quarta-feira, 22 de junho de 2022

DESGRAÇAS MATINAIS DE PORTUGAL, DO OCIDENTE E DO MUNDO NO CURTO

Bom dia. Raquel Moleiro, jornalista do Expresso, apresenta o Expresso Curto de hoje (ele ainda existe). Já foi às tantas que escreveu sobre as desgraças e mais desgraças que são as guerras. A da Ucrânia não podia faltar com algumas verdades e notórios assobios para o lado. O costume no Ocidente propriedade do Tio Sam e da antecâmara do nazi-fascismo a que airosamente chamam neoliberalismo.

Nem aquela menina Raquel nem outos se enxergam porque talvez só possuam espelhos foscos. Mas Raquel traz referência a uma guerra interna que continua a existir em Portugal e é inconcebível, inadmissível e terrível: a guerra em Portugal contra as mulheres. A coisa horrível que na habitual maneira do que o Ocidente tem herdado dos vícios dos EUA tende a mostrar que elas estão a ser abatidas a tiro por cowboys portugueses. Por cá só ainda falta um desses cowboys se entrincheirar e começar a disparar e a abater transeuntes indiscriminadamente porque sim, como nos EUA. Ou algum racista a abater negros ou outras desgraça qualquer, porque estamos a saber que o controle luso de armas anda falho e há muito armamento à solta nas mãos de criminosos e de malucos influenciados paló país do terrorismo interno e global, os EUA. Mas… Vamos lá adiante.

A modernidade do Ocidente tem por algoz os EUA, a União Europeia segue as pisadas e saracoteia a cauda às ordens dos criminosos a quem a França ofereceu a Estátua da Liberdade por pura estupidez e subserviência à doutrina Monroe, ao racismo Kukluxklan e à seita maçónica. Entre outras…

Com lideranças impostas assim, deste jaez, o que é que esperam que aconteça no Ocidente e no mundo?

Adiante.

Tempo de ler Raquel no Curto. Não é obrigatório mas é sempre bom e bem sabermos as linhas desgraçadas com que a humanidade está a ser tramada. Saúde ao tio Balsemão Bilderberg. Pois. 

Vá ler o Curto que se segue. Bom dia e, ao modo luso, um queijo e um tintol alentejano pomadoso. Armas letais ou mais ou menos é que não. (MM | PG)

A 14ª VÍTIMA DE UMA GUERRA ETERNA

Raquel Moleiro | Expresso

Bom dia.

Estava a escrever este Expresso curto com as últimas da guerra na Ucrânia, o relógio a aproximar-se da meia-noite, quando chegou o alerta do homicídio de uma mulher em Cascais, baleada à porta do apartamento onde vivia, a curta distância, alegadamente pelo marido que se pôs em fuga após o crime. Tinha 38 anos. Depois da morte juntou à sua curta história de vida um outro número: é a 14ª vítima assassinada este ano em contexto de violência doméstica em Portugal. Mais dois casos e atinge-se a cifra de 2021, quando restam ainda quase seis meses para fechar 2022.

E por mais que custe dizê-lo, é uma questão de tempo. Curto. Em menos de 24 horas houve pelos menos duas tentativas de homicídio, com desfecho ainda incerto. Cláudia Serra, esteticista, 39 anos, está internada em estado muito crítico no Hospital de S. João, no Porto, depois de ter sido atingida a tiro, na segunda-feira, pelo ex-marido, em Soalhães, Marco de Canaveses. Foi o filho mais velho que a encontrou. O casal estava separado há anos mas partilhava a casa. Nos últimos dias, ela andava à procura de outra morada, para se mudar de vez. Ele não deixou. Na terça-feira, a 50 quilómetros dali, no Lugar da Veiga, em Valongo, um homem, de 78 anos, agrediu a mulher, de 71, na cabeça com um martelo, suicidando-se de seguida quando a julgou morta. A vítima sobreviveu e está estável no Hospital de Aveiro.

Estas são só as ocorrências mais graves, as que chegam às notícias. Por dia, a Associação de Apoio à Vítima (APAV) regista 54 casos de violência doméstica, a face visível de uma guerra eterna, cultural, possessiva, orgulhosa, machista, em que o agressor é quase sempre homem e pessoa íntima, e o crime escondido entre quatro paredes, onde é imperativo que se meta a colher. A maioria das vítimas continua a não apresentar queixa às autoridades. Mais de metade remete-se ao silêncio perante a Justiça. O crime é público, a denúncia imperativa.

E agora, sim, o conflito na Ucrânia, também ele em escalada e sem fim à vista (pode acompanhar todos os desenvolvimentos aqui)

Ao 119ª dia, Putin continua apostado em conquistar Lugansk até domingo, antes da cimeira do G7. Há 568 civis abrigados na fábrica de Azot, o último reduto de resistência ucraniana em Severodonetsk - um remake de Mariupol -, enquanto as forças de Kiev tentam reaver a pequena, mas estratégica, Ilha das Serpentes, no Mar Negro. Com os combates cada vez mais intensos no terreno, Kharkiv de novo debaixo de fogo, Odessa em alerta máximo e perdas humanas elevadas dos dois lados da barricada, Zelensky apela a um sétimo pacote de sanções de Bruxelas, mas a Comissão Europeia não parece convencida, ainda que identifique possíveis setores a atingir futuramente, como o ouro, ativo essencial para o Banco Central russo.

Há outros problemas a exigir mais atenção na agenda de Ursula von der Leyen. Putin tem vindo a ameaçar a Lituânia, um Estado membro da UE e da NATO, devido à aplicação de restrições à passagem de bens para o enclave russo de Kaliningrado. "Qualquer ataque contra um país aliado é um ataque contra todos", recordou Ned Price, porta-voz da diplomacia norte-americana, no dia em que foi confirmada a morte de um segundo cidadão norte-americano na Ucrânia e a potencial condenação à morte de dois combatentes dos EUA, detidos pelas forças de Moscovo.

No campo da diplomacia, registam-se alguns avanços. Segundo a Presidência da Turquia, nas próximas semanas irá decorrer em Istambul um encontro com a Rússia, Ucrânia e ONU. Tanto o Presidente turco, Recep Tayyip Erdoğan, como o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, deverão estar presentes. O objetivo é criar três corredores a partir da cidade portuária de Odessa, sob a supervisão de Kiev, para a exportação de 30 a 35 milhões de toneladas de cereais nos próximos seis a oito meses. Para que a guerra não faça vítimas também longe dali. De fome.

OUTRAS NOTÍCIAS

O primeiro-ministro volta esta quarta-feira ao debate no Parlamento, o primeiro da legislatura, oito meses depois e com três meses de perguntas acumuladas. E não faltam temas à atualidade para questionar António Costa, dos problemas do SNS aos recordes mundiais de covid, do caos no aeroporto de Lisboa aos salários da TAP. Mas a Assembleia da República também é outra, e a maioria absoluta do PS dá conforto ao confronto.

No dia em que a urgência de obstetrícia do Hospital de Braga volta a fechar, até às 8h de quinta-feira, por falta de especialistas para preencher as escalas, a secretária de Estado da Saúde, Maria de Fátima Fonseca, regressa às negociações com os sindicatos que representam os médicos para "conseguir uma solução realista e exequível" para o problema. Já não deve ir a tempo de resolver a crise no Hospital de Setúbal, com dois profissionais em falta para manter a porta aberta às grávidas na próxima segunda-feira. Até setembro encerra mais de 20 dias.

O concurso para médicos arrisca-se a terminar com 400 lugares vazios, noticia o JN. Há apenas 1220 especialistas acabados de formar e um total de 1636 vagas.

Para “muito breve”, garante a ministra da Coesão Territorial, está a celebração de um “grande acordo” entre o Governo e a Associação Nacional de Municípios Portugueses para a transferência de competências no âmbito do processo de descentralização, nas áreas da Saúde e Educação. Será antes do final do verão, para todos irem de férias tranquilos, assegurou Ana Abrunhosa.

Os Ministros da Administração Interna, da Justiça, da Educação, do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social e da Saúde assinaram o despacho conjunto que cria a Comissão de Análise Integrada da Delinquência Juvenil e da Criminalidade Violenta. No prazo de um ano tem de apresentar propostas que visem a diminuição do fenómeno.

Em Fátima, os bispos portugueses reúnem-se numa assembleia plenária extraordinária para abordar a forma como vai decorrer a consulta dos arquivos diocesanos pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica Portuguesa. Esta é a primeira reunião do episcopado após o presidente da CEP, D. José Ornelas, ter recebido do Vaticano "uma explicação dos parâmetros. Até ao momento foram recolhidos 326 testemunhos de vítimas e enviados 16 casos para o Ministério Público.

É realizada hoje a autópsia da menina de 3 anos, que morreu na segunda-feira, em Setúbal, alegadamente vítima de maus tratos. A Polícia Judiciária está a investigar o caso.

O juiz Ivo Rosa arrisca-se a ser suspenso temporariamente pelo Conselho Superior da Magistratura, uma sanção disciplinar grave, por ter violado o Estatuto dos Magistrados Judiciais. O tempo de contestação da decisão final está a terminar.

Portugal vive o ano mais seco desde 1931. 66% do país está em seca extrema e 34% em seca severa, mas governo mantém que o país “tem água para dois anos”.

Há cinco anos era dado como extinto o incêndio de Pedrógão Grande. Durante cinco dias arderam 24.164,6 hectares, abrangendo, além de Pedrógão Grande, Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera, também os concelhos vizinhos de Alvaiázere e Ansião, todos no distrito de Leiria. Morreram 66 pessoas.

O funeral da pintora Paula Rego realiza-se no dia 30 de junho, em Londres. Em Portugal será assinalado dia de luto nacional, anunciou o Governo.

Sismo no leste do Afeganistão provoca pelo menos 225 mortos. O abalo ocorreu na província de Paktika e teve uma magnitude de 5,9. Dezenas de pessoas podem estar presas sob os escombros.

Emmanuel Macron tem hoje mais um dia de conversações para compor ‘uma maioria de aliados’ no parlamento, que perdeu nas eleições. Primeira-ministra francesa pediu demissão, mas o presidente recusou

Termina hoje o julgamento do ex-presidente da FIFA Joseph Blatter e do antigo presidente da UEFA Michel Platini, acusados de fraude pela procuradoria suíça e que, teoricamente, podem ser condenados a uma pena até cinco anos de prisão. A sentença é conhecida a 8 de julho.

Em Nova Iorque arranca a vacinação contra a covid-19 para menores de 5 anos.

ONU alerta que mais de 350 mil crianças podem morrer de desnutrição até setembro na Somália. UE vai mobilizar €600 milhões para ajudar países a enfrentar crise alimentar.

FRASES

“Qualquer providência cautelar o que vai analisar é se eu sou competente ou não para gerir a Marinha. Que eu sou competente para gerir a Marinha acho que não há dúvidas”

Almirante Gouveia e Melo, chefe do Estado Maior da Armada, sobre a providência cautelar interposta por um sindicato devido às condições de trabalho nas Selvagens, na Madeira

"Com os estudos que temos, neste momento, Alcochete parece ser a solução [mais adequada] a longo prazo. No Montijo temos a limitação da expansão".
Laura Caldeira, presidente do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), sobre a localização do novo aeroporto de Lisboa

“Todos os direitos serão acautelados, incluindo o direito à greve. Temos 600 funcionários civis que têm direito à greve e isso nunca foi um problema.”
Magina da Silva, diretor-nacional da PSP, sobre a transferência de inspetores do SEF após a extinção daquele órgão de polícia criminal

"O modelo económico a que as pessoas estiveram habituadas nos últimos 15 anos vai ser bastante diferente daqui para a frente"
António Horta-Osório, banqueiro, a pedir prudência face à inflação e subida das taxas de juro

"Não quero saber se os agentes estavam de chinelos e calções, tinham de entrar"
Steve McCraw, diretor do departamento de segurança pública do Texas, sobre a atuação "terrível" da polícia no massacre na escola primária de Uvalde

O QUE ANDO A LER

Com o livro de que aqui falei no último Expresso Curto – Informadores da PIDE, de Irene Flunser Pimentel - ainda a pouco mais de meio, deixo duas sugestões que são ‘prata da casa’, produtos de jornalismo multimédia do Expresso, publicados na última semana, ambos retratos sociais de solidariedade e humanismo que não deixam ninguém indiferente.

Ao longo de mais de um ano, a Raquel Albuquerque dedicou-se a descobrir o efeito escondido da pandemia na pobreza através de indicadores desagregados, dados estatísticos e relatos de instituições sociais como a Cáritas, o Banco Alimentar e as Misericórdias, além de números oficiais como os desempregados inscritos nos centros de emprego, a partir do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), e os beneficiários do Rendimento Social de Inserção (RSI) da Segurança Social. Do cruzamento saiu o retrato nítido do impacto nas várias regiões e de um claro aumento da precaridade que não aparece nos quadros governamentais. Em "A pobreza que a pandemia agravou" revelam-se milhares de famílias que ficaram para trás, e um presente longe de estar resolvido.

A reportagem do Rúben Tiago Pereira e do Tiago Soares também tem números - 3,8 quilómetros a nadar, 180 a pedalar, 42,2 a correr - mas é principalmente coração, emoção. "Há barreiras mas não há limites" conta a história dos Iron Brothers, dois irmãos, um dos quais com paralisia cerebral, que participam no IronMan, uma das provas mais exigentes do mundo. São 226 quilómetros sempre juntos. Onde vai um vai o outro. E pelo caminho trabalham pela inclusão no desporto e angariam fundos para a Associação de Paralisia Cerebral de Lisboa.

Este curto fica por aqui. Bom resto de semana e boas leituras, com o Expresso.

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