Artur Queiroz*, Luanda
A luta armada de libertação nacional foi conduzida e realizada nos campos de batalha por mulheres e homens excepcionais a todos os títulos. Entre milhões, só alguns tiveram a coragem de enfrentar a máquina repressiva colonial. Na Revolução do 4 de Fevereiro eram poucos operacionais. Na guerrilha, poucos mais. Mas representavam todo um povo ansioso pela liberdade e pelo resgate da dignidade. No terreno existiam duas ameaças reais. As forças policiais e as tropas portuguesas. Mas também uma imensa rede nacional de bufos, prontos a vender até os pais.
A partir de
Em Junho de
O general Costa Gomes ouvir esta declaração e teve este desabafo: “Cinco ou seis anos! Eu já me contentava com dois”. Tinha razão. No Acordo de Alvor, os três movimentos de libertação exigiram que o 11 de Novembro de 1975 fosse a data da Independência Nacional, pouco menos de um ano desde a assinatura documento. E o Governo de Transição tinha que organizar eleições até lá. Esta exigência foi feita pelo MPLA. Em Março de 1975, numa entrevista que me concedeu para o Diário de Notícias, na época o maior diário português, Agostinho Neto disse: “Temos de passar pelo crivo das eleições. Antes da data da independência precisamos de saber qual é a representatividade popular de cada movimento”.
A UNITA, em Junho de 1974, passou a ser uma ameaça existencial. Jonas Savimb i sabia que não tinha apoio popular e aceitou ser o rosto dos independentistas brancos. Os Media, todos controlados pelos colonos ricos, apresentavam o Galo Negro como “o movimento dos brancos” e o seu líder “o muata da paz”. As tropas da UNITA fizeram inúmeras operações helitransportadas no Leste de Angola e no Cuando Cubango ao lado das tropas especiais portuguesas. Os helicópteros eram sul-africanos ou rodesianos (Zimbawe). Esta ligação aos regimes racistas da África Austral garantiu-lhe o apoio dos colonos portugueses ricos.
O Movimento das Forças Armadas
(MFA) em Angola e o almirante Rosa Coutinho, presidente da Junta Governativa,
disseram aos dirigentes do MPLA que se a UNITA continuasse ao serviço dos
independentistas brancos era “uma ameaça real ao processo de descolonização”.
Holden Roberto anunciou que as negociações com Portugal só podiam ter na mesa
os movimentos de libertação. Assim excluiu a UNITA. Porque o movimento nunca
foi reconhecido pela Organização de Unidade Africana (hoje UA) nem pelo Comité
de Descolonização da ONU. Solução proposta pelo MFA e Rosa Coutinho: O MPLA
fazia um acordo com o Galo Negro e os seus diplomatas promovem o reconhecimento
do movimento
A Organização de Unidade Africana reconheceu a UNITA como movimento de libertação de Angola, mesmo a tempo de Savimbi estar presente na cimeira de Mombaça, para os três movimentos angolanos concertarem uma posição conjunta a apresentar no Alvor com a potência colonial. Mas a UNITA era mesmo uma ameaça real. E quando Frank Carlucci e Mário Soares souberam que foi assinado um acordo, no Luena, com o MPLA, puseram Mobutu a exigir ao líder da FNLA, Holden Roberto, que fizesse uma aliança com a UNITA. Em Mombaça, o MPLA é que apareceu isolado!
A partir desta data, a UNITA tornou-se uma ameaça existencial para Angola. Aceitou uma aliança com o regime racista de Pretória a troco da liderança de uma hipotética República Negra a Sul do Cuanza. Nesta fase, Rosa Coutinho e a comissão coordenadora do MFA de Angola já não estavam em Luanda para assistirem à traição.
Os invasores sul-africanos (Operação Savana), em 1975, traziam consigo Jonas Savimbi e o que restava da sua tropa. Mas também militares portugueses do Exército de Libertação de Portugal (ELP) e o Esquadrão Chipenda, composto por mercenários. No Lubango, Jonas Savimb anunciou a sua decisão de ser uma ameaça para a existência de Angola.
Após a derrota das tropas
sul-africanas no Triângulo do Tumpo (Batallha do Cuito Cuanavale) a UNITA ficou
órfã. Já tinha ficado sem pai nem mãe quando as forças armadas portuguesas
saíram de Angola. Ficou de novo quando as forças do regime de apartheid se
renderam
“O regime de apartheid acabou. Nós não vamos apoiar mais a UNITA. Por isso, se o Governo Angolano não dá uma mão a Savimbi, eles tornam-se párias e podem ser uma grave ameaça ao processo de paz em Angola”.
O Presidente José Eduardo assumiu o compromisso de integrar a UNITA e Jonas Savimbi na vida pública angolana. O instrumento para a integração foi o Acordo de Bicesse. A ameaça real agravou-se. O líder da UNITA e os serviços secretos do regime de apartheid decidiram esconder milhares de homens armados em bases secretas no Cuando Cubango. Uma ameaça à existência de Angola. Que continuou até Fevereiro de 2002!
Hoje a UNITA é, mais do que nunca, uma ameaça existencial para Angola. Põe em causa o Poder Judicial no seu todo e particularmente a Justiça Eleitoral. Faz da Assembleia Nacional uma mera pagadora de salários e mordomias. Os seus dirigentes prometem alterar a Constituição da República e o regime político vigente, mesmo sabendo que isso só será possível através de um golpe de estado militar. Promovem o caos e a violência. E usam a mentira como arma no combate político.
Um exemplo. A direcção do Galo Negro anda há quatro anos afirmando que está em preparação, pelo MPLA, uma fraude eleitoral. Adalberto da Costa Júnior disse publicamente que reuniu com dirigentes do MPLA para negociarem uma transição de poder, pacífica. Desmentido prontamente por Ju Martins, ele voltou à carga com a aldrabice: “Disse-lhes que já perderam as eleições e o melhor é negociarem a transferência de poder, enquanto a UNITA é democrática e pacífica”. O MPLA faz fraude para ganhar mas vai perder! Esta UNITA é uma ameaça existencial porque está a destruir o regime democrático e as suas instituições.
No seu tempo de antena, a UNITA apresentou a família como “núcleo fundamental da sociedade”. Adalberto da Costa Júnior disse mesmo que “a família é a base da sociedade, da política e da moral. Constitui o alicerce da construção e da organização do Estado”. Perguntem ao líder da UNITA onde estão as mães dos filhos der Jonas Savimbi. Onde está o general Bock e sua mãe. Onde está a família Chingunji. Onde está o padre Vakulukuta. Onde estão as mães que foram atiradas para aas fogueiras da Jamba com os seus bebés ao colo. Que família é essa que defende a UNITA? A senhora Savimbi, Ana Isabel Paulino, por aconselhar o companheiro a parar com a guerra foi enterrada viva! É com mães enterradas vivas que o Galo Negro constitui família!
No dia 24 de Agosto as angolanas e os angolanos têm de pôr um grande ponto final à ameaça real que é a UNITA. O Galo Negro, depois do dia 24 de Agosto tem de ser irrelevante. Nunca mais uma ameaça à existência de Angola.
Só mais um exemplo da ameaça que é a UNITA. O general Sukissa e seus companheiros de armas cercaram a direcção do Galo Negro na Casa Branca, cidade do Huambo. Savimbi implorou a Maitre Alioune Blondin Beye que o salvasse e aos seus companheiros. O representante da UNAVEM em Angola pediu ao Presidente José Eduardo dos Santos para lhe garantir um corredor de fuga até ao Bailundo, porque se os dirigentes da UNITA morressem na Casa Branca, os militaresdo Galo Negro tornavam-se uma ameaça real ao processo de paz.
O general Sukissa recebeu ordens para permitir à ONU a abertura do corredor e a UNITA passou a ser, até Fevereiro de 2002, uma ameaça real à existência de Angola! Eu estava no Huambo. Muito mais tarde, no Clube Hípico do meu amigo e camarada Artur Neves, encontrei o general Sukissa e comentámos aquela situação vivida na Casa Branca. Apesar de inconformado, disse-me: “O camarada Presidente teve razão”.
No dia 24 de Agosto não há mais condescendências. Vamos, com a força do voto, tornar a UNITA irrelevante. Ponto final na ameaça à existência de Angola!
*Jornalista
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