sábado, 20 de agosto de 2022

O POEMA DE JORGE REBELO -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Para enviar uma mensagem positiva, bela e poética a todas e todos os oportunistas desta vida, sobretudo aos que devem ao MPLA tudo o que são e têm mas agora cospem no prato, um amigo enviou-me um poema belíssimo que me disse ser de Agostinho Neto. Li, reli e na verdade é uma peça que fala de todas e todos os que, por ambição desmedida e oportunismo apanharam o comboio da Revolução para encherem a bolsa e darem satisfação a ódios antigos. Mas também para apresentarem a factura do que dizem ter feito pelo Povo. 

Eu não conhecia o poema  mas fiquei feliz por passar a conhecê-lo. Ainda que admirado, porque conheço bem a obra de Agostinho Neto e nunca me tinha cruzado com tão belo poema. 

Uma amiga, assim que leu a minha crónica O Governo à Prova de Guerra disse-me que o poema não é de Agostinho Neto mas do poeta moçambicano Jorge Rebelo. Fui investigar e confirmei. O autor do poema “Do Povo Buscamos a Força” é mesmo de Jorge Rebelo, poeta moçambicano e que foi dirigente da FRELIMO. Ele é que redigiu a Constituição da República Popular da Liberdade Universal. Que agora repito. Pedindo desculpa ao autor e aos meus leitores pelo erro. Mas também dando às e aos vira-casacas, às e aos oportunistas que hoje cospem no prato, rasgam a bandeira do MPLA e traem o Povo Angolano, a oportunidade de se reverem neste espelho poético:

Não basta que seja pura e justa

a nossa causa

É necessário que a pureza e a justiça

existam dentro de nós.

Dos que vieram

e connosco se aliaram

muitos traziam sombras no olhar

intenções estranhas.

Para alguns deles a razão da luta

era só ódio: um ódio antigo

centrado e surdo

como uma lança.

Para alguns outros era uma bolsa

bolsa vazia (queriam enchê-la)

queriam enchê-la

com coisas sujas

inconfessáveis.

Outros viemos. Lutar pra nós é ver aquilo

que o Povo quer

realizado.

É ter a terra onde nascemos.

É sermos livres pra trabalhar

É ter pra nós o que criamos.

Lutar pra nós é um destino

é uma ponte entre a descrença

e a certeza do mundo novo.

Na mesma barca nos encontramos.

Todos concordam - vamos lutar.

Lutar pra quê?

Para dar vazão ao ódio antigo?

Ou pra ganharmos a liberdade

e ter pra nós o que criamos?

Na mesma barca nos encontramos.

Quem há-de ser o timoneiro?

Ah as tramas que eles teceram!

Ah as lutas que aí travamos!

Mantivemo-nos firmes:

 no povo buscáramos a força

e a razão.

Inexoravelmente

como uma onda que ninguém trava

vencemos.

O Povo tomou a direção da barca.

Mas a lição lá está, foi aprendida:

Não basta que seja pura e justa

a nossa causa

É necessário que a pureza e a justiça

existam dentro de nós

Jorge Rebelo

*Jornalista

Na imagem: Jorge Rebelo (na imagem) é poeta, advogado e jornalista moçambicano de origem Goesa. Rebelo estudou Direito na Universidade de Coimbra, Portugal, e foi um destacado membro da Frelimo onde ocupou cargos no Comitê Central, Comité Executivo e foi Ministro para a Informação do primeiro governo pós independência. Poeta, editou a revista ,«Revolução de Moçambique». Embora José Craveirinha seja conhecido como "O Poeta de Moçambique", Rebelo é conhecido como «O Poeta de Revolução Moçambicana". -- in Galeria dos Goeses Ilustres

Sem comentários:

Mais lidas da semana