Artur Queiroz

Rogério Alves na CNN
 Artur Queiroz*, Luanda

Os portugueses são quase todos ucranianos. E a situação na Ucrânia ameaça não deixar pedra sobre pedra em Portugal. A peste chegou aos advogados com uma violência inusitada. Para evitar mal-entendidos declaro que tenho grandes amigas e amigos advogados, juristas, professores de Direito. O meu irmão Luís e a minha filha Beatriz são advogados. António Macedo foi o advogado de Agostinho Neto nos tribunais da PIDE. Abranches Ferrão foi um antifascista corajoso e inabalável. Mário Brochado Coelho, meu saudoso amigo, defendeu o padre Joaquim Pinto de Andrade e estudantes angolanos ante os juízes da PIDE que estão de novo na ribalta. A todas e todos faço uma vénia de respeito e consideração.

Este país, marcado no passado por advogados antifascistas, lutadores indomáveis pela liberdade e a democracia, acaba de ser abandalhado, desonrado, atirado para a lixeira mediática onde se alimenta a sociedade do espectáculo. 

Um dia, Rogério Alves foi eleito Bastonário da Ordem dos Advogados. Pelo menos a maioria da classe votou nele. Hoje um soldado russo foi condenado a prisão perpétua por um tribunal ucraniano. Estava acusado de ter assassinado um civil nos arredores de Kiev. O prisioneiro, devidamente lavado e vestido, foi metido numa gaiola, cercada de homens armados até aos dentes numa sala à qual chamaram tribunal. Logo na primeira cena, o desgraçado confessou que cometeu o crime. Ou disseram aos propagandistas de serviço que ele confessou. Aí está o resultado.

O senhor Rogério Alves disse ante as câmaras da CNN Portugal que se tratou de um julgamento sumário mas “existem provas abundantes além da confissão do condenado”. Que as assassinas e assassinos do jornalismo façam uma afirmação destas, é desculpável. Andavam famintos e agora pagam-lhes à linha e ao minuto. Mas advogado que foi Bastonário da Ordem dOS Advogados, não pode! Onde viu ele as provas abundantes? O Durão Barroso, barriguista e tachista, também viu as provas da existência das armas de destruição maciça no Iraque. Mas nunca apareceram.

Senhor Rogério Alves. Na Ucrânia impera a Lei Marcial desde 25 de Fevereiro. Ainda há dois dias o presidente Zelensky prorrogou até Agosto esse regime. Pode ser que na Faculdade de Direito onde se licenciou se tenham esquecido de lhe explicar o que quer dizer Lei Marcial. Mas eu dou-lhe uma ajuda, grátis. O Estado de Direito vai à vida. São suspensas quase todas as liberdades. Quase todas as garantias, quase todos os direitos. 

A confissão do crime nada vale. O soldado está nas mãos dos seus carcereiros. Foi interrogado pelos seus carcereiros. Julgado pelos seus carcereiros. Para o caso do senhor Rogério Alves não saber, vou informá-lo que o Departamento de Estado dos EUA, no seu último relatório (Abril) sobre os direitos humanos no mundo, diz que na Ucrânia “há execuções extrajudiciais e tortura (...) tratamento cruel de detidos por agentes da ordem, condições prisionais duras e ameaçadoras, detenções arbitrárias e problemas graves com a independência do Poder Judicial”. Isso mesmo, o Poder Judicial está subjugado ao Poder Político. O que vale uma confissão na vigência da Lei Marcial num país onde existem execuções  extrajudiciais e os tribunais dependem dos políticos de turno no poder? Nada.

Se o senhor Rogério Alves estivesse nas mãos dos nazis e dos pides do Zelensky, se fosse preciso até confessava que é amante do doutor Varandas ou que deitou abaixo o Grupo BES. Eu jamais me atreveria a fazer o seu papel ante as câmaras da CNN Portugal. Tinha medo que os meus colegas me cuspissem na cara, sempre que saísse à rua. 

O senhor Rogério Alves, sempre tão palavroso, tão sabichão, tão inflado de paleio balofo, não disse aos telespectadores se um processo sumário é a forma adequada a julgar alguém que é condenado a prisão perpétua. E quando à vigência da Lei Marcial na Ucrânia disse nada.   

A bebedeira belicista no estado terrorista mais perigoso do mundo (EUA) atinge raias do coma alcoólico. Ontem o presidente polaco Andrzej Duda foi a Kiev e disse aos deputados ucranianos (só os nazis. Os outros estão presos ou foragidos) que não vão ceder um centímetro quadrado da Ucrânia aos russos. Aplausos de pé. Sabem quem é este senhor? Um político de extrema direita que4promulga leis de inspiração nazi. 

Alexandra Leitão, deputada socialista e ministra no anterior governo fez esta denúncia: “Na Polónia a lei anti aborto é contra os valores da União Europeia. Uma mulher que estava grávida de gémeos teve a fatalidade de perder um bebé. Os médicos tinham que interromper a gravidez. Mas a lei não permite. Morreram os dois fetos e a mãe. António Costa foi a este país dar palmadinhas nas costas do presidente Duda. 

Mais uns elementos leves para o perfil do presidente polaco. O Duda comandou manifestações da extrema-direita, em Varsóvia, contra os refugiados. Os manifestantes (e ele) gritavam ”Polónia Branca”, “Sangue Puro”. E este pormenor inquietante: Israel acusa-o, com todas as letras, de ser “cúmplice com o Holocausto”. Ontem foi a Kiev dar o recado de Biden: “Vamos defender a Ucrânia. Não cederemos nem um centímetro quadrado aos russos!” A Internacional Nazi avança imparavelmente.

A bebedeira belicista continuou hoje com o próprio Biden. Em Tóquio, ameaçou a República Popular da China de intervir militarmente “se os chineses atacarem Taiwan (ilha Formosa). Ameaça directa a Pequim. As autoridades chinesas pediram-lhe para ter juízo e não as subestimar. E lembraram mais uma vez que a ilha Formosa é território chinês. E o separatismo é “um problema interno”. Biden está a estrebuchar de bêbado ou de loucura?

O presidente dos EUA passou pela Coreia do Sul e umas horas depois, o seu capataz em Seul ameaçou a Coreia do Norte. Disse ele, com ar agressivo: “acabou o tempo da tolerância com Pyongyang”. Andam todos a pedir festa. Hoje mesmo, o separatista de Taiwan (Formosa), espicaçado por Biden, disse o mesmo que o presidente polaco: “não cederemos um centímetro quadrado aos chineses!”

Na Ucrânia a Federação Russa está a perder a guerra. Pelo menos é o que dizem as assassinas e os assassinos do jornalismo, ao serviço da OTAN (ou NATO), da União Europeia e dos EUA. Milhares de ucranianas e ucranianos morrem em nome deles. Milhões fugiram do seu país. Para o banditismo político e mediático está tudo a correr bem. Hoje Zelensky pediu em Davos milhões para reconstrução! Já deram. Grandes negociatas.

*Jornalista

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