Joana Amaral Dias* | Diário de Notícias | opinião
A perseguição às galinhas
poedeiras prossegue. Insiste-se no seu registo e no anúncio incessante dessa
obrigatoriedade, como se um ataque ao mundo rural estivesse
Há muito tempo que os perniciosos efeitos do afastamento da terra se fazem sentir. Basta pensar no absurdo dos anunciados refúgios climáticos que sugarão mais uns milhões aos trabalhadores portugueses. Afinal, qualquer alentejano ou qualquer serrano, habituado há séculos (e antes do advento do aquecimento global) a temperaturas superiores a 40 graus dias consecutivos, sabe bem criar esses abrigos - são as sombras frescas - a plantação de árvores como carvalhos, castanheiros ou nogueiras - a construção correcta das habitações (materiais, orientação, etc.). Agora esta nova ciência de braço dado com uma nova ordem política (quando na verdade não passa da tal forrada suína abraçada a uma pseudo-sofia), rasga e cospe para a lixeira uma sabedoria milenar, conhecimentos preciosos sobre a sobrevivência e a adaptação à natureza. Enfim. Eis a verdadeira política da terra queimada.
Os fundos ambientais são drenados nos transportes públicos das urbes, na subsidiação das energias renováveis, mas real investimento na Natureza nem vê-lo.
Mesmo os incêndios florestais são já e também produto deste despotismo altaneiro. Depois da hecatombe de 2017, este governo decidiu atacar ainda mais quem vive e investe no interior, lembram-se? Decretaram coimas para obrigar os pequenos proprietários a limpar mato e ervas em Março, quando estas crescem pujantes com as chuvas do debute primaveril, por exemplo, ou insistem em acossar a pastorícia desprezando os equilíbrios que dela resultam. Em vez de se incentivar o aproveitamento energético dos sobrantes de biomassas, ao invés de se promover o emprego nas regiões desertificadas do Interior, dificulta-se qualquer auto-suficiência e engordam-se monopólios, implodindo a nevrálgica coesão entre os portugueses
Décadas a fio de políticas públicas que empurraram as populações para o Litoral entraram agora num acelerador de partículas. Parece que se pretende empilhar a mole humana nas grandes metrópoles, enquanto a maioria do território fica para meio punhado. Os fundos ambientais são drenados nos transportes públicos das urbes, na subsidiação das energias renováveis, mas real investimento na Natureza nem vê-lo.
Há uma guerra em Portugal não entre o Rato do Campo e o Rato da Cidade, mas entre a ratazana do cume e os ratinhos cegos. Uma destas frentes bélicas mais visíveis, realmente, é a indústria do fogo que nos consome mais e mais. Mas essa voragem está integrada num ataque maior, uma luta que se travará pelo direito ao bosques e aos mares, pela qualidade do ar que respiramos e pela água que bebemos. Pela galinha dos ovos de ouro.
*Psicóloga clínica - Escreve de acordo com a antiga ortografia
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