segunda-feira, 1 de agosto de 2022

Angola | VERDADE COM BARREIRAS CERRADAS – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Jesus Cristo ressuscitou e os seus discípulos nem queriam acreditar no que viam. O Mestre estava ali à frente dos seus olhos, uma e outra vez, mas ninguém acreditava. A verdade só venceu as barreiras da dúvida quando a doutrina cristã se impôs à incredulidade. Desde então, milhões de seres humanos acreditam, mesmo no que não conseguem ver. Têm fé e a fé move montanhas. 

A verdade passou a ser aquilo em que cremos. Mas a realidade, mesmo alicerçada na força incontornável dos factos, pode ser posta em causa por quem simplesmente se recusa a acreditar no que vê. O óbvio e o indesmentível não existem para os que têm outra verdade na mente e vivem dela, mesmo convivendo permanentemente com o mundo real.

Em Angola, vivemos tal situação. Há políticos angolanos que só acreditam no que querem. Se Jesus Cristo lhes aparecer mil vezes, resplandecente na sua verdade, eles fecham os olhos e apenas enxergam as trevas, a fraude eleitoral, os mortos a votar. 

Os angolanos estão a construir, desde 11 de Novembro de 1975 e com a força toda após Fevereiro de 2002, um novo país, mas eles fecham os olhos e a realidade é para eles uma mentira. As ruínas da guerra que eles criaram ao serviço do regime racista de Pretória estão a ser removidas há 20 anos, mas eles não são capazes de ver para além dos escombros. Os sicários da UNITA e seus parceiros de caos e terror percorrem as estradas de norte a sul do país, mas nunca conseguem sair do beco em que sobrevivem, infelizes, ressentidos, espumando ódio contra o progresso. 

As janelas de Angola estão abertas de par em par, ao desenvolvimento, ao bem-estar das famílias, à esperança dos jovens numa vida melhor. Tudo aberto, tudo escancarado. Também nos entram pela porta dentro, sem pedir licença, os efeitos da crise mundial, a queda brutal do preço do petróleo, a COVID19. E também temos de enfrentar, diariamente, aqueles que mergulharam Angola na guerra e  na pobreza. Esses políticos angolanos fecham os olhos e não conseguem ver para lá dos seus egoísmos e do vazio de uma vida sem valores. 

Só acreditam neles, mas nem sempre. Há dias em que nem sequer confiam nas suas verdades. Por isso, agridem o regime democrático, desvalorizam as nossas capacidades, atentam contra a honra e o bom-nome dos seus adversários políticos. Depois deles, apenas existe o dilúvio ou o caos. Nem sequer se dão conta que a sua cegueira política os coloca irremediavelmente entre os escombros que foram afastados dos caminhos do progresso. Nem sequer ficam para trás. Colocam-se voluntariamente no entulho imprestável e nas lixeiras. 

Os 20 anos da Paz mostraram que os angolanos estão de-alma-e-coração com a democracia, a estabilidade política, a reconciliação nacional. Isso é visível nesta campanha eleitoral. Salta aos olhos. Mas eles acham que os mortos vão votar e há uma fraude montada mesmo antes da contagem dos votos. Desgraçadamente, existe entre nós uma casta que teima em viver de olhos vendados, continua a revelar a mais confrangedora desorientação e falta de capacidade para analisar a realidade. A verdade está à sua frente, gigantesca nas suas obras desde 2002 e mais ainda aquelas que foram realizadas nos últimos cinco anos. É verdade, nesta legislatura muito foi feito. 

Eles apenas conseguem ver o passado que partilharam com os racistas de Pretória, a violência, a mentira mil vezes repetida para ver se alguma vez chega a verdade, a quimera perigosa de um dia chegarem ao poder, pela força das armas. Não desistem das fogueiras da Jamba, da eliminação física de adversários, de alugar a sua fúria assassina a quem pagar mais.

Alguns destes políticos têm desculpa para a sua cegueira. Foram instrumentalizados para a guerra na meninice ou na adolescência. Passaram a juventude vendo apenas um caudilho que lhes prometia o poder, nem que fosse apenas a sul do Cuanza ou nas chanas do fim do mundo, com a protecção de aliados que estavam em conflito insanável com África e a comunidade internacional. Nasceram na guerra e os mentores da violência castraram-nos de todos os valores humanos que dão sentido à vida. 

Ainda meninos assistiram a execuções, raptos, destruições, violência inaudita sobre os que pensavam de forma diferente, viram chamas terríveis envolvendo mulheres que reclamavam um pouco de dignidade. Nenhuma escapou, novas, velhas, mães, tias e irmãs. Eliminaram as elites femininas da UNITA. Mulheres angolanas de grande valor. Ficámos todos mais pobres. Eles, ainda mais. Mas não compreendem o que perderam. 

Algumas mulheres da UNITA foram para as fogueiras com os filhos ao colo. Alguns dos que hoje nos prometem democracia e alternância, atearam essas fogueiras criminosas. Quem um dia assistiu a esse inferno dantesco, a essa loucura sem remissão, nunca mais se reconcilia com a verdade, com a Paz e o amor. 

O progresso é encarado por eles como um obstáculo aos seus instintos violentos. A reconciliação e unidade nacional, magoam-lhes a existência no mais profundo das suas almas. Só sabem viver em guerra e não conseguem imaginar o mundo de outra forma que não seja matar, destruir, manchar, sujar, renegar, mentir. A verdade deles é tão hedionda que atinge e reduz a pó o que de melhor têm os seres humanos. Professam a verdade da violência e da morte.

Os que cresceram num ambiente de guerra e foram crianças instrumentalizadas para matar e destruir, merecem a nossa solidariedade porque afinal também são vítimas. Temos de apoiá-los e mantê-los entre nós, em nome dos sagrados valores da democracia. É o preço que todos temos de pagar por um passado doloroso que foi resgatado pela Paz de Luena. Pelo Perdão do Cuito. 

O problema mais difícil de resolver está nos políticos que não tiveram esse passado, mas se comportam como os meninos que foram instrumentalizados para a guerra e assim cresceram, até herdarem direcções partidárias. Adalberto da Costa Júnior é um desses produtos tóxicos. 

Nos países mais desenvolvidos do mundo as manifestações de rua têm regras. Quando os “cabeças rapadas” e outros grupos de extremistas querem manifestar-se, só o podem fazer em locais previamente marcados e com segurança policial. Têm de ser protegidos das maiorias que defendem a democracia. Nós temos em Angola políticos que se servem dos nossos “cabeças rapadas” para porem em causa o regime democrático e os titulares dos órgãos de soberania, legitimados pelo voto popular. Mas esses políticos não dão a cara. E mesmo que dessem ou abrissem os olhos, não conseguiriam ver para além dos seus umbigos. 

Eles são os únicos, os maiores, os iluminados. Os que ganham eleições com maiorias absolutíssimasn (o MPLA), não existem. Eles recusam-se a reconhecer a sua existência. Em alguns casos, nem acreditam neles próprios. Mas são os principais beneficiários destes 20 anos de Paz. Ainda bem. Não podemos deixar ninguém para trás, nem os que fazem da cegueira política o seu modo de vida.  

Hoje ouvi a líder do Partido Humn ista de Angola, Bela Malaquias,  dizer aos seus seguidores no Huambo que promete aos angolanos melhortar as suas vidas. Melhorar o emprego. Melhorar a saúde e a educação. Melhorar, melhorar, melhorar. E rematou: “Nós não prometemos mudança porque sabemos que muitas vezes, sem querer, mudamos para pior, muito pior. Por isso vamos lutar para melhorar a vida do Povo Angolano”. Bonito. Era tão bom que os sicários da UNITA ouvissem e compreendessem esta mensagem!

*Jornalista

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