domingo, 26 de junho de 2022

A Semana: Aborto divide os EUA em semana de crise em França e Israel

Portugal -- Rock in Rio regressa com chuva e com a "revolta" dos Muse

Foram 74 mil as pessoas que não quiseram perder o primeiro dia do Rock in Rio. Depois de quatro anos de paragem, também devido à pandemia, o festival regressou agora e nem a chuva fez arredar pé a quem foi ver os Muse. A banda de Matt Bellamy era cabeça de cartaz deste primeiro dia e não desiludiu os fãs. Num dia que começou com a energia contagiante dos Xutos & Pontapés, prosseguiu com Liam Gallagher a alternar músicas dos Oasis e da sua carreira a solo e ainda trouxe os The National ao Palco Mundo, os Muse encerraram com um grito de revolta. Com Uprising puseram todos a cantar "They will not control us. We will be victorious" e foi um Bellamy tão encharcado como as dezenas de milhares de pessoas que o acompanharam na apoteose final de Knights of Cydonia quem agradeceu a todos por "terem ficado connosco apesar da chuva". O fogo de artifício de encerramento do primeiro dia do festival não podia vir mais a calhar a seguir.

França -- Com Macron sem maioria, França mergulha na incerteza

As sondagens não auguravam nada de bom para Emmanuel Macron na segunda volta das legislativas, mas a realidade foi pior. A Ensemble!, coligação que junta o partido do presidente e seus aliados de centro, elegeu 245 deputados, bem longe dos 289 da maioria absoluta. E, confirmando a polarização da sociedade francesa, em segundo lugar ficou a NUPES, que junta a França Insubmissão, de Jean-Luc Mélenchon (esquerda radical), socialistas, comunistas e ecologistas, com 131 lugares. Mas talvez a maior surpresa da noite fosse a União Nacional, de Marine Le Pen, que passa de 8 para 89 deputados, fruto do fim da frente republicana. Com a direita tradicional (Os Republicanos) pouco disposta a apoiar o governo com os seus 61 deputados, Macron terá muita dificuldade em avançar com as suas propostas, a começar pelo polémico aumento da idade da reforma para 65 anos. A França mergulhou na incerteza. Para já, Macron rejeitou a demissão da primeira-ministra, Élizabeth Borne, mas resta saber quanto tempo este governo durará.

Israel -- Governo cai e Israel prepara-se para 5.ª eleição em 4 anos

Afastar Benjamin Netanyahu do poder. Essa parecia ser a principal razão que unia os oito partidos - da direita à esquerda, passando pelo partido árabe, que assim entrou pela primeira vez num governo em Israel - que há um ano se juntaram numa coligação inédita. Mas um desacordo em relação ao estatuto dos colonatos israelitas na Cisjordânia veio pôr fim a esta união. O governo caiu, e Yair Lapid substitui, assim, Naftali Bennett como primeiro-ministro - o que estava previsto no acordo de coligação. E tudo indica que Israel caminha para as quintas eleições em quatro anos. Se tal se confirmar, Lapid tem quatro meses para provar que é o homem certo para liderar os destinos do país. E sobretudo não permitir aquilo que o levou a construir esta coligação: impedir Netanyahu de regressar ao poder, após ter liderado governos durante 13 anos. Nada menos certo, segundo os analistas.

Rússia -- O dia em que Kaliningrado entrou na guerra

Fundado em 1255, Kaliningrado foi a casa dos reis da Prússia e terra natal de Emmanuel Kant. Mas o enclave russo, conquistado pelo Exército Vermelho à Alemanha na reta final da II Guerra Mundial e situado a mais de mil quilómetros de Moscovo, fez esta semana a sua entrada na guerra. Tudo porque a Lituânia anunciou não aceitar mais a passagem pelo seu território de bens russos sujeitos a sanções e com destino a Kaliningrado. Com a tensão já alta devido à entrega de armas alemãs aos ucranianos e à decisão da UE de dar o estatuto de país candidato à adesão à Ucrânia, a resposta de Moscovo não se fez esperar, garantindo "duras consequências" para as autoridades lituanas. Qual vai ser a resposta exata do Kremlin a esta provocação de Vilnius ninguém sabe, mas muitos apostam que chegará por estes dias, antes talvez das cimeiras do G7 e da NATO que decorrem na próxima semana.

Portugal -- Costa em defesa de dois ministros num regresso tenso à AR

No regresso dos debates parlamentares sobre política geral - o último fora em outubro de 2021 -, António Costa teve de sair em defesa de dois membros do seu governo: a ministra da Saúde, Marta Temido, e o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro. Numa semana em que o ritmo das notícias foi marcado pela crise nas Urgências de obstetrícia e pelas longas filas de espera no aeroporto de Lisboa, o primeiro-ministro considerou a situação nas Urgências "inaceitável", mas, face às exigências de demissão da ministra feitas pela oposição, lembrou que quem escolhe os membros do governo é ele. Já quanto ao aeroporto, foi categórico: a culpa foi do SEF, que não ativou o plano de contingência, e apoiou o ministro na sua intenção de demitir responsáveis deste serviço caso o caos se repita. Um regresso tenso de Costa ao Parlamento, após a maioria absoluta conquistada nas eleições de janeiro.

Portugal -- A pedra portuguesa e os coches num diálogo inevitável

Uma espreguiçadeira de Siza, a Conversadeira de Souto Moura, o primeiro diorama em pedra de Vhils, um dance floor de Frith Kerr, com direito a música, ou um autorretrato de Ai Weiwei, estas são algumas das 74 obras em pedra portuguesa reunidas para a exposição Primeira Pedra 2016/2022, que até setembro podemos ver no interior e no exterior do Museu dos Coches, em Lisboa. Numa visita guiada pela curadora, Guta Moura Guedes, ficamos a saber que a parceria entre a experimentadesign e o museu é antiga. E, neste caso, o culminar de um trabalho de seis anos, que envolveu 36 artistas de 15 nacionalidades: "O contraste enorme entre o objeto que é um coche histórico do século XVII, XVIII e estas peças muito contemporâneas, em pedra, é irresistível. O diálogo tornou-se irresistível." Por isso é não resistir e ir descobrir esta volta ao mundo em pedra portuguesa e ver como ela se relaciona com os coches do museu.

EUA -- Supremo reverte acesso ao aborto e divide os EUA

6 contra 3. Foi assim, seguindo a linha de divisão entre conservadores e liberais que os juízes do Supremo Tribunal dos EUA votaram ontem para reverter o acesso ao aborto. O argumento: "A Constituição não faz qualquer referência ao aborto". Com o fim de Roe vs Wade a interrupção voluntária da gravidez torna-se ilegal nos EUA, cabendo a cada um dos 50 estados decidir se a autoriza ou não. Estima-se que estes se dividam ao meio, um pouco como a própria América que reagiu entre a euforia da direita conservadora e as lágrimas da esquerda liberal. E 13 estados proibicionistas tinham já prontas leis para entrar em vigor assim que fosse conhecida a decisão do Supremo. "Um dia triste", considerou o presidente Joe Biden, que admitiu que agora só o Congresso pode legislar para proteger o acesso das americanas ao aborto. Mas a deriva conservadora do Supremo ameaça não se ficar por aqui: um juiz já ameaçou reverter o casamento gay.

Helena Tecedeiro | Diário de Notícias

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