Líder comunista sublinha os défices estruturais a nível produtivo, energético e democrático que o país "frágil, vulnerável e dependente" enfrenta.
Jerónimo de Sousa faz, este sábado, o último discurso como secretário-geral do PCP na conferência dos comunistas portugueses. Nesta última intervenção, o líder comunista começou por falar do funcionamento democrático do partido e por culpar o capitalismo pelo agravamento dos problemas políticos, sociais e económicos do mundo.
"A vida está a confirmar a justeza das decisões que tomámos. É no plano do país o agravamento da situação económica e social, ausência de resposta aos problemas nacionais. A evolução da situação internacional continua marcada pela natureza exploradora e opressiva do capitalismo. O capitalismo não só comprova a incapacidade como é causa do agravamento dos problemas no panorama político, económico e ambiental", defendeu Jerónimo de Sousa.
O ainda líder comunista sublinha os défices estruturais a nível produtivo, energético e democrático que o país "frágil, vulnerável e dependente" enfrenta.
"Sistema de poder em que o capital age à margem e contra a Constituição da República. Défices estruturais agravados no domínio produtivo, energético e demográfico, impactos negativos no plano ambiental e no próprio regime democrático. Um país que se apresenta frágil, vulnerável e dependente. A maioria absoluta do PS e redução da expressão parlamentar do PCP alcançada numa base de chantagem e mistificação trouxe consequências para o povo e o país que são visíveis. Comprova-o o conjunto das opções que o Governo tem vindo a tomar nos mais diversos domínios, nas opções que estão a conduzir ao aumento das injustiças e desigualdades", explicou o secretário-geral do PCP.
Jerónimo de Sousa acusou também a governação de maioria absoluta de mostrar "um PS cada vez mais inclinado para a direita" e considerou que os socialistas, PSD, CDS e IL e Chega encenam e empolam divergências.
"Hoje está muito claro qual é o sentido da governação do PS maioritário e quão verdadeira era a palavra do PCP quando afirmava que o PS não queria resolver os problemas nacionais, mas tão só romper com a política de defesa, reposição e conquista de direitos e criar condições para retomar na plenitude a política de direita que sempre teve como sua", acusou Jerónimo de Sousa, na abertura dos trabalhos da Conferência Nacional do PCP, em Corroios, concelho do Seixal.
Para Jerónimo de Sousa, a governação socialista "mostra um PS cada vez mais inclinado para a direita", ao fazer opções de política económica e orçamental. Enquanto se questiona sobre o sentido da governação do PS maioritário, Jerónimo não tem dúvidas de que a proposta de Orçamento do Estado para 2023 vai deixar o país mais degradado.
"A proposta de Orçamento do Estado aprofundará o empobrecimento da maioria da população, agrada à injustiça fiscal e não traz respostas de fundo aos problemas da habitação, em contraste com as vantagens e benefícios fiscais concedidos aos grupos económicos. Traz o perigo de uma nova fase de definhamento económico e degradação social", defendeu.
"Aumento dos salários é emergência nacional"
Antes de deixar a liderança do partido, o ainda líder do PCP defende para o país uma política patriótica e de esquerda, que valorize o trabalho, dinamize e aumente a produção nacional, garanta a justiça fiscal, assuma a defesa do ambiente, liberte o país da submissão ao euro e assuma o desenvolvimento e soberania nacionais.
"Esta política requer o reforço do partido para uma alteração na relação de forças. Sabemos que o caminho é duro e quanto pesa a brutal ofensiva que se desenvolve contra o PCP, que é o que é e não abdica de o ser, com os objetivos de que é portador. Enganaram-se e vão continuar enganados", sublinha Jerónimo de Sousa, enquanto é aplaudido por centenas de comunistas.
Recordando o trabalho que tem sido feito pelo partido, Jerónimo afirma que o PCP tem promovido a melhoria dos serviços e o aumento geral dos salários. E não esquece que "é preciso salvar o SNS".
"Romper com o modelo assente nos baixos salários e precariedade, assumir o aumento geral dos salários como uma emergência nacional nos setores privado e público, com o significativo aumento do salário médio. É preciso defender o aumento do salário mínimo nacional, tomar iniciativa pelos direitos das crianças e dos pais. Combater o défice demográfico, a começar pela defesa dos direitos dos trabalhadores. Políticas que assegurem o direito a brincar e o desenvolvimento integral do indivíduo", ressalva Jerónimo de Sousa.
O secretário-geral do PCP termina a intervenção com três vivas ao partido, que considera "portador de um projeto de futuro" que "influencia a evolução da vida nacional".
Mais de 900 delegados do PCP discutem este fim de semana o reenquadramento do partido no panorama político do país na quarta conferência nacional em 100 anos, que vai também confirmar a eleição de Paulo Raimundo como secretário-geral.
O pavilhão do Alto do Moinho, em Corroios, no Seixal, vai receber entre 900 e 1.000 delegados comunistas, de acordo com a estimativa do partido, na Conferência Nacional do PCP "Tomar a iniciativa, reforçar o partido, responder às novas exigências".
Os trabalhos arrancaram às 10h30, com esta última intervenção do secretário-geral cessante do PCP, Jerónimo de Sousa. Ao longo do dia estão previstas intervenções de vários dirigentes proeminentes do partido, mas fonte do PCP disse que só perto do início da conferência é que o serão revelados os nomes.
Os comunistas vão discutir um
projeto de resolução da conferência que identifica os principais problemas na
ótica do PCP e inclui as aspirações para o futuro. Entre elas está a formação
de mais 1.000 quadros do partido, em particular jovens, até
Jerónimo de Sousa também o tem manifestado nos últimos anos e se não prescindiu de ter uma palavra na escolha do seu sucessor, também deixou este alerta para o futuro: o futuro do PCP só se faz com os jovens nas fileiras do partido.
Fonte do partido confirmou durante a semana que há mais de 500 propostas de alteração ao projeto, que também propõe encontrar uma forma de contrariar a "campanha anticomunista" que segundo o partido tem menorizado a "força do PC".
O texto alterado vai ser disponibilizado para consulta de todos e ao longo destes dois dias vai ser votado com o propósito de reenquadrar as diretrizes comunistas para os próximos anos.
Cátia Carmo | TSF
Imagem: 1 - O secretário-geral cessante do Partido Comunista Português, © António Pedro Santos/Lusa; 2 - A Conferência Nacional do PCP decorre em Corroios © Reinaldo Rodrigues/Global Imagens
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