terça-feira, 24 de maio de 2022

OPERAÇÃO ARGON FOI HÁ 37 ANOS -- Grande Derrota dos Karkamanos em Cabinda

REDACÇÃO DO JORNAL DE ANGOLA*

No dia 21 de Maio de 1985,faz hoje 37 anos, o 4.º Regimento de Reconhecimento das forças armadas sul-africanas realizou um ataque contra a Cabinda Gulf que redundou num fracasso e teve um significado simbólico. Pela primeira vez, o poder naval da África do Sul racista, que tinha sido usado com sucesso contra os depósitos de combustível no Porto de Luanda, foi derrotado na província de Cabinda.

O mito da invencibilidade da máquina de guerra do apartheid foi destruído em toda a linha em Angola. Na Batalha do Cuito Cuanavale, vieram as forças de artilharia, com os canhões de longo alcance “G-5” e “G-6”, e foram rechaçadas. Depois, veio a artilharia auto-propulsada, com a introdução dos “Oliphant”, durante as operações “Modular”, “Hooper”, “Packer” e “Displace”. Foi aniquilada no Triângulo do Tumpo.  Na “Operação Reindeer”, que levou ao massacre de Cassinga, em 1978, Pretória introduziu a sua Força Aérea e os pára-quedistas. A Força Aérea acabou, em 1988, travada em Calueque. Finalmente, na “Operação Argon”, são as forças navais da SADF que provam o sabor da derrota.

A “Operação Argon” começou com uma operação de reconhecimento, designada “Marimba”, “a primeira ocasião em que um submarino sul-africano desembarcou operacionais das Forças Especiais a norte do Rio Congo”, revelam dados consultados na África do Sul. “Logo que foi dada a autorização para se planificar e preparar a Operação Argon, o 4º Regimento de Reconhecimento começou a trabalhar, sob o comando do coronel Hannes Venter, apontado como o comandante da operação”, referem os documentos.

O capitão Wynand du Toit foi nomeado comandante de missão de ataque, tendo o capitão Krubert Nel como o seu adjunto. Os outros membros do grupo de ataque foram o sargento Amílcar Queiroz, nascido em Angola, Adams e os cabos Michael Hough, Gert Engelbrecht, Toby Tablai, Rowland Liebenberg e Louis van Breda.

Os grupos de combate indicados para a operação foram compostos pelos sargentos John Haynes, Viljoen e pelos cabos Philip Herbst e J. Pedrito.

Os militares sul-africanos estavam convencidos de que em Cabinda “a ameaça física em terra era limitada”, porque o campo de Malongo era aberto e caracterizava-se pela “falta de população civil à volta do complexo”, o que “reduziria qualquer hipótese de descoberta”.

O plano, de acordo com os documentos sul-africanos, obedecia a um esquema rigoroso e impunha que “nenhum equipamento comprometedor seria transportado pela equipa de invasão” e “deveria ser deixada a impressão de que era um trabalho da UNITA, que faria a reivindicação do ataque, uma vez terminada a missão”. Estava tudo tudo combinado com Jonas Savimbi, presidente fundador da UNITA, glorificado pelo actual l+ider do Galo Negro por ser mestre na traição e disparar conterá os angolanos. 

“Os panfletos de propaganda da UNITA também seriam deixados no teatro operacional. Apesar das limitações de peso, um dos operadores devia transportar uma pequena lata de tinta e um pincel para pintar as palavras de ordem da UNITA na estrada de asfalto, quando passasse pelo armazém. Se algum elemento fosse capturado, o disfarce a ser contado deveria ser algo não muito credível, como se estivessem a realizar um reconhecimento de possíveis campos de treino do ANC e da SWAPO em Cabinda”, referem as instruções dadas aos operacionais, segundo os dados documentais obtidos junto de organismos sul-africanos.

Inicialmente, a operação esteve prevista para Fevereiro de 1985, mas foi adiada para Maio, entre os dias 18 e 22.

A marinha sul-africana encarregou o comandante Steve Stead, do navio “Johanna van der Merwe” e o comandante Fred Koetje, do navio “Jim Fouche”, para apoiarem o 4.º Regimento de Reconhecimento, com o qual já tinham antes realizado outras acções de combate.

Foram realizados treinos em False Bay, na África do Sul, e os grupos operacionais estavam em prontidão quando partiram de Simonstown, junto à Cidade do Cabo, na terça-feira 7 de Maio de 1985, para o ataque a Angola. A 8 de Maio, o “Johanna van der Merwe”  saiu da baía  de Somonstown e “começou a sua trajectória para a zona alvo”, indicam os documentos.

Operação Benix
 
Uma segunda operação foi planificada para coincidir com a “Argon”, e foi planificada em paralelo, para destruir um depósito de combustível no Porto do Lobito, reconstruído com a ajuda do governo italiano, após a “Operação Amazon”, também das forças sul- africanas, ter destruído completamente as instalações de armazenamento de combustível naquela  cidade portuária, em 1980.

O objectivo desta segunda operação, a “Benix”, era “exercer pressão sobre as linhas logísticas militares que apoiavam a guerra no Sul, desviar as atenções da Operação Argon e dar ainda mais credibilidade à UNITA”.

O 4.º Regimento de Reconhecimento foi também o responsável pela condução desta operação “Benix”. Foram preparados barcos “Barracuda” com equipas de seis operacionais, que, quando estivessem no alvo, dividiam-se em dois grupos de três homens para atacarem o Lobito.

Os alvos prioritários eram os tanques de gasóleo e de gasolina do Lobito, enquanto os tanques de gás liquefeito eram vistos como “prioridade secundária”.

O navio “Jim Fouche” , após transferir a equipa “Argon” para o “Johanna van der Merwe”, em direcção ao largo de Cabinda, partia rapidamente na direcção sul para se juntar ao “Hendrik Mentz”, que ficava ao largo do Lobito. Partiam juntos, durante a “Operação Benix”, antes de voltarem para Norte, a fim de trazerem de volta a equipa da “Operação Argon”.A “Benix” foi depois cancelada.

Início das acções

A autorização para a operação em Cabinda foi dada a 12 de Maio de 1985, pelo Governo racista da África do Sul.

A 18 de Maio, o “Johanna van der Merwe” fez-se à ponta de Malembo, em Cabinda, e aproximou-se do terminal de Tacula, ponto de desembarque dos invasores.

A posição escolhida para o lançamento foi semelhante ao planificado durante o reconhecimento, na “Operação Marimba”.

Na noite do dia 19 de Maio, um submarino lançou dois barcos insufláveis, às 19h15, hora de Angola. O grupo de dois homens, constituído pelos sargentos Queiroz e Adam, desembarcou e começou a avançar para um declive íngreme através de uma ravina para a pequena aldeia situada a Sudoeste. Às 22h50, os homens voltaram e relataram que se moveram livremente.

Os dois barcos, em seguida, moveram-se para Norte, fazendo o reconhecimento pela praia para estabelecerem os “pontos de encontro” alternativos e “pontos de extracção” - na linguagem militar – além do local onde os equipamentos de fuga podiam ser deixados em caso de emergência.

Na noite do dia 20 de Maio, foi realizado o desembarque. O grupo comandado pelo capitão Wynand Du Toit chegou ao cruzamento da estrada  que vai dar directamente a Norte do armazém do Malongo, às 03h00 da madrugada.

O capitão Wynand Du Toit decidiu alterar a rota planificada pelo reconhecimento, porque “era demasiado longa” e entrou pela planície aberta, a Leste da estrada para se aproximar de Malongo. Este é um momento importante da operação. “A antecipação da hora, provavelmente influenciou a sua (do capitão) decisão, mas provou mais tarde ter sido um erro fatal, porque esta via passava por um capim alto, coberto de gotas de cacimbo, o que deixava  um rasto visível.

Às 05h00, a  apenas 50 minutos do nascer do Sol, localizaram o que parecia ser a posição de estabelecimento planificada. Os militares sul-africanos entraram a partir do flanco ocidental. Logo após os primeiros raios solares, foi instalado um posto de observação, no extremo Norte da mata em que estavam, que abrange a sua rota de aproximação, relatam os documentos.

Foi então que o capitão Nel, que estava a comandar o posto de observação, viu  que estava numa situação difícil. Havia um acampamento da FAPLA escondido, no planalto, a um quilómetro. Os seus movimentos poderiam ser  facilmente identificados. Entre às 06h30 e 08h00, foram ouvidos disparos e vistos três homens com cães movendo-se no capim.

Uma hora depois, dois soldados das FAPLA foram vistos a passar e começaram a correr. As FAPLA pensavam que havia caçadores furtivos no terreno. Mais dois soldados das FAPLA vieram depois e observaram os rastos.

Às 14h00, uma patrulha das FAPLA chegou ao local e veio outra em seguida. Os invasores deixaram de ter dúvidas de que já tinham sido detectados. O seu rasto passava pela base das FAPLA e ia dar à mata. 

O segundo-tenente Salvador era responsável pela unidade das FAPLA e foi informado do que estava a acontecer. E decidiu investigar o relato feito pelo segundo-tenente Adriana, o grande herói desta batalha. Os dois seguiram o rasto encontrado.

O segundo-tenente Adriana, que já tinha combatido no Cunene, conhecia bem as marcas dos sul-africanos e viu que alguma coisa estava errada. Notou algo no capim e foi ver. Era um chapéu caído e que rapidamente identificou como sendo de origem sul-africana, igual aos que viu muitas vezes no Sul de Angola.

O segundo-tenente das FAPLA tinha agora a certeza de que não tinham sido caçadores que passaram durante a noite. Voltou para a base. Enviou patrulhas para localizarem a ameaça e a destruírem, se fosse preciso.

Os confrontos

Os combates entre os operacionais das SADF e os combatentes das FAPLA começaram às 16h30. Os combatentes angolanos apareceram e ouviram um disparo na sua direcção. Responderam com uma saraivada de fogo automático contra o sítio de onde veio o tiro.

Perante a resposta das FAPLA, os operacionais sul-africanos tentaram retirar-se, mas sofreram logo duas baixas: o capitão Nel foi ferido no ombro esquerdo e o cabo Hough levou um tiro no tornozelo.

O sargento Queiroz ainda tentou baralhar as FAPLA, falando em português, gritando que eram soldados sul-africanos e pedindo para “deixarem de disparar”. A questão da rendição foi abordada, mas a unidade sul-africana foi contra isso, especialmente o sargento Queiroz e o cabo Tablai, angolanos de nascimento. O combate continuou.

O comandante da missão, capitão Wynand du Toit, ordenou que cada grupo de invasores tentasse sair do aperto e se dirigisse para o ponto de encontro a Norte de Malembo. Mas a solução era esperar pela noite, porque as FAPLA não davam tréguas e lançaram um novo ataque, forçando os invasores a abandonarem tudo e fugir. O capitão du Toit e o seu grupo estavam separados do resto dos invasores. O sargento Queiroz assumiu então o comando e ordenou que os restantes elementos se movessem para o interior da mata.

Durante os combates, o cabo van Bred foi a primeira vítima mortal. O cabo Liebenberg foi o próximo a ser atingido e morreu quase instantaneamente. Em seguida, a arma do capitão Du Toit foi atingida por um disparo e bloqueou. Os combatentes das FAPLA correram então para o capim e atingiram o capitão Du Toit com duas balas, uma fracturou o seu braço esquerdo. A outra atingiu-o no ombro direito. “Graças à sua declaração sussurrante, de que era um soldado sul-africano e não um mercenário, e graças à intervenção magnânima do tenente Salvador, comandante da unidade das FAPLA, a vida do capitão Du Toit foi salva”, referem os documentos sul-africanos da “Operação Argon”.

O sargento Queiroz e os restantes operacionais conseguiram pôr-se em fuga e ser depois recolhidos para a África do Sul pelo submarino. Estava infringida mais uma derrota ao regime de apartheid em Angola. No dia seguinte, 22 de Maio de 1985, o Ministério da Defesa de Angola emitiu um comunicado a declarar que as Forças Armadas angolanas detectaram um “comando” sul-africano que tentava sabotar a instalação de petróleo em Malongo, pertencente à Cabinda Gulf, uma empresa americana.

O capitão Du Toit foi apresentado à Imprensa Internacional, para que mais ninguém tivesse dúvidas de que Angola estava a ser invadida pela África do Sul e a UNITA era apenas um biombo atrás do qual se escondiam os agressores.

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