terça-feira, 19 de julho de 2022

Angola | JORNALISTA SEM ÉTICA DÁ GALO NEGRO – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Os órgãos de comunicação social deixaram há muito de ser espaços de liberdade para serem ocupados pelos poderes instalados. O único problema que se coloca é saber se são legítimos ou ilegítimos. No que diz respeito ao sector empresarial do Estado não há dúvidas: O poder foi legitimado pelo voto popular e sabemos quem manda. Quanto à chamada “imprensa privada” reina a confusão, a falta de transparência e sobretudo ninguém sabe donde vem tanto dinheiro. Por isso perderam legitimidade. 

No dia em que as instituições do Poder Judicial fizerem cumprir a lei, ficamos a saber quem está por trás de uma actividade que balança entre a extorsão e os mais repugnantes crimes de abuso de liberdade de imprensa. Nessa altura pode ser que sejam conhecidas as fontes de financiamento, os autores morais da devassa da vida privada, dos atentados à honra e ao bom-nome de pessoas e instituições, quem se serve da comunicação social para a chantagem e extorsão. Mas também quem são os mandantes de autênticos atentados aos interesses mais sagrados do Estado angolano. 

Jornalistas sem escola e sem conhecimentos das regras do ofício são facilmente manipulados. Chantagear e extorquir através da comunicação social é fácil, quando não há ética nem deontologia profissional. A irresponsabilidade é a mãe de todos os crimes, de todas as omissões, de todas as manipulações através da Imprensa. A impunidade reinante faz com que crimes graves de abuso de liberdade de imprensa sejam repetidos até há exaustão. E a sua repetição acaba por torná-los inócuos.

Os profissionais competentes sabem que há muito estamos no ponto em que os crimes de abuso de liberdade de imprensa são encarados como uma “normalidade”. A sociedade já nem sequer reage com indignação quando um jornalista rouba a honra de um cidadão, à luz do dia, nas páginas dos jornais, nas rádios, nas televisões, nos currais da Internet onde circula mais porcaria do que nas kibangas dos porcos. Ninguém se indigna quando são publicadas matérias que tresandam a chantagem e à respectiva extorsão.

Primeiro, as vítimas são despojadas da honra e do bom-nome. Mais tarde, todos os direitos de personalidade vão na enxurrada de lama que esses órgãos de comunicação social atiram sobre pessoas e instituições. Ninguém trava este massacre! Mas sabemos que os direitos de personalidade são protegidos pela Constituição da República e pela Lei Penal. Como nada acontece, a impunidade dos criminosos ganha foros de direito absoluto. Por isso é urgente saber donde vem o dinheiro que alimenta esta máquina infernal que está a destruir a credibilidade do Jornalismo Angolano.

Os que pagam estes crimes, os seus mandantes, deviam reflectir sobre o monstro que estão a alimentar. Pensem apenas nisto. Um dia destes, aparece por aí um qualquer analfabeto a escrever que Camões é um poeta medíocre como Agualusa fez com Agostinho Neto. Um jornalista sem carteira profissional diz que De Gaulle era o “general Coca-Cola” ou Eisenhwoer foi um torturador. Macron é um corrupto e Biden tem um império construído à custa da corrupção. E envolvem nestas calúnias e mentiras os seus familiares. 

O dinheiro sujo que estão a “investir” em Angola está a servir para denegrir os nossos valores, os nossos heróis, os que libertaram a Humanidade do apartheid e deram o melhor das suas vidas para construir a democracia em Angola. Quem alimenta estes crimes, mais dia, menos dia vai colher grandes tempestades. Brincar ao jornalismo nunca foi boa ideia. Mas brincar com os legítimos representantes do Povo Angolano é insultar todos os que votaram neles. Convém não abusar da sua paciência.

O Jornalismo Angolano tem um passado glorioso. Sou dos que investigaram todos os passos da chamada Imprensa Livre, no século XIX. Construí o retrato de corpo inteiro da Imprensa Nacional e da “ divina arte da imprimição em África” com início do Reino do Congo. Tracei o perfil dos mais destacados jornalistas angolanos dessa época. Segui todos os passos do Jornalismo Industrial. Construí um manual de radiojornalismo. Criei na Rádio Nacional e no Jornal de Angola livros de estilo. Tenho direito à palavra nesta matéria.

Luísa Rogério, quando era dirigente sindical, falava comigo sobre estas coisas. Sempre lhe disse que tínhamos um vazio gritante e que inquinava de uma forma perigosa o exercício da profissão de jornalista em Angola. Disse-lhe muitas vezes: Enquanto não for obrigatória a carteira profissional no exercício da profissão, estamos nas mãos de todo o tipo de aventureiros e, sobretudo, de poderes ilegítimos que prosperam roubando-nos a honra e a credibilidade. Eles não ficam mais ricos com o roubo., apenas têm o caminho para a manipulação e a mentira mais livre. Mas nós ficamos irremediavelmente mais pobres.

Ontem recebi um comunicado da Comissão da Carteira e Ética com várias deliberações. Profissionais violaram os preceitos éticos e deontológicos. Por isso foram censurados. Entre eles, estão grandes profissionais do audiovisual. Se me pedirem para fazer uma lista dos dez melhores da área, não hesito em colocar José Rodrigues e Amílcar Xavier nesse grupo e do meio da tabela para cima. 

José Rodrigues aceitou dar voz a mensagens publicitárias. E Amílcar Xavier desenvolveu actividades de relações públicas. Péssimos exemplos para as e os jovens profissionais. Um tiro de monakaxito na credibilidade do Jornalismo Angolano. Se os melhores têm este comportamento imaginem as outras e os outros todos. Uma tragédia. Em cima do acontecimento recebi uma menagem publicada um “portal” com a foto de Amílcar Xavier e a legenda: “suspenso de exercer a actividade profissional”. Mentira. Apenas foi censurado. Mas mereceu largamente a suspensão.

António Muachilela também foi sancionado por exercer assessoria de imprensa o que é proibido aos jornalistas. Conheço bem este. Fazia parte de um grupo notabilíssimo de jovens profissionais da Rádio Nacional de Angola com os quais trabalhei na formação. Ele chegou a ser monitor dos formadores Horácio da Fonseca, Ricardo Branco e eu próprio. Sabe, como poucos, que a Rádio é um espectáculo. 

Ele próprio é um espectáculo dentro do espectáculo que é a voz humana. Uns anos depois da formação descobri que as e os melhores desse grupo fabuloso tinham ido para gabinetes de imprensa, assessores nas embaixadas e outras actividades que nada têm a ver com aquilo em que são excelentes. Em virtude da sanção que lhe foi aplicada, Muachilela entregou a carteira profissional! Não faças isso. A Rádio precisa muito de ti, camarada.

O jornalista António Ferreira, do Jornal de Angola, entrevistou o bispo de Caxito, Maurício Camuto, antigo director da Rádio Eclésia-Emissora Católica de Angola. Ele revelou que a estação enfrentava tremendas dificuldades e corria o risco de fechar, juntamente com o jornal O Apostolado que tem um lugar destacado na História da Imprensa Angolana, porque ao longo dos anos extravasou largamente a sua função confessional.

Em desespero, Maurício Camuto escreveu uma carta ao Presidente José Eduardo contando-lhe as dificuldades por que passavam os Media da Igreja. Era necessário dinheiro. A resposta foi rápida e positiva. O Estado disponibilizou os fundos necessários. Disse o bispo de Caxito:

 "Escuto muitas coisas, uns estão contra e outros a favor do antigo Presidente de Angola. Mas eu, pessoalmente, tenho de lhe agradecer bastante pelo gesto simples que realizou e que muitos não perceberam. Portanto, com o apoio do Presidente, conseguimos saldar algumas dívidas, tanto do jornal O Apostolado como da Rádio Eclésia, e daí alcançamos outra vez o bom funcionamento, até ao momento”.

O "grande gesto” do Presidente José Eduardo dos Santos surgiu numa altura em que a Rádio Eclésia “era considerada um órgão de informação da oposição, porque fazia críticas ao Governo, denunciava actos de corrupção e outros factos noticiosos. Apesar disso, José Eduardo dos Santos teve este nobre gesto de nos apoiar. Por isso, tenho uma grata memória dele. Não tenho motivos para alinhar-me com aqueles que falam mal dele”.

Eu sei por que razão o Presidente José Eduardo dos Santos pôs o Estado a financiar os Media da Igreja. Ele queria a todo o custo que Angola tivesse rádios, jornais e televisões da Oposição. Mas sérios. Um dia se saberá que outros projectos, enquanto Presidente da República, ele apoiou e financiou para a imagem de Angola não ficar ligada aos pasquins, ao empregado do George Soros, Rafael Marques, ao bêbado da valeta e outros mabecos raivosos.

No imediato exijo ao senhor Adalberto da Costa Júnior que diga ao eleitorado angolano quanto a ADI Timor está a cobrar pela pirataria informática a favor da UNITA e donde veio esse dinheiro. Sem transparência não há eleições livres. 

*Jornalista

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