segunda-feira, 25 de julho de 2022

Angola | OS OLHOS POSTOS EM NÓS

Luciano Rocha* | Jornal de Angola | opinião

A campanha eleitoral, que culminará com o pleito de 24 de Agosto, já começou, ainda que "o aquecimento de motores" não esteja no auge, esperando-se que os resultados finais sejam aceites sem manifestações de mau perder.

Campanhas eleitorais que culminem  com formações parlamentares ou eleições de Chefes de Governo são, em princípio, espaços de cruzamentos ideológicos, mas, igualmente, reveladores de ambições desmedidas vaidades bacocas, oportunismo, acusações infundadas, insultos, ignorâncias, como atestam factos nos mais variados continentes. Angola não tem fugido à regra.

O que se deseja é que, desta vez, em Angola, o panorama seja diferente por todos os motivos e mais um, o que não significa uma campanha eleitoral insípida, pelo contrário, pois o esgrimir de ideias e conceitos são não apenas aceitáveis, como desejáveis por demonstrarem, entre outros aspectos, a diversidade de opiniões. O contrário, esse sim, é lamentável, por reflectir "unicidade de pensamento” que apenas existe na aparência e ser característica de ditaduras.

Angola pode, outra vez, ser exemplo para o mundo.  Foi, recentemente, nas medidas iniciais de combate à Covid-19, adoptadas posteriormente por países tidos por mais desenvolvidos e apetrechados do que o nosso  e desprezaram, de início, a força do vírus que virou um Mundo de pernas para o ar. Antes, conseguiu com  o calar as armas numa guerra fratricida movida por interesses exteriores. Anteriormente, derrobando o então considerado o exército melhor apetrechado, em homens e equipamento, o da África da Sul. Muito antes, quando um pequeno grupo de compatriotas, maioritariamente munido de catanas, ousou iniciar a  luta armada de libertação nacional.

Agora, neste Julho a dar passos derradeiros para o fim, principalmente no Agosto que aí vem e nos tempos que se lhe hão-de seguir ,impõe-se que vencedores e vencidos se capacitem que os sonhos de uma Pátria melhor, mais igual, sem tantas desigualdades a separar  pobres e ricos, na qual nepotismo e imunidade sejam memória má, não se esfumam numa votação. 

Vencedores e vencidos sabem que Angola precisa de todos e que cada qual tem obrigações  e direitos pelos quais é urgente lutar para o alcance de objectivos colectivos. Que jamais podem circunscrever-se a interesses meramente mesquinhos, comummente espelhados em vaidades ridículas, poses estudadas, bajulações e quejandos.

O  amanhã dos  vindouros depende deste presente que está a ser construído. Esquecer isso é hipotecar  o futuro. O que semeamos hoje, é bom não esquecer, há-de ser colhido pelas gerações futuras e isso tem de ser, desde já, minuciosamente preparado. Mais difícil é a actualidade. Muitos dos jovens de agora, pela abundância  de exemplos, que lhes entram pelos olhos,  interioriza-os, seguem-nos à risca. Para eles o mundo divide-se entre padrinhos e afilhados, roupas da moda, perfumes a condizer, carros que não compraram ou não lhes custou adquirir, cargos que não honram, salários e mordomias injustificados, banquetes jamais imaginados. Domina-os, maioritariamente, incompetências e ignorâncias, mas sobra-lhes pose, palavreado desconexo. Em suma, são os novos enfatuados. com ou sem fato. 

A campanha eleitoral, que há-de culminar, no pleito de Agosto, pode revestir-se de primordial importância pelo cruzamento de ideias, formas de estar e pensar Angola, com discursos mais ou menos empolgantes e cativantes.

Nesta campanha dispensam-se, de bom grado, discursos enfadonhos, de nada dizer, amontoados de palavras desconexas, promessas vãs, acusações infundadas, "desculpas de mau pagador”.

 O Mundo tem, os olhos postos em nós. É uma boa altura de trocarmos as voltas a certos comentadores, designadamente ocidentais, que do alto da cátedra onde os colocaram, repetem, a torto e direito, como papagaios acorrentados, o que os donos  dizem sobre Angola.

*Jornalista

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