quinta-feira, 17 de novembro de 2022

COSTAS DE COSTAS, PORTUGUESES NA PENÚRIA, COM FOME E A LUTAR EM GREVES

QUEM BOA CAMINHA FAZ…

Cristina Figueiredo, Editora de Política da SIC | Expresso (curto)

Passou muito pouco tempo, (quase) todos os protagonistas ainda estão no ativo e a memória dos acontecimentos para uns não coincide exatamente com a de outros. Carlos Costa, ex-governador do Banco de Portugal (BdP), deu à estampa um livro sobre a sua passagem pela instituição e a sua versão das coisas está longe de ser consensual. Se a ideia era provocar um vendaval (que é um propósito legítimo quando se publica um livro) foi bem sucedida: Costa, Carlos abriu uma guerra que começou por ser “apenas” contra Costa, António (que mal se conheceu o conteúdo da publicação anunciou um processo por difamação ao autor) para já se ter transformado em algo mais vasto. Ontem, o primeiro-ministro acusou mesmo o ex-governador de “montar uma operação política” contra o seu bom nome. Horas mais tarde, Costa, António foi à gaveta buscar um comunicado do BdP de dezembro de 2015 para demonstrar que, ao contrário do que alega Costa, Carlos, banco central e Governo estavam concertados.

No entretanto, o Presidente da República veio em auxílio do chefe do Governo, no que muito irritou (já começa a ser uma constante) o PSD - que esteve em peso no lançamento do livro, na terça-feira, e acha o comportamento de Marcelo em relação a Costa, António, “de um nonsense total” -, mas mereceu (óbvio) os aplausos do PS. Mário Centeno, que sucedeu a Costa, Carlos, no BdP, lamenta “o velho hábito de reescrever a história com os dados censurados”. Vários banqueiros que ouviam o atual governador a dizer estas coisas concordaram com a análise: “Não li o livro nem pretendo ler”, disse João Pedro Oliveira e Costa, CEO do BPI, condenando “as pessoas que se esqueceram de tomar o Memofante”. Pedro Santana Lopes, que já foi primeiro-ministro (e já foi do PSD), confessou não gostar “de coisas à traição”.

OUTRAS NOTÍCIAS, CÁ DENTRO

E três semanas depois de ter sido conhecido o caso do agora célebre pavilhão transfronteiriço de Caminha, a Câmara Municipal pôs fim ao contrato com o empresário Ricardo Moutinho porque, justifica o presidente da autarquia, Rui Lages, as garantias previstas no contrato (celebrado em 2020!) não chegaram. A denúncia do contrato vai obrigar o promotor a devolver os 300 mil euros que o executivo camarário, então presidido pelo agora também célebre Miguel Alves, lhe adiantou sobre o arrendamento futuro da construção que nem terreno tinha ainda. A decisão vai esta noite à Assembleia Municipal.

Há exatamente uma semana que, à conta deste surreal episódio, António Costa está sem secretário de Estado Adjunto. No PS já há quem esteja “nervoso” com os sucessivos tropeções em si próprio de um Governo (ou de um primeiro-ministro) que tecnicamente só tem seis meses mas já acusa, e bem, o desgaste dos sete anos que Costa já leva em São Bento.

Marcelo Rebelo
de Sousa recebeu em Belém uma carta com uma bala, um telemóvel e um pedido de um milhão de euros, conta a manchete desta quinta-feira do Correio da Manhã. O Presidente desvaloriza: “Continuo a fazer a minha vida normal” disse, já esta madrugada, à CMTV.


“Estão no ativo e agem online, a maioria assume o próprio nome. Pedem "uma limpeza seletiva". Dizem que há "tanta gente para abater". Insultam o Presidente da República, o primeiro-ministro e vários líderes partidários. Oferecem tiros, prometem mutilar pessoas, descrevem com detalhes sórdidos a violação sexual de uma jornalista. Chamam "raça indesejável" aos ciganos. Assumem-se como racistas”. Excerto do texto que acompanha a grande reportagem do Consórcio de jornalistas portugueses de investigação (de que fazem parte a SIC e o Expresso) “Quando o ódio veste farda”, emitida ontem no Jornal da Noite da SIC, e que pode ver na íntegra aqui. Onde se detalha a investigação da Judiciária que concluiu que há quase 600 operacionais da GNR e da PSP a usar as redes sociais para praticar crimes de ódio (violando a lei e os regulamentos das forças de segurança). Perante este trabalho de investigação jornalística, o ministro da Administração Interna já anunciou a abertura de um inquérito.

Ainda se lembra do caso dos refugiados ucranianos de Setúbal recebidos por funcionários russos com ligações ao Kremlin? A memória pode ser curta mas a Judiciária não se esqueceu e ontem fez novas buscas relacionadas com o caso, desta vez na Câmara de Setúbal. Apreendeu documentos e, apurou o Expresso, irá interrogar Yulia e Igor Kashin (os tais funcionários russos da autarquia).

Das 24 medidas anunciadas para apoio às empresas durante a pandemia, 15 não chegaram a sair do papel, revela uma auditoria do Tribunal de Contas conhecida já esta quinta-feira. Um arraso para o então ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, o principal responsável por um pacote que o TC considera incompleto, insuficiente e ineficaz.

Hoje é dia de greves: na Autoeuropa, no metro de Almada, nos enfermeiros. E a partir das 16h há uma marcha lenta na A23 entre a Guarda e o Fundão, exigindo o fim das portagens na A23 e na A25. É só o prenúncio de um ano que se adivinha fértil em contestação social.

Hoje, às 18h45, Portugal enfrenta a Nigéria (seleção orientada pelo português José Peseiro), no Estádio José Alvalade, no que será o último encontro de preparação antes do Mundial do Qatar. Cristiano Ronaldo não joga por estar a recuperar de uma gastroentrite, segundo Fernando Santos, mas nem por isso deixa de estar nas parangonas desportivas, agora que foi para o ar a primeira de duas partes (a segunda é emitida esta noite) da entrevista que deu ao jornalista britânico Piers Morgan. Ainda sobre o Campeonato do Mundo, António Costa foi ontem ao final do dia à Cidade do Futebol, em Oeiras, desejar boa sorte aos jogadores. Já se sabe que o primeiro-ministro, o Presidente da República e o presidente da Assembleia da República irão ao Qatar, em representação de Portugal. O Livre acha que, desta forma, os mais altos dignitários da nação estão a caucionar um regime que viola direitos humanos.

…E LÁ FORA

Um grande susto, a mostrar (se preciso fosse) como caminhamos em gelo finíssimo à medida que nos aproximamos dos 9 meses de conflito na Ucrânia: terça-feira um míssil que ao início se julgava russo caiu em território polaco, matando duas pessoas e pondo toda a NATO em alerta. 24 horas depois, uma investigação (ainda) preliminar concluiu tratar-se, afinal, de um míssil ucraniano que, ao intercetar um míssil inimigo, caiu sobre uma localidade polaca a cerca de 10 km da fronteira ucraniana. O comentador da SIC Nuno Rogeiro avança três teorias para explicar o que sucedeu. Moscovo chamou entretanto o seu embaixador em Varsóvia para o sensibilizar para "o caráter inaceitável do reforço na Polónia de uma histeria antirrussa".

É conhecida hoje, às 12h30 (hora de Lisboa), a sentença do julgamento da queda do voo MH17, da Malaysia Airlines: três russos e um ucraniano, oficiais superiores dos separatistas do leste da Ucrânia, são acusados de terem abatido o avião em 2014, provocando a morte de 298 pessoas.

Por um se ganha, por um se perde. Depois dos democratas terem assegurado o controlo do Senado, o Partido Republicano conseguiu os 218 lugares que lhe permitem ter a maioria na Câmara dos Representantes em Washington. Kevin McCarthy é o nome indicado para substituir Nancy Pelosi. A vida de Joe Biden já não era fácil. Não se prevê que melhore, numa altura em que Donald Trump já anunciou a intenção de se recandidatar em 2024.

O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, e o seu ministro das Finanças, Jeremy Hunt, apresentam hoje o Orçamento do Estado para 2023. Seria um acontecimento relativamente banal e a passar mais ao menos despercebido não fosse o facto de a estratégia económica e fiscal do executivo britânico ter sido precisamente o que ditou o princípio do fim da antecessora de Sunak no cargo, Liz Truss, escassos 42 dias depois de ter tomado posse.

Três meses depois da morte de Mahsa Amini, continuam os protestos no Irão e a violência policial sobre os manifestantes. Ontem foi numa estação de metro em Teerão: vídeos nas redes sociais mostram a polícia a disparar sobre as pessoas e a espancar mulheres que não usavam o obrigatório véu.

FRASES

"Este é o pior dia para se falar num livro em que cada página que se vai conhecendo se percebe que é um conjunto de mentiras, meias verdades e deturpações"

António Costa, primeiro-ministro, aproveitando o centenário de José Saramago para responder às acusações que o antigo governador do Banco de Portugal lhe faz no livro “O Governador”

“[Carlos Costa] entendeu que devia montar uma operação política de ataque ao meu caráter, de ofensa da minha honra e da minha honorabilidade. Está no seu direito, mas eu também estou no meu direito de defender o que cada pessoa tem de mais importante, que é o seu bom nome"
idem

"Foi uma história que correu bem no sentido em que o interesse nacional impunha que corresse assim"

Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República, sobre a venda da participação de Isabel dos Santos no BPI e a inoportunidade do seu afastamento do BIC

"Só há uma dimensão em que mantemos o velho hábito: o hábito de reescrever a história com os dados censurados e, na verdade, vos digo que parece que gostamos muito disso"

Mário Centeno, governador do Banco de Portugal, em resposta velada ao seu antecessor, Carlos Costa

"Tentámos até à última não deixar cair o projeto"

Rui Lages, presidente da Câmara de Caminha, sobre o famigerado Centro de Exposições Transfronteiriço

PODCASTS (sugestões da equipa multimédia do Expresso)

Podcasts e rádio, jornalismo na voz de Pinto Balsemão. O Expresso da Manhã chega ao episódio 500 e fala de podcasts e de rádio com o fundador do Expresso, presidente do Conselho de Administração do grupo Impresa e autor do podcast “Deixar o Mundo Melhor”. O que vale o áudio no universo da Comunicação Social? Francisco Pinto Balsemão responde a Paulo Baldaia.


O aperto de mão entre Xi e Biden que é um verdadeiro G2 nada favorável a Putin. Em Bloco de Leste, uma conversa de Martim Silva com Sandra Fernandes, cientista política e especialista em Relações Internacionais da Universidade do Minho, em que se fala de negociações, de pressões internacionais, de trincheiras, do Inverno, do G20 mas também do… “G2”.

As criptomoedas vão provocar uma nova crise financeira? Queda a pique das cotações, enormes falências e reguladores preocupados. É o cenário atual do universo dos criptoativos que vive, atualmente, uma fase de grande turbulência. No Money Money Money, João Silvestre conversa com Pedro Garcia, jornalista do Expresso, e Nuno Mello, analista da corretora XTB.

O QUE ANDO A LER…

Estou numa fase de não-ficção, necessitada que me sinto de ir até ao passado para compreender (ou tentar compreender) o presente. Terminei há poucos dias "O Esplendor e a Infâmia", de que já falei no último Curto, que percorre o primeiro ano de Churchill em Downing Street, coincidindo com os dias em que a Luftwaffe bombardeava Londres e o primeiro-ministro inglês, à espera a qualquer momento de uma invasão alemã, pressionava os EUA a entrarem na guerra (o que aconteceria depois do ataque do Japão à base norte-americana em Pearl Harbor, no final desse ano de 1941). Não tive tempo ainda de me atirar ao "calhamaço" que se segue: “Rússia - revolução e guerra civil 1917-1921”, de Antony Beevor. Conto dar conta dele no próximo Curto, lá mais para o Natal.

José Saramago teria feito 100 anos ontem. Um pretexto tão bom como qualquer outro para voltar à obra do único português galardoado com o prémio Nobel da literatura. O Expresso oferece-lhe “um memorial” dos títulos do escritor. E aqui pode reler a entrevista com a filha de Saramago, Violante, originalmente publicada na revista E no início deste ano.

…E A OUVIR

Bruce Springsteen tem novo disco desde a passada sexta-feira. Desta vez, deu tréguas a si próprio e optou por fazer um álbum de covers de clássicos da música soul (uns mais conhecidos do que outros). Há quem se sinta desiludido e lamente a falta de arrojo de "Only the strong survive" e o modo conservador como Bruce interpreta os 15 temas que o compõem. Mas, para mim, só a sua inconfundível voz a cantar Don’t play that song (um original de 1962 que Aretha Franklin celebrizou em 1970) já vale o disco todo. E, já agora, se há quem conquistou, por uma vez, direito à "preguiça" é o Boss, 73 anos, 22 álbuns (três só desde 2019), 140 milhões de discos vendidos. Para o ano vem em digressão (mais uma vez) à Europa, mas Portugal aparenta estar fora do roteiro. Virá em 2024?

E o Curto fica por aqui, neste dia mundial da Filosofia, a pedir que se revisitem os clássicos. Talvez o sempre atual Platão em “Sobre a Mentira”, onde Sócrates, em diálogo com Hípias, nos desafia a ver para além da superfície: “Não vês então que uma mesma pessoa é mentirosa e verdadeira nisso, e que o verdadeiro não é em nada melhor que o mentiroso?” . Ferramentas para ver além da superfície das coisas é também o que lhe damos nos sites do Expresso e da SIC Notícias. E, amanhã (ou já hoje, pelas 23h, para os assinantes digitais) na edição semanal do Expresso. Tenha um dia bom.

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