terça-feira, 24 de maio de 2022

A HORA DO BANDITISMO POLÍTICO -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O Professor Doutor Francisco Topa, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, diz que Agostinho Nerto “é uma figura acima do seu tempo, porque esteve do lado mais difícil, mais incómodo e mais incerto da vida – primeiro abraçando a Poesia e a Medicina como causas e como formas de luta; depois trocando a Poesia e a Medicina por uma liderança político-militar de risco, num contexto internacional particularmente volátil; por outro lado ainda, porque liderou a Independência de Angola e conduziu a sua administração naquele que terá sido até hoje o período mais difícil da sua história. Qualquer discussão séria sobre a sua figura não pode, pois, esquecer esses factos”.

O Povo que Agostinho Neto libertou e a Nação que fundou, são conspurcados por vermes da estirpe de Adalberto da Costa Júnior e seus comparsas da direcção da UNITA. Na primeira intervenção de fundo antes das eleições de Agosto, o engenheiro à civil, quis provar, pela enésima vez, que o Galo Negro só sabe destruir, matar e mentir. Savimbi morreu em 2002 e em 20 anos, os seus seguidores não foram capazes de aprender mais nada. Como já não andam de rédea solta, limitam-se a destruir bens públicos, sabotar linhas do caminho-de-ferro, postos de transftormação da energia, sistemas de distribuição de água. Contratam marginais para vandalizarem mobiliário urbano e tudo o que seja de partir.

Os sicários da UNITA já não têm as costas quentes por Portugal, EUA e África do Sul para matarem quem, encontravam pela frente. Para queimarem mulheres e crianças nas fogueiras da Jamba.  Bombardearem semanas e semanas seguidas vilas e cidades, matando milhares de civis indefesos, que cometeram o crime de morar nos locais para onde as tropas do criminoso de guerra Savimb i despejavam os obuses. Agora, envenenam os adversários e matam os incautos à falsa fé, para lançarem o medo e o terror entre as populações. Um à parte. António Costa, o Tio Célito, Mário Soares, Cavaco Silva e outros políticos portugueses nunca foram a Angola ver as vilas e cidades devastadas pela UNITA, as provas evidentes dos crimes de guerra da soldadesca do Galo Negro. Não Os pretos são para vender e matar!

Adalberto da Costa Júnior é um mentiroso compulsivo. Ele mesmo é uma mentira monstruosa, que vai do Cubal à serra do Lépi, em comprimento e em altura. Na sua primeira intervenção da campanha eleitoral garantiu aos eleitores que a sua primeira prioridade é uma revisão da Constituição da República “para tornar Angola num verdadeiro Estado de Direito e Democrático baseado no princípio de separação de poderes”. Tanta aldrabice. As revisões constitucionais exigem dois terços dos deputados. 

Neste momento a composição da Assembleia Nacional é esta: MPLA com 150 deputados eleitos, 51 da UNITA, 16 da coligação CASA-CE, dois do PRS e um da FNLA. Em Agosto vai ganhar com maioria qualificada e revê a Constituição da República. Se não ganhar, usa o truque do costume: Houve fraude eleitoral! E passa os próximos cinco anos a repetir a lenga- lenga. Até lá continua à boa vida, vivendo em grande. Os sicários da UNITA, tirando o tempo em que alugaram as armas ao colonialismo português e aos racistas sul-africanos, viveram sempre dos diamantes de sangue e dos cofres de quem os comprava ou alugava. Chegou a altura de fazerem algo de útil.

A próxima derrota eleitoral tem de significar o fim da mama. A FNLA tem um deputado e os outros membros do partido, da base à direcção, trabalham para comer e terem uma vida digna. Os sicários da UNITA têm de fazer o mesmo. O deputado eleito (vão mesmo eleger um?) fica com as mordomias e os outros todos  vão para a Jamba, mas no complexo mineiro de Cassinga. Vergam a mola e passa-lhes a mania de invocar fraude eleitoral. Um esclarecimento a Adalberto: A Constituição da República de Angola defende a separação de poderes. Não é preciso fazer uma revisão para contemplar o que já existe. 

O líder do Galo Negro promete que se ganhar as eleições vai garantir a “autonomia a Cabinda e às Lundas, como factor decisivo para pôr fim aos conflitos nessas regiões”. Mais uma vez a UNITA pisa o risco da integridade territorial. Vende Angola a troco de uns míseros votos que lhe dão, no máximo, dois deputados. 

A UNITA lutou de armas na mão, desde 1967, contra a Independência Nacional. A partir de 1976 lutou de armas na mão aso lado do regime racista de Pretória, contra a integridade territorial. Serviu de biombo à guerra de agressão da África do Sul contra Angola. Os “peritos” da CIA e outros serviços secretos ocidentais chamavam às agressões bélicas estrangeiras, “guerra civil”. Adalberto e a UNITA estão mortinhos por vender Cabinda e o Leste de Angola a quem lhes der mais. 

Quando Savimbi fundou a UNITA lá no Muangai conhecia o “protectorado” Lunda? Incluiu no seu programa político a “autonomia” de Cabinda e das Lundas? Dedicou uma só palavra ao tema? Nada. Nessa altura as autoridades colonialistas não lhe deram esse recado. E quando as tropas do Galo Negro, depois da derrota eleitoral de 1992, ocuparam minas de diamantes nas Lundas e roubaram os diamantes a mando dos patrões sul-africanos, também não deram sinais de que estivessem preocupados com a “autonomia”. Depois de escorraçados de quase todos os municípios do Moxico e das Lundas, os bandidos do Galo Negro ocuparam militarmente o Luau. Nem uma palavra sobre o “protectorado”.

Entre os beneficiários dos diamantes de sangue da UNITA há portugueses historiadores. Alguém tem de explicar ao Adalberto que a chamada “Bota do Dilolo” (nasce no Luau e o bico da bota é o saliente do Cazombo) passou a integrar a colónia de Angola quando Portugal entregou à Bélgica o vale do rio Mpozo. Uma permuta cujos termos estão vertidos no Tratado de Loanda (1927). Com este texto mando outro, que publiquei em 2012. Está lá tudo explicado. Até o Adalberto, se ainda sabe ler, percebe o que se passou, quando o Caminho-de-Ferro de Benguela avançou do Luena em direcção à fronteira com o Congo Belga.

 Cabinda já era território da colónia de Angola quase 100 anos antes do Tratado de Simulambuco. Um pormenor. A província de Cabinda é o único território nacional onde nunca parou a luta armada de libertação nacional. E já depois do 25 de Abril de 1974, os heroicos guerrilheiros do MPLA prenderam o governador e comandante militar português, Temudo Barata, por estar a fazer com a FLEC o mesmo que faz agora Adalberto da Costa Júnior. Cuidado! Ainda estão vivos, alguns patriotas que prenderam e expulsaram o governador vendilhão. E ainda têm guzo para enfrentar os Adalbertos.

Adalberto insultou os agentes dos órgãos de segurança e os militares ds FAA, dizendo-lhes: “não tenham medo, se ganharmos as eleições não demitimos ninguém”. Ele não sabe, mas as forças de defesa e segurança não estão ao serviço de partidos. E não têm medo de bandidos, nem que estejam cobertos por votos. Angola não é o acampamento da Jamba, supermercado do tráfico de droga, marfim e diamantes. Passo à frente e vamos ao final da sua intervenção. O chefe do Galo Negro anunciou que Luanda vai ser palco de uma reunião da Internacional Democrata de Centro, antiga Internacional Democrata Cristã, que acolhe, na sua maioria, partidos políticos de extrema-direita.

Anúncio feito, Adalberto disse isto: “espero que o governo de Angola não venha fechar as fronteiras por causa desta actividade de grande dimensão política e democrática dos países membros”. Uma correcção. A Internacional Democrata de Centro não é de países mas de partidos. Agora a parte grave. Um partido angolano está a organizar a reunião em Luanda e ainda não informou as autoridades de Angola! Como se uma reunião desse nível fosse como ir da casa das torturas da Jamba até ao terreiro das fogueiras. O sicário enlouqueceu.

A Internacional Democrata de Centro foi fundada por figuras como Margaret Thatcher e George Bush (pai). Quase todos os partidos membros são de extrema-direita. Por exemplo: UNITA, Movimento de Libertação do Congo (mobutista) ou a Nova Democracia (extrema-direita grega). Já tínhamos cá imenso lixo e ainda vem mais porcaria e mais banditismo político. A democracia tem destas coisas, vamos fazer mais como.

*Jornalista

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