quinta-feira, 28 de julho de 2022

Angola | TRADUÇÃO DE UMA FRASE ELEGANTE – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

A Somália ascendeu à independência um ano antes do início da luta armada pela libertação nacional em Angola. Os senhores do mundo (antigos colonialistas e actuais genocidas) elegeram o novo país como um exemplo de “democracia rural” em África. O problema é que entrou em campo o tribalismo primário e o país entrou em desagregação. Um golpe de estado militar pôs fim à instabilidade e ao divisionismo. O general Siad Barre e seus camaradas de armas adoptaram o socialismo como modelo político, social e económico. 

Desde essa data nasceram vários senhores da guerra e alguns dominaram a capital, Mogadíscio, com as suas milícias. O general Siad Barre, figura cimeira do Movimento dos Não Alinhados, partiu para o exílio na Nigéria e assim começou a somalização do país e de todo o Corno de África. Corria o ano de 1991. 

Os antigos colonialistas e actuais genocidas apostaram tudo na somalização de Angola em 1992, apenas uns meses depois do início do processo na Somália. Se a UNITA ganhasse as eleições, retalhar Angola conforme “os povos” era a política oficial de Jonas Savimbi. Se perdesse, como perdeu, a somalização fazia-se pela força das armas com cabos de guerra como Chhwale, Abílio Camalata Numa, Ben Ben, Abel Chivukuvuku, Uambu, Apolo e outros criminosos de guerra amnistiados em nome da unidade e reconciliação nacional. 

A UNITA nunca desistiu de somalizar Angola. E tentou que essa somalização tivesse respaldo constitucional. Um facto que levou os deputados Do Galo Negro a abandonarem a Assembleia Nacional quando foi votada a Constituição de 2010, é este: A sua proposta para inscrever no texto constitucional a existência de “povos angolanos” foi chumbada por uma maioria qualificada. Só existe o Povo Angolano. Só existe a Nação Angolana. Um só povo uma só nação.

A outra proposta chumbada, seria ainda mais grave, se fosse aprovada. Os deputados do Galo Negro queriam que a Constituição da República considerasse a terra como “propriedade do Povo” e não do Estado, como ficou aprovado. Políticos que não sabem o que é o Estado e acham que é a Jamba não podem andar na política. O Estado, somos nós, o Povo Angolano. Mas na Jamba ninguém ensinou isso aos sicários de Jonas Savimbi.

A UNITA, nesta campanha eleitoral, regressou ao conceito de “Povos Angolanos” e Adalberto da Costa Júnior disse, empolgado, durante um comício, que “a terra é dos nossos ancestrais, a terra é do Povo, não é do Estado como diz a Constituição”. Portanto, decorridos 20 anos das primeiras eleições multipartidárias, o projecto político do Galo Negro continua a ser somalizar Angola. A sua direcção continua a não saber que o Estado é o Povo Angolano. E ignoram que somos um só povo, uma só nação. Em Angola ninguém quer fazer do país vários quarteis dos senhores da guerra, muitas Jambas. Só mesmo Adalberto e seus parceiros querem.

O regresso de Abel Chivukuvu às fileiras é a prova de que continua vivo e actual o projecto de somalização de Angola. Em 1992, na cidade do Huambo, quando Jonas Savimbi rejeitou os resultados eleitorais, o mesmo Chivukuvuku ao lado do chefe, ameaçou: “Se a ONU publicar os resultados eleitorais vamos reduzir Angola a pó. Nós vamos somalizar Angola!” Publicados os resultados que revelaram a estrondosa derrota do Galo Negro, milhares de homens armados, que estavam escondidos em bases secretas no Cuando Cubango, ocuparam mais de dois terços de Angola. Tinha começado a primeira etapa da somalização.

Angola não foi somalizada pela UNITA e seus patrões porque milhares de jovens angolanas e angolanos se opuseram em todas as frentes de combate. Angola é um Estado livre e independente porque milhares de jovens ousaram pegar em armas contra o colonialismo. Temos generais que eram adolescentes quando foram lutar pela soberania nacional e a integridade territorial. Temos generais que estavam no seu conforto e deixaram tudo para impedir a somalização de Angola. Conheço generais das FAA que tinham pouco mais de 20 anos quando travaram as tropas invasoras da África do Sul na Cahama. 

Generais das FAA eram jovens professores, técnicos, estudantes e em 1974 deixaram tudo para lutar pela Independência Nacional. Ainda não tinham 30 anos quando derrotaram as tropas invasoras e seus aliados da UNITA no Triângulo do Tumpo, Cuito Cuanavale, no Cunene, no Ruacaná. Muitos deram a vida para impedir a somalização de Angola iniciada pela UNITA de Savimbi, Chivukuvuku e outros criminosos de guerra amnistiados. 

O general Francisco Furtado é ministro de Estado. Um oficial distinto e educado. Ganhou as estrelas nas frentes de combate, não lhe foram oferecidas pelos chefes militares e políticos do regime de apartheid. Não as comprou nos mercados informais de Kinshasa e outras capitais africanas que apoiavam a somalização de Angola. O general Furtado lutou contra a somalização de Angola. Bateu-se pela Soberania Nacional e a Integridade Territorial.

Se o general disse que quem ousar somalizar Angola leva no focinho, estava apenas a transmitir uma mensagem simples e directa aos angolanos e sobretudo à Juventude. Ele é um dos milhares de oficiais, sargentos e praças que ao longo de décadas deram no focinho aos invasores estrangeiros e seus aliados da UNITA. Não é falta de respeito. Não é descer ao nível do banditismo político da UNITA e seus sequazes. É simplicidade de linguagem e acção.

Ninguém pode apontar o dedo a um general que se bateu nas frentes de combate contra a somalização de Angola. E muito menos que qualifiquem a sua linguagem de violenta ou belicista. Nem pensem nisso. É apenas um aviso de um grande amigo do Povo Angolano. Porque os nossos generais que se bateram em todas as frentes de combate são, antes de tudo, os melhores amigos do Povo Angolano. Provaram isso sacrificando a juventude (anos que nunca mais viverão…), correndo mil perigos, derramando o seu sangue e não poucas vezes morrendo pela Pátria.

Como não sou general nem candidato a deputado, vou tornar a frase do general Furtado mais t erra a terra, para não ferir os ouvidos virgens de uma tal Laura Macedo: Esqueçam isso de somalizar Angola porque desta vez vão levar nos cornos com tal violência que nunca mais se endireitam. Acreditem em mim, que tive a honra de entrevistar alguns dos nossos mais destacados generais e sei do que eles são capazes, para defender a nossa amantíssima Pátria Angolana. Mas também vão ser cilindrados nas mesas e assembleias de voto.

*Jornalista

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