segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Angola | OS MEUS ARTISTAS PREFERIDOS – Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

Mário Rui Silva (Márui para os amigos) é uma das grandes figuras da Cultura Angolana. Em meados dos anos 60 apareceu nos palcos e nas festas liderando o conjunto musical Os Jovens cuja vocalista era sua irmã Paula. Em pouco tempo lideravam o panorama musical luandense. 

O jovem músico foi discípulo de Aniceto Vieira Dias (Liceu). Desde muito jovem tornou-se um estudioso e investigador da Língua Kimbundu. Anda há anos procurando apoios para a publicação do seu trabalho linguístico. Que eu saiba, sem sucesso. Somos amigos há mais de 50 anos e fomos vizinhos na Rua José Anchieta, Vila Clotilde. 

Um dia concorremos ao Festival da Canção de Luanda. Eu escrevi a letra, o Márui a música e a voz era de Tino Catela, um galã que tinha a voz romântica mais famosa de Angola. Falei com o Adulcino Silva, entreguei-lhe a “maquete” e ele aceitou tudo entusiasmado. O líder do conjunto Os Jovens e o Tino eram sinónimos de grande sucesso do tema. 

Uma semana antes de arrancar o festival, o Adulcino comunicou-me que a nossa canção tinha sido retirada. Muita desculpa pá, mas aquilo não pode ir para o palco!

Na época escrevia poemas de amor mas o Gilberto Saraiva de Carvalho (Gigi) ensinou-me o caminho das pedras até ao MPLA e mudei o disco. Mais de 50 anos depois não me lembro da letra toda, mas recordo que o refrão era este: Rei capitão/soldado ladrão repetido três vezes. Ainda tenho na memória esta parte: “Era o tempo da conquista/ era o tempo do degredo/ já floriam flores de fome/ e amigos apodreciam na prisão/rei capitão/soldado ladrão/ rei capitão soldado ladrão/ rei capitão/soldado ladrão”.

Lá foi a canção para o lixo, impiedosamente banida pela censura instalada no palácio do governador. Foi a segunda vez que me interromperam a carreira artística. A primeira aconteceu aquando era partenaire da Perlita, artista de striptise. Consegui convencê-la a miudar o nome artístico para Casta Susana e ela achou genial. 

Casta Susana despia-se ao som do tango “Esperanza” (ai que pena me dás Esperança/ por deus/ tão graciosa mas sem coração). E eu no tablado, calças justas, casaco de bombazina grená, brilhantina no cabelo, dava passos tanguistas e quando me ajoelhava frente à diva, ela atirava-me displicentemente as peças de roupa que despia. Quando ficava nua, atirava-se para os meus braços e eu saía correndo do palco. Éramos muito púdicos. Os clientes insultavam-me de tudo.

Um dia, antes de actuar, estive umas horas no Bitoque Sardinha Assada, ali ao lado da Mutamba, à bebida e à conversa. Confesso que estava um tanto tocado quando subi ao tablado. Mal choveram os insultos, pus Casta Susana em segurança e regressei, enfrentando os insultadores. Levei uma tareia monumental e fui despedido. Assim se perdeu um artista de variedades. A segunda vez, foi quando censuraram a canção com música do Mário Rui Silva e a voz potente do Tino Catela. Rei capitão soldado ladrão. Já não tinha que ser.

Mais recentemente, o Márui musicou uma trova de minha autoria. Em dois anos apresentou três versões. Música e voz dele. Uma maravilha. A acção decorre numa ilha do rio Cuanza, reino da Matamba. Diz o trovador: Eu vi arder o nosso berço, meu amor!

Há dez anos aproveitei uma folga de sábado para visitar o meu mano Artur Neves no Clube Hípico. Mário Rui Silva também apareceu. Só podia dar muita música. Eu escrevia de improviso umas trovas e o Artur metia música nas palavras. O Márui sublinhava as frases com o seu violão. Ele é um grande músico, um grande maestro, um enorme artista. Como não gravámos os improvisos, tudo se perdeu, até o Clube Hípico e agora o Man’Neves luta pela vida entre a Calima e a cidade do Huambo. 

Ontem o nosso Márui foi agraciado com o prémio Nacional de Cultura (Música). Parabéns meu velho. Mais vale tarde do que nunca. Esperto que não lhe retirem o prémio, por ser meu amigo.

Uma das figuras mais sinistras da Administração Biden é um tal Antony Blinken, diplomacia à moda da CIA. Hoje o monstro disse que Angola é um parceiro estratégico para os EUA. A diplomacia de Kinkuzu ou do Morro da Cal funciona. Alguns políticos angolanos acham que por terem mansões em Miami e as filhas darem à luz nos EUA, podem entregar o ouro ais bandidos. Não podem. E ser proprietário em Miami só quer dizer que se juntaram aos gusanos. Aderiram ao lixo humano constituído por cubanos que são a vergonha dos vermes.

Por falar em vermes. Um tal Vítor Ramalho foi durante muitos anos criado do Savimbi em Lisboa e o elo de ligação com o Partido Socialista do Mário Soares. Agora é secretário-geral da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA). Na altura o aborto dizia-se angolano. E apoiava, entusiasmado, a invasão das tropas sul-africanas. Os seus maninhos serviam de capa às agressões estrangeiras. 

Hoje escreve um texto asqueroso sobre a situação na Ucrânia. E não se esquece de elogiar o Presidente João Lourenço por condenar a “agressão russa”. O leproso moral nunca condenou a invasão militar dos racistas sul-africanos a Angola, o seu país. O que mais dói é isto: Esse anormal come à custa dos angolanos. 

Parabéns mais do que merecidos, Mário Rui Silva. Sempre vale a pena termos um  homem de culto à frente do Ministério da Cultura. O Zau não sabe nada de Turismo mas o Turismo sabe muito dele. Afinal fez bem ter aceitado o cargo. Se me sair o euromilhões publico os teus estudos da Língua Kimbunbu e um romance de Onofre Martins dos Santos, que é do melhor que se escreveu em Angola nos últimos 50 anos.

*Jornalista

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