Artur Queiroz*, Luanda
O Presidente João Lourenço é figura central nas “notas” da TPA (Televisão Porca de Angola) e do seu canal de notícias. Um senhor do Instituto de Desenvolvimento Agrário distribuiu sementes na província do Uíje. Uma camponesa agradeceu o gesto generoso do Presidente João Lourenço.
A TPA está a comemorar 47 anos, graças ao génio do Presidente João Lourenço.
A UNITA elegeu 90 deputados. Alguns são oferta do senhor Abel Chivukuvuku mas a maioria foi eleita graças à generosidade do Presidente João Lourenço. Nunca ninguém deu tanto à UNITA.
A primeira estrada asfaltada no
“distrito” do Uíje foi inaugurada em 1960. Liga as cidades do Uíje e Negage.
Hoje, graças ao Presidente João Lourenço, está pior do que nos anos 50. Ninguém
passa no Morro das Pedras. Ninguém se atreve a ir para os lamaçais daqueles
Graças ao Presidente João
Lourenço, os professores do ensino superior estão
Temos de agradecer ao Presidente João Lourenço a instabilidade na TAAG, um símbolo nacional. E na Angola Telecom. Assim ficamos todos a saber que daqui a cinco anos não fica pedra sobre pedra. O próprio MPLA está a treinar para ficar com a relevância do partido NJANGO. Obrigado, camarada presidente.
Graças ao Presidente João Lourenço ardeu uma parte do mercado do Kifica. Uma coisa grandiosa que só está ao alcance dos grandes líderes. No local não existem bocas de incêndio, não há extintores, não há fiscalização, ninguém quer saber da segurança. Mas assim todos ganhámos imagens espectaculares do Kifica a arder. Obrigado, camarada presidente.
O Presidente João Lourenço participou no Fórum Internacional de Dakar. Fez um discurso importantíssimo que a TPA passou com ruído insuportável. Ainda ninguém explicou a quem manda na casa que no audiovisual, quando as imagens e o som não têm qualidade, pura e simplesmente não vão para o ar. Ruído, nunca! Pois eles afogaram as palavras do Presidente da República num ruído insuportável. Valeu o Jornal de Angola ter publicado o texto na íntegra.
A parte mais importante da intervenção do Presidente João Lourenço tem a ver com o reconhecimento de que Angola deu um contributo inestimável para a libertação do continente africano e particularmente da África Austral. Só não disse que a libertação se deve aos seus antecessores, Agostinho Neto e José Eduardo dos Santos. Mas isso pouco importa. O ano do centenário do nascimento do Fundador da Nação foi marcado pela mais confrangedora mediocridade no programa das comemorações oficiais.
José Eduardo faleceu em Barcelona e meteram o corpo num caixote, devidamente arrecadado no porão de um avião. Chegou a Luanda à noite, para ninguém dar conta de que antes do Presidente João Lourenço, Angola teve dois presidentes.
No fórum de Dakar, o Presidente João Lourenço falou da reconstrução nacional, depois de 2002. Por acaso, quem lançou o programa foi o presidente encaixotado e transportado no porão de um avião. Mas esse pormenor só atrapalha. Obrigado, Presidente João Lourenço por ter assistido, de palanque, às acções da Reconstrução Nacional. E para nunca mais ousarem fazer obra sem sua autorização. Quem participou, quem trabalhou, quem lutou, quem garantiu os financiamentos, fica de castigo. Obrigado, camarada presidente.
José de Lima Massano, governador do Banco Nacional de Angola, revelou que foi ele e mais ninguém que mandou tirar a efígie de José Eduardo dos Santos das notas de Kwanza, em 2021. Obrigado, Presidente João Lourenço. O seu Massano é um portento.
Graças ao Presidente João Lourenço, os bêbados ao volante matam que se fartam, de Cabinda ao Cunene, do Lobito ao Luau.
A pista do aeroporto do Uíje está às escuras porque sicários da UNITA roubaram centenas de metros de cabos eléctricos. Obrigado, camarada presidente.
O filho do Cacau anda feliz da vida porque humilhou e espezinhou os trabalhadores da TAAG. Ele chama-lhes “colaboradores”. Assim é que os ministros devem proceder. Pôr na ordem quem protesta. Se não fosse o Presidente João Lourenço estávamos todos a respirar por guelras, como os mabecos.
Graças aos professores do Ensino Superior, Angola ainda se parece com um país.
Graças aos trabalhadores da Angola Telecom e da TAAG, ainda podemos acreditar no futuro. E respirar de alívio, O povo que derrotou os invasores estrangeiros em 1974 e o regime racista de Pretória ainda não está totalmente submetido e escravizado. Ainda não estamos todos de rastos aos pés do estado terrorista mais perigoso do mundo, os EUA.
Graças à Reconstrução Nacional ainda somos um país. Quem dirigiu e executou o programa merece respeito e consideração. Nunca perseguições.
A nossa sorte é que temos o deus João Lourenço. Sem ele, os faxinas Lungo e Miala nunca seriam fardados de generais, para humilharem os verdadeiros generais.
Assim, está tudo certo e só temos que agradecer ao camarada presidente, extremoso pai de caranguejos, carrinhos ou omatopalos e inimigo figadal dos marimbondos ricos que têm estatuto de empresários, criadores de riqueza e postos de trabalho.
*Jornalista
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