domingo, 8 de maio de 2022

GLÁDIO | NATO numa guerra secreta contra cidadãos europeus e os seus governos


Operação Gládio: como a NATO conduziu uma guerra secreta contra cidadãos europeus e os seus governos democraticamente eleitos

Cynthia Chung | em Pelo Socialismo

"As unidades das SS forçaram um pequeno grupo de vítimas do campo de concentração 'libertadas' de Buchenwald, disfarçadas com uniformes polacos, a encenar um ataque simulado de bandeira falsa à torre de rádio principal no estado livre de Dantzig, controlado pelos nazis. Citando a provocação dos polacos, seguiu-se a invasão alemã da Polónia."

Todos conhecem o discurso da Cortina de Ferro proferido por Winston Churchill. No entanto, não é Churchill o criador da frase.

“Tinha de se atacar civis, pessoas, mulheres, crianças, cidadãos desconhecidos longe de qualquer jogo político. A razão era bastante simples – forçar as pessoas a recorrerem ao Estado para pedir maior segurança.”

- Vincenzo Vinciguerra, terrorista italiano condenado, ex-membro da Avanguardia Nazionale (“Vanguarda Nacional”) e Ordine Nuovo (“Nova Ordem”)

Esta é a parte 3 de uma série de cinco partes. [Consulte aqui a Parte 1 e a Parte 2, a última que aborda a forma como o Movimento Nacionalista Ucraniano pós-Segunda Guerra Mundial foi comprado e pago pela CIA. A Parte 4 discutirá o envolvimento britânico e americano, ao lado da  NATO, na Operação Gládio, e como o comércio mundial de tráfico de drogas e sexo está ligado a isso através dos Estados Unidos. Também discutirá como essa rede foi responsável pelo assassinato do presidente Kennedy.]

Alemanha nazi: o baluarte do Ocidente contra o comunismo

            “Ao destruir o comunismo no seu país [de Hitler], ele tinha travado o seu caminho para a  Europa Ocidental." (1)

- Conde de Halifax, também conhecido como Lord Halifax (Embaixador Britânico nos EUA, 1940-1946, Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros Britânicos 1938-1940, Vice-Rei e Governador-Geral da Índia 1926-1931)

Todos conhecem o discurso da Cortina de Ferro proferido por Winston Churchill, que já não era primeiro-ministro britânico naquela altura, em 5 de março de 1946.

No entanto, não é Churchill o criador da frase, mas sim o ministro das Relações Exteriores da Alemanha nazi, conde Lutz Schwerin von Krosigk, que fez um discurso em Berlim em 3 de maio de 1945, relatado no London Times e no New York Times em 8 de maio de 1945. No discurso, Krosigk usa a frase de propaganda cunhada pelos nazis “Cortina de Ferro”, utilizada precisamente no mesmo contexto por Churchill, menos de um ano depois.

Após esse discurso alemão, apenas três dias após a rendição alemã, Churchill escreveu uma carta a Truman, expressando a sua preocupação com o futuro da Europa e dizendo que uma “cortina de ferro” tinha caído. (2)

Essa partilha de política entre a Alemanha nazi e a Inglaterra não deveria ser uma surpresa completa.

O Pacto Molotov-Ribbentrop assinado em 23 de agosto de 1939 é o que ficou na história com visibilidade. No entanto, um facto importante é muitas vezes deixado de fora -  este pacto notório foi assinado 11 meses depois de o primeiro-ministro do Reino Unido Neville Chamberlain ter assinado o acordo de apaziguamento com Hitler em 30 de setembro de 1938, conhecido como Acordo de Munique (também conhecido como Traição de Munique).

O historiador Alex Krainer escreve:

“A história que aprendemos na escola afirmava que o governo britânico concordou em dividir a Checoslováquia apenas como uma medida desesperada para evitar uma guerra europeia maior. Essa visão é baseada na ideia de que a Alemanha já era uma potência militar esmagadora que poderia facilmente esmagar as fracas defesas da Checoslováquia. No entanto, essa ideia é patentemente falsa.” [sublinhado nosso]

Alex Krainer continua:

“ Criada em 1919, a Checoslováquia foi o mais próspero, mais democrático, mais poderoso e mais bem administrado dos Estados que emergiram do Império dos Habsburgo… campanha de propaganda que foi orquestrada pela média britânica e por representantes do governo para enganar o público britânico e europeu…

Em termos de qualidade, armamentos e fortificações, o exército checo era conhecido por ser o melhor da Europa e era superior ao exército alemão em todos os aspetos, exceto no apoio aéreo. Em 3 de setembro de 1938, o adido militar britânico em Praga escreveu um telegrama para Londres, afirmando: “Não há deficiências no exército checo, tanto quanto pude observar…”

Além disso, a segurança checa foi apoiada por alianças estratégicas com a França e a União Soviética que, naquela época, estavam muito interessadas em manter a Alemanha sob controle e ambas eram significativamente superiores à Alemanha em termos de força militar” [sublinhado nosso]

Ou seja, a Checoslováquia, de facto, capitulou sem resistência, mas não porque as suas defesas fossem fracas. Pelo contrário,  o seu governo recebeu falsas promessas e acabou  por ser lançado a favor da Alemanha pelo esquema traiçoeiro da diplomacia secreta da Grã-Bretanha.

Lord Halifax, que foi citado anteriormente, estava entre os negociadores britânicos do Acordo de Munique. Para o resto da história, consulte o excelente artigo de Alex Krainer aqui.

O que de facto aconteceu como resultado do Acordo de Munique foi  a Alemanha de Hitler ter adquirido o exército superior da Checoslováquia e ter transformado a Alemanha numa ameaça colossal que seria muito mais difícil de derrotar.

Além disso, o Banco da Inglaterra e o Banco de Compensações Internacionais, através do governador do BoE [Bank of England, Banco de Inglaterra], Montague Norman, permitiram a transferência direta de 5,6 milhões de libras em ouro para Hitler, que eram propriedade do Banco da Checoslováquia.

Ações questionáveis da Inglaterra, de facto.

A Alemanha foi autorizada a tornar-se uma força ultrassuprema por meio da intervenção direta britânica. Foi apenas 11 meses depois que o Pacto Molotov-Ribbentrop foi assinado como um meio de evitar o que era claramente o inevitável; um ataque alemão em solo russo, com o apoio da Grã-Bretanha.[Para saber mais sobre isso, consulte aqui.]

Durante a Segunda Guerra Mundial, o Executivo de Operações Especiais britânico realizou missões clandestinas para apoiar organizações de resistência, inspirando a posterior Operação Gládio.

Operação Gládio: Adaga da NATO

“O eixo de terror  interno da NATO dependia do complexo militar-industrial controlado pelo Pentágono, do renascimento cultivado do neofascismo e com as mãos assalariadas retiradas do submundo do crime da máfia.”

            Richard Cottrell, “Gládio: Adaga da NATO no Coração da Europa”

Com a Segunda Guerra Mundial vencida, o mundo ficou com a impressão de que deveríamos levar a frase “Nunca mais” a sério. Infelizmente, aqueles encarregados de definir a política ocidental e a estratégia geopolítica pós-Segunda Guerra Mundial não poderiam ter discordado mais.

A Operação Impensável é um excelente exemplo do tipo de pensamento que estava a lavrar na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos pós-Roosevelt. Embora a operação fosse arquivada com o novo governo de Clement Attlee, isso permaneceu como uma mentalidade predominante na governação para a inteligência britânica e americana e permaneceu assim até hoje.

Durante a Segunda Guerra Mundial, foram feitos preparativos no caso de uma possível vitória alemã e foram estacionadas em toda a Europa unidades de guerrilha “ficar para trás”. O modelo era o Executivo de Operações Especiais Britânico, ou SOE, uma força de comando de guerrilha ultra-secreta criada em 1940. Foi ideia de Winston Churchill e foi chamado “exército secreto de Churchill”. Isso acabaria por ser adotado pela NATO. (3)

Após a vitória dos Aliados, essas unidades “ficar para trás” não foram dissolvidas, mas sim reforçadas e expandidas em quase todos os países europeus, com ajuda direta e incentivo dos Estados Unidos.

Membro do Parlamento Europeu (1979-1989), que também foi encarregado pelo Parlamento Europeu de investigações formais, Richard Cottrell escreve em “Gládio: NATO's Dagger at the Heart of Europe” [Gládio: A Espada da NATO no Coração da Europa]:

“Depois de a NATO ter sido constituída em abril de 1949, os exércitos secretos, gradualmente, ficaram sob o controle direto da nova aliança militar. A NATO estabeleceu cuidadosamente departamentos de guerra clandestina que administravam os exércitos secretos e distribuíam as suas tarefas. Apenas alguns íntimos confiáveis sabiam da sua existência. À medida que cada unidade secreta ia sendo eventualmente exposta, o nome Gládio passou a ser aplicado a todas elas.”

No entanto, a esperada invasão soviética nunca ocorreu. E, assim, esses exércitos secretos encontraram outro propósito: deveriam ser usados contra o povo.

O desejo era o de que, ao encenar operações de bandeira falsa atribuídas aos comunistas, isso, por sua vez, provocasse pânico e repulsa e enviasse os eleitores para os braços acolhedores de um governo de direita seguro.

Richard Cottrell escreve:      

“Bandos de soldados secretos e suas coortes receberam ordens para atirar, bombardear, mutilar e matar os seus próprios cidadãos. Os Estados Unidos proibiram quaisquer Estados europeus soberanos de colocar ministros comunistas no governo. Todos os movimentos da esquerda caíram sob suspeita de disfarces de Moscovo.”

A Itália, que tinha o maior e mais poderoso partido comunista da Europa, seria o primeiro da lista.

Esperava-se que o Partido Comunista da Itália, admirado por liderar a luta contra Mussolini, vencesse as primeiras eleições italianas do pós-guerra, em junho de 1946. Isso, é claro, era considerado intolerável sob o ditame da Cortina de Ferro.

O jornalista de investigação Christopher Simpson descreve no seu livro “Blowback” [Contragolpe] como uma parte substancial do financiamento para a oposição ao Partido Comunista da Itália, que era o Partido Democrata Cristão, veio de ativistas nazis capturados (em grande parte detidos pelos americanos). Essa intervenção fez pender a balança a favor do Partido Democrata Cristão da Itália, que escondia milhares de fascistas nas suas fileiras.

O Partido Democrata Cristão seria o partido dominante na Itália durante cinco décadas, nos anos da Operação Gládio, até ser dissolvido em 1994.

Para garantir que não surgisse mais apoio comunista na Itália, a Operação Gládio, com conhecimento e apoio da CIA, MI6 e agências de inteligência europeias, liderou uma campanha de violência brutal contra os italianos que se estendeu por quase duas décadas conhecida como os “anos de chumbo”, os anni di piombo.

Em 1959, uma ata de um briefing interno da NATO (datada de 1º de junho de 1959) caiu nas mãos de um jornal britânico, revelando que a tarefa das unidades “ficar para trás” tinha sido formalmente mudada para enfrentar a “subversão interna”. Os exércitos secretos passaram a desempenhar um “papel determinante… não apenas no nível geral da política de guerra, mas também nas políticas de emergência”. (4)

Isso significava que um exército secreto de unidades  “ficar para trás”, sob a direção da NATO, na ausência de uma ameaça soviética, deveria direcionar as suas ações para assuntos internos que incluíam espionagem e atos de terrorismo contra os cidadãos da Europa com o apoio e cobertura das unidades policiais dessas nações. Isso seria usado para centralizar ainda mais o controle dentro dos governos de direita que apoiavam o aparelho da NATO.

A Operação Gládio, que usava a tática Estratégia de Tensão, funcionava em três níveis básicos. A primeira era uma guerra de guerrilha a ser travada principalmente nas ruas, a fim de fortalecer a lealdade longe da União Soviética.

O segundo nível, era a frente política e envolveria conspirações inspiradas na NATO, como alegar que certos governos estavam em conluio secreto com a URSS, a fim de derrubar governos democraticamente eleitos hostis ao aparelho estatal da NATO e substituí-los por regimes fantoches mais flexíveis.

O terceiro nível era o assassinato (duro e suave) de figuras que eram consideradas obstrutivas para os objetivos da NATO. Exemplos disso incluem o assassinato do ex-primeiro-ministro da Itália Aldo Moro, em 1978, o primeiro-ministro da Suécia Olof Palme, em 1986 (conhecido como o JFK da Suécia), o primeiro-ministro da Turquia Adnan Menderes, em 1961 juntamente com dois colegas de gabinete e o presidente dos EUA Kennedy em 1963. Assim como o assassinato suave (assassinato de caráter) do primeiro-ministro britânico Harold Wilson. Esses assassinatos seriam seguidos por um golpe de apoio da NATO e dos EUA.

As tentativas de assassinato da Operação Gládio incluem o Presidente de Gaulle (mais informações sobre isso em breve) e o Papa João Paulo II (para detalhes, consulte o livro de Richard Cottrell).

O arquiteto da Operação Gládio foi Yves Guerin-Serac, um mentor em operações negras.

Yves Guerin-Serac: o Grão-Mestre Black Ops [Operações Negras] por trás da Operação Gládio

 “Ele [Yves Guerin-Serac] era escravo da sua visão pessoal de uma Nova Ordem Mundial Cristão-Fascista. Também foi mentor intelectual do terrorismo Gládio. Escreveu os manuais básicos de treino e propaganda que podem ser descritos com justiça como a ordem de batalha do Gládio”

            - Richard Cottrell, “Gládio: Adaga da NATO no coração da Europa”

Guerin-Serac foi um herói de guerra, rebelde argelino, agente provocador, assassino, bombista, agente de espionagem, católico messiânico e grande mestre intelectual por trás da Estratégia de Tensão/Operação Gládio.

Guerin-Serac publicou via Aginter Press o manual Gládio, incluindo “A nossa Atividade Política” no que pode ser adequadamente descrito como o seu Primeiro Mandamento:

“A nossa crença é que a primeira fase da atividade política deve ser criar as condições que favoreçam a instalação do caos em todas as estruturas do regime … cobertura de atividades comunistas e pró-soviéticas ... Além disso, temos pessoas que se infiltraram nesses grupos." [sublinhado nosso]

Guerin-Serac continua:

“Duas formas de terrorismo podem provocar tal situação [quebra do Estado]: o terrorismo cego (cometendo massacres indiscriminadamente que causam um grande número de vítimas) e o terrorismo seletivo (elimina pessoas escolhidas)…”

Essa destruição do Estado deve ser realizada sob a cobertura de 'atividades comunistas'. Depois disso, devemos intervir no seio dos militares, do poder jurídico e da igreja, para influenciar a opinião popular, sugerir uma solução e demonstrar claramente a fragilidade do atual aparelho jurídico. A opinião pública deve ser polarizada de tal forma, que estejamos a ser apresentados como o único instrumento capaz de salvar a nação." [sublinhado nosso]

A violência aleatória anárquica seria a solução para provocar tal estado de instabilidade, permitindo assim um sistema completamente novo, uma ordem autoritária global.

Yves Guerin-Serac, que era um fascista declarado, não seria o primeiro a usar táticas de bandeira falsa que eram atribuídas aos comunistas e usadas para justificar um controle policial e militar mais rigoroso do estado.

Em 27 de fevereiro de 1933, Hermann Göring, vice-comandante de Hitler, gritou do lado de fora do incêndio do Reichstag:

“Este é o começo da revolução comunista! Não devemos esperar um minuto. Não mostraremos misericórdia. Qualquer oficial comunista deve ser fuzilado, onde for encontrado. Qualquer deputado comunista deve ser enforcado neste mesmo dia!” (5)

É incrível que os ocidentais pareçam nunca se cansar desta forma de drama, não importa quantas vezes o tenham visto representar.

A linha de bode expiatório também é algo de que parecem nunca se cansar. No caso do incêndio do Reichstag, agora amplamente reconhecido como uma bandeira falsa, foi algum judeu holandês confuso que foi imediatamente acusado.

No dia seguinte ao incêndio, seis dias antes das eleições gerais marcadas, Hitler convenceu o idoso e confuso presidente von Hindenburg (o ícone da Primeira Guerra Mundial) de que a crise era de uma gravidade tão profunda que só poderia ser enfrentada com a abolição completa de todas as liberdades pessoais.

A “Lei de Incêndio do Reichstag” conferida por Hindenburg deu a Hitler muitos dos instrumentos de que ele precisava para uma tomada total do poder. Em duas semanas, a democracia parlamentar também foi reduzida às brasas fumegantes da história.

Não seria a única bandeira falsa orquestrada por Hitler.

Cottrell escreve:

“As unidades das SS forçaram um pequeno grupo de vítimas do campo de concentração 'libertadas' de Buchenwald, disfarçadas com uniformes polacos, a encenar um ataque simulado de bandeira falsa à torre de rádio principal no estado livre de Dantzig, controlado pelos nazis. Citando a provocação dos polacos, seguiu-se a invasão alemã da Polónia.”

Guerin-Serac passou a vida escravizado por um novo Império Negro que ele sonhava para combinar a divindade universal da igreja romana com os Estados Unidos e a Europa como sucessor do Sacro Império Romano. Era o fascismo cristão.

Pertencia a várias seitas antigas, incluindo a primeira geração de ex-nazis e fascistas. Também pertencia a um clã veterano de oficiais franceses de sangue nas lutas indo-chinesas e coreanas, e era membro da tropa de elite da 11ème Demi-Brigade Parachutiste du Choc [11ª Meia-Brigada de Paraquedistas de Choque], que trabalhava com a SDECE (agência de inteligência francesa).

A sua conexão com a espionagem francesa seria fundamental para se tornar um membro fundador da Organization Armée Secrète (OAS) [Organização Exército Secreto], um grupo terrorista francês, formado por oficiais franceses descontentes, com sede na Espanha, que lutou contra a independência da Argélia.

Guerin-Serac formaria uma intrincada rede paramilitar e terrorista em toda a Europa, bem como instalações de treino ao serviço da Operação Gládio, através da cobertura da Aginter Press.

Richard Cottrell escreve:

“Guerin-Serac chegou a Lisboa em 1966 com um projeto inspirador para a próxima etapa da luta contra o liberalismo ateu. Ele propôs... uma organização que atuaria como nada menos que uma agência internacional de viagens para terroristas. O principal financiamento foi fornecido pela CIA, segundo a Comissão Pellegrino criada em 1995 pelo Senado italiano para investigar os anni di piombo [anos de chumbo]. Guido Salvini foi o magistrado nomeado para examinar o atentado de 1969 ao banco agrícola na Piazza Fontana de Milão, que atribuiu firmemente a culpa à Aginter Press de Guerin-Serac. Salvini disse aos senadores que os agentes da Aginter estavam ativos na Itália desde 1967, instruindo organizações neofascistas militantes locais no uso de explosivos. A partir desta pepita, a CIA está positivamente ligada à onda de terrorismo Gládio que varre a Europa.”

A Aginter Press, por trás da simples fachada comercial, era uma rede invisível projetada para transportar terroristas através da Europa, da América Latina e África, fornecendo documentos e passaportes falsos para assassinos que se faziam passar por repórteres e fotógrafos, incluindo Guerin-Serac.

Cottrell continua:

“ A Aginter… era uma escola de especialização da Gládio, onde eram treinados  recrutas para os exércitos secretos de toda a Europa nas artes de fabricação de bombas, assassinatos, operações psicológicas, desestabilização e contra-insurgência. Muito disso foi emprestado dos livros didáticos do centro de guerra secreta do Exército dos EUA em Fort Bragg. De vez em quando, instrutores convidados incluíam membros do SAS britânico, os Boinas Verdes e… oficiais do Exército francês que se transformaram em mercenários… Guerin-Serac foi alegremente convocado para a vizinha Espanha para organizar os esquadrões da morte esmagando a resistência ao regime de Franco. As atividades da Aginter foram detetadas em todos os países onde a Estratégia de Tensão operou em volume máximo: Turquia, Grécia, Chipre, Itália, Alemanha e Bélgica.”

De Gaulle vs. NATO

            “A França está determinada a recuperar, em todo o seu território, o pleno exercício da    sua soberania.”

            – Presidente da França Charles de Gaulle

Após a Segunda Guerra Mundial, houve uma pressão crescente para que as nações europeias se comprometessem com os ditames da NATO. O Presidente da França (1959-1969), Charles de Gaulle, discordou. Um dos pontos principais desse desacordo era a force de frappe (força de ataque nuclear), que de Gaulle acreditava deveria ser mantida firmemente fora do controle da NATO. Ele recusou a perspetiva de a França ser automaticamente arrastada para uma guerra de tiros entre a NATO e o Pacto de Varsóvia.

Cottrell escreve:

            “Tão profundos foram esses atritos que a França deixou a estrutura de comando integrado da aliança em 1960, o primeiro passo no caminho para retomar a independência militar total.”

A busca implacável de De Gaulle do nacionalismo francês e da independência nas políticas externa e militar era claramente incompatível com a carta do Atlântico Norte.

Quando de Gaulle começou a falar em entregar a independência da Argélia, foi decidido por ex-aliados e membros dos seus próprios militares e polícias que De Gaulle tinha de sair.

Em 21 de abril de 1961, um plano para derrubar o Presidente de Gaulle, organizado pela OEA, entrou em ação.

Escreve Cottrell:

“Naquele dia, quatro generais descontentes conhecidos como 'ultragrupo' deram um golpe em Argel. Com o centro civil em Washington, o Pentágono e a sede da NATO na França estavam todos implicados na conspiração para eliminar o presidente e garantir a Argélia para o Ocidente. O líder do golpe, general da Força Aérea Maurice Challe, foi anteriormente comandante das forças da NATO na Europa Central.” [sublinhado nosso]

Cottrell continua:

“As forças de Challe na Argélia foram secretamente preparadas com finanças usando canais intimamente ligados ao Gládio francês … em Argel. Challe foi informado de que, se conseguisse controlar o país em 48 horas, o governo dos EUA reconheceria formalmente o seu regime…

Os primeiros esboços do golpe foram acordados no verão de 1960, quando o ex-governador da Argélia, Jacques Soustelle, teve uma conversa secreta com Bissell.  No mesmo ano, Challe  encenou a sua demissão da NATO. Em janeiro de 1961... os principais conspiradores... reunidos… o principal item da agenda era formar a OEA como um governo alternativo, para se seguir a De Gaulle depois de derrubado. Figuras-chave do Plan Bleu [Plano Azul] estavam todas presentes.” [sublinhado nosso]

Haveria mais de 30 tentativas contra a vida de de Gaulle durante a sua presidência. O presidente de Gaulle não tinha dúvidas de que a verdadeira ameaça à sua vida vinha dos soldados secretos reunidos sob o guarda-chuva da NATO.

Segundo Cottrell, foi Jacques Foccart, conselheiro-chefe de De Gaulle, que o informou sobre a conexão do Permindex/World Trade Center (WTC) com a OEA.  Foccart encerrou as operações da Permindex e WTC em solo suíço. [A Parte 4 discutirá o papel do Permindex e do WTC em mais detalhes.]

A coligação NATO/CIA tinha patrocinado pelo menos duas tentativas para eliminar de Gaulle. O general Lyman Lemnitzer, Comandante Supremo Aliado da NATO (1963-1969) estava entre os principais agitadores.

Em 1965, de Gaulle soube de mais uma conspiração inspirada na NATO para o matar. Seria a gota de água. De Gaulle avisou imediatamente a sede da NATO que devia retirar-se completamente dentro de 6 meses. Além disso, o general Lemnitzer recebeu ordens sumárias de de Gaulle para deixar a NATO. Pela segunda vez na sua ilustre carreira, seria demitido (a primeira foi pelo presidente Kennedy).[Mais detalhes na Parte 4].

A retirada forçou a mudança da sede da NATO SHAPE (Supreme Headquarters Allied Powers Europe) [Sede suprema dos poderes aliados na Europa] de Rocquencourt, perto de Paris, para Casteau, na Bélgica, em 16 de outubro de 1967.

Após 43 anos, em 2009, a França voltaria a integrar a NATO, decisão do presidente Nicolas Sarkozy. Cottrell acrescenta que Sarkozy teve um histórico interessante de vencer eleições com intervenções dramáticas perfeitamente cronometradas pós-terror…

No silêncio de uma pequena cidade

“O tráfico sexual, a pedofilia industrial, as reportagens de pacotilha para chantagem política e financeira, ou apenas para fins lucrativos, estavam todos enredados numa teia negra de espiões, tráfico de droga oficialmente conivente, a rede paramilitar secreta  e a constante intromissão do alto comando da NATO nos assuntos internos do país.”

Richard Cottrell, “Gládio: Adaga da NATO no Coração da Europa”

A Bélgica é composta por uma população étnica flamenga e francesa. Durante a Segunda Guerra Mundial, muitos flamengos, aberta ou simbolicamente, ficaram do lado dos alemães, na esperança de que a nacionalidade flamenga – mesmo dentro de uma comunidade nazi – acabasse com a Bélgica.

Cottrell escreve:

“Um resíduo da confraternização do tempo de guerra com os alemães levou ao simbolismo pagão ao estilo nazi e às cerimónias místicas de ligação de sangue dentro da rede belga da extrema-direita e de elementos das forças armadas nacionais, que em qualquer caso se inclinavam para a direita. Esse traço místico foi desenhado para um significado arrepiante na formação de muitas das perversões que ainda se  forjam na Bélgica. ”[sublinhado nosso]

Quando as instituições nascentes da UE começaram a procurar uma casa, escolheram Bruxelas precisamente por causa da sua imagem de pequeno país neutral como “cockpit da Europa”. A Bélgica estava totalmente impreparada para lidar com os seus impostores estrangeiros e para o que se seguiria.

Escreve Cottrell:

“E o que veio a seguir foi a NATO, despejada da França em circunstâncias insalubres. Os guerreiros que chegaram foram transformando esse estado já esquizofrénico no Reino da NATO. Logo atrás deles veio a rápida expansão das instituições federais europeias e a corrida para dentro de grandes corporações, ansiosas por se aproximarem o mais possível dos conselhos desses dois grandes califados, as mais poderosas alianças militares e económicas que o mundo viu desde o Império Romano.”

A pequena Bélgica logo teve o segundo mais poderoso e intrusivo cartel do crime na Europa Ocidental. Em muito pouco tempo, o cockpit da Europa também foi o seu principal centro de narcóticos e armas ilegais, com uma linha secundária de tráfico sexual.

De acordo com Cottrell, a CIA recrutou nazis belgas – principalmente, mas não exclusivamente, flamengos – assim que a guerra terminou, e selecionou-os  para altos cargos nos níveis estadual e provincial. Tais "ex" figuras nazis belgas foram protegidas da justiça e libertadas da prisão sob a proteção da CIA.

As maquinações da NATO em conjunto com os especialistas importados do General Lemnitzer em contra-insurgência foram responsáveis pela formação das operações do Gládio belga, dividido escrupulosamente ao longo de linhas politicamente corretas em divisões SDRA-8 (francês) e STC/Mob (flamengo).

Cottrell escreve:

“Segundo o jornalista Manuel Abramowitz – um dos principais investigadores da extrema direita na Bélgica – os neonazis foram incitados a infiltrar-se em todos os mecanismos do Estado, com atenção especial reservada à polícia e ao exército. Na década de 1980, esse nível de penetração tinha-se tornado tão profundo – graças a frentes fascistas como a milícia neonazi Westland New Post e a sua contraparte francófona, Front de la Jeunesse – que as forças militares belgas caíram quase inteiramente sob controle extremista. Nem uma única vez, após as muitas operações de bandeira falsa nas décadas seguintes, surgiram provas convincentes de uma força subversiva de esquerda coordenada credível operando em solo belga, enquanto organizações sediciosas da extrema direita floresciam abertamente." [sublinhado nosso]

O senador Hugo Coveliers, presidente do comité especial que investiga o gangsterismo e o terrorismo na Bélgica (1988-1990), rastreou a presença de materiais incriminatórios numa unidade especial chamada “polícia judiciária”.

Aqui está o que Coveliers disse sobre o que ficou conhecido como o “escândalo dos Dossiês -X”:

“Imagine que ouve em toda a parte a história de um dossiê de chantagem em que organizações de extrema direita estão de posse de fotos e vídeos em que várias pessoas proeminentes em Bruxelas e arredores fazem sexo com meninas;  menores, diz-se. A existência desse dossiê sempre foi negada com veemência, até se provar que os testemunhos e vídeos deste caso estavam de facto na posse dos serviços policiais.

O dossiê, a princípio inexistente, acaba por existir. Os vídeos sem substância acabam por ser suficientemente interessantes para serem entregues ao juiz de instrução encarregado da investigação do Gangue de Nivelles [responsável por alguns dos massacres nas lojas]. Mas essa pessoa tem medo de testemunhar sobre isso! O que acha que está a acontecer aqui?” (6)

Cottrell explora esses caminhos em grande detalhe no seu livro. Ele conclui que essas redes de tráfico sexual na Bélgica, envolvendo abuso e assassinato de crianças, são incentivadas entre as pessoas públicas por duas razões.

A primeira é produzir chantagem incriminatória, impossibilitando a retirada política. A segunda possibilidade é que algumas dessas atividades que foram registadas e mantidas em arquivos ultra-secretos fizessem parte de cerimónias iniciáticas ocultistas.

Cottrell escreve:

“Alegou-se que isso envolvia traços neonazis pagãos, como rituais de sangue, praticados por elementos dentro das forças secretas do Estado, bem como a estrutura militar ortodoxa.”

Neste contexto, o recente escândalo no Twitter da NATO, postando o símbolo oculto do Sol Negro Nazi no último Dia Internacional da Mulher, pode não ter sido um deslize, afinal…

Estado paralelo secreto da Itália

“Éramos um único corpo – bandidos, polícias e máfia, como o Pai, o Filho e o Espírito Santo.”

– depoimento de Gaspare Pisciotta durante o julgamento do massacre de Portella della Ginestra

Em junho de 1981, foi feita uma descoberta surpreendente que ganhou as manchetes em todo o mundo, inclusive com a revista TIME. Foi encontrada uma lista de quase 1 000 indivíduos da respeitável sociedade italiana como parte de um grupo secreto quase maçónico, a Loja Propaganda Due (P2), “um estado dentro de um Estado”.

O escândalo da P2 provocou a queda do gabinete do primeiro-ministro Forlani que, descobriu-se, tinha membros seus na loja P2.

A lista foi encontrada nas instalações do proeminente financista italiano Licio Gelli durante uma rusga policial. Gelli era o grande mestre da loja P2 e proeminente acólito de Benito Mussolini. O seu único objetivo era a restauração do fascismo italiano.

Entre a lista negra de quase 1 000 indivíduos, estavam os cavalheiros (membros da Propaganda Due) que planeavam tomar o poder e instalar uma república fascista.

As descrições da loja Propaganda Due na Itália mostravam fortemente o envolvimento em relatos de cerimónias místicas, juramentos de fidelidade e votos de união.

Gelli fugiu para a América do Sul via Suíça. Curiosamente, ele estaria no Chile durante o reinado de Pinochet. Gelli passaria por vários julgamentos, alguns à revelia, na Suíça e na Itália, acusado de atos de terrorismo entre outros crimes. [Consulte aqui para mais detalhes.]

Outra cosa que Gelli deixou na sua mansão quando fugiu foi il piano di rinascita democratica, o Plano de Renovação Democrática, descrevendo em detalhe cada passo do pretendido putsch Gládio apoiado pela NATO e a ascensão do Estado profundo italiano como um protetorado americano e, posteriormente, da NATO. (7) O arquiteto-chefe foi o próprio Gelli.

Foi através de Gelli que a CIA financiou o Partido Democrata Cristão, que mantinha vários fascistas entre os seus membros.

Federico D'Amato foi um agente secreto italiano, que liderou o Departamento de Assuntos Reservados do Ministério do Interior (Itália) da década de 1950 até a década de 1970, quando a atividade do serviço de inteligência era secreta e não conhecida publicamente.

D'Amato tornou-se o chefe do Departamento Especial do Tratado do Atlântico Norte, um elo entre a NATO e os Estados Unidos.(8)

A principal responsabilidade de D'Amato era um núcleo secreto de Carabinieri (a gendarmaria nacional da Itália que realiza principalmente tarefas de policiamento interno) localizado dentro do Ministério do Interior sob seu controle pessoal. Este era o Departamento dos Assuntos Reservados, também conhecido como Serviço de Proteção. (9)

Escreve Cottrell:

“Este corpo sombrio [Serviço de Proteção] era um companheiro de cama com o OSS (mais tarde a CIA) num escritório bem disfarçado na Via Sicilia de Roma .”

D'Amato foi o delegado escolhido a dedo que negociou o Pacto do Atlântico, precursor da NATO, em nome da Itália. O Serviço de Proteção, sob o controle de D'Amato, foi a génese inicial de Gládio.

Em 1969, a Itália estava tão envolvida numa crise política que nas suas raízes era em grande parte artificial. A enorme explosão na Banca Nazionale dell'Agricoltura na Piazza Fontana de Milão, em 12 de dezembro de 1969, marcou o início das hostilidades que ficaram conhecidas como os anos do chumbo. A culpa foi imediatamente atribuída aos mesmos radicais esquerdistas acusados de provocar distúrbios no coração industrial italiano.

O magistrado encarregado da investigação, Guido Salvina, começou a investigar o caso em 1988 e concluiu que o bombardeamento do banco agrícola foi uma operação planeada entre a Aginter Press de Yves Guerin-Serac e duas proeminentes organizações neofascistas italianas Ordine Nuova (New Order) e Avanguardia Nazionale (Guarda Nacional Avançada).

Em agosto de 1990, o primeiro-ministro italiano Guilio Andreotti, líder do Partido Democrata Cristão (seis vezes primeiro-ministro, um sétimo mandato se seguiria), foi convocado para uma comissão especial de inquérito reunida à pressa pelo Senado para investigar os relatos de que existia um Estado paralelo secreto em solo italiano. E, além disso, que esse Estado paralelo secreto estava equipado com o seu próprio exército de comando clandestino operando fora das estruturas militares estabelecidas.

Andreotti admitiu que durante muitos anos a Itália realmente abrigou um exército clandestino. No entanto, era formalmente um elemento da estrutura permanente da NATO. Ele assegurou calmamente aos seus ouvintes que nada era mais ameaçador do que uma precaução prudente para defender a Itália em caso de invasão pelos soviéticos. Quando a ameaça pareceu diminuir, Andreotti alegou que os soldados secretos tinham sido dissolvidos em 1971. Andreotti insistiu que era segredo apenas porque os russos não  podiam saber nada sobre o chamado exército “ficar para trás”. Acrescentou que, em qualquer caso, a Itália não estava sozinha, já que todos os países da NATO tinham essas forças. 

Durante o seu depoimento, Andreotti admitiu que esse exército secreto era conhecido como Gládio e que tinha depósitos de armas bem abastecidos em todos os cantos da terra. Esses depósitos de munições foram fornecidos pela NATO.

No entanto, o que Andreotti não revelou durante seu depoimento foi que ele fazia parte do próprio Gládio, era um poderoso acionista da Itália subterrânea durante muitos anos.

Andreotti foi quem substituiu o assassinado Aldo Moro, mencionado anteriormente como uma das vítimas do Gládio, como primeiro-ministro da Itália.

Vinciguerra, que foi membro da organização neofascista Ordine Nuovo e Avanguardia Nazionale, que realizou atos terroristas e assassinatos, está atualmente a cumprir prisão perpétua pelo assassinato de três Carabinieri por um carro-bomba em Peteano em 1972. Os seus depoimentos ajudaram a juntar as redes Gládio em toda a Europa Ocidental, que estavam a ser investigadas pelo promotor Felice Casson.

Em entrevista ao The Guardian, Vinciguerra discute como ele e os seus amigos foram subcontratados para o que ele descreveu como:

“super-organização que, na falta de uma invasão militar soviética...

E, assim, quando há conversas de tais contrapartes ocidentais que hoje alegam “avisos” de operações de bandeira falsa dos nossos supostos inimigos, eu sugiro que se tome isso não como um grão, mas sim com uma libra de sal.

Notas:

(1) Susan Butler. (2015) Roosevelt e Stalin: Retrato de uma parceria. Alfred A. Knopf New York Editora: pág. 165
(2) L. Fletcher Prouty. (1992) A CIA, o Vietname e a conspiração para assassinar John F. Kennedy. A Birch Lane Press Book, Carol Publishing Group: pg.12
(3) Para o conteúdo da Operação Gládio, o excelente jornalismo de investigação de Richard Cottrell no seu livro “Gládio: NATO's Dagger at the Heart of Europe” deverá ser a principal referência. Richard Cottrell é ex-deputado do Parlamento Europeu e jornalista de investigação.Cottrell também conduziu investigações formais decididas pelo Parlamento Europeu

(4) Richard Cottrell. (2015) Imprensa Progressiva. Gládio: Adaga da NATO no Coração da Europa.
(5) William L. Shirer. (1959) A Ascensão e Queda do Terceiro Reich: Uma História da Alemanha Nazi. Brochuras Simon & Schuster: pág.192
(6) Richard Cottrell. (2015) Imprensa Progressiva. Gládio: Adaga da NATO no Coração da Europa.
(7) Ibid
(8) Ibid
(9) Ibid

Fonte: https://www.strategic-culture.org/news/2022/04/14/operation-gladio-how-nato-conducted-secret-war-against-european-citizens-and-their-democratically-elected-governments/ , publicado e acedido em 14.04.2022

Tradução de TAM

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