Governo apresenta medidas esta segunda-feira: o que pode vir aí no combate à inflação
Serão cerca de dois mil milhões de euros para lutar contra a inflação - e esta segunda-feira deve conhecer-se apenas a parte que toca às famílias. Um aumento do valor do cheque de apoio às famílias mais vulneráveis e das pensões e uma intervenção nas rendas devem constar do plano
A taxa de inflação terá abrandado, em agosto, para os 9%, face a 9,1% registados em julho, de acordo com a estimativa do Instituto Nacional de Estatística (INE). Apesar do ligeiro alívio, esta continua a ser a maior subida de preços homóloga em várias décadas, impulsionada pelo encarecimento da energia e dos bens alimentares, duas componentes às quais qualquer português não consegue escapar.
É a principal palavra da rentrée: inflação. O combate aos seus efeitos ocupa o debate político, com a oposição a chegar-se à frente com propostas, em antecipação às que o Governo vai aprovar na segunda-feira em Conselho de Ministros extraordinário.
O Diário de Notícias avançou na sexta-feira que o Governo prepara medidas avaliadas em 2 mil milhões de euros para mitigar os efeitos de uma subida de preços que, por ora, têm como “almofada” medidas avulsas como o apoio extraordinário às famílias mais vulneráveis de 60 euros, pago por duas vezes em 2022 aos beneficiários da tarifa social da eletricidade, ou o mecanismo de desconto nos combustíveis equivalente à descida do IVA através da diminuição do imposto sobre os produtos petrolíferos (ISP). No seu espaço de comentário na SIC deste domingo, Marques Mendes falou num valor ligeiramente inferior aos 2 mil milhões.
Segundo o jornal, que ressalvava que à data de publicação do artigo o plano ainda não estava fechado, as medidas incluem o aumento do valor do cheque de apoio às famílias de 60 euros para 100 euros. O cheque passa também a ser atribuído a lares com rendimentos acima das prestações mínimas sociais - isto é, entrando já na chamada classe média -, mas limitado aos agregados cujos rendimentos não lhes permitam deduzir esse apoio em IRS, por estarem isentos devido ao baixo montante que auferem.
O DN avança que o Governo irá antecipar os aumentos aos pensionistas, que deverão ver uma atualização das reformas para 2023 acima da taxa de inflação média de 2022, ou seja, mais de 6%. O Executivo quer, segundo o jornal, antecipar parte deste aumento para o último trimestre deste ano, aliviando a despesa no Orçamento para 2023. Marques Mendes garantiu também este sábado que as pensões vão ser um dos pontos principais, para além de outras medidas nas áreas social, fiscal e da energia.
O comentador revelou ainda que vai ser anunciada uma intervenção nas rendas, que terá dois caminhos possíveis: um travão aos 5,43% de aumento previstos ou uma subsidiação dos inquilinos.
O Governo pretende ainda ajudar
as empresas dependentes do gás natural e em risco de paragem devido ao aumento
dos preços, mas o primeiro-ministro já tinha anunciado que estas medidas
dependem de reuniões em Bruxelas, nomeadamente da cimeira dos ministros
europeus da Energia, na quinta-feira. Na calha pode estar o aumento do
teto máximo do apoio destinado às indústrias utilizadoras intensivas de gás
natural (fixado em 400 mil euros), que arrancou
Para financiar estas medidas, ao contrário do que aconteceu noutros países, não serão aplicados impostos sobre os lucros extraordinários das empresas, os chamados "windfall taxes", avançou esta sexta-feira o “Público”.
MARCELO JÁ FALOU COM COSTA, MAS DESCONHECE MEDIDAS
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, disse este domingo que o pacote de medidas que o Governo irá apresentar para responder à inflação deve ser urgente, flexível e dirigido aos mais carenciados, mas também à classe média.
Marcelo repisou o que já tinha dito no sábado: é necessária uma "intervenção de choque", mas "com cuidado" para não prejudicar as contas públicas. Quando questionado sobre o valor previsto do pacote, o Presidente respondeu que é necessária, “por um lado, uma intervenção de choque para compensar a situação vivida nos últimos meses e neste momento.” Mas, por outro lado, “é preciso acompanhar a inflação” e as medidas podem ter de ser ajustadas mês a mês. “Podia ter-se tomado as medidas um bocadinho mais cedo”, censurou Marcelo Rebelo de Sousa, antes de emendar: “por toda a Europa são anunciadas agora”.
Certo é que há condições para o pacote: "O PIB está a crescer 7,1% - está a crescer muito -; em segundo lugar, a própria inflação proporciona receitas excecionais no Orçamento do Estado. Por isso, há um conjunto de condições que para o ano podem não ser repetíveis. O PIB pode não voltar a crescer tanto, a situação em termos de disponibilidade pode não ser tão grande e por isso tem de haver esse equilíbrio: atacar a situação naquilo em que é preciso atacar com a urgência e ver a evolução da economia e da própria inflação para ter a certeza de que é preciso ajustar mês a mês, permanentemente, as medidas à evolução da situação vivida", acrescentou
O Presidente da República confirmou ter falado com o primeiro-ministro sobre o pacote de medidas, mas escusou-se a entrar em detalhes. “A conversa foi circunstancial”, disse, acrescentando que António Costa está “a fazer o que tem de fazer, que é entre hoje e amanhã [domingo e segunda-feira] trabalhar no pacote”.
LIGA DOS PENÚLTIMOS
Portugal faz parte do grupo de países europeus que mais tarde vai apresentar um pacote de medidas abrangentes de apoio às famílias e às empresas. Espanha e França aproveitaram o início do verão para decretarem os novos apoios, que vão desde atribuição direta de dinheiro a famílias de menos rendimentos à diminuição de impostos em bens como os combustíveis ou a eletricidade.
A Alemanha já vai no terceiro pacote de medidas de apoio ao poder de compra, e apresentou o mais recente, que inclui ajudas diretas através de bónus salariais de 300 euros a todos os trabalhadores, este domingo, ascendendo para os 65 mil milhões de euros o valor aplicado em medidas de apoio aos cidadãos.
Em Itália, o anterior primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, aprovou o segundo pacote de medidas de apoio em agosto e prepara-se para aprovar um novo, mesmo estando demissionário, na próxima semana. Draghi está sob pressão da indústria italiana, segundo a Reuters, e assim vai subir a fatura para um total de 52 mil milhões de euros orçamentados em medidas de alívio desde o início do ano.
Pedro Carreira Garcia | Expresso
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